Sob a Luz do Sol escrita por Tatiana Mareto


Capítulo 17
Capítulo 16 - Experiências




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*tema: Westlife’s Moments*

_Adoro quando os Cullen saem para caçar. – Falei, cravada nos cabelos de Edward, puxando-o para meus lábios. Fazia bastante tempo que estávamos ali no quarto, desde que todos decidiram sair para caçar. Jasper implicava que eu e Edward precisávamos de muito mais tempo sozinhos do que eles… o que talvez fosse verdade. Mas eles precisavam compreender que eu e Edward não estávamos juntos por décadas, como eles. A necessidade de estarmos juntos o tempo todo ainda era tão insuportável que chegava a causar dor.
_Eu também. – Edward se movia lentamente por sobre mim, infringindo-me uma tortura já tão conhecida. – Mas não podemos nos perder por muito tempo… também precisamos caçar. Temos uma festa para ir amanhã, esqueceu?
_Eu não estou com sede, só me deixe ficar aqui com você. – Eu o prendi entre minhas pernas, mas logo me dei conta que eu não o queria imóvel.
_Sim, você está com sede. – Ele me beijou mais profundamente, e se sentou na cama. Bati os braços no colchão, em protesto, mas ele me ignoraria como sempre. Edward costumava ser quem conseguia encontrar forças para parar… porque eu sempre queria mais e mais. Principalmente se passássemos alguns dias sem nos tocarmos daquela forma, como tinha acontecido. – Estou vendo em seus olhos… está interessada em perseguir alguns cervos?

Eu sorri para ele, pressionando os lábios.
_Ursos, Beatrice? – Edward balançou a cabeça, negativamente. – Ursos mais uma vez? A experiência anterior já não foi frustrante o suficiente?
_Eu não me alimentei deles. – Falei, considerando. – Na verdade, eu tenho uma pequena vingança para cumprir.

Edward balançou a cabeça negativamente mais uma vez, e levantou-se. Caminhou até o guarda roupas, escolheu cuidadosamente o que vestiria para a caçada. Os Cullen eram mesmo interessantes… Edward iria se vestir para sair de casa e abater animais para beber-lhes o sangue. Eu fazia uma bagunça terrível durante as caçadas, mas eles, os Cullen, estavam sempre impecáveis. Sequer desarrumavam os cabelos. Eu precisava de prática… continuei onde estava, sentada, estática. Ele terminou de se vestir e se colocou à minha frente, impaciente.
_Beatrice… – Foi o suficiente para que eu me levantasse. Claro que ele tinha lido tudo, aquela mesma história de sempre. Mas como, era de se questionar, que ele pretendia que eu saísse daquela cama se ele insistia em ser tão perfeitamente lindo perambulando sem roupas pelo quarto? Eu ainda precisava de muito tempo com ele, tanto que nem caçar era mais interessante. Eu poderia insistir em ficar com sede só para ficar ali, com ele.

De qualquer forma, eu estava com sede. Caçar foi prazeroso, ainda mais porque Edward cedeu e me levou até os ursos. Daquela vez eu não seria pega desprevenida, e daquela vez eu não seria abatida por eles. Eu realmente precisava de uma segunda chance com os ursos, ou Emmett não me respeitaria nunca. Eu precisava ser respeitada por mim mesma, era como pensava. Abater alguns ursos não poderia ser tão difícil, eu tinha que tentar mais uma vez.

Apesar das visões de Alice, estávamos realizando tudo dentro de um tempo razoável, tentando manter os planos o máximo possível. Ela se concentrava em mim o quanto podia, para tentar ver coisas que antes talvez fossem mais difíceis. Mas ela costumava dizer que os híbridos não lhe eram muito simples. Uma pena, pois as visões de Alice me seriam extremamente úteis. Eu precisava saber tudo que ela via antes dela contar a Edward, mas isso era quase impossível. Eu queria poupá-lo da angústia em me contar, e queria poupá-lo de precisar sofrer por mim.

O dia seguinte chegou com a festa de Sylvia na agenda principal. Era sexta feira, e a festa era à noite, em sua casa. Eu nunca havia entrado na casa dos humanos, e aquela experiência era empolgante. Edward notou minha agitação com o dia, e eu pude perceber que ele estava feliz. Ver Edward feliz me causava ainda mais satisfação do que qualquer coisa, porque eu desejava a sua felicidade mais do que a minha própria. E talvez ele tenha sentido, por isso me ajudou com a idéia de ir à festa.

Depois da aula teríamos que comprar um presente para Sylvia, e Rosalie foi incumbida de me ajudar. Eu gostaria de Alice fosse, mas ela estava com Jasper… e os dois estavam em um momento de paixão que eu não ousaria interromper. Alice parecia muito mais reservada do que eu, ou Rosalie. Mas tendo à sua disposição uma sensação tão boa como aquela, por que resistir muito tempo? E como ela era a mais discreta… era fácil para ela perder-se no companheiro sem muitas explicações. Então, Rosalie. Edward decidiu não nos acompanhar, porque ele sabia que se tratava de um programa de garotas. Como a ida a Boston.

Eu não entendia a coisa dos presentes, apesar de saber algo sobre aniversários. Eu nunca vi ninguém fazer aniversário no covil… então a festa me era um mistério. Rosalie me explicou que o presente era um símbolo muito expressivo para a celebração da passagem de mais um ano, e que se eu me sentia amiga de Sylvia, deveria dar-lhe algo bastante significativo. Reviramos toda Port Angeles em busca de algo, passando por lojas de roupas, calçados, acessórios… paramos em uma loja que vendia jóias, e eu me encantei por um anel. A pedra era amarelada, e me lembrava os olhos de Edward. Claro que ele tinha olhos mais opacos e por vezes mais escuros… mas aquela pedra era o que mais me lembrava seus olhos. Eu não daria a Sylvia uma pedra com os olhos de Edward, mas era fascinante. Para minha amiga humana acabei por escolher um colar com um pingente vermelho. Vermelho, cor do sangue, uma representação minha. Rosalie me garantiu que era um rubi, mas não me fez incomodar com o preço. Eu não tinha noção de dinheiro, e os Cullen não contribuíam muito neste aspecto pedagógico. Eles simplesmente me deixavam gastar o quanto eu quisesse, apesar de eu nunca gastar nada. Eu só andava no rastro da família, o que reduzia muito as minhas opções.

