Sob a Luz do Sol escrita por Tatiana Mareto


Capítulo 18
Capítulo 17 - Europa




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*tema: Il Divo’s Everytime I Look at You*

***** Enquanto isso, no covil *****

Richard encontrou-se com Rudolph no grande salão. O ancião chefe dos híbridos saboreava o sangue morno em uma taça de metal.
_Rudolph. – Richard fez uma reverência. – Tenho notícias. Ferdinand está pronto.
_Totalmente maduro? – Rudolph elevou o olhar.
_Sim, totalmente na fase adulta.
_Finalmente. – Rudolph levantou-se, terminando de beber todo o sangue. – Pensei que esse dia nunca iria chegar… agora só precisamos encontrar Beatrice.
_Você não a deveria tê-la deixado ir. – Richard contestou. – Ela era importante demais…
_Ela é importante, meu caro Richard. E como eu poderia prendê-la aqui? De que valeria termos empenhado tanto esforço para lhe tomar as memórias, se ela depois acabaria desconfiando de tudo por causa de um desejo tolo de conhecer os humanos? Beatrice é muito inteligente, não é à toa que tem a minha linhagem.
_Mas você acha que pode encontrá-la agora? E se ela foi muito longe?
_Posso rastreá-la, você sabe. – Rudolph considerou. – Vai levar algum tempo, mas vou rastreá-la. Afinal, em Beatrice e Ferdinand está a esperança da nossa geração. Eles são os filhos mais fortes dos híbridos… precisamos de décadas para conseguir gerar Ferdinand, e a união dos dois manterá nossa linhagem no poder.

*******************************************

_Espere-me aqui. – Eu disse a Edward, em nosso quarto. Nosso quarto… o pronome possessivo sempre em primeira pessoa, mesmo que no plural. Aliás, o plural era mesmo mais divertido do que o singular. Era outra noite de inverno, mas estava bem menos frio. Afinal, a primavera já tinha chegado. Logo faríamos nossa viagem à Europa, como planejado. – Eu já volto.
_Onde pensa que vai? – Ele me segurou pelos braços e me puxou de volta para a cama.
_Edward Cullen… – Como se ele não soubesse o que eu queria. – Eu já volto. Não ouse me seguir. Tenho algo a fazer.

Depois da experiência humana da alimentação, tudo estava muito mais simples em relação àquilo mas eu e Edward vivíamos em conflito. Não desejava provar álcool novamente, mas eu passei a me alimentar de ambas as formas. Eu continuei caçando com Edward, esporadicamente. Algumas vezes, ele praticamente me proibia de ir com ele. Eu protestava, mas ele pedia com tanta ênfase que eu não conseguia dizer-lhe não. Acabava sucumbindo à sua vontade, e quando ele chegava das caçadas, plenamente satisfeito, ele invariavelmente me preparava algo para comer. O aroma dos alimentos não me incomodava mais tanto, e eu já estava começando a identificá-los. Como fazia com os animais. Eu tinha o meu preferido, a baunilha. Tinha que tomar cuidado para não pensar muito em baunilha, ou Edward só preparava pratos com aquele sabor. Ele não era mesmo o melhor cozinheiro da casa; quando Rosalie ou Esme preparavam algo era como se eu estivesse comendo um pedaço do Paraíso. Elas eram realmente talentosas.

Eu acabava me satisfazendo com a alimentação humana. Mas quando sentia novamente a sede, eu tinha que argumentar com meu namorado vampiro e pedir que fosse caçar. Estávamos em um combate permanente. Ele reclamava por um simples fator: Edward não desejava ser um vampiro, e definitivamente preferia não precisar ceifar vidas para se alimentar. Ele deixou-me saber que tudo que ele mais desejava era voltar a ser humano, poder envelhecer e morrer. Obviamente eu tive vontade novamente de desmembrá-lo, queimá-lo e realizar outras manobras cruéis e sádicas, só por ele pensar em morrer. Edward tinha que viver para sempre, ao meu lado, enquanto aquilo fosse possível. Enquanto ele me desejasse ao seu lado. Toda aquela compulsão por uma humanidade perdida o fazia apostar em mim. Ele queria que eu não desejasse ser vampira também, e que aproveitasse todo o meu potencial humano para existir plenamente. E eu o frustrava tanto que aquele sentimento me era muito doloroso.

Vesti a roupa de dormir favorita de Edward – e uma das poucas que ele conseguia manter intacta – e caminhei até o quarto de Alice e Jasper. Alice adorava invadir o meu quarto, então estava chegando a hora de pagar-lhe com a mesma moeda. Levei a mão à maçaneta e abri a porta, entrando no quarto escuro sem anunciar-me.
_Beatrice Caldwell! – Jasper rosnou, em protesto. – É educado bater à porta.
_Como se vocês soubessem disso. – Minha vez de ser sarcástica. – Alice, posso falar-lhe?
_Agora? – Era certo que a hora era inconveniente. Sim, seria divertido infringir a eles o mesmo constrangimento que infringiam a mim.
_Sim, aproveitando que Edward aceitou não me seguir.
_Tudo bem. Jazz, pare com isso! – Eu sequer vi o que Jasper fazia, mas preferi manter-me na ignorância. – O que você precisa, Bea?
_A viagem. – Eu disse, sem saber exatamente como abordar o assunto. – A viagem que faremos agora… eu queria saber se vocês vão conosco.
_Absolutamente não. – Alice riu, e daquela vez eu a vi bater de leve nas mãos de Jasper. – Jazz! Bem, Edward nos enviaria aos Volturi, se decidíssemos ir.
_Eu gostaria que fossem. – Falei, voz baixa, ignorando o que seriam os Volturi.
_Ahm? – Alice levantou uma sobrancelha.
_Você nos quer presentes na sua viagem particular com Edward? O que foi que eu perdi? – Jasper ficou curioso.
_Você não perdeu nada, é que eu… estive pensando. Eu…
_Você sempre fala assim quando está constrangida. – Alice observou.
_Eu estou. É que eu… fico imaginando como seria, passar tanto tempo sozinha com Edward em qualquer lugar. Talvez seja uma perda de tempo gastar tanto e viajar para tão longe para ficarmos o tempo todo trancados sob alguma estrutura de concreto.

