Acordei bem cedo e me arrumei para sair, Julie e Anne acharam estranho, mas eu não parei para explicar. Precisava ir ao apartamento de Percy, a garota estranha ainda estava lá, a Mare Laudes.

  E não, eu não estava mais com ciumes do Cabeça de Alga, cofiava no seu amor por mim, eu estava curiosa. Que motivos uma nereida tem para sair do reino de Poseidon e vir buscar ajuda na terra? Devia ser sério.

  Percy atendeu a porta parecendo exausto.

  - Tudo bem, Cabeça de Alga? – perguntei

  - Sim, eu só não consegui dormir muito bem, tive um sonho estranho... – ao dizer isso ele fez uma careta – E, além disso, tive que dormir no sofá – completou.

  Fiquei curiosa sobre o sonho de Percy, mas como ele não falou mais nada e eu também não perguntei fiquei sem saber.

  - Desculpe por fazê-lo dormir no sofá, senhor Perseu. A culpa foi minha. Se minhas irmãs soubessem... – disse Mare Laudes saindo do quarto de Percy.

  Então eu percebi que a nereida estava usando a minha blusa preferida. Eu a tinha ganhado de presente de seis meses de namoro com o Cabeça de Alga.

  - Você...mexeu...nas minhas coisas – eu falei com os dentes trincados – ninguém mexe nas minhas coisas!

  Eu fechei as minhas mãos e os meus olhos.

  - Ah, me desculpe, o senhor Perseu disse que eu podia pegar uma roupa emprestada...eu não...eu não tinha a intenção de... – e para o meu desespero a menina começou a soluçar, lagrimas caiam de seus olhos e suas mãos tremiam.

  Percy ficou vermelho e desconfortável.

  - Annabeth, a culpa foi minha. Eu disse para Mare pegar uma roupa emprestada, já que ela não poderia usar o vestido de ontem. E, Mare, já disse que não precisa me chamar de senhor, pode me chamar de Percy. E não precisa chorar...

  - Desculpe, senh... quero dizer Percy.  – ela disse, enxugando as lágrimas.

  - Percy, posso falar com você a sós ?– perguntei, mais irritada ainda, arrastando-o para o corredor – o que você estava pensando? Sabe que detesto que mexam nas minhas coisas!

  - O que você queria que eu fizesse, Annabeth? Ela precisava de alguma roupa! Nenhuma minha iria servir e nem as da minha mãe...muito menos as do Paul! Só restavam as suas...Ou você preferia que ela ficasse pelada?

  Sabia que ele tinha razão dessa vez, mas ainda estava com raiva.

 - Poxa, Annabeth, não vê? A menina está longe de casa, com estranhos e com medo.

 - Está certo. – eu falei revirando os olhos – eu exagerei

 O Cabeça de Alga sorriu e me beijou.

  - Sabia que ia entender, sabidinha.

  Voltando a sala, Mare Laudes não parecia mais triste, ela ria enquanto conversava com a mãe de Percy.

  - Ah, vocês dois voltaram – Sally disse

  - Bem, desculpem a minha reação exagerada. Tudo aqui é tão novo e diferente para mim. Só sinto falta de casa. – Mare disse – Agora, senhores, precisamos conversar.

  - Sim – disse Percy sentando-se no sofá – ia nos dizer qual o problema, digo, o que a trouxe aqui.

  - Bem, é uma longa história. Mas antes de contá-la, por que não fala sobre o seu sonho, Percy?

  - Tudo bem...mas, espera aí, eu não te falei sobre o sonho... – concluiu o Cabeça de Alga, um pouco atordoado – Como você sabe?

  Mare levantou os ombros, como se dissesse que não é importante. Agora ela lê mentes também?

  - Bem, eu sonhei com o meu pai. Ele me disse que precisava de ajuda e que o reino dele está em guerra. Disse também que tinha enviado uma amiga para me guiar.

  - Então você é essa amiga – eu afirmei olhando para Mare Laudes

  - O senhor Poseidon é muito bom para mim, ele é como um pai. – a nereida disse simplesmente.

