Sob a Luz do Sol escrita por Tatiana Mareto


Capítulo 16
Capítulo 15 - A Visão




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_Edward! – Alice entrou quarto adentro, olhos arregalados. Eu estava dormindo, desfalecida nos braços de Edward. Já estava amanhecendo, era mais uma manhã de aula que chegava. Alice tentou falar baixo, mas seu movimento me fez despertar assustada.
_Alice… – Edward sacudiu a cabeça. – Por favor, precisava acordá-la assim? – Você está bem, Bea?
_Sim, o que houve? Alice… o que houve?
_Edward… Bea… os híbridos. – Alice ainda parecia em transe.
_O que há com eles? – Tentei recompor-me, garantindo que eu estava bem escondida sob os cobertores. Já bastava os Cullen entrarem no meu quarto… no quarto de Edward… no nosso quarto! Já não bastava os Cullen entrarem toda hora no nosso quarto, só faltava que eles me vissem sem as vestes. O constrangimento seria incalculável.

Edward olhou para Alice com um aspecto sombrio. Senti um arrepio me percorrer a espinha, e afundei-me ainda mais em seus braços, que me comprimiram com força.
_Você tem certeza, Alice? – Edward perguntou, assombrado.
_Sim, mas eu ainda estou em dúvida quanto ao tempo.
_O que está havendo? – A conversa silenciosa deles era ainda mais irritante quando eles falavam deixando lacunas. – Digam-me, o que há com os híbridos? Por que esse pavor todo, Alice?
_Deixe que falo com ela. – Edward respirou, resignado.
_Não seja tolo, deixe Alice falar! A visão foi dela.
_Bea… – Alice sentou-se à beira da cama. – Eu os vi. O covil… vários homens reunidos… um deles era mais velho, tinha cabelos descoloridos pelo tempo. Ele determinou que todos saíssem em sua busca. Eles… estão tentando rastrear você.
_Rudolph. – Eu abri os olhos, muito confusa. – Mas… por que eles vêm em minha busca? Eu avisei a Rudolph que iria embora… eu deixei claro que sairia em busca do sol. Em busca da vida com os humanos. Ele não me proibiu.
_Eles sabem de Connor. – Edward disse, entre os dentes. Suas mãos me seguravam firme, mas não o suficiente. – Eles sabem que o caçador morreu, e decidiram sair atrás de você.
_Isso é ridículo! Eles ainda acham que podem me rastrear? Você tem razão, Edward, os híbridos são estúpidos! Eles não sabem em que estão se metendo…
_Bea, eles virão por você. E…
_Alice, deixe isso.
_Edward, você não pode protegê-la da verdade! – Alice insistiu.
_Eu quero saber. – Fui enfática.
_Eles vêm te buscar porque você foi prometida a alguém. Connor é só um pretexto para saírem todos do covil de uma só vez.. todos os caçadores.
_Quantos eles são? – Edward perguntou.
_Quinze. – Eu respondi, ansiosa. – O conselho é formado por quinze caçadores… incluindo Rudolph. Mas isso ainda é ridículo, eu fui prometida? Eu não vou voltar com eles, não importa o que digam ou acham. Eu estou com Edward!

Ele me beijou os cabelos, e eu pude sentir apreensão. Tanto nele quanto em Alice.
_Eles não pretendem desistir, Bea. – Alice disse, olhar baixo.
_Vamos para a Europa. – Edward disse. – Vamos fazer a viagem que estamos planejando… eu sei que o semestre ainda não acabou, mas… não vou arriscar ficando aqui. Eles demoram a rastrear, certo?
_Sim… eles precisam estar sintonizados em mim. Como eu deixei o covil há muito tempo, e meus rastros próximos já devem ter sido apagados… eles vão demorar a me achar. – Falei, tentando imaginar como Rudolph faria para me encontrar tanto tempo depois.
_Então, vamos! – Edward me olhava quase que como implorando. – Alice, dê-nos licença, sim? Precisamos nos vestir.

Eu ainda estava zonza. Ser acordada daquela forma não era um hábito. Eu desistira de batalhar contra meu sono, como fazia antes, e passei a aceitar de bom grado a exaustão que me consumia à noite. Até porque Edward vinha me mantendo cansada. Meu corpo se cansava, ao contrário do corpo dele, de puro. Eu não tinha toda a força dele. Eu era fraca como os humanos, era um fato. Apesar de que Carlisle sempre dizia que eu era cem por cento cada um. Que eu era cem por cento humana em tudo e cem por cento vampira. Que cada lado balanceava o outro, de forma inusitada.

Desde que decidimos passar efetivamente as noites juntos – para não dizer ativamente, a minha cama se mudou para o quarto de Edward. O quarto que fora destinado a mim era um quarto de sobra, como se os Cullen um dia pudessem receber uma visita que dele precisasse. Mas não fazia sentido, segundo Esme, que eu continuasse ali. Fui literalmente transferida para o quarto de Edward e seus diários, seus CDs, seus equipamentos, seus livros, suas roupas, seu cheiro; tudo ficou mais próximo de mim. Mas os Cullen continuavam a não respeitar nossa privacidade, entrando sempre que desejavam. Eu imaginei que eles podiam saber quando estávamos apenas conversando, ou quando eu dormia, porque nunca entraram em um momento realmente inoportuno. Mas eu detestava ser pega daquela forma, sem estar vestida, totalmente indefesa.