Os dois Cullen riram, e bastante. Edward já deveria estar ali, nos ouvindo, eu pensei.
_Bea, você está preocupada em não conseguir deixar o Edward em paz? – Jasper quase engasgava de tanto rir. – Garanto que essa preocupação não se aplica a ele!
_Sossegue, Jazz. Bea… isso é normal, quero dizer… vocês estão juntos há pouco tempo. E você vem se comportando muito bem, aqui.
_Essa é a questão! – Eu finalmente tinha um argumento. – Aqui, com todos vocês, eu me sinto tentada a parar… eu me sinto na obrigação de agir pautada em uma determinada conduta moral. Mas… nós dois sozinhos?

Mais risos. Até eu acharia graça, imaginando a cena. Realmente, minha preocupação era tola e esdrúxula. Eu não deveria me preocupar com aquilo, porque afinal… éramos um casal, e aquela era nossa viagem particular, como bem observou Alice. Mas se Edward estava fazendo aquilo para me dar mais experiências humanas, e se ele pretendia me mostrar a Europa… não seria interessante que eu o quisesse na cama, comigo, 24 horas por dia, 7 dias por semana. E éramos capazes de só parar para nos alimentar.

_Edward ainda assim não vai gostar nada. – Alice considerou.
_Eu falo com ele. Se vocês aceitarem ir conosco.
_Hmmm. – Alice olhou para Jasper, e ele tinha um sorriso brilhante. Como eram lindos, todos os Cullen! – É tentadora a proposta, Bea. Faz tempo que eu e Jazz não temos… esse tipo de momento. Mas continuo achando que…
_Não se preocupe, Alice. Será divertido… vou gostar de ter vocês por perto.

Definitivamente, Edward detestaria aquela idéia. Ele vinha planejando a viagem à Europa com uma meticulosidade ímpar. Eu não tinha conhecimento de seus planos, apenas o lugar para onde iríamos e a data da viagem. Pegaríamos um avião no primeiro dia das férias de primavera, em dois dias, em Seattle. O resto era mantido em segredo por ele e por Esme, que também colaborava nos preparativos. Era péssimo que Edward fosse o único naquela casa capaz de manter segredos… alguns deles, pelo menos. A viagem era algo que ele vinha desejando desde a idéia no refeitório da escola, e em todas as imagens que ele pintava dos momentos que passaríamos juntos, estávamos sempre sozinhos.

Mas eu não estava preparada para aquilo tudo. Talvez eu ansiasse estar sozinha com ele antes, quando estávamos ainda nos explorando, nos conhecendo, e eu precisava de muito tempo para agir. Mas naquele momento eu só conseguia pensar na total falta de controle. Eu perdia a noção integral de todo senso e razão que controlavam meu cérebro quando na presença de Edward. Era como se eu tivesse um botão, e aquele botão se desligasse automaticamente quando ele me tomava nos braços e me beijava. Como eu seria capaz de resistir a ele e dizer “hoje vamos conhecer pontos turísticos”? Levar os Cullen comigo era a idéia mais aprazível no momento, e algo que eu vinha ruminando por dias. Sempre que Edward estava presente eu precisava esconder a idéia no fundo mágico do meu cérebro; o local inacessível para Edward. Só quando eu tomava o meu banho diário estava livre para pensar naquilo. Isso porque Edward ainda não sabia que ele podia tomar banho comigo.

Voltei para o quarto como se nada tivesse acontecido, um humor razoavelmente diferente. Edward não era tolo, e muito menos surdo. Ele estava sentado na cama, olhos concentrados na leitura de um romance de época.
_Shakespeare? – Eu disse, me aproximando. – Não é trágico demais?
_Gosto de tragédias. – Ele fechou o livro e me encarou. – Vai tentar esconder para sempre o que foi fazer ou vai preferir me contar com suas próprias palavras?
_Eu… – E lá estava eu novamente, constrangida e sem perceber que deixava Edward invadir-me novamente. O local secreto sempre falhava… e parecia mesmo conveniente. – Eu sei que você vai ficar chateado.
_Vou mesmo. – Ele disse, encarando-me. – Vou ficar chateado por você pensar que não pode confiar em mim. Acha mesmo que eu a impediria de convidar meus irmãos para a viagem?
_Sim. – Falei, cobrindo a face com as mãos. – Sou terrível, não? Desculpe Edward é que…
_Shhh. – Ele tirou minhas mãos de onde estavam e cobriu meus lábios com o dedo indicador direito. – Você é terrível. Mas eu te amo tanto que isso nem importa. – O dedo deu lugar aos lábios, e Edward me beijou por um longo tempo. Eu já ia perdendo o fôlego novamente quando ele decidiu continuar a conversa. – Eu nunca te criticaria por querer convidar meus irmãos. Posso dizer que estou um tanto frustrado… afinal, eu pretendia ter você com exclusividade total nessa viagem. Mas você está certa quanto à possibilidade de passarmos o tempo todo trancados em um lugar qualquer e não aproveitarmos a viagem. Essa viagem é para você, Bea… você deve curti-la; as experiências são para você. Já fui diversas vezes à Europa, já conheço todo o mundo. Eu quero que você tenha agora todas essas memórias, que viva todos esses momentos. Se os Cullen vão estar em bando, que seja.

Oras, então era mais fácil do que eu pensava. Edward me beijou novamente, e empurrou-me contra os cobertores. Sempre mantínhamos os cobertores, eles eram deliciosamente macios. Definitivamente, estávamos ficando melhores naquilo a cada dia. Seja como fosse a Europa, era um risco muito grande ficarmos completamente sozinhos.
_Edward… – eu disse, entre uma respiração e outra. Pretendia pedir a ele que não destruísse aquela roupa de dormir também, ou Alice logo teria que me levar para fazer compras. Ele começou a rir, involuntariamente. Seu corpo tremia sobre o meu, com suas risadas. – O que foi?
_Você é mesmo terrível. – Ele me beijou o pescoço, repetidas vezes, mas ainda ria. – Vamos, livre-se logo da sua roupa favorita, ou eu posso não respeitá-la por muito tempo.

