– Capítulo Vinte –

Sacrifício

Gina se sentiu gelar ao ver Astória na sala e ainda mais falando de Draco. “Será que ela sabe?”.

- Chá ou suco? – perguntou Astória delicadamente colocando sua xícara de chá na mesinha a sua frente.

- Eu... não... o que você faz aqui? – perguntou Gina ofegante.

- Deixei claro no bilhete que eu te mandei que queria te ver. – disse Astória com um sorriso doce.

- Mas... eu pensei que...

- Que fosse o Draco? – perguntou ela irônica – Eu percebi, mas, se você ler o bilhete outra vez, verá que eu não o assinei. Não se preocupe, muitas pessoas confundem a minha letra com a dele, mas, vou te dar uma dica, o Draco escreve um tantinho mais forte e letra não é tão inclinada. Porque não se senta? – disse Astória oferecendo uma poltrona a sua frente.

- Eu estou... bem de pé. – disse Gina hesitante.

- Não seja boba. – disse Astória se levantando.

Ela pegou Gina pela mão e a conduziu para a poltrona que havia oferecido, mesmo contrariada Gina se sentou, mais por falta de forças que sentia nas pernas do que por educação.

- Suco ou chá? – perguntou novamente Astória educadamente.

- Não quero nada obrigada. – disse Gina que não conseguia desviar o olhar de Astória.

- Tenho certeza que não foi essa a educação que os seus pais te deram. – disse Astória balançando a cabeça – Uma dica, sempre por educação aceite alguma coisa lhe oferecida. – disse Astória colocando um pouco de chá na xícara de Gina.

Gina não disse nada, apenas se perguntava por que não ouviu seus instintos e saiu correndo para a sua cama, ela não entendia o que Astória queria com ela, mas, tinha certeza que coisa boa não era e só era uma questão de tempo para que as garras da Sonserina aparecessem.

- O que você quer? – perguntou Gina com a voz baixa.

- Me despedir. – disse Astória naturalmente – Açúcar?

- Não. – respondeu Gina sem pensar olhando hesitante para a xícara de chá.

- Pode beber eu não coloquei veneno. – disse Astória para Gina que observava a xícara com chá recém colocado. – Ou até poderia se quisesse, assim comprovaria a minha teoria que você não é tão ruim em poções de fato.

 - Se despedir? – Gina disse rapidamente, cortando a conversa – Como assim?

- Pedi transferência. – respondeu Astória voltando a tomar o chá. – Para o Instituto das Bruxas de Salém nos Estados Unidos.

- Eu não entendo. – disse Gina confusa “E Draco?”.

- Acho que entende sim, e muito bem pelo que sei. – disse ela séria – Eu vou te contar uma história... querida se você não quer o chá apenas beberique, é falta de educação recusar quando se já está servido.

- Dá pra contar logo essa história? – disse Gina irritada.

Astória sorriu e Gina a odiou por isso. “Como ela conseguia ser perfeita o tempo todo?”.

- Perfeito. – disse Astória pegando uma frutinha cristalizada em um recipiente de vidro. – Você já se apaixonou Weasley?

- É... sim, claro, eu já me apaixonei. – respondeu Gina desconfiada.

- Então você entende o que se sente quando gosta de alguém. – disse Astória olhando para a mesinha – Oh, me desculpe, eu não te ofereci leite.

- Não quero leite, continue, por favor. – disse Gina meio brusca.

- Eu me apaixonei por Draco desde o primeiro momento que eu o vi. – disse Astória sem se importar com a brutalidade de Gina – Daphnne, minha irmã e ele eram do mesmo ano e se davam bem, então eu por várias vezes o via em casa. Não era uma simples atração física, o que eu sentia... o que eu sinto é muito mais que isso.

A cada palavra que Astória dizia, Gina se sentia muito mal por dentro, dor na consciência?

- Foi quando eu vi uma oportunidade. – disse Astória se endireitando na poltrona – A família Malfoy estava, vamos dizer, “impura” diante da sociedade bruxa, e eu sabia que se uma família boa aos olhos da sociedade apoiasse os Malfoy´s, eles voltariam as graças de antes, além disso, tem a cadeira de conselheiros no ministério da magia, é obvio para todos que Lúcio será condenado então alguém teria de o substituir...

- Aonde você quer chegar com isso?