Edward estava ansioso, demais. Ele vestiu-se com velocidade muito superior à que eu poderia esperar, e desceu as escadas, deixando-me para trás. Escolher roupas para a escola não me era uma tarefa prazerosa, então deixei que Alice separasse sempre as peças que combinavam, para que eu não tivesse trabalho. Peguei alguma coisa da pilha “escola” que ela tinha organizado e desci para me encontrar com a família.

_Edward, você não precisa se apressar tanto, filho. – Carlisle falava com ele. – Vai dar tudo certo, eles não ousarão tirar Beatrice de nossa casa. É uma afronta.
_Confie em Carlisle, Edward. – Esme tentava tranquilizar o filho. – Ninguém vai levar Bea para lugar algum.
_Se precisar, arrancamos as cabeças deles como fizemos com aquele outro! – Emmett estraçalhou qualquer coisa em suas mãos, desintegrando o objeto.
_Eu sei, eu sei… mas mesmo assim, quero ir. Podemos?
_Claro que vocês podem! – Esme riu, e abraçou o filho. – Vocês não precisam mesmo da escola… e creio que perder o final das aulas não vai causar nenhum problema. Conversem com seus professores, e peçam para fazer alguns trabalhos. Assim, não perdem as provas finais.

Edward sorriu, retribuindo o abraço da mãe. Eu tinha certeza que ele não precisava pedir a permissão dos Cullen para ir onde quer que fosse, porque ele era livre. Maduro o suficiente para suas decisões. Mas eles realmente viviam como uma família. Realmente, eles eram uma família como eu nunca tinha visto antes. E aquele sentimento era uma das coisas que mais me fazia feliz, entre os Cullen.

O dia na escola foi normal. Edward praticamente não assistiu às aulas, perambulando de professor em professor, indo até a secretaria e resolvendo coisas sobre nossa viagem. Ele pretendia deixar tudo programado na escola, para que ninguém suspeitasse de nada e para que pudéssemos não perder provas importantes. Os Cullen respeitavam demais todos os rituais humanos, era outro dos pontos interessantes que eles tinham. Eu não estava habituada a muitos dos rituais humanos, mas me divertia vendo como eles os desempenhavam com tanta exatidão e perfeição.

Nem mesmo no almoço Edward ficou comigo. Fui relegada aos humanos, empurrada literalmente para a mesa deles. Vez ou outra meu namorado vampiro protetor me fazia sentar com os humanos, e interagir com eles. Apesar de serem sempre os mesmos… Sylvia, Layla, Geoffrey e outros que considerava menos. Eu gostava dos humanos; eles tinham um cheiro delicioso e a salivação ainda era incontrolável perto deles, mas eu sempre estava satisfeita e sabia que era errado atacá-los. Aquela idéia de certo e errado, de bem e mal que eu carregava desde o covil e que se repetia no comportamento dos Cullen. E os humanos eram divertidos, eles me faziam rir, eles gostavam de mim.

_Bea, você vai ao meu aniversário, certo? – Sylvia disse, entre tantas conversas que tivemos na hora da refeição. Que eu não comia.
_Aniversário? – Ergui uma sobrancelha, tentando me recordar.
_Sim!! Tome, pegue um convite – Sylvia me entregou um envelope cor de rosa. – A festa será semana que vem… ah, você tem que vir! Todos na escola vão… você pode levar… seu primo. Aliás, você vai me contar o que há entre vocês, hem?
A indiscrição não era exclusiva da casa dos Cullen, era verdade. Os humanos também o eram, pude perceber cedo demais.
_Credo Syl… eles são primos! – Geoffrey fez uma careta.
_Somos primos distantes… bem distantes. – Eu já estava ficando uma artista em mentir. Aprendi facilmente a ludibriar meus amigos humanos.
_Então!!! Geoffrey Miller, não tem nada demais namorar primos, tá? E convenhamos, Edward Cullen!!! Se ele fosse meu primo, eu já teria atacado.
Pressionei os lábios, irritada. Olhei para Edward e ele ria, descontroladamente, da situação. Senti ainda mais raiva, porque ele estava se divertindo à custa da minha indignação. Excelente comportamento para um namorado!
_Syl, se eu fosse a Bea eu te batia agora! – Layla me defendeu. – Diga, Bea… vocês estão namorando?
_Sim. – Falei, segurando a maçã entre os dedos. A fruta vermelha de aroma ácido sempre me tentara. Segundo as histórias de Felícia, os humanos foram expulsos de um paraíso por causa de uma maçã. Eu sempre tive curiosidade de saber o que aquele fruto tinha de tão proibido assim. – Estamos namorando.. mas gostamos de ser discretos.
_Aaaaaaah! – As duas amigas gritaram juntas. – Que máximo!! Edward é tão lindo… pena que nunca dá muita bola para nós, é verdade. Aliás, você é a única Cullen que conversa com a gente, mesmo.
_Não sou Cullen, sou Caldwell. – Corrigi.
_Vai ver que é por isso. – Geoffrey caiu na risada.

