Rachel P.O.V

_ Rachel, precisamos conversar. – disse Puck entrando no meu quarto com Santana. Quinn estava em sua cama e corou.

_ O que foi? – perguntei fechando meu livro.

_ A gente tá preocupado com o papai e o pai. – admitiu Santana e eu tive que concordar: também estava preocupada com eles.

_ Eles não ligam e nem mandam cartas desde que foram. – ressaltou meu irmão – E esse prolongamento da viagem? Três meses? Isso tá errado.

_ Vocês querem falar com a mamãe? – perguntei.

_ Ela não dirá nada... Vamos ligar direto para a Cruz Vermelha. – sugeriu Santana, apanhando o celular. Ela discou rapidamente e logo começou a falar – LeRoy e Hiram Berry, isso. Queríamos saber o porquê de eles prolongarem a viagem, onde estão e o porquê da falta de comunicação. Sim, aguardo. – concordou ela, virando-se para nós – Eles estão checando as informações.

Demorou alguns longos minutos, até que alguém voltasse a falar. E quando voltaram, primeiro os olhos da minha irmã se arregalaram e depois se encheram de lágrimas e eu tive certeza que jamais voltaria a ver meus pais de novo.

Blaine P.O.V

Quinn desceu as escadas correndo, assustando todos na sala.

_ Shelby, é melhor você subir e... – começou ela, mas foi interrompida.

_ COMO VOCÊ PÔDE? – ouvimos Puck gritar, descendo a escada aos pulos, os olhos encharcados, o rosto uma mascara de emoções – COMO VOCÊ PÔDE MENTIR A ESSE PONTO? NOS ENGANAR?

_ Se acalme garoto, o que aconteceu? – perguntou Burt surpreso.

_ NÃO A PROTEJA! VOCÊ ESTAVA NISSO! – gritou ele, apontando o tio e virou-se para a mãe, maneirando a voz – Como você ousou mentir, dizendo que meus pais haviam prolongado a viagem e não nos contar QUE ELES DESAPARECERAM! E NEM VIR NOS AVISAR QUANDO SOUBE QUE ELES MORRERAM. ESTÁ TÃO PREOCUPADA ASSIM QUE ACEITEMOS SEU MALDITO CASAMENTO?

_ Morreram? – a voz de Shelby saiu num sussurro, enquanto Kurt e Mercedes suspendiam a respiração e as gêmeas surgiam no alto da escada, chorando copiosamente – Mas, eles estavam desaparecidos... Sendo procurados.

_ A cruz vermelha acabou de nos avisar que eles morreram. – rosnou Puck, que parecia o único capaz de falar – Estão esperando que alguém vá liberar os corpos.

_ Crianças, eu... – começou Shelby, parecendo confusa – Eles prolongaram mesmo a viagem, mas seria para uma segunda lua de mel. Pouco antes de irem para a segunda parte, eles sumiram num pequeno terremoto. Não quis preocupá-los, eu, eu achei que eles voltariam, que eles ficariam bem e...

Ela na conseguiu terminar de falar, porque as lagrimas a invadiram. As gêmeas correram até a mãe, a abraçando e chorando. Puck ainda parecia arrisco, sem vontade ou condição de se aproximar de ninguém. Para nossa surpresa, quem se adiantou em direção a ele foi Quinn.

Minha irmã se aproximou cautelosa e, quando ele nada fez para repeli-la, o abraçou suavemente. Num primeiro momento ele não reagiu, mas logo depois a abraçou, apertando-a a forte e soluçando em seu ombro.

Todos os presentes olhavam a cena entre surpresos e entristecidos. Puck continuava abraçado com Quinn e as gêmeas com a mãe. Burt parecia desolado, sentado na cadeira de qualquer jeito, enquanto Kurt o abraçava pelas costas, chorando muito. Mercedes sentou-se ao lado das primas, afagando carinhosamente as costas de Santana, que segurou sua mão.

Quanto a mim, meus irmãos e meus pais, nós apenas olhávamos tudo de coração partido, sem ter forças para dizer uma palavra que fosse. Meu pai parecia mudo, sem saber sequer o que fazer.

A noite, na hora de dormir, foi a primeira vez em muitos anos que ele abraçou os filhos.