*******************************************

Eu estava apavorada em ter que enfrentar o avião mais uma vez. Mesmo com tanto tempo vivendo entre os humanos – os meses passavam por mim com certa urgência, eu ainda não tinha me acostumado com detalhes simples. Iríamos à Europa, todos os Cullen menos o casal principal, Carlisle e Esme. Os ‘pais’ ficariam em casa, porque Carlisle foi enfático em não poder deixar o seu trabalho. E, de qualquer forma, seria bom ter a casa só para eles… eu tinha certeza que eles aproveitariam. Rosalie e Emmett, Alice e Jasper, Edward e eu. Os irmãos Cullen e a intrusa híbrida em viagem para algum lugar maravilhoso, escolhido por Edward.

Mas o avião me deixou apavorada, era verdade, pela segunda vez. Eu estava agarrada a Edward, no aeroporto, meus dedos cravados em sua pele com toda força. Eu imaginei que o machucaria ou me quebraria novamente, porque cheguei a sentir dor. Eu sentia um pequeno mal estar, porque na noite anterior eles não haviam me deixado caçar. Edward não havia deixado. Ele insistiu que eu deveria deixar o sangue para outro momento, e comer comida humana. Mas a comida humana não me sustentava adequadamente, e eu precisava comer com freqüência. Aquilo significava um monte de coisas desagradáveis, que eu geralmente detestava. Até aprender a usar o banheiro para outros fins que não o banho eu precisei. Mas meu vampiro não parecia se incomodar… porque ele adorava a minha faceta humana muito mais do que qualquer um.

_Bea, você precisa de algo? – Alice disse, vendo-me totalmente absorta.
_Ela está aterrorizada. – Edward disse, me abraçando com força. – Como fizeram com ela, na viagem para Boston?
_Eu a arrastei para dentro do avião. – Rosalie soltou uma risada. Todos olharam para ela com reprovação. – O que pretendiam que eu fizesse? Deixasse a híbrida para trás porque ela é medrosa?
Edward balançou a cabeça e se sentou comigo, para aguardar nosso vôo. Ele gostava de se sentar porque naquela posição podíamos ficar mais próximos; havia mais contato corporal. Ele me fez recostar em seu peito e acariciou meus cabelos até que eu começasse a respirar bem tranquilamente. Meu coração batia mais devagar quando senti seus lábios tocarem minha testa. Fechei os olhos e deixei que meus pensamentos dissessem a ele que eu me sentia muito melhor.
_Quanto tempo? – Perguntei, sonolenta. Era noite, os Cullen definitivamente tinham preferido sair à noite para viajar.
_Muitas horas, com escala em Nova Iorque. – Edward me apertou em seus braços. – Fique tranquila, Bea… eu estou aqui.

Sim, ele estava. E aquilo era conforto suficiente para nenhum medo resistir dentro de mim. Sim, ele estava ali, ao meu lado, comigo, tão meu. Estávamos prontos para nossa viagem, a que ele idealizou tanto. E ela seria perfeita, nenhum medo tolo me tiraria a concentração. O avião podia ser assustador, mas Edward estava ali e era só aquilo que importava.

A viagem foi mesmo longa, e eu pensei que os Cullen não fossem suportar tantas horas trancados em um avião, em meio à tentação dos humanos. Eu sentia o sangue deles muito mais aromatizado do que antes, por causa da minha dieta forçada. Eu sentia sede, e Edward insistia em me alimentar com coisas coloridas e perfumadas. Era um martírio suportar a agonia que o cheiro humano trazia. Mas eles pareciam encarar a provação com bom humor. Talvez já estivessem acostumados àquilo, porque eu tinha certeza que os Cullen viajavam muito. E o avião parecia ser o meio de transporte recomendado… era rápido.

Durante o vôo, a sede piorou. Significativamente. Edward me olhou nos olhos e não ficou satisfeito com o que viu. Obviamente, eu tinha sede e meu organismo pedia nutrientes. Ele se levantou, caminhou até o meio do avião, e retornou instantes depois. Não demorou para que uma aeromoça aparecesse com comida para mim. Comida humana, claro. O cheiro de sua pele ao me servir parecia muito mais apetitoso do que qualquer alimento que estivesse ali, mas eu não poderia bebê-la, então. Edward abriu as embalagens para mim, sempre sério e sem muitas palavras.
_Eu disse que você estava se sentindo mal… – ele explicava, enquanto preparava tudo para que eu comesse. – e ela entendeu. Pedi que servisse carne bem mal passada… você pode deixá-la dissolver na boca, o sabor do sangue deve estar presente com intensidade.
Ele disse tudo aquilo muito tranquilamente, quase sussurrando em meus ouvidos. Calmamente, ele pegou o talher, cortou um pedaço da carne que fora servida e levou até minha boca. Aceitei de bom grado, obedecendo-lhe mais uma vez. Era verdade, o sabor era intenso. Havia muita coisa misturada ao sangue, mas ainda assim era sangue. Deixei a carne dissolver em minha boca, mastigando bem devagar, como Edward ensinou. Ele pareceu deliciar-se com a cena, como se ele mesmo estivesse se alimentando.
_Péssima hora para brincar de cientista. – Eu disse, aceitando outro pedaço de carne. – Se eu tiver um ataque aqui no avião…
_Você não vai. – Ele beijou meu nariz. – O alimento humano te satisfaz, Bea. Vai ficar tudo bem.
Ele tinha razão novamente. Mas não era o que eu queria, eu queria sangue. Edward me serviu a comida na boca, até que ela acabasse. Ele era tão meticuloso… Edward era perfeito de muitas maneiras. O termo perfeição não devia lhe fazer jus. Ele tinha uma aura ao seu redor que lhe permitia estar sempre além da perfeição.