Em casa, Alice estava me aguardando para a produção. Ela pretendia me ajudar a arrumar-me para o aniversário… me deixar mais bonita. Obviamente, não tanto quanto ela e Rosalie… mas seria bom ficar bonita. Seria bom estar à altura da minha companhia, o homem mais lindo que existia em toda a história da existência terrena. Entre todas as espécies já existentes. Ou não. Mesmo eu dizendo que não queria exageros, tudo para Alice era um exagero. E ela também pretendia preparar-se, pois não deixaria que invadíssemos a festa sozinha. Ela pretendia participar de tudo.

Produzida como nunca, em um vestido preto bastante sombrio, usando sapatos nos quais eu mal me equilibrava, os cabelos presos e repletos de brilho, eu estava pronta para ir à festa de Sylvia. Aos olhos de Alice, perfeita. Mas quando Edward surgiu pela porta do quarto, em um pulôver carmim e calças jeans escuras, tão contrastantes com a sua pele pálida e sem vida, eu me senti desprezível. Seus olhos estavam tão claros que ele parecia tê-los desanuviado só para mim. Como eu era petulante, imaginar que Edward orbitava ao meu redor como eu fazia com ele. Seus cabelos acobreados estavam meticulosamente organizados, o que não era muito comum.

_Você está linda. – Ele sussurrou em meus ouvidos, beijando-me exatamente naquele lugar. Senti a eletricidade e pensei ainda que ele arruinaria minha produção.
_Até parece. – Eu tinha que fazer alguma pirraça. Era um charme escondido, eu podia jurar.
_Nem ouse duvidar de mim. Você se subestima demais.
Sim, eu me subestimava. Mas perto dos Cullen e seus super poderes, eu era simplesmente uma híbrida sem graça.

Os filhos de Carlisle e Esme Cullen saíram de casa, no gigante jeep de Emmett e no Volvo prata de Edward, em direção à casa de Stewart Green. Era minha primeira festa humana; minha primeira noite oficial como namorada de Edward entre os humanos; minha primeira experiência totalmente mundana. Eu estava, sim, excitada. Até seria tolerável não passar a noite exclusivamente com Edward, porque eu estaria fazendo algo pelo qual esperei muito.

A tal festa, como um todo, se assemelhava à casa noturna de Boston. Muita gente reunida em um espaço pequeno, pouca luz, música alta, e muitos copos cheios de líquidos coloridos. A casa estava com as luzes apagadas, e alguma iluminação avermelhada deixava todos muito parecidos. Eu podia jurar que a casa de Sylvia não era daquele jeito, mas que ela havia feito modificações para o evento. O aroma que me fazia eriçar os pelos, de tão enjoativo. E o cheiro delicioso dos humanos. Todos reunidos, o calor de seus corpos… era uma sensação dolorosa, porque ao mesmo tempo que eu desejava obter o que me propiciaria saciar a vontade que o cheiro me causava, eu sabia que era errado. Edward me conduziu porta adentro segurando firmemente em minhas mãos, demonstrando claramente de quem eu era propriedade. Eu tinha certeza que Edward me considerava dele. E eu não tinha dúvidas quanto ao fato de que eu era, realmente, dele.

_Vamos nos misturar. – Jasper disse, esfregando as mãos.
_Pensei que não se misturassem. – Falei, confusa.
_Geralmente não. Mas essa experiência também é relativamente nova para nós… não costumamos freqüentar esse tipo de ambiente. – Ele disse, sorridente. Por um momento, cheguei a imaginar que a sensação ruim que eu causava em Jasper tinha acabado, ou que fora imaginação minha. Ele parecia muito mais à vontade em minha presença há algum tempo, e eu gostava de sua companhia.

Então, misturar-se. Não era difícil perder-se naquele monte de pessoas. Encontrei Sylvia e lhe entreguei o presente, em nome de todos os irmãos Cullen. Ela abriu a caixa maravilhada com o conteúdo, soltando uma interjeição de surpresa. Talvez ela não esperasse nada como aquilo… mas o que eu poderia fazer? Era minha primeira experiência com presentes. Depois de receber um longo abraço da aniversariante, que me colocou perigosamente em contato com a sua pele e com todo o calor do sangue que circulava ali, Sylvia me entregou uma taça enorme.

_Martini. – Ela disse, piscando os olhos. – Não que pudéssemos consumir álcool… mas eu estou fazendo 18 anos, por favor!

Martini? Olhei para o líquido descolorido e o cheiro era insuportavelmente doce. Estava entendido por que tudo ali cheirava daquela forma. Olhei para Edward assustada, e ele estava de pé atrás de mim, me segurando pela cintura, olhos perdidos na multidão.
_É uma bebida. – Ele respondeu, sem me olhar. – Os humanos apreciam bastante… é um entorpecente, na verdade.
_Droga? – Eu disse, mais assustada ainda.
_Sim e não. Pode ser, se você abusar.
_O que faço com isso?
_Disfarce e deixe em algum lugar. Ou… beba.

Beber? Eu era um vampiro, a única coisa que bebia era sangue. Edward deveria estar brincando.
_Não precisa ficar tão confusa. – Ele se sentou no que estava atrás de si, e eu visualizei como uma mesa de bilhar. Puxou-me para entre suas pernas, e me abraçou. Por pouco a taça não desabou de minhas mãos. – Você também é humana… você pode muito bem ingerir alimentos. Nunca experimentou, eu sei… mas você pode tentar quando quiser. Eu só nunca quis te pressionar…

Afastei-me repentinamente de Edward, sobrancelha erguida, um pouco confusa. Muito confusa, na verdade. A idéia de ingerir alimentos humanos estava fora de cogitação, sempre. Eu sequer entendia totalmente por que recusava tanto aquela experiência, mas eu suspeitava que o verdadeiro motivo fosse o medo que minhas fraquezas superassem todo o resto. A parte humana era a parte fraca em mim. Uma parte deliciosa da qual eu não pretendia abrir mão, mas ainda assim uma fraqueza. Se eu começasse a agir muito como os humanos, se eu começasse a me alimentar como eles, o que eu me tornaria? Uma aberração ainda mais esquisita.

Edward não gostou de meus pensamentos; eu pude ouvi-lo rosnar. Ele tomou a taça de minhas mãos e puxou meus lábios para si, beijando-me. Não poderia haver outro entorpecente mais forte do que aquele, o beijo de Edward. Eu só não sabia se beijá-lo ali seria saudável.
_Quer dançar? – Ele perguntou, dando-me algum espaço para respirar. – Já aviso que não sou tão bom nessas danças adolescentes como sou em outras danças… mas podemos enganá-los juntos. O que acha?
_Sim, podemos! – Sorri, beijando-o rapidamente, e puxando-o para a pista de dança. Como eu suspeitava, Rosalie já estava ali, o mesmo espetáculo que ela proporcionara em Boston.

