Quando chegamos fiquei conversando com a Rachel super tranquila até que o pior ser humano do West Point High School, Drew, uma patricinha metida a besta toda vestida de rosa – na verdade, tanto rosa que até me deixava tonta – andando nos seus saltos altos – até demais para ir para uma escola – chegou à aula tratando todos como se fossem seus criados. Além de conversar a aula inteira Drew ainda ficava fazendo perguntas idiotas e sempre me dando motivos para fazer um bonequinho vodu dela e torcer o pescoço. Respirei fundo e me controlei para não fazer nada de mal com ela – não por enquanto – e voltar a prestar atenção na aula.

No almoço, sentei-me à mesa de sempre: a que sempre fica mais cheia, geralmente é a mais animada e não, não é a mesa dos populares, é a mesa dos meus amigos, que ao contrário dos populares não são todos metidos. E quem senta na mesa? Eu, Thalia, Rachel, Luke, Nico, Connor, Travis, Miranda e Katie. Só.

Pera não é só, isso é muito, mas enfim. Peguei uma bandeja e comecei a conversar com eles enquanto almoçava. Eu gostava de ficar com eles, eram os únicos que não me viam como a “nerd” do colégio, o resto só pensava que eu era apenas uma menina que engolia os livros que os professores passavam. E dana-se quem pensa isso de mim.

Quando acabou a aula fui para a casa da Rachel passar a tarde lá, ela tinha pedido para eu ajudar ela com matemática. A casa dela era tipo, enorme. O pai dela era dono de uma construtora, e a casa era toda luxuosa, mas Rachel não ligava pra isso, muito pelo contrário, ela sempre preferia ficar na minha casa ou na da Thalia, mas o pai dela falou para a gente ir pra lá, pelo menos dessa vez.

Assim que chegamos, o irmãozinho de Rachel, Jimmy, que tem um ano e meio, tava na sala. Eu fiquei brincando com ele enquanto ela foi pegar suco pra gente (como eu tinha dito, ela não ligava pro dinheiro da família, então não era daquelas que ficava dando berros para os outros pegarem isso ou aquilo pra ela). Quando ela trouxe os sucos fomos sentar na mesa da sala, eu peguei os livros e comecei a explicar "Equações Biquadradas" pra ela mas depois de cinco minutos nós estávamos falando sobre a nova música da banda favorita dela.

– Rachel, a gente precisa estudar.

– Tá. Mas pera só um instante. - ela olhou uma mensagem que tinha chegado no celular dela depois deu um pulo da cadeira e saiu correndo em direção ao sofá e ligou a TV. Estava passando um especial da banda.

– Vem Annie!

Balancei a cabeça e depois fui pro sofá assistir também. Depois de quase uma a mãe dela chegou.

– Ah, olá Annabeth!

– Oi sra. Dare, tudo bom?

– Tudo querida. Vai se juntar a nós para o jantar?

– Ah, não, obrigada, vou jantar com meu pai.

Ela saiu e foi para o interior da casa, provavelmente para o quarto dela.

– Ei, é amanhã que a Sally vai pra sua casa, é?

– Unhum. Parece que ela vai chegar de tarde.

– Você sabe o nome do menino?

– Alguma coisa Jackson.

– Hum...

Meu pai ligou perguntando onde eu tava e eu falei que ia pra casa. Quando cheguei meu pai tinha feito jantar e nós fomos comer. Ah, sim, meu pai até que cozinha bem. Diferente de mim, que não sei cozinhar nada sem receita. Ou com. Depois do jantar subi, tomei banho e fui para o meu quarto fazer o dever de casa, quando acabei, deitei e dormi assim que fechei os olhos.

Acordei com dor de cabeça, o que não devia ser lá um bom sinal de que meu dia seria bom. Levantei da cama e quando estava saindo do quarto tropecei no meu sapato e ia levando uma queda. Terminei de me arrumar tarde e desci as escadas pulando dois degraus de cada vez.

Olhei no meu celular, uma mensagem da Rachel.

"Cheguei. Tá pronta? - Rachel"

Ai meu Deus, esqueci que a Rachel vinha me pegar hoje! Peguei uma maça correndo, dei bom dia apressada pro meu pai e sai de casa comendo a maça. Ela já estava esperando na porta, entrei no carro e afundei na cadeira.

– Acordou com o pé esquerdo hoje, Annie?

