PDV MELLO

Desligo o computador e sento na cama. Matt me olha com aquele olhar desgraçadamente irritante. Puxo um chocolate de meu esconderijo debaixo do colchão e me deito, encarando a fotografia de Kim, que sorri para mim de seu posto na mesinha de cabeceira. Ah, Kim, porque é que você não está aqui? Penso, desejando que ela possa me escutar. Abro o chocolate e mordo com força, deixando o gosto amargo e delicioso penetrar em minha boca.

Matt ainda está com o olhar irritante e, para piorar, decide me provocar um pouco.

Devia ter visto a sua cara quando a Kim saiu do banheiro. Você quase pegou um avião só para matar o Akira. Ri o ruivo. Matt é meu melhor amigo mas, sinceramente, consegue ser bem insuportável quando quer.

Tem ideia do quanto eu te odeio às vezes, Matt? Resmungo.

Na verdade não, Madonna. Responde ele com o olhar mais escroto que já vi. Depois a expressão de deboche se desfaz, sendo substituída por uma mais séria. Sério, Mello, você precisa se preocupar um pouco menos com a fidelidade da sua pequena Snowdrop.

Não a chame de Snowdrop. Eu o interrompo.

Ok, ok. De qualquer forma, você não devia se preocupar com isso. Além do que, o garoto é tão namorado da Kim quanto eu sou.

Isso não me faz gostar mais dele.

Não vem ao caso, eu estou falando da sua preocupação com a Ki-Ki. Desse jeito parece que não confia nela.

Eu confio.

Ótimo. Vou te deixar um pouco sozinho, ok?

Aham. Digo meio distante enquanto Matt sai do quarto. Havia algo de errado com Snowdrop durante a conversa. Só não sei o que era. Fico deitado, comendo chocolate e olhando para a foto de Kim durante alguns minutos. Alguém bate na porta. Mando entrar. É Roger. O que ele quer?

Roger? O que quer? Pergunto ao me sentar.

Eu gostaria de falar com você, Mello. Achei que gostaria de ser o primeiro a saber.

O que aconteceu? Eu não vou ser expulso, vou? Aconteceu alguma coisa com alguém?

Não se preocupe, não está sendo expulso. Mas aconteceu algo sim.

O quê? Pergunto cada vez mais aflito. Near está bem? Matt? Íris? L? Beyond? Leila? Faço uma breve pausa antes de dizer o último nome com a voz um pouco trêmula. Kim?!

Sim, com a Kim.

O que aconteceu com a Kim, Roger?! Levanto-me da cama e o seguro pelo colarinho, sacudindo-o com força. Ela está bem?

Acalme-se, Mello! Kim está bem, até o ponto no qual isso é possível depois da morte de Yukiteru.

Então o que houve? Se ela está bem, o que aconteceu?

Ela... Ela vai voltar para o orfanato. Tomoya Fujibayashi me ligou há pouco, dizendo que ele e a esposa consideraram que seria melhor para ela se afastar do Japão.

Snowdrop... Vai voltar? Digo, sentindo um enorme sorriso surgir em meu rosto. Minha Kim vai voltar! Quando?

Em uma semana. O suficiente para ela se despedir dos amigos e da família.

Os outros já sabem?

Não. Achei que você e Near deveriam ser os primeiros a saber, já que ele é o irmão e você e Kim, até onde sei, tinham algum envolvimento romântico, não?

Sim, temos. Respondo- Já avisou Near?

Sim, sim, o pequeno está saltitando pelos corredores agora.

Imagino. Vou... Vou encontrar os outros e falar para eles, se não se importar.

Na verdade isso me poupará algum trabalho. Obrigado. Diz antes de se retirar do quarto. Imediatamente eu o sigo, mas viro na direção contrária, indo para o quarto de Íris, que agora tem três camas. Bato na porta e quem abre é a menina japonesa/brasileira de cabelos que caem até e pintados de roxo que agora divide o quarto com Íris, Ushio. Ela me fita com seus olhos tão negros que parecem roxos. Ushio é simpática, mas não muito sociável, então não a conheço tão bem quanto, por exemplo, Ino, o garoto que também veio do Brasil.

Olá, Mello. A que devo sua visita? Imagino que tenha vindo procurar Íris e Matt, não? Alguma notícia?

Ok, sua versão feminina do L, chega de deduzir por hoje. Sorrio. Onde eles estão?

Você deveria saber. Estão no único lugar para o qual vão juntos, claro. Responde inocentemente.

Claro. Concordo com ela. Até mais, Ushio.

Tchau, Mello-kun. A porta se fecha.

Corro pelos corredores do orfanato até aquela árvore onde Matt e Íris geralmente se escondem. É, Ushio acertou de novo. Lá estão eles. Desta vez eles me pouparam de ter que interrompê-los, estando apenas de mãos dadas, a cabeça dela apoiada no peito dele. Estão conversando, mas param quando me veem chegar. Legal, hein? Falando de mim pelas costas.