Eu comecei a sentir um pequeno cansaço depois de muito tempo que dançávamos. Edward me conduziu para fora da pista, mesmo contra minha vontade, porque eu não parecia muito bem. Meus olhos pousaram sobre a taça que Sylvia me entregara, ainda intacta sobre a mesa de bilhar. Ninguém jogaria bilhar naquela festa, suspeitei. O líquido, de cor duvidosa e cheiro detestável, me encarou. Um líquido não poderia me encarar, mas aquele o fez.
_Beba. – Ele disse, segurando a taça em suas mãos. – Ou beberei eu.
_Você não pode! – Tomei-lhe a taça. – Você… é um vampiro – Sussurrei bem baixo em seus ouvidos.
_Eu posso… poderia ingerir alimentos esporadicamente, se quisesse. Mas eles me são inúteis… não me farão nenhum bem, talvez até mal. Mas você, ainda não sabemos. Vamos, beba.

Imediatamente lembrei-me de vários meses atrás, quando da minha chegada à casa dos Cullen. Quando Carlisle pediu que Edward fosse meu tutor, meu companheiro. Quando Edward decidiu que me faria experimentar comida humana. Ele havia temporariamente desistido de me fazer cobaia, mas aparentemente a sua curiosidade não havia adormecido. Talvez eu estivesse curiosa também, porque eu estava ali para viver momentos novos. Eu só não sabia se tinha mais curiosidade do que medo, ou mais medo do que curiosidade. Hesitei olhando a oliva que jazia no fundo da taça, como que esperando que o líquido entrasse em mim por osmose.

Edward tomou a taça de minhas mãos e levou aos lábios, sorvendo pequena parte do líquido. Olhei para ele mortificada, e tomei-lhe novamente o Martini.
_Edward!!! – Passei os dedos por seus lábios, tentando tirar o líquido que estava ali. – Você ficou louco, o que está tentando provar?
_Que eu não sou medroso como você. – Ele provocou.
_Que gosto tem? – Perguntei, a curiosidade aguçada. Ainda com raiva de Edward, mas muito curiosa.
_Não sei direito. Gosto ácido… acho que meu paladar não está apto a capturar o sabor dos alimentos humanos direito…
Sem muita explicação, Edward levou os lábios aos meus novamente, abrindo espaço em minha boca. Meu corpo todo se arqueou para trás, e eu me contorcia em seus braços. Entendi o que ele fazia no instante em que sua língua tocou a minha. Ácido, muito ácido… ele estava me fazendo sentir o gosto, ao invés de me contar como era.

Separei-me dele, empurrando seu peito com força. Como ele era abusado, aquele puro infernal! Ele sorriu, recompondo-se. Peguei a taça novamente e levei-a a boca, sorvendo uma parte considerável do líquido. O choque foi imediato. Sucumbi parcialmente nos braços de Edward, enquanto o líquido me escorria pela garganta, queimando o que encontrava em seu caminho. Em poucos segundos, Alice estava ao meu lado, ajudando-me a manter-me em pé.
_Edward, você está louco! – Alice repreendeu o irmão, repetindo-me segundos antes. – Como pode deixá-la fazer isso?
_Acalme-se, Alice. Sabe que jamais colocaria Bea em perigo. Ela é parcialmente humana, Carlisle já disse que ela tem estrutura para alimentar-se com a comida deles. E ela estava morrendo de vontade de provar esse Martini… eu só lhe dei incentivo.
_Bea, como se sente?

Eu ainda não sabia. Reergui meu corpo, recostando-me em Edward. Respirei algumas vezes, e deixei minha língua passear por minha boca. O sabor não era ácido, somente. Era também doce, e suave. Olhei para a taça, e levei-a aos lábios outra vez. Daquela vez, bebi com cuidado, bem devagar. Olhei para Edward, um sorriso querendo se abrir em meus lábios. Ele sorriu primeiro, e a luz me cegou outra vez.
delicioso. – Eu disse, para Alice. Edward já sabia. – É delicioso!!
_E problemático. – Ela disse, olhando a taça. – Por favor, não passe dessa… sim?
_Pode deixar, eu a mantenho no controle. – Edward confortou a irmã. Mas Alice não pareceu muito satisfeita nem conformada, e ficou por perto. O Martini estava em mim ainda, e o sabor era tão entusiasmante que eu fiquei muito tempo parada, só deixando minha língua passear pela boca.
_Não posso beber mais? – Eu disse, olhando para Edward com os olhos brilhando. Eu sabia que eles brilhavam, porque eu os sentia assim.
_Calma, Bea. – Ele sorriu. – Lembra-se de que eu disse que é um entorpecente?
_Sim. – Emburrei. Edward deu uma risada alta, e me abraçou com força.
_Ah, como eu gostaria de compartilhar esse sabor com você, agora… mas é fantástico te ver tão absorvida por uma experiência humana!
_Você vê graça em cada coisa! – Protestei. – Eu só ingeri um líquido doce, isso nem é grande coisa.
_Mas você está agindo como se fosse. – Ele ainda me apertava entre os braços.
_Porque é novo para mim, oras. Tem certeza que não posso beber mais?
_Bem… – Edward ponderou, segurando-me pelo queixo e levando meus olhos até os seus. – Acho que duas taças não devem ser problema. Mas só duas, Bea. Não podemos subestimar a força do álcool.

Só duas, porque o Martini era um entorpecente. Entendi, foi o que disse para mim mesma. Edward levantou-se da mesa de bilhar, caminhou até o balcão que fazia as vezes de um bar, e voltou com outro Martini nas mãos. Eu sorri, empolgada. Seria muita tolice agir tão desproporcionalmente por causa de uma experiência tão singular? Afinal, como eu mesma dissera, eu só havia ingerido uma pequena porção de líquido! Aquilo não poderia ser tão importante a ponto de me pegar tomando a taça das mãos de Edward e entornando o seu conteúdo em minha boca, avidamente.
_Beatrice! – Edward me tomou a taça. – Como você é difícil! Não disse para ir devagar? Ainda não sabemos como você vai reagir…
_Eu estou bem! – Reclamei do meu namorado super protetor. – Nem Alice veio reclamar, ainda. Ela está te policiando desde o início.
_Eu sei, mas mesmo assim… acabaram os Martinis por hoje.