  - Mas o que há de errado no reino de meu pai?

  A expressão de Mare Laudes mudou, ficando mais grave.

  - Devo supor que conheçam a história dos irmãos Neleu e Pélias – ela começou

  - Sim

  - Não

  Eu e o Cabeça de Alga falamos juntos.

  - Bem – ela disse se virando para Percy – eles são filhos do senhor Poseidon e de Tiro. Segundo a história Tiro se apaixonou pelo deus rio, Enipeu, e costumava implorar por ele, mas Poseidon, se passando por Enipeu, deitou-se com ela gerando os gêmeos, Neleu e Pélias.

 - Sim – eu passei a falar – Depois de nascer os gêmeos foram abandonados e acabaram sendo encontrados por uma égua.

 Mare Laudes sorriu como se maravilhada por eu conhecer a história.

  - Essa égua acabou atingindo um dos dois na face, e esse recebeu o nome de Pélias, o outro, Neleu, e eles foram criados pelo dono do animal. – a nereida continuou e acenou para mim como se quisesse que eu contasse o resto.

  - Tiro se casou com Creteu, rei de Lolco. Quando Neleu e Pélias cresceram e descobriram quem eram, lutaram pelo trono. Pélias ganhou e Neleu foi banido – eu disse, mas Mare Laudes me interrompeu.

  - Neleu e Pélias são ambos muito temperamentais, vivem brigando por qualquer coisa...- ela revira os olhos

  - Você fala como se os conhecesse...- diz Percy – E eu ainda não entendi, o que isso tem a ver com o problema do meu pai?

  - Bem, o senhor não me deixou terminar. Depois de muitos anos Poseidon permitiu que ambos vivessem em seu reino, com a condição de não mais lutarem. Os dois continuam vivendo lá, sempre em conflito, mas nunca lutando de verdade. – ela parou para respirar – Tudo mudou na semana passada, quando algumas coisas foram roubadas dos dois. Eles, obviamente, acusaram um ao outro. Lembrando-se da condição do pai, os dois decidiram não lutar, mas reunir aliados para lutarem por eles. O reino está totalmente dividido – ele diz desesperada – Um caos total! Alguns do lado de Neleu e outros do lado de Pélias, ainda há aqueles que, como eu, decidiram não tomar partido. O senhor Poseidon também não pode escolher um filho ou outro, e não vai expulsá-los, visto que não estão lutando pessoalmente, portanto, estão mantendo o acordo. Além disso, ele está no Olimpo há quatro dias, Zeus convocou uma reunião de emergência e ele não pode sair.

  Olhei para Percy e ele parecia realmente perturbado. E eu também estava, afinal essa história era muito diferente do que eu havia lido sobre o final de Pélias e Neleu.

  - Você disse que algumas coisas foram roubadas de cada um? – perguntei

  Mare Laudes confirmou com a cabeça parecendo tão melancólica quanto o Cabeça de Alga.

  - Mas o que exatamente? – continuei

  - Eu não tenho certeza, mas foram bens valiosos – a nereida fechou os olhos, cansada.

  - Espera aí – eu disse – essa história está muito mal contada. Pélias morreu, foi morto pelas suas próprias filhas, enganadas por Medéia.

  - Essa é uma versão da história. A outra é de que Pélias pediu auxílio a Poseidon, e as suas filhas foram enganadas, matando a pessoa errada.

  - Mas...- comecei a dizer, querendo defender o que está escrito nos livros.

  - Mare Laudes – disse Percy, me interrompendo – e Tyson? Você o conhece? Sabe de que lado ficou?

  - É claro que conheço – ela sorri – mas, como eu disse, alguns optaram por não tomar partido. As nereidas, Tyson, Delfin, o senhor Tritão, a senhora Anfitrite...

  Percy acena com a cabeça.

  - Por que eu estou com a impressão de que Neleu e Pélias não roubaram nada? – ele disse

  - Sim, alguém provavelmente está por trás disso – eu confirmo – mas quem?

  Mare Laudes afunda na poltrona como se quisse sumir

  - Eu não sei – ela finalmente diz