- É falta de educação interromper. – disse Astória digna – Espere eu terminar. – Gina assentiu como se fosse uma criança que acabara de levar uma bronca e Astória continuou – Na família Malfoy todos os primogênitos assumiram essa cadeira, então é obvio que Draco iria tomar posse algum dia, mas não tão cedo. O caso aqui Weasley é que com Lúcio fora das atividades Draco teria de assumir seu posto mais cedo, mas, com a fama da família e sem uma mulher descente ao seu lado isso não seria possível, porque os conselheiros levam muito a sério o fato de a pessoa ser solteira. Então eu *matei dois hipogrifos com um único feitiço, além de ajudar o nome da família eu ainda seria a mulher descente que estaria ao lado dele quando ele assumisse o seu posto de conselheiro. Eu sabia que Draco nunca gostou de ninguém, então a minha meta era fazer ele se apaixonar por mim, mas, alguma coisa, ou melhor, alguém atrapalhou os meus planos.

- O que aconteceu? – perguntou Gina se fazendo de desentendida.

- Você apareceu. – disse Astória simplesmente.

- Eu? Não sei do que...

- Eu sei que eu perdi Weasley – disse Astória séria – Meus parabéns, ele é seu.

Gina de repente se esqueceu como era respirar, Astória apenas observava as suas reações que não era das melhores.

- Querida não faça essa cara. – disse Astória com um sorrisinho – Eu já havia desconfiado antes, mas, depois daquela cena no jogo, vi que minhas suspeitas estavam certas.

- Sinto muito. – foi a única coisa que saiu dos lábios de Gina, ela se sentia tão culpada, pois, nunca havia se importado com o lado de Astória, nunca se importou com os seus sentimentos.

- Não sinta. – disse Astória séria. – Eu não sei o que ele viu em você, desculpe, é que sou mais eu. Mas, ele viu alguma coisa, então aproveite, você o conquistou.

- Por isso você vai embora? – perguntou Gina descrente.

- Você realmente acha que eu vou ficar aqui, vendo você com ele? – perguntou Astória com um sorriso debochado – Minha irmã foi graduar nos Estados Unidos, vou ficar com ela.

- Eu não posso ficar com ele. – disse Gina tão baixinho que achou que Astória não tivesse escutado.

- Como não? Eu estou liberando Draco das suas obrigações. – disse Astória com certa dificuldade, embora ela permanecesse firme, Gina notou a mudança da entonação de sua voz. – Eu sei que ele nunca terminaria a nossa “relação” – disse fazendo aspas com os dedos – Por ser um perfeito cavalheiro ele cumpriria a sua promessa, mas, eu o liberei.

- A minha família e a dele...

- Por favor, para com esse drama de Romeu e Julieta. – disse Astória entediada – Eu estava disposta a lutar por ele, mas, quando percebi que o coração de Draco já era seu, eu vi que não tinha mais porque lutar, seria um tiro no escuro.

- Então você não o ama de verdade. – disse Gina firme. – Se não quer lutar por ele.

- Amo. – disse ela com dificuldade em dizer a palavra – É por isso que eu estou deixando ele livre pra ser feliz. – disse Astória se levantando – Você queria que eu expressasse o meu amor te encurralando em um beco escuro e arrancando o seu olho fora? – Era exatamente isso que Gina estava pensando, porque ela mesma faria dessa forma – Desculpe, mas, eu não sou assim, tenho amor próprio. Eu podia ter o Draco se eu quisesse, e faria ele se casar comigo, mas, pra que? Pra ele pensar em você quando estivesse comigo? Eu sou muito superior a isso. Use as minhas dicas, você vai precisar quando for uma dama da sociedade.

- Você é maluca! – disse Gina exaltada se levantando para encarar Astória.

- É tão feio dar esse tipo de apelidinhos as pessoas Weasley. – disse Astória calmamente.

- Eu já sei o que você está fazendo. – disse Gina muito vermelha – Ta querendo me humilhar, você quer que eu veja, que eu nunca serei como você e faria Draco infeliz.

- Essa não foi a minha intenção. – disse Astória ofendida – Ficando com Draco você vai lidar com pessoas piores que eu, é bom se acostumar. Eu apenas quero te ajudar, dando umas dicas básicas, e ai vai mais uma. Quando se faz parte desse novo mundo você tem que aprender a engolir sapo, e não estourar como você fez agora, então, sorria sempre para as câmeras, Weasley.

- Me ajudar? – perguntou Gina irônica – Porque faria isso?

- Porque eu não quero o Draco passando vergonha. – disse Astória como se fosse obvio. – Olha só, se você ficar com o Draco ou com o Potter, você vai fazer parte da sociedade de qualquer forma, a única diferença é que com Draco vai ser com muito mais estilo.

