NU E PJ: O Ladrão De Raios escrita por The Amazing Spider Green


Capítulo 9
Oferecem-nos uma missão


Notas iniciais do capítulo

DESCULPA, DESCULPA, DESCULPA A DEMORA! Puxa, cinco meses sem atualizar. Desculpa, gente. Nas notas finais está a explicação da minha demora.



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P
E
R
C
Y

Na manhã seguinte, Quíron me mudou para o chalé 3.

Naruto continuou no chalé 11, considerando o fato de que o seu pai não era muito bem-vindo por aqui, e por isso não tinha um chalé. Além do mais, ele tinha o sangue de Hermes, então ele podia continuar ali sem problemas. Sasuke mudou-se para o chalé 5, não parecendo muito contente com isso. Ele sempre mostrou sua desaprovação por aquele chalé. Ele podia ser arrogante, mas era honrado e não gostava de machucar os outros. E agora, ele tinha de compartilhar um chalé inteiro com as crianças mais feias e irritantes em toda a superfície da Terra. Sentia um pouco de pena dele.

Eu, por outro lado, não tive de compartilhar o meu chalé com ninguém. Tinha espaço à vontade para todas as minhas coisas: o chifre do Minotauro, um conjunto de roupas de reserva e uma sacola de artigos de toalete. Ia me sentar à minha própria mesa de jantar, escolhia todas as minhas atividades, determinava o "apagar das luzes" sempre que tinha vontade e não ouvia a mais ninguém. Não era alvo das pegadinhas, piadas e dos irritantes distúrbios bipolares de Naruto, ou seus gritos intermináveis por ramén.

E me sentia totalmente infeliz.

Bem quanto começava a me sentir aceito, a sentir que tinha um lar no chalé 11 e poderia ser um garoto normal — ou tão normal quanto é possível quando se é um meio-sangue —, fui separado como se tivesse alguma doença rara.

Ninguém mencionou o cão infernal, mas tive a sensação de que estavam todos falando sobre isso pelas minhas costas. O ataque assustara todo mundo. Ele mandou quatro mensagens: a primeira, que eu era filho do deus do mar; a segunda, que Sasuke era filho do deus da guerra; a terceira, que Naruto era filho do deus do Submundo e descendente do deus dos ladrões — que surpresa —; a quarta, que os monstros não mediriam esforços para matar a mim e Naruto. Podiam até invadir um acampamento que sempre foi considerado seguro.

Os outros campistas mantinham distância de mim na medida do possível. O chalé 11 estava agitado demais para receber aula de esgrima junto comigo depois do que Naruto e eu fizéramos com o pessoal de Ares no bosque, e assim nossas aulas com Luke passaram a ser particulares. Ele nos exigia mais do que nunca, e não tinha medo de me machucar.

— Vocês vão precisar de todo o treinamento que puderem obter — prometeu, enquanto trabalhávamos com tochas flamejantes e espadas. — Agora vamos tentar de novo aquele golpe de decapitar víboras. Mais cinquenta repetições.

Annabeth ainda nos ensinava grego pela manhã, mas parecia distraída. A cada vez que eu dizia alguma coisa, ela fechava a cara, como se eu tivesse acabado de lhe dar um soco.

Depois das aulas, ela ia embora resmungando consigo mesma:

— Missão... Poseidon?... Grande porcaria... Preciso de um plano...

Uma vez Naruto disse, apoiando um cotovelo no meu ombro:

— É, cara, lá se vai sua chance de arranjar uma namorada.

Eu o encarei, como sempre faço quando ele fala ou faz alguma bobagem — tradução: vinte quatro horas por dia, sete dias por semana.

Até Clarisse mantinha distância, embora os olhares venenosos deixassem claro que queria me matar por ter quebrado sua lança mágica. Queria que ela simplesmente gritasse, me desse um soco ou coisa assim. Era melhor me meter em brigas todos os dias a ser ignorado.

* * *

Soube que alguém no acampamento andava ressentido comigo, porque uma noite entrei no meu chalé e achei um jornal horrível jogado porta adentro, um exemplar do New York Daily News, aberto na página Metrópole. Levei quase uma hora para ler a matéria, porque quanto mais ficava zangado mais as palavras pareciam flutuar na página.

MENINO E SUA MÃE AINDA DESAPARECIDOS DEPOIS DE ESTRANHO ACIDENTE DE CARRO
POR ELLEN SMYTHE

Sally Jackson, seu filho Percy e o amigo Naruto Uzumaki ainda não foram encontrados uma semana depois de seu misterioso desaparecimento. O carro da família, um Camaro 1978, totalmente queimado, foi descoberto no último sábado em uma estrada ao norte de Long Island com o teto e uma das portas — que tinha marcas de garras — arrancados e o eixo dianteiro quebrado. O carro havia capotado e derrapado por várias centenas de metros antes de explodir.

Mãe, filho e amigo tinham ido passar um fim de semana em Montauk, mas saíram às pressas, sob circunstâncias misteriosas. Pequenos sinais de sangue foram encontrados no carro e perto da cena do desastre, mas não havia outros indícios dos Jackson e do Uzumaki desaparecidos. Residentes da área rural declararam não ter visto nada de inusitado por volta da hora do acidente.

O marido da Sra. Jackson, Gabe Ugliano, alega que o enteado, Percy Jackson, e seu amigo, Naruto Uzumaki, são crianças problemáticas que foram expulsas de inúmeros internatos e demonstraram tendências violentas no passado.