Eu não queria desistir, mas dentro de mim eu sabia que Edward tinha, mais uma vez, razão. Os efeitos daquele líquido apreciado pelos humanos eram desconhecidos em mim, então eu não devia confiar nas aparências. Eu parecia estar bem, mas estaria? A resposta não demorou a vir. Voltamos à pista de dança, porque eu queria dançar. Rosalie não havia parado nem um instante, e Emmett já parecia entediado. Meus amigos humanos se juntaram a nós, e Sylvia parecia bastante diferente. Alterada, por assim dizer. Ela dançava freneticamente, e girava como se fosse um brinquedo. Geoffrey estava acompanhado de uma garota que eu mal conhecia, e os dois estavam se beijando no meio da pista. Talvez os humanos não tivessem os mesmos problemas que eu… beijar os companheiros para eles talvez fosse menos problemático do que para mim.

Edward passou a me olhar com alguma incerteza, e eu senti seus dedos mais firmes em meus braços. Seu corpo aproximou-se, e se ele se aproximasse muito mais poderia estar em perigo. Eu estava com uma sensação de liberdade extrema, como se tudo ali pertencesse a mim e nada, ou ninguém, pudesse me dizer o que fazer ou não fazer. A ausência do certo e errado. Joguei meus braços em seu pescoço, levando meus lábios até seus ouvidos, com alguma dificuldade. Eu queria dizer-lhe algo, mas eu não consegui. Alice aproximou-se daquela vez, eu pude ver. Edward amparou-me em seus braços, sustentando completamente o peso de meu corpo.
_O que está havendo? – Alice perguntou, com Jasper ao seu redor.
_Ela está borrada. – Edward disse, lábios retorcidos e sobrancelha erguida. – Eu… é como se eu não conseguisse lê-la.
_Edward, Bea está bêbada! – Alice sentenciou. Jasper riu, sem conseguir controlar-se. – Você a deixou beber muito??
_Não! Ela terminou aquela taça e bebeu outra, apenas. Os humanos aqui estão bebendo desde que chegamos… alguns já devem ter consumido uma garrafa sozinhos. E todos parecem melhores do que ela, em seus pensamentos.
_Talvez ela esteja reagindo diferente. – Jasper considerou.
_Acho que devemos levá-la para casa. – Alice disse.
_Não, preciso sair com ela daqui… mas não para casa. Vou para outro lugar. Vamos nos despedir de Sylvia.
_Vamos todos com você. – Emmett disse, ouvindo a conversa. – Já cansei dessa festa, mesmo.

Edward me levou até Sylvia, sustentando meu corpo praticamente sozinho. Eu caminhava sem qualquer noção de direção, mas ele me mantinha na rota. Chegamos até Sylvia, e Edward informou da nossa ida. Disse que eu não me sentia bem, e que precisávamos nos retirar. O cheiro de Sylvia estava impressionantemente bom. Enquanto os Cullen falavam, eu sorvia o aroma que exalava de seu corpo suado. Era um convite a um banquete. E com a idéia de certo e errado totalmente misturada em meu consciente, Sylvia era mesmo um prato a ser servido. Instintivamente, virei-me para ela e rosnei, bem baixo. Edward puxou-me para si novamente, pressionando minha face em seu peito e disfarçando. Fui arrastada para fora da festa, enquanto os Cullen faziam parecer que nada estava acontecendo.

_Vamos levá-la para casa. – Rosalie disse, enquanto Emmett ligava o jeep.
_Vocês vão para casa, preciso levá-la a outro lugar. Ela está consideravelmente fora de controle…
_E pretende ir aonde com ela, Edward? – Alice protestou. – Em casa ela ficará segura… exatamente por estar fora de controle, ela pode decidir atacar humanos…
_Alice, não tenho muitas opções. Vou com ela para a cabana na campina.
_Acha mesmo a melhor opção? – Jasper interferiu.
_Vocês têm duas escolhas. Eu levo Bea para a cabana ou vocês nos ouvem fazer amor a noite toda. O que preferem? Já disse, ela está fora de controle. Como vou conseguir fazê-la comportar-se? Por ela, já estaríamos fazendo qualquer coisa que passe em sua cabeça agora, aqui mesmo.
_Eeeeew!! – Emmett gritou, de dentro do jeep. – Deixem-no levá-la.. eu nem vou conseguir comer depois!
_Ainda assim, estou preocupada. – Alice parecia irredutível.
_Confie em mim, Alice… ela volta ao normal logo, eu a levo para casa. Avisem Carlisle e Esme… vamos estar na cabana na campina, você sempre vai poder observar-nos.

Edward me carregou até o Volvo. Ouvi o jeep arrancar, e em poucos instantes Edward também colocava o Volvo em movimento. Eu fora amarrada com o cinto de segurança, mas aquilo talvez nem me fizesse diferença. Aquilo era estranho… Alice disse que eu estava bêbada! O que seria aquilo, fiquei me perguntando. Era como se meu cérebro se tivesse dividido em dois, e desprendido do meu cérebro. A parte consciente, que me fazia pensar e lembrar de tudo, mas que estava definitivamente fora do comando das ações; a parte inconsciente, que estava aparentemente no controle, e que não tinha nenhum tipo de moral; e o meu corpo físico. O corpo físico estava descoordenado, não respondia aos estímulos da parte consciente. E a parte inconsciente parecia tentada a não comandá-lo, deixando que o corpo fizesse o que quisesse.

O Volvo parou em meio à escuridão da noite, e senti as mãos de Edward me segurando e me retirando do carro. Depois, ele me carregou até a campina, pelo meio das árvores, até a cabana. Fazia frio, mas aquela noite estava bem melhor. A primavera estava quase chegando, e o período da neve e do gelo já tinha cessado. Uma brisa não tão gelada soprava, anunciando que as temperaturas ficariam amenas. Estava muito escuro, eu não podia ver quase nada. O céu estava parcialmente encoberto, e as estrelas não reluziam seu brilho no tapete negro da noite. A lua pálida parecia sem luz, enquanto se escondia tímida na presença de Edward. Eu me livrei de suas mãos, colocando-me de pé ao chão tão logo me senti em um local conhecido. Edward parou, olhando para mim, braços cruzados.

