Entrei para vê-la... e ela dormia tranquilamente, sob efeito de algum tipo de medicamento. Estávamos de volta em campinas. O pai da Julie acabou nos descobrindo e mandando transferi-la de volta para nossa cidade... Olhei as marcas roxas em seu corpo, meu coração apertou dentro do meu peito. Preferia estar no lugar dela, do que ver ela ali, sofrendo. Cheguei meu rosto mais perto do seu, dei-lhe um selinho demorado, como eu queria poder levá-la para casa e ficar cuidando dela 24 horas por dia. Tive que sair, afinal, se o pai da Julie me descobrisse ali, eu estaria ferrado.

Abri a porta do quarto e dei de casa com um Raul furioso.

- O que vc tá fazendo aqui? Já não destruiu a vida da minha filha o suficiente? Primeiro, transforma ela numa rebelde que não escuta mais o pai, depois, foge com ela e a engravida, depois espanca ela e ainda tem essa cara de aparecer por aqui?

Sim, Julie estava grávida. Teríamos um filho. Eu estava radiante com aquilo, eu precisava me manter o mais próximo dela possível. O pai dela acredita fielmente que fui eu que espanquei a filha dele, até parece... do jeito que eu a amava... tinha medo as vezes de abraçá-la forte e apertar mais do que deveria, e ele me acusa assim... mas tudo bem, nem revidei – já não tinha mais forças para isso – simplesmente abaixei a cabeça e saí.

Cheguei em casa e só pensava nela, abracei meu travesseiro tentando desesperadamente sentir ela do meu lado... mas era em vão. Chorei. MUITO. Pela primeira vez eu soluçava.

- Ora, Ora, Ora Daniel – pff, eu já conhecia aquele maldito ‘cumprimento’ – chorando pela namoradinha?

- Claro, já não basta tudo que está acontecendo nessa minha vida, tinha que me aparecer vc de novo para acabar de vez com tudo

- Daniel, eu vim aqui pq acho que tá na hora de vc virar fantasma de novo – ele riu sinistramente

- Como assim Demétrius, vc não pode simplesmente tirar minha vida de novo.

- É, de fato não posso – ele falou – mas eu posso te dar uma, digamos assim, ‘missão’ para vc cumprir. Se vc conseguir no prazo estipulado, eu deixo vc viver sua vida em paz. Se vc não conseguir, vc vira fantasma de novo e nunca mais verá a Juliana.

- E eu tenho escolha? – perguntei

- Claro. Que não.

- Diga logo então...

- São coisinhas bobas Daniel, se vc conseguir cumpri-las até vai melhorar e muito sua vida – ele riu, e eu sabia que não era coisa boa. – Você terá que manter Julie e o bebê vivos até o final da gestação dela – agora ele ria diabolicamente – e vc terá que provar para o pai da Julie que a culpa de tudo não é sua. Ah, e claro, terá que conquistá-lo também. 

Ali eu já engolia em seco. Como assim, manter Julie e meu filho vivos? Isso significa que Demétrius estaria por trás de tudo, aprontando alguma coisa... Mas gelei mais ainda quando ele falou a ultima frase antes de desaparecer.

- Claro meu caro Daniel, nem tudo é tão simples assim. Vai chegar uma hora em que vc terá que fazer uma escolha, e ela decidirá o que vai acontecer com vc e sua... ‘familia’ – e desapareceu.

Eu andava desesperado de um lado para o outro, meu amor estava correndo perigo, nada estava dando certo, eu sofria calado. E sozinho. Não tinha com quem contar, a não ser... CLARO, MARTIM E FÉLIX!

Corri até a rua de Julie, ótimo, como eu entraria naquela casa a procura dos meus amigos... Senti uma mão no meu ombro, era Félix que me olhava. Contei aos dois tudo que estava acontecendo, eles me disseram que fariam o possível para me ajudar. Contaram-me também que Julie tinha recém chegado em casa, e o pai simplesmente a largou e foi trabalhar. Pensei em entrar quando ouvi um grito – gelei, Demétrius já estava agindo – corri para dentro de casa e vi Julie se segurando na escada.

A segurei em meus braços e vi como ela ainda estava machucada... ela me olhou e sorriu fracamente.

- Demétrius... – ela sussurrou

- Eu sei... eu vou te proteger meu amor – disse e a beijei,  e nem eu sabia se poderia cumprir aquela promessa.

Eu a abraçava forte, tinha medo que ela caísse. Demétrius tentou a empurrar da escada, mas ela conseguiu se segurar. Acompanhei ela até seu quarto, deitei na cama e aninhei ela em meus braços. Ela ficou acarinhando meus cachos, e eu segurava sua cintura, não queria nunca mais ter que soltá-la. Eu beijava seus lábios com ternura, mas ao mesmo tempo, desespero, pois não poderia ficar com ela ali o tempo todo... até que uma ideia surgiu. Era arriscado, mas, ao menos essa noite eu passaria com ela. Eu tinha também que pensar rápido em como faria para ficar com ela novamente o tempo todo, afinal agora era caso de vida ou morte. Eu tinha que ficar de olho nela.