Se os humanos já não estivessem se divertindo demais com minha situação, ela não iria melhorar porque uma invasão de vampiros não se materializou ali, naquele instante. Edward e Jasper se levantaram de sua mesa e caminharam até a mesa dos humanos; Jasper carregando nas mãos uma lata de refrigerantes. Os dois pararam atrás de mim, que estava distraída conversando com Layla, causando certo espanto em Geoffrey, Sylvia e outra garota. Edward tinha um sorriso insuportável nos lábios, e eu sabia que ele seria perverso. Certamente ele tinha ouvido toda a conversa, e certamente ele e Jasper decidiram colocar um fim ao mito “os Cullen não falam com a gente”.

_Boa tarde. – Jasper disse, jogando-se em uma cadeira e apoiando o refrigerante na mesa. – Tem lugar para mais um nessa mesa? A nossa está muito silenciosa.
_Bea. – Edward se sentou ao meu lado, puxando minha face para si e beijando-me os lábios suavemente. As meninas – todas! – deixaram os queixos desabarem ao chão, em um misto de perplexidade e inveja. Ah, a inveja. Eu nem sabia como funcionava a inveja. Mas eu senti, senti as meninas totalmente invejosas do beijo que eu acabara de receber do meu namorado. Usar o pronome possessivo na primeira pessoa era definitivamente divertido.
_Vocês demoraram. – Impliquei. – Pensei que ficariam decidindo juntar-se a nós por muito tempo.
_Bem, já que os Cullen estão aqui… – Sylvia fez uma careta. – Vocês vão à minha festa de aniversário, certo?
Jasper e Edward se entreolharam.
_Sim, não perderíamos por nada. – Foi Jasper que respondeu.
_Sério? – Layla parecia surpresa, até demais. – Os Cullen?
_E por que não? Fomos convidados, não? – Edward olhou para Sylvia, e eu o cutuquei por baixo da mesa. Era cruel demais fazer aquilo, olhar para as pessoas daquela forma. Ele tinha que perceber que ele exercia uma atração insuportável em todos ao redor.
_Sim, claro! Bea já tem o convite… – Sylvia estava então empolgada como nunca. Jasper e Edward passaram o resto do almoço ali, interagindo com os meus amigos humanos. Eu parecia a amiga deles, dos humanos. Os Cullen eram mesmo muito mais reservados quanto à postura deles com os humanos. Eu me sentia naturalmente tendente a estar com eles, talvez por afinidade. Cor da pele, coração batendo, essas coisas.

_O que foi aquilo? – Perguntei, já em casa. A casa dos Cullen. Edward havia me abduzido para o piano novamente, e tocava seus acordes melodiosos.
_Eu não quero ser aquele que não conversa com ninguém. – Ele respondeu sem se desconcentrar da música. – E eu considerei que você precisava de uma ajuda com o convite para a festa. Jasper também queria interagir, ele precisa.
_Não sei por que confirmou a presença.
_Porque pretendo ir. – Edward me sorriu, ainda tocando.
_Mas… a viagem? A visão de Alice…
_Alice viu os híbridos vindo, mas ainda não precisou o tempo. Por suas contas, eles devem conseguir chegar aqui em não menos do que dois meses. Temos tempo sobrando para irmos à festa de Sylvia e programarmos a viagem com calma.
_Seu humor me assusta. – E não era mentira! – Como você pode mudar de idéia tão rapidamente sobre as coisas!
_Bea. – Edward parou de tocar, e me segurou em seus braços. – Eu não consigo raciocinar com lógica ao seu lado. A simples idéia de você em perigo me deixa louco. Eu não achei que um vampiro pudesse estar em perigo facilmente, mas você é diferente. Então… perdoe-me esses momentos de fraqueza, mas eu perco o controle quando imagino você correndo qualquer risco. – Ele me beijou, suavemente. – Vamos fazer nossa viagem o mais rapidamente possível, eu garanto. Mas vai ser divertida essa festa de aniversário. Agora quero ir, e eu prometi que não mais te estragaria, lembra?
_Meio tarde para isso. – Eu sorri, mergulhando em seu beijo. – Eu já estou totalmente estragada, só quero ficar ao seu lado.
_Por isso vamos com você. – Edward riu.
_Nós? – Ergui o olhar, curiosa.
_Eu, Jasper, Alice… todos vamos. Será divertido, espero.

Os conceitos de diversão dos Cullen pareciam não muito condizentes com os dos humanos. Eles se divertiam com esportes radicais mortais e com ursos violentos. Os humanos pareciam mais interessados em música, dança, cinema… coisas que representassem menos perigo a suas carcaças frágeis. Mas então iríamos à festa de aniversário de Sylvia e faríamos nossa viagem depois. A visão de Alice não podia ser tão perigosa assim, porque Edward estava mais calmo. A sua tranqüilidade me passava conforto, e eu poderia suportar qualquer coisa ao lado dele.


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