_O que pretende, Bea? – Ele perguntou, apreensivo.
_Que noite liiiinda. – Eu disse. Minha voz estava irreconhecível. O lado inconsciente do meu cérebro não parecia muito inteligente, então. – Vamos ficar aqui fora.
_Não. – Edward se aproximou, e eu o empurrei para longe. Ele era mais forte, mas talvez estivesse apenas tentando me proteger. – Eu já cedi a tudo que você quis essa noite, e as coisas não saíram muito bem. Vamos entrar na cabana, você precisa dormir.
_Não quero dormir, quero você. – Joguei-me para seu lado, em um movimento completamente contraditório. Se Edward não fosse rápido e se ele não soubesse exatamente o que eu pensava, eu teria caído ao chão como fruto maduro. Ele me sustentou em seus braços, respirando fundo.
_Você pode me ter lá dentro, vamos…
_Não! – Foi a minha vez de protestar, e afastei-me novamente. – Quero ficar aqui fora, sob a lua. – E com alguns movimentos rápidos, retirei os sapatos e os atirei para o lado da cabana. Edward continuava a me observar, daquela vez com as mãos nos bolsos. Ele parecia pronto para me impedir de fazer uma besteira, mas tentado a ver até onde eu chegaria com aquilo. Depois, meus dedos alcançaram o zíper do vestido e o abriram, fazendo com que a vestimenta deslizasse por meu corpo abaixo. Eu não sentia frio exatamente… sentia mais frio do que os puros, mas a temperatura estava bem mais satisfatória.
_Beatrice, você perdeu o juízo. – Edward rosnou, caminhando lentamente para mim. – Vamos, deixe-me levá-la para dentro, lá podemos…
_Venha, Edward. – Eu estiquei meus braços para ele, desejando que ele me tomasse entre os seus. – Não tem problema nenhum… ninguém vai nos ouvir, estamos no meio do nada.

Edward respirou fundo novamente. Ele tinha o semblante contraído, e me observava com bastante concentração. Eu estava parada em sua frente, braços estendidos, clamando por ele, desejando que ele me alcançasse na mesma intensidade que eu desejava fugir dele.
_Que se dane. – Ele disse, volume quase inaudível, e caminhou para mim, tomando meus lábios de assalto. O lado inconsciente sucumbiu a Edward da mesma forma que o consciente, e eu perdi totalmente o controle de mim mesma. Nada respondia a estímulo racional algum, só ao toque de Edward em mim. Em poucos instantes, estávamos afundados na relva da noite. Quanto mais ele me dava o que eu queria, mais exigente eu me tornava. Eu era além de uma aberração, era um monstro. Mas Edward ignorou a confusão mental que o Martini me causara e me amou ali mesmo, da forma como eu imaginei.

Os sonhos vieram de forma confusa. Eu não sonhava havia muitas noites; tudo parecia um buraco escuro quando eu dormia. Mas naquela noite eu sonhei, e aquilo significava que eu havia adormecido. Talvez a única coisa normal que eu tivesse feito a noite toda. Sonhei com o covil, com Rudolph e Felicia, com Connor, com aquele conceito de casa. Eu não me sentia em casa, ali. Eu estava tão bem entre os Cullen… era como se eu sempre tivesse pertencido àquela família. Acordei sobressaltada, encolhendo-me no canto da cama, quando o Rudolph de meu sonho colocou as mãos em mim, frias como pedra de gelo. Meus olhos se abriram e a claridade da luz me fez fechá-los novamente. Olhei em volta, minhas mãos procuraram por Edward mas ele não estava ao meu lado. Consegui encontrá-lo na porta de entrada, quase invisível pela luz solar que iluminava sua pele. Ele estava parado observando a imensidão exterior. Sentei-me na cama, esfregando os olhos para ter certeza de que aquilo não era uma visão.

Edward era lindo, quase irreal. Meus olhos não cansavam de olhá-lo, e meu coração sempre batia mais rapidamente quando ele estava por perto. Eu já não sabia se meu coração parecia como antes; eu quase podia senti-lo bater com intensidade demais para uma pessoa morta. Nada naquele vampiro estava fora do lugar, se aquilo fosse possível. Pisquei algumas vezes, treinando meu hábito humano, e pensei em levantar-me para me aproximar dele. Mas em instantes Edward estava ao meu lado, sentado na cama, sorrindo.
_Bom dia, meu amor. – Ele me beijou a testa. – Como está se sentindo?
_Onde estamos? – Eu perguntei, deitando em seu peito nu.
_Na cabana… lembra-se dela, seu primeiro passeio ao sol?
_Acho que sim. – Eu estava então sentindo as coisas girarem. Edward recostou-se no encosto da cama e me fez aconchegar em seus braços. Minha cabeça girava, e tudo parecia sair do lugar. – Mas o que fazemos aqui?
_Viemos para cá depois da festa. Você não se lembra de nada… e eu nem posso saber direito o que você pensava, porque você estava totalmente borrada, para mim.
_Ai… – Eu reclamei, sentindo-me muito mal. – O que houve comigo, Edward?
_Vou levar você para casa. – Ele me beijou a testa novamente. – Você está com dores… Carlisle vai ajudar isso a passar.
_Primeiro me diga… o que houve.
_Você bebeu. – Ele riu.
_O Martini…
_Sim. Lembra-se, eu disse que aquilo era uma droga. Você bebeu e o Martini reagiu de uma forma meio inesperada no seu organismo… você ficou bêbada, e totalmente fora de controle. Por isso eu te trouxe para cá…
_Ouch. – Eu me escondi em Edward, como fazia sempre que embaraçada. – Nem quero imaginar o que eu fiz.
_Nada demais. – Ele me beijou novamente. – Vamos para casa… Alice já ligou querendo saber de você, ela viu que você acordaria logo.

A luz do sol estava fraca, mas presente. Edward me conduziu para fora da cabana, sempre me amparando. Eu estava me sentindo muito mal, mesmo. Meus olhos se fecharam; o sol parecia ferir minhas retinas. Edward me tomou em seus braços e me carregou até o carro, com todo cuidado. A casa dos Cullen nunca pareceu tão longe, mas eu acabei me sentindo melhor durante o trajeto. Edward segurava minhas mãos com a sua, e aquilo já era conforto o suficiente para que eu melhorasse.