Quando o avião finalmente pousou em nosso destino, eu estava adormecida em seus braços. Ele fingia dormir, para poder misturar-se mais facilmente. Mas eu sentia, na minha inconsciência consciente, que ele me acariciava o braço, os cabelos, o corpo inteiro, enquanto eu dormia. Ele era meu alento; os sonhos não me incomodavam ao seu lado. Mas era o final da viagem, e os Cullen estavam ansiosos por aquilo. Eu também. O medo havia sido superado, mas o avião não podia ser considerado meu melhor amigo. Apesar da viagem ter transcorrido de forma natural e esperada, eu ainda tinha minhas restrições quanto àquele enorme pedaço de metal com asas.

_Onde estamos? – Eu tinha que perguntar, porque eu sabia que o termo Europa era amplo demais.
_Estamos em Oslo, na Noruega. – Alice disse, sóbria. Os Cullen estavam todos sérios e comedidos, desde que descemos do avião. Era dia, e o dia na primavera podia significar sol. A exposição não lhes interessava. – Vamos pegar um transporte até Grong, agora.
_Grong? – Eu quis rir, porque o nome me soava como uma onomatopéia.
_Uma das menores cidades da Noruega, Bea. – Jasper explicou. – Um tanto exótica… reservamos um hotel, lá.
_Cidades geladas, menos exposição, mais privacidade… – Edward sussurrou. – E sim, nós reservamos o hotel todo. Mas não se preocupe, é um lugar pequeno. Não queremos hóspedes intrometidos nos bisbilhotando.

Noruega, Grong. Aquela deveria ser a primeira parada, eu imaginava. Talvez viajássemos mais, já que Edward havia me prometido lugares que eu nem imaginava. Lugares, no plural. Não tivemos a chance de conhecer Oslo, porque no aeroporto mesmo os Cullen receberam os carros que haviam alugado, para o caminho até Grong. Eu não devia me surpreender por eles terem decidido alugar carros; eu duvidava que aquela família realmente usasse transportes muito públicos, como eu via os humanos fazerem. Ônibus me parecia fora de cogitação, então. E também não devia me surpreender por serem carros impressionantemente lindos, velozes. Eles reservaram três carros, um para cada casal. Alice garantiu que seria muito melhor se pudéssemos ter cada um o seu carro, para eventuais necessidades. Aquela viagem já estava soando como o evento que os humanos tinham após casarem-se!

Casamento, aquilo então surgiu em meus pensamentos de forma subliminar. Eu tive meu primeiro contato com a idéia de casamento em um filme no covil, porque o mocinho pediu a mão da donzela em casamento. Eu tive que perguntar a Felícia por que ele desejava somente a sua mão, e não ela por completo. Foi então a explicação que eu tive sobre o relacionamento entre macho e fêmea. Eles costumeiramente se casavam antes de procriar. E então procriavam. Aquilo me parecia tão animalesco quanto era. Casar para procriar… e se eu não quisesse me casar? E se eu não quisesse procriar? Eu não sabia que casamento e procriação estavam necessariamente ligados ao sexo. Pior, que estavam necessariamente ligados ao amor. Felícia não deixou claro que o amor conectava o macho e a fêmea, por isso eles se casavam. Nos filmes dos humanos eu pude entender que sentido era dado ao casamento, e ele finalmente pareceu compreensível para mim.

Mas eu havia entendido. Humanos casam-se, e procriam. Híbridos são híbridos, e não humanos.

_De onde saiu isso? – Edward perguntou, enquanto dirigia.
_A viagem me lembra uma lua de mel. – Eu comentei, rindo.
_Sério? – Ele perguntou, cenho franzido.
_Sim… todos parecem definitivamente propensos ao acasalamento. – Sarcasmo com ironia; eu estava começando a me aprimorar. Edward não se conteve e me acompanhou no riso. Levantei o olhar e observei a estrada, maravilhada.
_Isso é um lago, Beatrice. – Ele me apontou a mancha azul no horizonte. – Vamos ficar próximos a ele, você vai gostar. Mas… acasalamento?
_Foi uma brincadeira. Estou treinando para implicar com Emmett.
_Ah, claro. Bem, eu não posso discordar… meus irmãos estão bastante afoitos, é verdade. E eu… você sabe como me sinto, ou não teria inventado a história de trazer a família Cullen na bagagem.
_Desculpe-me. – Baixei o olhar, recostando-me novamente em seu ombro.
_Não se desculpe, Bea. Não fez nada errado, não seja tola.
_O que faremos hoje? – Perguntei, já que o dia estava alto n céu. Edward nada respondeu. O seu silêncio deveria ser bastante significativo. Também o seu sorriso de canto de boca. A pressão de seus dedos nos meus. Todos os sinais de seu corpo respondiam à minha pergunta, menos seus lábios. – Você deve mesmo acreditar que posso ler sua mente…
_Não precisa de muito esforço para saber o que pretendo, Bea. Pelo menos hoje.

Senti a eletricidade me percorrer a espinha, e fiquei imóvel. Ela tinha que passar… a sensação elétrica precisava desaparecer, porque eu precisava terminar aquela viagem. Edward não me olhava, ele simplesmente dirigia e me dava aquelas pistas indecentes sobre suas idéias para quando chegássemos ao hotel. Eu imaginava o que deveria estar acontecendo nos carros dos outros Cullen. Eu podia supor que nem mesmo Alice estaria se comportando.

Grong era uma cidade fria, era fato. Estávamos na primavera, e as temperaturas só pareciam mais amenas. Se eu sentisse frio, estaria em apuros. O hotel reservado pelos Cullen ficava em um local isolado, apesar de que tudo na cidade parecia isolado. Eu vi algumas pessoas nas ruas quando chegamos, mas a cidade era praticamente vazia. Pequena, como Jasper descrevera. Havia montanhas de um lado, e o lago de outro. A imensidão azul que Edward me mostrara na estrada, transformando o horizonte em uma profunda linha sem fim. As construções eram antigas, e remontavam à minha época, eu podia ter certeza. Familiar, então.

