O jantar da noite anterior tinha corrido bem. Rachel estava contente por nada ter saído do planeado. Quinn, por sua vez, continuava sem falar muito com a diva. Rachel estava a arrumar a cozinha, depois do almoço, e a loira tinha decidido ir tomar banho. Abriu o roupeiro do quarto à procura de uma camisola lavada para poder trocar, mas um pequeno baú, guardado num dos recantos do armário saltou à vista. Ela pegou nele e sentou-se na cama para o abrir. Era um baú de chave, mas estava aberto e quando Quinn viu o conteúdo, a chave estava lá guardada. Começou a explorar o interior e percebeu que aquilo eram bilhetes de uma peça na Broadway de há um ano atrás. Aliás, eram tantos bilhetes que podiam perfeitamente ser de todos os dias em que a peça esteve em cena. Quando olhou bem para eles, percebeu pelas datas que se tratava disso mesmo. Quinn achou estranho e procurou por uma explicação no fundo do baú. Encontrou então um programa da peça. Ao perceber que o nome de Rachel aparecia como protagonista entendeu tudo. Ela tinha guardado os bilhetes de todos os dias que tinha atuado na Broadway. A loira revirou os olhos instintivamente e ouviu Rachel bater à porta do quarto. Em vez de esconder o baú, Quinn disse a Rachel que entrasse.

–Desculpa, mas precisava de ir buscar uma coisa ao quarto de vest... – faltou-lhe a voz quando viu o aparato em cima da cama. Quinn olhou para ela com um sorriso sarcástico.

– Tu és mesmo obcecada, não és?! Ninguém no seu perfeito juízo consegue ser tão egocêntrico. É puxadores com estrelas, quadros com fotos tuas gigantes, uma sala de ensaios, e agora isto... – disse enquanto apontava para os bilhetes. Rachel baixou a cabeça e respirou fundo. – Guardaste isto para quê? Não me digas que achas que vai valer dinheiro um dia?! Porque como recordação fazia mais sentido meia dúzia de fotos. – a morena sorriu com a ocorrência. Nada disse, mas Quinn percebeu que bem lhe apetecia responder-lhe. – Podes responder o que estás a pensar.

– Eu só quero tirar umas leggings do armário. A Santana ligou a dizer que precisava de falar comigo, se eu podia lá passar no escritório. Não quero ir de vestido de novo. – Rachel ignorou a provocação de Quinn e falou naturalmente. – Queres vir comigo? Estás aqui metida há dois dias. Não te fazia mal saíres. – Quinn tinha muita vontade de sair de casa, mas só o facto de ser Rachel a recomendar despertava nela todos os sinais de orgulho. No entanto, a morena quando percebeu a sua luta interna rematou com uma mentira sem gravidade. – A Santana inclusive disse para tu ires.

– Tenho tempo de tomar banho primeiro? – perguntou Quinn cortante.

– Claro que sim. Eu de qualquer forma também ainda vou trocar de roupa. – Rachel retirou do armário o que queria e saiu do quarto sem acrescentar mais nada. Quinn foi tomar banho e despachar-se e saiu com Rachel em direção ao escritório da amiga.

–x-

– Tenho a situação mais ou menos controlada, mas preciso que faças uma coisa. – disse Santana com seriedade.

– O quê? – respondeu Rachel. Quinn permanecia calada sentada na cadeira ao lado da morena.

– Preciso que vás hoje, sem falta, apresentar queixa na policia.

– Apresentar queixa?! Mas tu achas que é assim tão perigoso? – perguntou Rachel preocupada. Quinn fixou o olhar em Santana para não perder nada do que ela ia responder.

– Não é essa a questão. É perigoso sim, mas não te digo para apresentar queixa por ser perigoso. Eu preciso que tu apresentes queixa para eu meter em marcha um plano que tenho traçado.

– Qual plano? – perguntou, pela primeira vez, Quinn.

– Não vou falar disso convosco, a Rachel confiou em mim e eu vou fazer as coisas à minha maneira, mas preciso de uma queixa apresentada.

– Eu passo na policia quando sair daqui.

– Já recebeste mais alguma mensagem?

– Hoje não. – Quinn não perdia pitada da conversa.

– Já podemos ir embora? – perguntou aparentando despreocupação.

– Importas-te de vir comigo à policia? – Rachel tinha algum receio da resposta de Quinn, mas ela só abanou a cabeça em concordância.

– Mostra tudo, e explica o processo todo. Não lhes escondas nada. Eu preciso que fique lá registado que existe essa situação.

– Vamos? – perguntou Quinn impaciente. Rachel acabou por sair com ela após se despedir de Santana e agradecer todo o apoio que a latina lhe tem dado.

–x-

Quinn estava fechada no quarto desde o momento em que entrou em casa. Não jantou nem fez companhia a Rachel. A morena acabou por não comer nada de jeito e saiu para ir buscar um café ao Starbucks do fim da rua. Avisou Quinn com um grito. Passado pouco mais de cinco minutos a campainha tocou e Quinn foi abrir.