– Com o pé, a mão, a cara virada pro azar e a cabeça doendo. - dei mais uma mordida - Mas tô bem. - olhei pra Rachel com um sorriso um tanto falso no rosto e afundei na poltrona. Ela me olhou com seus olhos travessos e voltou a dirigir.

Quando chegamos ao colégio fui pra aula de biologia e ela de inglês. Assim que entrei na sala coloquei minha mochila na mesa com a Thalia e desabei na cadeira. A propósito, não, minha cabeça não melhorou.

– Fala loira.

– Oi. - disse com a voz abafada, minha cabeça apoiada nos braços em cima da mesa.

– Nossa, mas que animação, Annie!

– Muita.

– Que foi?

– Nada de mais, só acordei com dor de cabeça e hoje Sally e sua cria desconhecida vão habitar minha casa.

O sinal tocou e aquele barulhinho estridente fez minha cabeça latejar mais ainda. Pensei em ir pra enfermaria, mas a enfermeira provavelmente ia me dar xarope, um pirulito e me mandar voltar pra sala. Ou a coordenadora ia me dar um chazinho e pronto. Como se resolvesse.

Depois o professor entrou na sala e começou a escrever mil palavras no quadro, como sempre. Olhei para as palavras e pro meu caderno. Nem que eu fosse ler uma carta de amor secreta eu conseguiria, minha cabeça latejava e como se não bastasse as letrinhas começaram a se embaralhar, numa "crise de dislexia". Afundei a cabeça nos braços e devo ter dormido, por que acordei com Thalia me cutucando. Olhei para ver o que ela queria e ela indicou a frente da sala com a cabeça.

A coordenadora estava falando com o professor, e ao lado dela estava um menino.
Por um leve momento senti minha dor de cabeça ir embora. O menino tinha lindos olhos verdes, da cor do mar de verão, e era bem bonito. Olhei para o rosto dele e senti minha cabeça pesar como um chumbo. Aquele rosto, parecia com o da...

– Pessoal, esse é Percy Jackson, o novo colega de vocês.

Com o da Sally. Ele era o filho dela. Que ótimo. Ele se sentou no fundo da sala e eu olhei em volta. Pelo jeito todas as meninas estavam delirando por aqueles lindos olhos verdes... Ai credo Annie, que isso? A dor de cabeça só pode tá afetando meu cérebro. É isso. O sinal tocou e eu sai da sala. Graças a Deus tinha horário livre. Fui encontrar Rachel - já que Thalia teria aula - e nós fomos para a sala onde a turma que teria aula de latim ficou, mas por piedade divina o professor tava viajando. O novato, o mais novo habitante da casa dos Chase, estava reunido de menininhas irritantes e meninos que vinham dar as "Boas vindas, Percy" a ele.

– Quem é?

– Percy Jackson.

– Ele é o...

– Filho da Sally? Sim.

– E você não vai falar com ele?

– Eu vou ter muito tempo em casa para fazer isso.

Depois de um tempo fui pegar um chá na sala da coordenadora. Quando cheguei Rachel estava conversando com Katie e Miranda, sentei junto com elas e tomei meu chá. Sinceramente? Deve ter macumba lá, por que minha cabeça até que melhorou. Na hora do almoço recebi uma mensagem do meu pai.

"Querida, venha direto para casa depois da aula. Se não conseguir carona, me ligue. - Papai."

Ai que ótimo. Nem fugir eu posso.

Fugir de quê? Bom, vamos relatar as últimas duas aulas.
O idiota do Percy ficou todo metidinho, fazendo charminho besta de quinta categoria, rodeado pelos "populares" do colégio e se revelando um completo idiota, besta e metido. Sem contar que ele já fez amizade com a Drew. Agora ela e o bando junto com Percy são idiotas unidos. Além do que eu ainda não falei com ele e nem queria pisar naquela casa hoje, queria dormir na casa da Thalia. Mas agora meu pai mandou eu ir. Isso é ótimo. Maravilhoso.

Quando acabou a aula voltei para casa com a Rachel e Thalia.

– Tem certeza que não querem ficar? - perguntei, quase que como um apelo.

– Foi mal Annie, mas meu pai chega hoje de viagem, vou ficar com ele. - Thalia disse.

– E o a babá do Jimmy foi pro médico, meus pais vão para um jantar hoje, vou ficar com ele.

Eu daria tudo para ser a babá do Jimmy hoje. Desci do carro, respirei fundo e girei a maçaneta da porta.