Shelby P.O.V

LeRoy e Hiram não estavam em boas condições quando foram encontrados. Seus corpos já estavam em decomposição e foi apenas graças à arcada dentária que foram reconhecidos.

Os sepultamos em belos caixões pretos, enterrando-os lado a lado no pequeno cemitério de Lima. As crianças pareciam sem reação e Noah nem ao menos falava comigo. Ele havia dormido lado a lado com Quinn, de quem não havia soltado e Russell nem ao menos encontrou animo para contestar.

Rachel estava abraçada com Kurt e Santana com Mercedes. Rory apareceu com Sugar para dar apoio e minha filha ficou longos minutos abraçada a ele. Jesse nem se dignou a aparecer, dizendo ter uma importante reunião com um grupo de aspirantes a NYADA. Quando ele disse que passaria em casa a noite, Rachel pediu que não fosse. Acho que logo teremos outra baixa no sistema.

Burt parecia profundamente afetado com a morte dos dois, já que eles haviam sido grandes amigos, especialmente Hiram. Estava abraçado com Carole, que sussurrava no ouvido do noivo. Blaine abraçava Brittany, que estava bem assustada com tudo aquilo. Sam e Finn estavam os ladeando, ambos cabisbaixos e com as mãos nas costas.

Russell estava a meu lado, a mão em meu ombro, enquanto eu chorava no seu. Ele parecia não saber o que dizer ou se dizer, afinal, tanto ele ofendera e criticara o casal Berry e ali estavam os dois, mortos.

Além de nós, haviam cerca de 100 pessoas entre colegas de trabalho meu, de Hiram e de Leroy e alguns poucos parentes. Quando o rabino terminou a prece, Noah afinal soltou Quinn, e abraçou as duas irmãs, se aproximando das covas. Eles jogaram uma flor cada para cada um dos pais e começaram a chorar mais, se abraçando e caminhando para trás. Me aproximei, jogando uma flor para cada, assim como Burt, Kurt e Mercedes. E então, começou-se a jogar terra.

Finn P.O.V

O clima em casa está péssimo, para dizer o mínimo. Shelby está em seu quarto com Russell e não para de chorar, escuto daqui. Burt está na sala, com um copo de uísque numa mão e a outra envolta a de minha mãe.

Britt está em pânico profundo, outro de seus ataques. Ela viu Santana chorando e começou a ter crise de pânico. Por fim, uma ficou com consolando a outra e para nossa surpresa, dormiram abraçadas.

Kurt não queria falar muito, e logo ele e Mercedes se recolheram ao quarto dela, onde provavelmente dormirão. Blaine e Sam foram deitar cedo também, cansados demais para qualquer coisa.

Quinn está no meu quarto com Puck, ambos dormindo junto embaixo das cobertas. Por mais estranho e perturbador que seja minha irmã perto desse cara, eu entendo o que ele tá passando e sei como é bom alguém ao seu lado.

_ Quer companhia? – uma voz me tirou de meus pensamentos. Rachel estava na varanda e eu fiz sinal que ela sentasse na cadeira de piscina ao lado da minha – Não consigo dormir.

_ Acho que ninguém aqui realmente consegue. – eu disse, olhando a lua – Eu sinto muito pelos seus pais. Não cheguei a conhecê-los, mas eles pareciam ser legais pelo que vocês contam.

_ Eram os melhores. – garantiu ela, dando um sorriso fraco – Você e papai LeRoy teriam se dado bem. Ele gostava muito de futebol americano.

_ Imagino. – respondi, sorrindo de volta. Ficamos olhando a lua, até eu tomar coragem de falar – Me desculpe por tudo Berry. As raspadinhas, as ofensas, provocações. Acontece que vocês não são tão losers quanto eu achava.

_ E você não é tão metido e insuportável. – elogiou ela de volta, em tom de brincadeira – Sabe, apesar de não concordar com o casamento de nossos pais, eu sinto que esse pode ser o inicio de uma boa amizade.

Eu só sorri em resposta, voltando a olhar a lua, mas me sentindo tentado a olhar para o lado. Aqueles olhos eram mais bonitos que qualquer céu noturno.