Um humano nos recebeu, e ajudou a levar as malas para dentro do hotel. Não precisávamos de ajuda; as malas eram bastante leves em relação à nossa força. Mas sempre precisávamos fingir sermos humanos, e aquilo presumia não ter nenhum super poder. O humano tinha a sua função, então. Fomos conduzidos por corredores não muito longos, até nossos quartos. Que eram próximos demais, pensei. Cada um ficava em um andar diferente. Ainda assim, eu me via sendo indiscreta. Por que fazíamos tantos ruídos, eu nunca entenderia. Edward riu das minhas idéias, e eu quis machucá-lo. Sempre que ele fazia aquilo comigo eu tinha vontade de ser forte o suficiente para quebrar-lhe um osso. Se aquilo fosse possível, já que seus ossos não se quebravam facilmente.

O quarto era totalmente diferente do que estava acostumada. Quarto de humano, pensei. Muito mais mobiliado do que o quarto de Edward, com uma televisão, uma geladeira de tamanho reduzido, telefones e outros apetrechos um tanto inúteis para vampiros. Abri a porta que dava para uma pequena sacada, e dela se podia ver o lago. A paisagem era indescritível. Montanhas geladas – mesmo na primavera – e árvores que recobriam as partes menos frias. A água parecia convidar a um mergulho, mas aquilo não seria possível no frio. Se aquele lugar um dia fosse quente, talvez a água pudesse ser habitável para os humanos. O céu estava encoberto por nuvens finas, e a luz do sol podia-se ver deslizar por alguns espaços deixados. Estávamos no alto; eu pude ver muito solo abaixo de nós. Demorei-me admirando a imagem frente meus olhos, certa de que poucas coisas poderiam ser tão lindas.

Até voltar meus olhos para o quarto novamente e deixá-los pousar na figura serena de Edward.

_Um dólar por seus pensamentos. – Ele implicou.
_Estou chocada. A beleza é estonteante.
Edward caminhou em minha direção, e se pôs a observar a natureza, comigo.
_Amanhã podemos ir ali – ele apontou na direção das montanhas geladas – e eu te ensino a esquiar. – Eu não sabia do que se tratava, mas se fora planejado por Edward eu tinha certeza que me agradaria. – Você está com fome?
_Definitivamente. – Eu disse, já sabendo que caçadas não aconteceriam naquele dia. E eu não queria argumentar com Edward, porque eu queria que aquela viagem fosse exatamente como ele desejava; eu queria que ele estivesse plenamente satisfeito. Mesmo com a sua insistência de que a viagem era minha. – Posso comer, por aqui?
_Claro. Achou que eu a deixaria morrer de fome? – Ele pegou o telefone e discou alguns números.
_Eu vou caçar quando vocês forem. – Sussurrei aquelas palavras para ele, enquanto ele falava algo com alguém.
_Fiz um pedido. – Ele disse, praticamente me ignorando. Que ele me ignorasse, então. Pelo menos por aquele momento. – Logo trarão comida… para dois, então se prepare.
_Você definitivamente preferia ter um humano ao seu lado. – Emburrei, jogando-me na cama. Comportamento típico. Edward jogou-se ao meu lado, tirando uma mecha de cabelo da frente de meus olhos.
_Beatrice, não seja tola! – Ele franziu o cenho, e seu olhar era sério. – Eu não queria ter nada além de você ao meu lado. Você já se olhou no espelho? – E então ele surgia com conversas totalmente fora de contexto.
_Claro que não, por que me olharia no espelho?
_Seus olhos são verdes. – Ele sorriu, e me apontou a direção do espelho. Atônita, ergui-me um pouco para visualizar algo ainda mais chocante do que toda a paisagem. Meus olhos, uma mistura de caramelo com verde, um tom vibrante e cheio de vida. Olhei para Edward, e então para o espelho novamente. Meus olhos eram escurecidos, sempre. Um marrom sem cor, como tudo no covil. Desde que eu chegara à casa dos Cullen, ele clareou, tornando-se um marrom claro e transparente. Não era opaco como o dos Cullen, era quase translúcido. Sem graça, era como eu os via. Mas naquele instante, eu via olhos completamente coloridos. Como os olhos dos humanos. – Provavelmente, a dieta com pouco sangue nesses dias fez com que seus olhos adquirissem sua cor normal.
_Cor normal? – Levantei-me, aproximando-me do espelho.
_Seus olhos deviam ser verdes quando você era humana…
_Cor normal, Edward Cullen?? – Olhei para ele, um tanto apavorada. – Você me disse que eu não mudaria nada! Veja isso… eu pareço não estar mudando? Meus olhos têm cor! Eu cada dia pareço mais um humano!!

Surto – e eu estava começando a me familiarizar com as gírias e expressões do vocabulário moderno. Beatrice Caldwell entrou em colapso por causa da possibilidade remota de se tornar mais humana do que vampiro. Aquela era eu, patética como sempre, a discursar sobre o meu não desejo de me tornar humana. Como se fosse possível abdicar da minha imortalidade e me tornar um humano. Como se fosse possível me transformar em algo frágil e delicado como uma mulher. Como se fosse possível ser algo que eu era, mas que nunca poderia ser completamente. O pavor de me tornar completamente humana não se justificaria até a minha saída do covil. Eu tinha tanta curiosidade em relação a eles que eu poderia facilmente desejar tornar-me uma deles. Mas Edward me fez desejar não mudar nada, nunca. Ele me fez desejar estar como sempre, imortal, para poder permanecer ao seu lado para sempre.

_Bea, acalme-se… – Ele levantou-se e me abraçou. Meu corpo todo tremia. – Isso é só uma característica normal… se eu me alimentasse de sangue humano sabe que cor meus olhos teriam? – Eu olhei para ele, esperando a resposta. – Eles seriam vermelhos, Bea. Como eu me alimento de animais, eles são assim, amarelos. É como se o vermelho se diluísse. É uma cor, acontece com todos… você não está se tornando um humano, isso é geneticamente impossível.

