Fathers Eyes escrita por Giovanna Marc


Capítulo 2
Memórias adormecidas despertando esperanças.




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Oito anos depois...

Em um orfanato de Manhattan de manhã era sempre aquela loucura. Crianças correndo para a aula. Outros querendo seu pedaço de pão na cantina. E sempre tem aquele ou aquela que tem que ser jogada para fora da cama e ser arrastada para a sala de aula. O que era o caso da ruiva, Eve. Oito anos vivendo no orfanato e ainda não se acostumou ao barulho das crianças correndo de um lado para o outro. Eve sempre quis sair daquele lugar. Ela se sentia presa do mundo. O que ela mais queria era sair dali e viajar para todos os lugares do mundo. E ela faria isso, em breve. Não porque daqui a dois anos iria fazer 18 anos, mais sim porque ela iria fugir daquele lugar. Sempre havia aquela assistente de adoção que vinha falar para ela não desistir, que alguma hora alguém iria adota-la. Mas ela sabia que isso era uma mentira. Quem iria adotar uma garota de 16 anos? Ninguém!

A ruiva se levantou da cama e olhou para o relógio. Eram oito horas. Bem, ela estava atrasada uma hora. Mas a cara dela de sono dizia que ela não ligava para isso. Ela olhou em volta do quarto. Dessa vez estava sozinha de novo, as outras adolescentes nunca queriam ficar no mesmo quarto que ela. Diziam que ela era estranha. Mas Eve fazia isso de propósito para poder ficar com o quarto apenas para ela. Era incrível como todos os tolos caiam nas histórias que ela contava sobre ela para botar medo nas outras crianças. Já era apelidada como Freaky, a aberração. Havia esse apelido desde os onze anos, e não se incomodava mais com aquilo.

Eve olhou-se em um espelho que estava pendurado atrás da porta. Ela estava acabada. Pelo menos se via assim. Ela estava apenas com um grande casaco de algodão preto. Ela não gostava de usar roupas curtas e vulgares, não precisava se sentir vadia para se sentir bonita. Aliás, ela nem se importava se estava bonita ou não. Foi até sua cômoda e abriu a segunda gaveta de roupas. Pegou roupas intimas, pegou uma calça preta de cintura alta e uma blusa preta também, onde continha o desenho de uma cruz invertida. Eve riu ao pegar essa blusa, pois sua próxima aula, ironicamente, era de religião. E sua professora de religião era uma freira. Ela iria fazer isso de propósito, claro. Ela adorava se vestir toda de preto, era como se ela sempre estivesse de luto. Se abrirem suas gavetas as únicas roupas que vão achar são pretas, e não passam do tom cinza escuro. Assim que escolheu sua roupa do dia, colocou-a na cama e foi para o banheiro. Amarrou seu cabelo para não molha-lo. Despiu-se e ligou o chuveiro. Tomou um belo banho gelado. Ela adorava o choque que seu corpo tomava com a água gelada. Ficou por uns minutos sem fazer nada, apenas deixando a água congelante cair sobre seu corpo. Depois se lavou e terminou seu banho. Pegou sua toalha que estava pendurada ali e enrolou-se nela. Voltou ao quarto. Enxugou-se e vestiu sua roupa sem pressa. Pegou o primeiro tênis que viu: um all star de cano médio, todo preto é claro. Depois de se arrumar, olhou-se no espelho e sorriu para si mesmo. Deixou seu cabelo como estava em um coque que tinha feito. Arrumou sua franja de lado. Pegou sua bolsa e saiu do quarto.

O corredor estava vazio, parecia um filme de terror. Foi andando até o fim do corredor com preguiça. Quando chegou no fim do corredor encarou uma escada grande e suspirou. Ela não estava mesmo a fim de subir para sua sala. Não estava a fim de fazer nada. Eve ficou ali olhando para a escada e pensando no que fazer. Então ela ouviu vozes vindas do corredor. Curiosa como ela sempre é, seguiu as vozes. Segui-as com receio, mas sua curiosidade a matava. Foi quando percebeu que vinha da cozinha. A porta estava entreaberta, ela olhou pela frecha da porta e viu as cozinheiras preparando o almoço dos órfãos. E viu uma televisão pequena no balcão que estava ligada. Estava passando noticiário. Legal. Resolveu ignorar aquilo.

“Sempre a mesma coisa”

Pensou a garota. Olhou para os dois lados do corredor e viu que não vinha ninguém. Então se escorou ao lado da porta e deixou-se deslizar até o chão e sentar-se. Abriu sua bolsa e viu o que havia nela. Tinha seus documentos, seu mini videogame que era ilegal ter nesta escola, mas ela o guardava. Procurou algo mais de interessante ali. Vasculhou sua bolsa e notou um pequeno saquinho de veludo. Tirou da bolsa e o observou. Um saquinho vermelho. Ela sorriu vendo o saquinho de sua cor favorita. Ela não se lembrava desse saquinho. Percebeu que havia algo dentro dele. Tirou o pequeno nó que estava fechando o saquinho. E virou o saquinho já desamarrado em sua mão. Então de dentro dele caiu um lindo relicário. Eve sorriu ao ver a beleza da peça. Era feito de prata, dava para perceber. Era meio oval com uma flor vermelha esculpida nele. Eve passou seus delicados dedos pela borda do relicário. Ela estava sorrindo como uma boba. Feliz apenas por encontrar um pedaço de prata. Eve brincava com ele nas mãos. Até que, acidentalmente, ele abriu. Eve se assustou por um segundo, mas logo o abriu por inteiro para ver o que havia dentro. Ao abri-lo Eve ficou em choque pelo que viu. Ela ficou em transe olhando para as duas fotos que havia ali dentro. Piscou seus olhos algumas vezes para ver se não era uma miragem. Mas não, ela não estava louca. Ela estava vendo a foto de sua mãe ali, e de possivelmente, seu pai também.