_Bea! – Alice me recebeu na porta de entrada. Ela parecia mesmo aflita… eu não gostaria de tê-la feito sofrer. Os Cullen todos me esperavam, e eu me senti o show principal no circo dos horrores. – Bea, como você está? Vejam essas olheiras… parece que você não se alimenta há dias!! Mas você caçou quinta feira, então…
_Acalme-se Alice. – Eu disse, tentando sorrir. – Só estou com dor de cabeça… nunca senti isso antes.
_Efeito do álcool. – Carlisle sorriu, sentado com um jornal nas mãos. – O álcool tem essa característica, de causar dor de cabeça no dia seguinte. Chamam de ressaca.
_Ah, adorei. – Eu fui sarcástica. Pensei que estava perdendo aquela característica, mas felizmente não.
_Edward, você é um irresponsável. – Alice ainda protestava. Jasper aproximou-se dela, abraçando-a. – Como você deixou isso acontecer!!
_Menos, Alice. – Edward reclamou, mas eu pude sentir em seu olhar que ele se sentia exatamente como ela o descrevia.
_Alice está certa, você anda exagerando. – Rosalie franziu os lábios.
_Meninos, essa discussão não vai levar a nada. – Esme decidiu interferir. – Bea, você quer alguma coisa? Tomar um banho, deitar-se…
_Não, estou bem. – Tentei manter-me erguida, e abracei Edward pela cintura. Senti seu corpo estremecer, e seus dedos delicadamente tocarem os meus cabelos. – Não culpem Edward, ele não sabia que eu poderia reagir dessa forma. E no mais, eu decidi beber as duas taças sozinha.
_Você é muito fraca, irmãzinha. Não é à toa que se apaixonou pela parte fraca da família…
_Emmett!! – Esme o repreendeu imediatamente. – Vocês andam impossíveis!
_Vou levá-la para o quarto. – Edward disse, já preparado para me conduzir escadas acima.
_Deixe-a descansar, Edward! – Emmett implicou, e Jasper deu uma risada. – Por isso minha irmãzinha está mal… dá um tempo!

Eu pensei que ele fosse fazê-lo, e já me preparava para segurar Edward quando ele voltasse alguns degraus da escada e agarrasse Emmett pelo colarinho. Ele era sempre educado demais, mas eu pude sentir que Emmett tinha passado dos limites. Afinal, Edward se sentia culpado pelo que me acontecera comigo, e o irmão não estava colaborando em nada. Mas Edward cerrou os punhos e concentrou-se, desistindo de fazer qualquer coisa de que fosse arrepender-se depois. Eu coloquei as duas palmas das minhas mãos em seu peito, aproveitando que a escada me fazia ficar de sua altura, e olhei em seus olhos. Sorri levemente, e beijei seus lábios bem devagar.
_Eu estou bem; vamos ficar aqui com sua família. – Eu disse, em volume muito baixo.
_Preciso que você esteja mesmo recuperada, Bea. Não quero ser…
_Você sabe que estou bem. Pode ler… pode ver. E por favor, não se sinta culpado. Eu te amo.

Meus dedos involuntariamente se colocaram na frente da minha boca, e eu olhei para Edward bastante apavorada. Ele sorriu, iluminando a sala, as mãos bem posicionadas em minha cintura. Olhei ao redor, e os Cullen definitivamente nos observavam. Eu me senti constrangida, e achei melhor não comentar nada. Edward ainda sorria, e seu sorriso era tão sincero que me fazia constranger ainda mais. Eu tinha acabado de dizer ‘eu te amo’, e eu já estava entre eles tempo o suficiente para saber o significado daquilo. Amor era o sentimento maior, e amor entre um homem e uma mulher…
_Eu te amo. – Ele disse, beijando-me rapidamente. Rapidamente, porque senão aquilo poderia dar razão a Emmett e seus comentários fora de propósito.

Passamos o dia em família, e aquilo significou diversão. A televisão ligada e os jogos do final de semana divertiam Emmett e às vezes Carlisle. Esme preferia realizar trabalhos manuais, enquanto Alice jogava com Edward e Jasper. Ela conseguia acabar com qualquer jogo muito rapidamente, então aquilo se tornava muito extraordinário. Rosalie era mais de acompanhar o movimento, como eu fazia. Eu acompanhava o movimento, deitada por sobre Edward, brincando com as suas peças de vestuário como se elas fossem algo divertido. Na verdade, eu não me cansava facilmente. Ficar deitada, recostada, sentada; tudo era um hábito e uma conveniência. Era conveniente – e muito! – ficar por sobre Edward o dia inteiro.

O mais estranho de tudo foi que a experiência com o Martini me fez interessada na alimentação humana. Apesar da frustração absoluta na minha primeira vez, eu passei mal porque, segundo Edward, o álcool era uma droga. E se eu não experimentasse coisas perigosas, mas sim aquelas que todo humano sempre comeu? E se eu tentasse apenas o simples… teria problemas? Mas a minha aversão pela minha parte fraca logo deu lugar à indecisão, e preferi continuar ali, com os Cullen, deixando o tempo passar. Eu queria e não queria, e toda aquela dúvida me irritava profundamente. Se eu me alimentasse de comida humana, eu poderia ter problemas. Eu tinha certeza que algo aconteceria. Até que meu namorado decidiu tomar a frente.

_Carlisle… – Edward perguntou, sem tirar os olhos do quebra cabeças de Jasper. – Você lembra que disse que Bea está em adaptação?
_Sim, ela estava. – Carlisle deixou o jogo de futebol de lado e encarou o filho.
_Estava? – Perguntei, sem ter certeza de onde Edward queria chegar.
_Você já está completamente adaptada, pela minha análise. – Carlisle sorriu. – As células que estão comigo no hospital já não realizam mudanças há várias semanas.
_Então, não é possível que seu organismo sofra mais mudanças? Se ela mudar de hábitos…
_Enquanto ela estiver aqui, sob o sol, não. – Carlisle olhou para a televisão quando Emmett gritou alguma coisa, protestando por um provável erro de arbitragem. - Por que pergunta isso, Edward? O que tem em mente?
_Nada específico. – Seus dedos passearam por meus cabelos, na intenção de me confortar. – E se Bea quiser mais experiências humanas, acha que isso poderia afetá-la? Como comer comida humana?

Ah! Edward, maldito vampiro!! Ele não tinha o direito de saber de tudo; eu desejei desmembrá-lo com minhas próprias mãos, naquele instante. Apesar de eu ter só acabado de dizer que o amava, eu retiraria cada palavra só porque ele me provocava daquele jeito. Irritante, petulante!
_Não… – Carlisle riu, uma risada bastante divertida. – Seria como dizer que se humanos bebessem sangue, tornar-se-iam vampiros. – Daquela vez a risadaria foi geral. Eu estava emburrada nos braços de Edward, pronta para atacá-lo com os dentes. Ele me pressionava com força contra si, sabendo de minhas intenções maquiavélicas. – Bea é o que é. Metade vampiro, metade humana. Ela tem características das duas espécies, e nada poderá alterar isso nela. Um hábito pode substituir outro, mas nunca alterar a essência de seu ser.