A apreensão logo deu lugar ao constrangimento. Eu havia agido como uma tola mais uma vez. Edward costumava dizer que ele perdia o controle facilmente, mas a descontrolada da família acabava sempre sendo eu mesma. Antes que eu pudesse me desculpar, Edward me deixou para ir até a porta. Um humano trouxe a comida que ele havia pedido, mas daquela vez ele não parecia tão excitado com a idéia. Voltou-se para mim empurrando um carrinho com alguns vasilhames cobertos por metais, e imediatamente pegou o controle remoto da televisão. Eu o havia magoado, claro. Abri os vasilhames e observei a carne, mal passada como no avião. Realmente, um sabor agradável. Os humanos também comiam sangue, pensei imediatamente.

_Desculpe-me, Edward. – Eu disse, sem conseguir tocar nos alimentos. – Eu não quis fazer disso algo muito grande.
_Está tudo bem. Você está certa, eu exagero. De certa forma, tenho certo fascínio pela sua humanidade… e quando vi seus olhos fiquei muito empolgado. Mas se você quer caçar, vamos caçar. Aliás, se quiser deixar a comida e sair comigo agora…
Sorri, e sentei-me à frente dos vasilhames. Segurei o garfo entre os dedos e preparei-me para comer. Os alimentos não eram desagradáveis, era apenas um pavor ridículo de que eu pudesse me humanizar. Como se aquilo fosse tolerável. Não deixaria a viagem se estragar por aquilo. Depois de comer, abri a janela do quarto, deixando o máximo de luz – e vento gelado – penetrar no ambiente. Edward definitivamente não entendeu, mas ele não estava prestando muita atenção em mim.
_Edward. – Eu sentei-me ao seu lado, fazendo-o olhar para mim. – Edward Cullen… pode ser que eu perca esse charme logo… vai deixar meus olhos verdes por um programa de televisão? – Ele então me olhou, esperando para ver até onde eu iria. – Eu não pretendo agir dessa forma novamente. Mesmo que eu me tornasse uma humana, o importante seria sempre você me querer. Se você me quer humana, vampira, híbrida, seja como for, eu não me importo em mudar. Se você gosta de meus olhos verdes, não beberei sangue nunca mais, somente para que você olhe para eles. Se você gosta do meu corpo reagindo às experiências, pode me fazer de cobaia diariamente. Seja como for, só importa que você me ame.

As palavras se atropelaram para sair de minha boca, pois eu pretendia dizê-las, e não permitir que ele as lesse. Eu precisava falar em velocidade compatível com meus pensamentos, e aquela tarefa era árdua. Edward me ouviu, e levou alguns segundos para desligar a televisão, afastar o controle remoto e tomar-me nos braços em um beijo urgente.

De todas as vezes que sempre estivemos juntos, a cada dia eu me sentia mais completa. Era como se fosse impossível ter mais do que eu já tinha; como se fosse impossível sentir-me mais completa. E a cada dia Edward me fazia ver que eu estava errada. Ele tinha planos para aquele dia – manter-me ali com ele o quanto pudesse. Seus irmãos pareciam estar no mesmo humor, pois nenhum dos Cullen invadiu o recinto com comentários e brincadeiras. A cama dos humanos era muito mais frágil do que o esperado, e foi mais conveniente que nos acomodássemos em outro lugar. Edward determinou que a sacada seria um bom lugar, então. Conveniente sim era o fato de não haver humanos por perto, e de estarmos muito distantes do solo. Ninguém poderia nos observar ali, mas eu apostava que os Cullen poderiam nos ouvir.

O dia seguinte foi totalmente diferente, então. Primeiro porque Alice e Jasper apareceram logo cedo, acordando-me com o raiar do sol. Edward não gostava quando eles me acordavam, e sempre se mostrava bastante aborrecido. Mas eu não me importava, pois dormir me fazia perder bastante tempo. Era o dia de irmos até o topo da montanha, como prometera Edward. Rosalie e Emmett não saíram do quarto, e Alice decidiu que não deveríamos contar com eles nos primeiros dias. E eu que estava treinando palavras e comentários, teria que esperar. Principalmente porque o passeio até a mencionada ‘estação de esqui’ me estava empolgando o suficiente para não pensar nas intromissões do meu irmãozão.

_Seus olhos novos estão lindos, Bea. – Alice me abraçou, e eu tive a ligeira impressão de que ela já sabia daquele fato. As conversas mentais entre ela e Edward, as que me irritavam tanto. Não conseguia entender como Jasper não enlouquecia com aquela comunicação excludente. Fingi que nem prestei atenção a Alice, que se mostrou um pouco emburrada. Eu já tinha decidido deixar aquela discussão para trás, mas não queria reanimá-la com argumentos.
Fizemos o trajeto até a montanha no carro alugado por Edward, e chegamos rapidamente ao destino. Os vampiros dirigiam muito rapidamente, eu pude notar quando da comparação com carros de humanos que nos cruzaram. Edward me disse que eles tentavam disfarçar… mas havia uma discrepância significativa quando visualizávamos um humano dirigindo. E eles sempre me garantiram que não gostavam de atrair a atenção… O local escolhido era cheio de neve, e entendi imediatamente a escolha de casacos e outros apetrechos para frio. Edward estacionou ao lado de outros carros, e foi com Jasper até a construção que ficava ao lado. Fiquei com Alice aguardando, sem saber o que eles pretendiam.

_Você está zangada porque seus olhos mudaram. – Ela constatou. Era mais óbvio do que eu pensava.
_Já superei isso. O verde é bonito, afinal.
_Ele se magoa facilmente, Bea. – Alice fez um gesto que indicou o local para onde Edward havia se dirigido. – E ele está tão empolgado com essa história de você poder realizar tantas experiências humanas… eu sei que ele é difícil, mas ele realmente te ama.
_Eu sei. – Mais constrangimento. Senti-me detestável pelo simples fato de que todos percebiam o quão infantil eu estava sendo. – Eu nunca tive essa intenção. É que… eu tenho certo pavor em imaginar tornar-me um humano. Ou ser mais humano do que vampiro.