Ei, Madonna, venha até aqui! Chama o ruivo. Eu já ia lá mesmo...

Snowdrop... Ela vai voltar! Digo com um sorriso enorme tomando meu rosto.

Ki-Ki? E por que ela não contou para a gente agora?

Provavelmente por causa do idiota do Akira, mas quem liga? Ela vai voltar!

Íris solta um gritinho de excitação, pulando no pescoço de Matt e lhe beijando antes de me abraçar com força.

Near sabe disso?

Claro, sua anta, ele é o irmão dela.- Respondo ao ruivo.

Anta?

É um mamífero Sul Americano, mas geralmente o termo é usado para xingar as pessoas de idiota. Respondo, lembrando-me da primeira vez que Kim chamou Matt de baka e todos nós ficamos sem entender nada.

Não me chame de anta. o ruivo se faz de triste.

Antas são muito fofinhas, sabe? Íris o consola.

Obrigado, Íris. Ele lhe dá um meio abraço.

Teremos mais uma menina no quarto, Íris-chan? Escuto a voz de Ushio vindo de trás de mim e me viro. Aqui está ela, escutando alguma música em japonês em seu iPod. Só sei que o volume está alto.

Sim, Ushio, teremos sim. A Kim vai voltar!

Hm... Eu ouvi. O volume não está assim tão alto. Responde a menina.

Deixo os três sozinhos e decido achar Near. O garoto deve estar rolando em um castelo de dados destruído. Ah, e Leila, L e Beyond também precisam saber, não é?

Volto a entrar na casa e vou direto para o quarto do pigmeu albino. A porta está aberta e ele e Leila estão praticamente pulando de alegria um nos braços do outro.

Ei, albininho! Chamo. Ele solta Leila e se joga em cima de mim, me abraçando e me derrubando no chão.

Ela vai voltar, ela vai voltar! Diz Near em seu modo hiperativo.

Eu sei! Pego a mim mesmo abraçando Near também.

Montinho! Sinto um pouco mais de peso sobre mim e sei que Leila se jogou sobre nós também. Não me importo com o peso, só com o fato de que minha pequena Snowdrop voltará para mim. Mas ainda preciso falar com Beyond e L, então empurro a ruiva e o albino de cima de mim e me levanto, como eles. Saio do quarto e vou para os aposentos do assassino e do detetive.

E aqui estão eles, Beyond atirando seus dardos com um pote de geleia de morango ao dele, e L sentado ao seu modo bizarro, olhando para a tela do computador e digitando algo.

Hm... Já contaram para vocês? Pergunto.

O quê? Kim vai voltar? L responde com uma entonação um tanto entediada. Isso é bom. A albina faz falta.

Contaram?

Não, mas devido às circunstancias seria muito provável que Kyou e Tomoya decidissem manda-la de volta. Além disso, nada mais colocaria um sorriso no seu rosto, Mello.

Hmpf. Você estraga toda a graça, L. Resmungo ao me virar e sair do quarto, sem esperar a reação de BB à notícia.

Volto para meu quarto para esperar a hora do almoço. Minha vontade é sair correndo e gritando pelos corredores que Kim voltará, mas não vou fazer isso.

Pergunto-me pela milésima vez se Kim sabe de minha história inteira.

FLASHBACK ON

Naquela noite, minha família e a de Matt saíram juntas para acampar. Tinha dez anos e Matt tinha nove. O ruivo já era meu melhor amigo na época, mesmo sendo um mês e 19 dias mais novo que eu. Naquela noite, quando eu saí para buscar lenha, aconteceu uma coisa.

Quando eu voltei, meu mundo caíu. Só Matt estava de pé. Havia uma faca em uma de suas mãos. Uma faca cheia de sangue. Em volta dele, quatro corpos. Os corpos de nossos pais.

Mail, o que você fez?! Lembro-me de ter gritado.

Não é o que está pensando, Mihael!.

O que aconteceu, Mail?. Perguntei desolado, certo de que Mail os havia matado. Mas porque ele faria isso?

Um homem. Encapuzado. Ele... Ele veio e... Mihael.... Disse com os olhos cheios de lágrimas. Abraço meu amigo. Não importava se foi ele ou não, meu amigo precisava de mim.

Vai ficar tudo bem. Vamos sair daqui.

Mihael.... Ele estendeu as mãos para mim e compreendi o que ele quis dizer. Não havia como provar que não foi ele.

Vamos... Vamos queimar isso aqui. Disse eu, muito mais calmo do que deveria estar em tal situação.

FLASHBACK OFF.

Imagino que não. Deito-me na cama e espero até o meio dia. Agora que Kim vai voltar, o tempo passa ainda mais lentamente. Mas tudo bem, porque por mais que demore, Kim estará novamente comigo.