Sábio Carlisle, mas eu ainda pretendia meu acerto de contas com Edward. Mais tarde, em qualquer momento. De qualquer forma, foi interessante ouvir que eu já estava adaptada, e que nada mais poderia me mudar, enquanto ali estivesse. Eu estava suficientemente adaptada ao sol, e aquilo deveria render uma celebração. Sorri timidamente para Carlisle, como que agradecendo por sua intervenção e por seu tempo dedicado a mim. Eu deveria ser uma incógnita divertida, mas ainda assim eu deveria agradecer porque ele não precisava dispor de seu tempo estudando meu organismo. Era bondade, e eu sabia que Carlisle era uma pessoa boa.
_Eu te amo, Beatrice. – Edward sussurrou em meus ouvidos, e eu entendi que ele pretendia redimir-se pela pequena invasão de privacidade que acabara de acontecer. – Eu te amo… tudo que faço é por você. Talvez você nem entenda, mas eu só quero ver você feliz.
_Eu estou feliz. – Emburrei um pouco mais. – Se você não insistir em ser o sabe-tudo, eu serei ainda mais feliz.
Edward beijou meus cabelos, e levantou o olhar para Esme, que se divertia com revistas de decoração.
_Esme… – E lá ia ele novamente. – Temos suprimentos humanos em casa?
_Sempre, Edward. – Esme sequer elevou o olhar. – Por que pergunta?
_Pretendo fazer algo.

Edward levantou-se apressado, e foi até a cozinha. Rosalie estava curiosa o suficiente para segui-lo, bem como Jasper desistiu do quebra cabeças e também foi descobrir o que acontecia. Edward começou a remexer os armários e abrir a geladeira, uma coisa completamente assustadora. Vampiros brincando na cozinha! Era algo de se esperar, vindo da família Cullen. Eles eram definitivamente atípicos. Mas eu não entendia o motivo dele fazer aquilo, visto que ele não comia. A cozinha não deveria lhe ser de nenhuma utilidade.

_Você não sabe fazer isso direito! – Rosalie tomou algo das mãos de Edward. – Se vai bancar o chef para sua namorada, então aprenda com o mestre.
_Quanta arrogância, Rosalie. – Edward riu. – Mas tudo bem… ensine-me.

Cheguei até a cozinha e encontrei os irmãos Cullen fazendo algo inusitado. Em poucos minutos, Carlisle e Esme também estavam presentes. Alice chegou logo depois. Havia um pó branco espalhado por vários lugares, inclusive pelos cabelos de Edward. De seus olhos emanava um brilho especial, e ele sorria abertamente. Rosalie parecia divertir-se também, enquanto Jasper mais observava do que ajudava.
_Panquecas? – Esme se aproximou, curiosa. – Mas isso é café da manhã!
_Eu avisei!! – Rosalie jogou algo em Edward, fazendo com que o ar ficasse turvo de pó. Eu observava a tudo atônita, olhos vidrados. – Agora vai cozinhar o jantar no café da manhã!
_Espera que eu entenda a cronologia da alimentação humana, Rose? – Ele tentou defender-se.
_Deveria ter me deixado intervir!! – Ela implicou. – Agora é tarde, vamos às panquecas.
_Esperem. – Eu decidi deixar de ser mera expectadora e entrei cozinha adentro, um tanto chocada com toda a informação que estava me sendo oferecida. – Vocês estão cozinhando?
_Edward está. – Rosalie caiu na risada, acompanhada de Jasper. Até Alice riu. – Mas ele não parece muito bom com isso…
_Por quê? Vocês não comem!!
_Você é muito devagar, irmãzinha. – Emmett bradou da sala, sem deixar a televisão. – Até eu já sei que Edward está cozinhando para você! Comida humana para satisfazer sua vontade.
Meus olhos arregalados encararam Edward, que estava na beira do fogão, com algo de cheiro estupidamente nauseante sendo cozido pelo fogo. Ele sorria, eu pude ver; um sorriso completamente delicioso. Ele estava mesmo se divertindo. Como eu poderia repreendê-lo? Eu não queria comer comida humana, ou eu resistia à tentação de querer, mas ele estava definitivamente tendo um bom momento com aquilo. A vontade de desmembrá-lo e queimá-lo passou, dando lugar à vontade de fazê-lo pagar por aquilo de uma forma menos destrutiva.

Rosalie tomou de suas mãos a frigideira, rosnando. Jasper caiu na risada, e eu querendo entender o que se passava. Edward deu de ombros, e caminhou até mim, ainda sorrindo. Segurou-me pela cintura, elevando-me o suficiente para me fazer sentar na bancada escura de pedra.
_Você não vai desistir, eh? – Eu disse, enquanto ele se posicionava por entre minhas pernas, ajeitando meu cabelo com as mãos.
_Nem um pouco. – Ele disse, observando o que Rosalie fazia por cima de meu ombro.
_E o que é isso? – Eu apontei o pó branco que estava em seus cabelos, por sua face, em suas roupas.
_Farinha. – Ele riu mais, enquanto Alice e Jasper mal se agüentavam de pé. – Ingrediente para a comida… os humanos não são simples em sua alimentação, eles precisam misturar ingredientes, selecionar nutrientes… somos muito mais simples! Basta uma boa dose de sangue fresco e…
_Mas os humanos não matam para comer, matam? – Perguntei.
_Sim, matam. – Carlisle ponderou. – Os humanos se alimentam de carne, não de sangue… eles comem carne de animais. O que eles não fazem é comer outros humanos. Mas, considerando a dieta normal de um humano adulto, ela é tão cruel para os animais quanto a nossa.
_Isso me faz sentir melhor. – Jasper riu.
_Pronto, Edward. – Rosalie se aproximou com um prato nas mãos, e vários discos flexíveis, fofos e com cheiro doce. Franzi o nariz, não muito afeita àquele aroma. – Quer geléia? Melado?
_O que temos?
_Manteiga. – Esme sugeriu. – Acredito que manteiga seja uma ótima idéia.