Alice riu, o suficiente para deixar curiosos os rapazes que estavam chegando. Edward riu timidamente, sorriso de canto de boca, e beijou-me os cabelos. Jasper teria que esperar Alice contar-lhe o motivo pelo qual eu era tão ridícula. Medo de me tornar humana. E eu que estava tentando esquecer-me daquilo… Antes que eu tivesse a chance de continuar pensando em tolices, fomos esquiar. Eu não sabia do que se tratava, até ver os humanos esquiando. Os Cullen pareciam agitados, o que era óbvio. Eles eram todos apaixonados por ultrapassar os limites… considerando que aqueles eram limites humanos. Para os vampiros não havia limites. Atirar-se de uma montanha gelada sobre duas plataformas não era nada, para um vampiro. Enquanto para os humanos poderia significar as suas vidas. Eu não sabia em que me encaixava; eu não sabia se aquela atividade me seria arriscada. Mas eu sabia que Edward jamais me colocaria em perigo, então se ele dizia que eu podia fazer, era porque podia.

E foi muito divertido, não pude negar. O vento gelado que batia em meu corpo, na direção oposta ao movimento físico que ele exercia; a sensação de liberdade, de estar voando. Eu caí algumas vezes dos esquis, mas logo aprendi a equilibrar-me e consegui cumprir a tarefa de descer a montanha. Uma, duas, cinco vezes. Os humanos já tinham praticamente desistido do esporte, e a luz do dia não parecia mais tão forte como antes, quando Jasper decidiu encerrar a brincadeira.
_Devemos nos alimentar. – Ele considerou. – Podemos aproveitar a floresta gelada logo abaixo…
_Sim, seria ótima idéia. Uma dieta diferente, provavelmente. – Alice bateu palmas. Edward olhou para mim, sorrindo.
_Estou mesmo com sede. – Eu disse, franzindo os lábios. A alimentação humana não me sustentava como o sangue, então eu nunca estava saciada por muito tempo. – O que teremos para o jantar?
_Linces. – Edward respirou fundo, tentando sorver todo o ar ambiente. – Um banquete.

Os rapazes devolveram os equipamentos de esqui para a estação e dirigimo-nos para uma trilha próxima à floresta, a fim de caçarmos algo. Alice disse que Emmett e Rosalie estavam bem, que caçariam quando decidissem deixar a clausura. Eu imaginava que para os dois fosse mais difícil… Emmett várias vezes disse que eles eram barulhentos. Então, como ficar em casa, com toda a família presente, e seus ouvidos supersensíveis? Por mais pervertido que meu irmão Emmett parecesse, eu tive a impressão de que ele e Rosalie eram o casal que menos praticava sexo em casa. Então, aquele isolamento só poderia significar uma coisa para eles. E que eles aproveitassem bem o tempo que tinham.

O tempo em Grong não seria longo. Edward previu nossa estada por quatro dias, aproximadamente. Ele não queria me contar todos os detalhes, mas confessou alguns fatos que ele não conseguiria me esconder totalmente. Depois da Noruega, iríamos a outro lugar supostamente secreto. Ao menos para mim. Entre os Cullen era como se nunca houvesse um segredo, todos sabiam de tudo. Menos eu. Só tivemos contato com o casal desgarrado no último dia. Eles perderam os melhores eventos. O esqui, a pescaria no lago, trilhas em meio à floresta, um jantar à luz de velas com direito a comida humana e um participante que efetivamente se alimentaria, sessão de cinema no salão principal do hotel… atividades das quais Emmett e Rosalie não participaram, mas não sei se eles se importaram.

Eu desejava que não precisássemos mais do avião, e Edward estava realmente tentado a viajar de carro comigo pela Europa inteira. Mas como estávamos decididos a cumprir alguns prazos, seria preciso que usássemos o avião. Edward pretendia retornar comigo para casa antes das férias acabarem, para que pudéssemos curtir a escola, como ele gostava de dizer. Então, tínhamos prazos a cumprir. Mas os dias em Grong foram tão dignos de apreciação que eu nem me importei muito com a idéia de voar. Era como se eu estivesse tão completa, tão satisfeita, tão insuportavelmente feliz que eu não me importaria muito.

Mas a felicidade para um monstro como eu poderia ser plena?

_Alice, eu não quero incomodá-la com essa história mais uma vez! – Edward protestou, dentro do avião. Ele estava sentado em um assento próximo ao corredor, e Alice exatamente em sua direção, do outro lado do corredor. Eu dormia, mas a conversa deles fez meu cérebro consciente mais alerta. Eu não sabia o quanto Edward podia captar da minha consciência enquanto eu dormia, mas eu esperava que fosse pouco. – Chega de visões, híbridos, mortes. Eu quero saber, mas ela não precisa se preocupar com isso.
_Você é muito teimoso, Edward! – Alice reclamou. – Quer esconder dela que aquela aberração está vindo buscá-la? Como pretende, já que estamos voltando para casa?
_Você disse que ele não sabe como encontrá-la!
_Mas ele vai acabar descobrindo, é a lógica!! Ele vai ter alguma idéia, e eu vou vê-la, e como pretende que Bea não fique sabendo que ela corre perigo?
_Ela não corre perigo. – Edward parecia no limite de perder a razão, mas sua voz ainda era de baixo tom e resignação. – Ela nunca correrá perigo, eu não permitirei.
_Edward!! – Alice protestou, novamente. – Você é irritante, como pode…
_Se algo fosse acontecer você teria visto. – Ele pretendeu encerrar a conversa. – Não pense que eu não estou péssimo com tudo isso, Alice… eu estou agonizando, mas eu preciso manter uma aparência de normalidade. Eu não a quero sofrendo por algo ainda incerto.