– Boa noite. – disse a loira série e sem reconhecer a pessoa que estava por detrás da porta.

– Olá bambina. – respondeu Massi com um sorriso triste.

– Desculpe, mas eu não estou...

– Eu sei. Eu sei que não me conheces. Eu sou o Massimo. – disse ele e respirou fundo para ganhar coragem de concluir. – o cozinheiro do restaurante e companheiro da tua mãe.

– Ah. – disse Quinn num sussurro. Não sabia como reagir, mas Massi ajudou.

– Posso entrar?

– Sim, claro. – respondeu a loira com cuidado. A cara de Massi não deixava dúvidas de que ele continuava desolado. Quinn não soube explicar bem o que a ligou aquele homem, mas sentiu-se bem com a presença dele. Ambos se sentaram no sofá e a conversa acabou por fluir naturalmente.

– Como estás? Como estás a lidar com tudo?

– Não sei. Estou a processar. O tempo passa e eu fica cada dia mais confusa. Sinto-me desamparada.

– A Rachel?

– Saiu.

– E como é que ela está? – Quinn moveu-se incómoda no sofá e Massi percebeu. – Ainda não te lembras dela? – perguntou com precaução.

– Não. Quer dizer, lembro-me dela, mas não como as pessoas querem que eu me lembre. Lembro-me dela na escola.

– Mas já na escola tu gostavas dela... como é saber que conseguiste?! Depois de tanta luta.

– Quem disse que eu gostava dela na escola? – respondeu Quinn na defensiva.

– Tu bambina. Mas o importante é que tu te recuperes. No meio disto tudo eu agradeço que não tenhas chegado 5 segundos antes ao restaurante. – disse Massi enquanto baixava a cabeça e respirava fundo.

A porta da entrada abriu-se para entrar uma Rachel com um mocca na mão. Quando a morena levantou a cabeça e viu Massi, os seus olhos encheram-se de lágrimas e a primeira reação foi pousar o café e as chaves e abraçar o amigo com muita intensidade. Foi inevitável para Massimo derramar algumas lágrimas.

– Desculpa. – disse Rachel ao separar-se. – Desculpa não ter ido ver-te nos últimos dias.

– Oh principessa, eu sei que não tem sido nada fácil. Eu até disse à Santana para não te deixar ir.

– Como estás? – perguntou a morena enquanto passava os olhos por Quinn que se manteve sentada no sofá a observar o momento. Uma sensação de necessidade de proteção apoderou-se do peito da loira quando viu a reação de Rachel ao ver Massimo. Quase que lhe apeteceu abraçá-la.

– Estou a recuperar.

– E a prótese? Estas a adaptar-te? – disse enquanto olhou para a perna de Massi. Quinn não tinha feito nenhuma referência a essa situação porque não se tinha lembrado. Sentiu-se um bocadinho culpada mas depois acabou por passar com o decorrer da conversa. Massi ficou com elas por mais duas horas e depois Rachel não o deixou apanhar nenhum táxi e levou-o a casa. Ele não queria aceitar, mas foi a própria Quinn que insistiu depois de lhe dar um abraço. Aquilo era um avanço no estado da fotografa.

Quando Rachel voltou a casa, Quinn permanecia sentada no sofá com o olhar preso num ponto fixo.

–Estás bem? – perguntou a morena de pé ao lado do sofá.

– Posso te pedir um favor? – perguntou Quinn com calma e sem arrogância.

– Claro que sim. – respondeu Rachel prestável.

– Mostra-me o computador. Eu não sei a senha e quero ver o conteúdo.

– Sim, claro. Vamos ao escritório? – perguntou com cuidado.

– Obrigada.

Quando já estava sentada na cadeira em frente ao MacBook, Rachel introduziu a palavra passe, escreveu-a num post-it e colou-a no tampo da mesa. Quinn agradeceu e pediu para ficar sozinha, coisa que a morena tinha pretendido fazer desde o inicio mesmo que a fotografa não pedisse.

– Duas coisas... – disse Rachel antes de sair. – Os dossiers que estão nas prateleiras são todos teus, e estão por ordem de datas.

– O que são?- perguntou a loira curiosa mas receosa.

– Fotos. – respondeu Rachel antes de abrir uma gaveta e tirar de lá o telemóvel de Quinn. – Este é o teu telefone. Ele não ficou danificado porque a tua mala foi transportada para um sitio onde a explosão não chegou. Deram-mo no dia do acidente, mas eu esperei que tu o quisesses de volta. – Quinn assentiu com a cabeça enquanto olhava com calma para Rachel.

– Obrigada. – disse baixinho. A morena sorriu. – Qual é o pin?

– Nisso é que eu não te posso ajudar. É a única coisa que eu não sei. – respondeu Rachel com pena. – Só tens três tentativas, eu sugiro que tentes uma vez o pin que te lembras do teu ultimo telemóvel, pode ser que seja o mesmo, senão amanhã podemos passar na operadora e eles resolvem o assunto.

– Ok. Vou fazer isso. Obrigada. – a morena sorriu e saiu, deixando Quinn sozinha sem saber por onde começar.