- Eu não sei o que dizer. – disse Gina aborrecida – O Draco já sabe?

- Não. – disse Astória pegando sua bolsa de mão que estava pendurada em um gancho na parede – Seria difícil pra mim. Você poderia fazer o favor de comunicá-lo?

- Eu não posso fazer isso. – disse Gina chateada – Ir contra a minha família.

- Se eles te amam. – disse Astória entediada – Eles vão ter que aceitar. Tenho que ir, já devem estar me esperando na diretoria.

- Espera. – disse Gina rapidamente – Você tem certeza disso?

- Absoluta. – disse Astória firme. – Se ele não amasse ninguém, pode ter certeza que eu ainda estaria lutando por ele, mas, como ele parece gostar muito de você, eu não quero ser nenhum empecilho, tenho minha dignidade.

- Você está deixando tudo nas minhas costas e nas de Draco. – disse Gina aflita – Não pode ir embora assim, Draco precisa de você e Harry...

- O Potter vai entender. – disse Astória girando os olhos – O nome da família Malfoy já está melhor e embora eu não concorde, Draco tem tudo que precisa bem aqui – disse apontando para Gina. – Não seja egoísta Weasley, vai dizer que só queria ficar com o Draco enquanto não se acertava com o Potter?

- Eu não vou conseguir. – disse Gina chorando – Eu sinto muito mesmo, pelo seu noivado, mas, você não pode ir.

- Se sente fraca Weasley? – perguntou Astória com um olhar superior – Acha que não vai dar conta?

- Não faz isso comigo.

- Sabe o que eu acho. – disse Astória se aproximando de Gina – Que você se apaixonou por Draco, porque você se afastou do Potter de propósito. Eu te entendo, é muita pressão saber que está em suas mãos fazer feliz o garoto-que-sobreviveu-ao-quadrado, todos deviam esperar muito de você, já que o Potter sofreu tanto na vida. Já o Draco ele tentava não se apaixonar por mim, com medo de ter um casamento como o de seus pais, então se ele não se apaixonasse ele não se sentiria culpado se o nosso casamento fracassasse. E olha só, vocês se encontraram. – terminou ela com um tom de sarcasmo na voz.

- A família dele vai me odiar por isso. – lamentou Gina.

- Possivelmente – disse Astória indiferente – Mas, se vocês se gostam, lutem para ficarem juntos, independente do que a sua família diga. Só uma coisa, se eu souber que você fez algum mal ao Draco, ou que você o magoou de alguma forma, eu vou te caçar feito um cão sarnento até o inferno se for preciso, e destruo o nome da sua família, Draco já sofreu muito pra uma vida – A voz de Astória era de ameaça, aquela voz doce e aquele sorriso meigo não existiam mais, ali estava a Sonserina que Gina esperava.

- Eu nunca o magoaria.

- Ótimo. – disse Astória satisfeita – Só pra você saber, ele gosta de jogar cartas com os amigos todas as sextas, então nunca marque nada para esta data, não se preocupe ele não aposta dinheiro, ele aposta biscoitos.

- Biscoitos?

- Ele é louco por biscoitos de nozes. – disse Astória com um sorriso sincero – E quando ele não está em Hogwarts ele gosta de levar a mãe dele para jantar as terças, por favor, não se intrometa nesse ritual. Nunca discuta em público e não fale mal dos amigos dele. Eu acho que é só.

 Gina podia jurar ter visto uma lágrima escorrer pelo rosto de Astória quando ela terminou.

- Entregue isso a ele, por favor. – disse Astória entregando uma caixinha pra Gina, que logo deduziu ser o anel da família Malfoy.

- Isso ta errado. – disse Gina pra ela mesma.

- Se precisar, me mande uma coruja. Adeus Weasley. – disse Astória se dirigindo para a saída, mas, essa se virou com um sorriso malicioso e disse – Quando você terminar com o Potter, diga pra ele que pode ir chorar as mágoas comigo, ele consegue meu endereço na embaixada do ministério nos Estados Unidos.

Gina observou Astória desaparecer pela saída da sala precisa, lágrimas quentes teimavam em cair pela sua face, sua cabeça latejava, ela definitivamente não sabia o que fazer. Agora não tinha Astória para ficar entre ela e Draco, mas, porque Gina ainda se sentia presa?

- Todos vão me odiar por isso. – disse Gina com a voz embargada – Me ajuda Merlin.

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*Tirei essa frase de “matar dois coelhos com uma cajadada”.