E sim, ele encerrou a conversa. Por durante toda a viagem até o segundo lugar secreto, eles não mais se falaram. Não que precisasse, pois entre Edward e Alice as palavras pareciam sempre desnecessárias. Mas ela pareceu aborrecida com ele, e ele com ela. Por minha sorte ele não podia me perceber quando eu estava dormindo, apenas via a parte inconsciente de meu cérebro; a parte que sonhava. Se eu não sonhava, para ele eu era um branco total. Ou preto, eu ainda não sabia que cor ele via quando nada via. Mas eu tinha certeza que seria branco ou preto, porque todas as outras cores eram coloridas demais para que significassem o vazio. Nunca vi o vazio rosa, ou roxo, ou amarelo.

O avião pousou à noite, e eu entendi que os Cullen haviam determinado que fosse daquela forma. Afinal, eu pude ver o dia bem mais ensolarado do que na Noruega… e suspeitei que estávamos nos dirigindo a locais mais quentes. Ainda seria Europa, eu tinha certeza… porque a viagem deveria se resumir à Europa. Mas mais quente, era fato. Como se o calor me importasse… mas o sol fazia os Cullen um tanto quanto indiscretos para exibições públicas. Apesar do horário, o aeroporto estava cheio e havia humanos por todos os lados. Obviamente não éramos os únicos estudantes em idade escolar de férias. Eu sequer conseguia imaginar como poderíamos viajar tão facilmente se nossas idades humanas eram jovens… mas eu não queria saber, era fato. Interessava-me somente realizar alguns atos, nem sempre compreendê-los.

_Teremos carros à nossa disposição? – Perguntei, enquanto caminhávamos pelo enorme aeroporto.
_Não, agora não. – Edward me mantinha junto a ele. – Vamos pegar outro vôo para Cagliari, agora.
_Onde? – Perguntei, como se a resposta dele fosse me fazer compreender o mapa político da Europa em segundos. – Onde estamos, afinal? Precisamos de outro vôo?
_Sim, vamos para a Sardenha. – Emmett sussurrou, como se não pudéssemos falar alto nem mesmo as coisas mais banais. – É uma ilha, precisamos de privacidade para lidar com todo esse sol.
_Reservando um hotel novamente? – Impliquei.
_Definitivamente.

O nome do lugar escolhido era tão curioso quanto o anterior. Carbonia, Sardenha. Era na Itália, uma ilha no meio do Mar Mediterrâneo. Uma ilha antiga, cheia de mistérios e histórias fantásticas. A aula me era dada por Alice, que parecia visualizar cada frase que me dizia. Eu teria a chance de conhecer coisas de muito antes da minha época, então. Apesar de que elas não me fariam tanto sentido, porque Felicia tentava sempre nos manter atualizados, raramente estudando história. Estávamos em Roma, capital da Itália, e seguiríamos para Carbonia o mais rapidamente possível. Segundo Alice, pousaríamos em Cagliari, uma cidade grande, e nos dirigiríamos para o local escolhido, Carbonia, com alguns 30 mil habitantes. Era muita gente, eu pensei comigo mesma… muito mais gente do que em Grong. Como os Cullen pretendiam andar pelas ruas, se o sol brilharia? Talvez eles não pretendessem caminhar durante o sol… e então trocaríamos noite por dia? Aquilo seria definitivamente novo, para mim.

Passei toda a viagem de Roma até Cagliari acordada, apesar de ser noite. Eu estava com o que Alice chamava de ‘relógio biológico’ completamente fora de ordem. A viagem estava me tirando da rotina, por mais que Edward se esforçasse para evitar isso. E algumas horas dentro do avião já eram o suficiente para me estressar ao limite. Muitos limites sendo testados, então. Meu organismo reagia violentamente. Suor escorria por minhas têmporas, mesmo que não estivesse tão quente. Meu corpo tremia, e meus olhos não estavam de cor nenhuma conhecida. A mistura de sangue e alimento humano os fazia oscilar entre o marrom e o verde escuro. Mas Edward gostava, então eu nem me importava com aquele ponto. Só uma coisa me fazia confortar, a presença de Edward. Quando ele me sentia tensa demais, ele levava seus lábios até os meus, fazendo-me relaxar imediatamente. Eu queria mesmo que ele me beijasse, mas eu sabia os riscos que aquilo implicaria. Eu era decididamente aquela que perdia o controle.

A Carbonia era bonita. A Sardenha era, na verdade. Desde Cagliari, todo o caminho até nosso destino era repleto de lindas imagens. Nenhuma mais linda do que aquela ao meu lado, mas todas lindas. Não tínhamos três carros daquela vez, porque foi considerado que não havia necessidade. Se Emmett e Rosalie repetissem o comportamento exagerado de Grong, teríamos menos necessidade ainda. Mas eles prometeram comportar-se; garantiram que o desejo estava sob controle. O meu não. Mas eu parecia mais apta a reprimir os instintos do que Emmett Cullen.

_Vamos ficar ali. – Edward apontou uma pequena construção, diferente da de Grong. Foi difícil vê-la, porque ao contrário da experiência na Noruega, essa construção ficava abaixo da estrada. – Tem uma praia particular… você vai adorar nadar.
_Nadar? – Considerei, olhando para o céu. O clima propiciaria… o contato com a água?
_Sim… você não deve se importar se a água estiver fria, afinal… sua temperatura corporal é bem parecida com a minha. E não se preocupe, os humanos não vão nos incomodar. Não haverá humanos nesse ‘hotel’… seremos só nós.

Ah! Só nós… seis. Estaria eu me arrependendo de ter convidado os Cullen, ou toda aquela beleza natural compensava algumas horas desprendida do corpo de Edward?
_Tudo bem, meu amor. – Edward riu, e então eu me dei conta de que estava gritando, para ele. Eu não havia escondido aqueles pensamentos no meu canto sombrio. – Podemos mandá-los para casa hoje, se quiser.
Baixei o olhar, totalmente constrangida. Ele riu mais, e aquilo me fez desejar machucá-lo mais uma vez. Mas não, eu não queria mandar os Cullen para casa, porque eu gostava da companhia deles e porque seria mesmo mais divertido se pudéssemos curtir as maravilhas da natureza.


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