Agora a garota queria chorar. Queria gritar e quebrar tudo que havia na sua frente. Como aquilo pode parar em sua bolsa? Quem ousou a fazer essa brincadeira com ela? Eve sentiu uma teimosa lágrima escapar. Abraçou sua perna e encolheu-se o quanto podia. Ficou olhando para aquelas duas fotos e imaginando se aquilo poderia ser verdade. Sua mãe, sua linda mãe. Aquilo que era apenas borrões em sua mente se tornou realidade. Ela odiava o fato de ter esquecido aos poucos a fisionomia de sua mãe. Ela se odiava por isso. Mas agora, tudo veio a tona. Uma foto de sua mãe estava ali, em suas mãos. E seu pai. Aquele era seu pai. Poderia ser brincadeira, ou um clichê. Mas ela sentia que aquele era seu pai. Os dois ali pareciam ser um casal perfeito. Eve, o fruto desse amor, começou a chorar. Como uma criança que quebra seu brinquedo. Como uma adolescente descobrindo sua vida novamente. Ela chorou. Depois de oito anos, Eve chorou de verdade mais uma vez.

De dentro da cozinha, a televisão alta chamou-lhe atenção.  Havia alguma coisa de errado naquele noticiário. Eve enxugou suas lágrimas e se levantou do chão pegando sua bolsa e segurando seu mais novo objeto pessoal, o relicário. Voltou a brecha da porta e olhou para a televisão.

“Parece um caos, parece que tudo está desmoronando! A Indústria Stark esta se acabando. Tony agora só pensa em sua arma de ferro. Acho que esse tempo já passou, certo? Precisamos de suas armas, não dele dentro de uma armadura. Sim, ele salvou o mundo ao lado daquele grupinho. Mas os vingadores estão aposentados, está na hora dele se aposentar também!”

Um flashback veio na mente de Eve. Aqueles nomes, ela já tinha ouvido aqueles nomes, em histórias que sua mãe lhe contava para dormir! Ela se sentiu louca por um momento. Mas sim, ela se lembrava agora. O Homem de ferro é uma verdade! As histórias de sua mãe são verdade!

Eve sorriu em meio a lágrimas que ainda caiam de seus olhos. Ela olhou para o relicário em suas mãos e riu feito uma criança. Acho que estava na hora dela sair daquele lugar e procurar algumas respostas para algumas perguntas que estavam consumindo sua mente agora.

- O que está fazendo aqui?

Nesse momento Eve sentiu seu corpo gelar. Rapidamente ela secou suas lágrimas e pendurou a alça de sua bolsa em seu ombro. Segurando o relicário ela se virou e viu a diretora do orfanato mata-la com o olhar.

Abigail, a diretora a viu chorando, pela primeira vez. A Freaky estava chorando. Algo aconteceu.

- Preciso sair.

- Nem pensar!

Eve fuzilou Abigail com o olhar por alguns longos segundos. A diretora respondia com o mesmo olhar. Eve então olhou para o corredor oposto de onde tinha vindo. Sabia que ali dava para o térreo. E o térreo para a porta da entrada. O que era por onde ela sairia desse orfanato e não voltaria mais. Eve preparou para deixar suas coisas para trás e assim que respirou fundo deu seu primeiro passo para a liberdade. Então a ruiva começou a correr até a escada que dava para o térreo. Aos gritos, Abigail gritava para algum guarda agarrar Eve. Mas antes que eles aparecessem no corredor. Eve já estava no meio da escada. Pulando os degraus de dois em dois ela chegou rapidamente no térreo. Lá viu movimento de alguns órfãos. Olhou para os lados recuperando o fôlego e avistou a porta de entrada, e saída. Correu o mais rápido que pode atropelando uns e empurrando outros. Que claro, não deixavam de gritar “Freaky” para ela. Correndo o mais rápido que pode, ao conseguir alcançar a porta viu o zelador olhar para ela com uma cara meio lerda. Ao perceber os gritos de Abigail se aproximando. O desespero de sair daquele lugar falou mais forte. Com uma força que nem ela sabia que tinha, Freaky deu um soco no rosto do zelador, que caiu desmaiado no chão. Ela ouviu gritos dos alunos gritarem e rirem do zelador. Ignorando-os. Ela abaixou-se e pegou a chave que estava pendurada no cinto do zelador. Olhou para trás e viu os guardas se aproximando. Rapidamente ela colocou a chave na fechadura e abriu a porta. Rapidamente abriu a porta e saiu correndo para o meio da rua. Olhou para trás de relance e viu os guardas abrindo o portão. Sem saber o que fazer a ruiva saiu correndo pela estrada que havia ali. Ela correu o mais rápido que podia, corria rápido até. Olhou para trás e viu dois guardas parados apoiando-se aos seus próprios joelhos, cansados. Ela riu da cara deles e continuou a correr. Mesmo cansada, não pararia até se sentir longe o suficiente daquele lugar.


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Notas finais do capítulo

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