Alice se aproximou com algo nas mãos, e Edward pegou um instrumento metálico. Passou a tal manteiga nas panquecas e voltou para mim, retomando a posição anterior. O cheiro havia melhorado bastante… não estava mais tão doce, mas era incoerente com tudo que eu conhecia. Era como se aquele fosse realmente um novo cheiro para minha lista. Edward tinha algo em suas mãos.
_Abra a boca. – Ele disse, sem muita hesitação. Os presentes estavam todos muito ansiosos, como se algo fantástico fosse acontecer. Eu, no entanto, hesitei. Olhei para o pedaço de alimento em suas mãos, um creme amarelado escorrendo pela massa fofa e aromatizada da panqueca, e hesitei. – Vamos Bea… seja boazinha, abra a boca.
Fechei os olhos e obedeci Edward. Tentei parar de respirar, mas meu coração estava acelerado. Era mais difícil brincar de não respirar quando eu estava normal, não alterada daquela forma. Boca aberta, senti o pedaço de panqueca ser depositado em minha língua. Era quente! Muito mais quente do que qualquer experiência; só era menos quente do que o sol.
_Agora feche. – Ele riu, e ouvi todos rirem. – Você precisa mastigar, Bea…
_Maxtigar? – Falei, boca cheia da massa com manteiga.
_Sim, mova seu maxilar para cima e para baixo… movimente-o. Você viu os humanos fazendo isso, imite-os. Pressione a massa contra os dentes até dissolvê-la.

Bastante pedagógico, era meu Edward. Ele talvez não precisasse me ensinar cada movimento da alimentação, mas ele estava mesmo tendo prazer naquilo. Eu mastiguei o alimento, sem abrir os olhos, deixando a massa amolecida passear por minha língua, saboreando como fiz com o Martini. Demorei mais do que deveria para engolir, porque minha garganta não se abriu corretamente para aquilo. Foi difícil, como se impossível empurrar aquela pasta uniforme para dentro do meu corpo. Mas eu consegui, e o alimento desceu por minha garganta, queimando. Ardendo, como fogo. Respirei lentamente… esperei a sensação passar, e abri meus olhos.

Edward me olhava apreensivo, mas deliciado. Ele certamente sentiu tudo, como eu havia sentido. A conveniente máscara que o afastava de meus pensamentos quando eu desejava não estava no lugar, porque minha concentração se prendia a outros pontos importantes.

_Mais? – Ele me ofereceu o prato com o talher, e eu segurei imediatamente. Cortei mais pedaços de massa e coloquei na boca, mastigando com mais facilidade. Em poucos minutos, eu havia comido todo o prato de panquecas, com a platéia ansiosa por minha reação.
_Isso estava bom. – Eu respondi às perguntas não feitas. Percebi alívio nos Cullen, e uma expressão de êxtase em Carlisle. O show de horrores estava mais terrível ainda. Agora a híbrida se alimentava de sangue e comida humana. Talvez eles estivessem curiosos para saber de qual eu gostava mais. Se aquela escolha fosse razoável.
_Se você gostou da gororoba de Edward, precisa provar comida de verdade. – Alice riu, se aproximando. – Você está tão linda, Bea…
_Sim, está. – Foi a vez de Esme concordar. – Existe cor em sua pele, não existe?
_Sim! – Carlisle considerou. – Como se ela estivesse… oh, essa humanidade é tão imprevisível!
Eu não os entendia naquele instante, mas sabia que logo compreenderia. Eu já havia desistido de ver algum sentido no que os Cullen falavam, e aceitava de bom grado as metáforas e os comentários implícitos. Eles me confundiam, mas eu podia jurar que também os confundia.
_Vou cozinhar para você todos os dias. – Edward empolgou-se, como que ignorando os comentários dos pais. Como se ele já soubesse daquilo.
_Não preciso comer todos os dias…
_Humanos comem várias vezes ao dia!
_Não sou humana, Edward Cullen! – Protestei, descendo da bancada. Eu não queria ser humana, e pretendia que ele entendesse aquilo. Eu era parte humana, e aquela parte era suficiente. Eu estava feliz como era, mas antes me transformasse em uma vampira completa do que em uma humana. Novamente, aquele pensamento o deixou desconfortável, e ele cerrou os punhos em represália. – Eu nem sei como deveria comer comida humana… eu tenho sede, então preciso caçar com vocês. E comida humana?
_A sensação é a mesma. – Carlisle ponderou, mas eu imaginava que todos eles sabiam a sensação. Menos eu, porque eu não me lembrava de ter sido uma humana, um dia. – Você sente uma ânsia… uma queimação interior… é o que os humanos chamam de fome. É algo simples… se o que você ingere é líquido, você tem sede, como nós. Se o que você ingere é sólido, você tem fome, como os humanos.
_Então eles também têm sede? – Considerei, lembrando-me do Martini.
_Sim, mas é uma sede diferente. – Jasper considerou. – Bem, eu acredito que você precisa tentar comer a comida humana, quando sentir sede. E ver o que acontece… ver se a comida satisfaz você.

Eu não quero, pensei imediatamente. Eu não desejava trocar a minha sede pela comida humana. Por mais deliciosa que tenha sido a experiência com as panquecas de Edward, e por mais tentadora que tenha sido a proposta oferecida – eu adoraria que ele cozinhasse para mim todo dia; ainda mais que ele me alimentasse, eu não queria trocar uma experiência por outra. Eu não queria deixar de ser vampira, em sua essência. Eu nunca desejei matar humanos, nunca desejei ceifar-lhes a vida para alimentar-me. Mas os Cullen me ensinaram uma forma mais aprazível de alimentação; uma forma até divertida. Eu também não me sentia satisfeita em matar animais, mas considerei que, se os Cullen o faziam, era porque estava autorizado. Aquela conversa na cozinha ainda fora mais esclarecedora; os humanos também matavam para se alimentar. Então, eu estaria perdoada pelo derramamento de sangue alheio. Daquela forma, era inaceitável que eu trocasse as minhas necessidades vampiras pelas humanas.

Edward colocou fim à festa na cozinha dos Cullen quando decidiu tomar o prato vazio das minhas mãos e lavar a louça. Esme não deixou o filho realizar aquela tarefa, empurrando-o para o meu lado. Eu sabia que ele estava ligeiramente irritado com o meu comportamento, porque ele provavelmente não compreendia as minhas razões. Talvez eu mesma não compreendesse as minhas razões, mas mesmo assim elas eram as convicções que eu tinha. Algumas convicções eram exclusivamente minhas, e a grande maioria eu tinha adquirido com os Cullen. Com Edward. Ele deveria se sentir feliz em ter sido decisivo em tantas coisas importantes em minha existência. Uma das minhas mais importantes decisões fora ele próprio. Decidir ficar com ele, estar ao seu lado, não importasse nada. Ele era tudo que eu pedi para acontecer, e tê-lo materializado em minha frente sem qualquer restrição era quase como se eu vivesse um sonho. Mas não, eu não abriria mão de ser plenamente uma vampira, nem das caçadas com ele. Apesar de ter aceitado todas aquelas experiências humanas.


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