A polícia não diz se o filho Percy e o jovem Naruto são suspeitos do desaparecimento da mãe, porém não descarta a hipótese do crime. Abaixo estão fotografias recentes de Sally Jackson e Percy. Infelizmente não há nenhuma foto de Naruto Uzumaki. A polícia solicita a qualquer pessoa que tenha alguma informação que ligue gratuitamente para o disque-denúncia de crimes, a seguir.

O número do telefone estava circulado com marcador preto.

Amarrotei o jornal e joguei fora, depois me joguei em meu beliche no meio do chalé vazio.

"Apagar das luzes", disse para mim mesmo, arrasado.

* * *

Naquela noite, tive meu pior pesadelo até então.

Eu corria pela praia no meio de uma tempestade. Dessa vez, havia uma cidade atrás de mim. Não Nova York. O panorama era diferente: os edifícios eram mais afastados uns dos outros, havia palmeiras e colinas baixas a distância.

Cem metros adiante, na arrebentação, dois homens estavam brigando. Pareciam lutadores da tevê, musculosos, com barbas e cabelos compridos. Ambos usavam túnicas gregas esvoaçantes, uma guarnecida de azul, a outra, de verde. Atracavam-se, lutavam, chutavam e davam cabeçadas — e, a cada vez que se tocavam, caíam raios, o céu escurecia e ventos sopravam.

Eu precisava detê-los. Não sabia por quê. Mas, quanto mais eu corria, mas o vento me empurrava de volta, até eu correr sem sair do lugar, os calcanhares se enterrando inutilmente na areia.

Por cima do rugido da tempestade, pude ouvir o de túnica azul gritando para o de túnica verde: Devolva! Devolva! Era como se uma criança do jardim de infância estivesse brigando por causa de um brinquedo.

As ondas ficaram maiores, arrebentando na praia e me borrifando com sal.

Eu gritei: Parem com isso! Parem de brigar!

O chão estremeceu. Risadas vieram de algum lugar embaixo da terra, e uma voz profunda e maligna me gelou o sangue.

Venha para baixo, pequeno herói, a voz sussurrou. Venha para baixo.

A areia se abriu embaixo de mim numa fenda que ia direto ao centro da Terra. Meus pés escorregaram e as trevas me engoliram.

Acordei, certo de que estava caindo.

Ainda estava na cama, no chalé 3. Meu corpo me dizia que já era manhã, mas estava escuro lá fora e o trovão ribombava pelas colinas. Uma tempestade estava se formando. Isso eu não havia sonhado.

Ouvi um som oco à porta, o som de um casco batendo na soleira.

— Entre.

Grover trotou para dentro, parecendo preocupado.

— O Sr. D quer vê-lo.

— Por quê?

— Ele quer matar... quer dizer, é melhor deixar que ele te conte.

Eu me vesti, agitado, e fui, certo de que estava em uma grande encrenca.

Ao lado da porta, vi Naruto encostado à parede, os braços cruzados a cabeça baixa, roncando. Notei que as mangas de sua camisa laranja, normalmente nos cotovelos, não estavam dobradas. Provavelmente estava cansado demais para dobrá-las. Com certeza ainda estava dormindo.

Bati em seu ombro, e ele de repente arregalou os olhos e entrou em posição de combate.

— O quê? Como? Quando? Onde?

— Naruto, calma, sou eu! — disse a ele, surpreso. Raramente eu conseguia assustá-lo, mesmo dormindo. Quando eu tentava assustá-lo em Yancy, enquanto dormia, ele agarrou meu pulso e me jogou para o outro lado da sala — ainda dormindo!

— Ah, Percy... — ele suspirou. — Foi mal. É que eu tive um pesadelo e dormi mal, ainda mais quando esse projeto de bode entrou no meu chalé e me fez levantar da cama, trocar de roupa e vir até aqui. Falando nisso, ainda vai ter troco, homem-bode.

Grover engoliu em seco, e eu revirei os olhos. Por fim, nós saímos do chalé e caminhamos.

Havia dias eu estava esperando uma convocação para a Casa Grande. Agora que tinha sido declarado filho de Poseidon e Naruto filho de Hades, dois dos Três Grandes deuses que não deveriam ter filhos, imaginei que o simples fato de estarmos vivos já fosse um crime. Os outros deuses provavelmente haviam debatido sobre o melhor jeito de nos punir por existirmos, e agora o Sr. D estava pronto para dar seu veredicto.

— Estou realmente começando a me arrepender de ter xingado o carinha do vinho tantas vezes — sussurrou Naruto para mim.

— Eu sei que você não está arrependido — lhe respondi. — Você nunca se arrepende de xingar alguém.

— É verdade — concordou ele.

Acima do estreito de Long Island, o céu parecia uma sopa de tinta em ponto de fervura. Uma cortina brumosa de chuva vinha em nossa direção. Perguntei a Grover se precisávamos de um guarda-chuva.

— Não — disse ele. — Aqui nunca chove, a não que queiramos.

Naruto apontou para a tempestade.

— Então que porra é aquela? Uma garoa?

Ele olhou, preocupado, para o céu.

— Vai passar em volta de nós. O mau tempo sempre faz isso.

Percebi que ele estava certo. Fazia uma semana que estava ali e nunca vira o tempo fechado. As poucas nuvens de chuva que tinha notado contornaram os limites do vale.

Mas aquela tempestade... aquela era imensa. E pela expressão de Naruto, ele pensava a mesma coisa que eu.

Na arena de vôlei as crianças do chalé de Apolo jogavam uma partida matinal contra os sátiros. Os gêmeos de Dioniso caminhavam em volta dos campos de morangos fazendo as plantas crescerem. Todos estavam cuidando de suas tarefas normais, mas pareciam tensos. Estavam de olho na tempestade.

Grover, Naruto e eu caminhamos até a varanda da frente da Casa Grande. Dioniso estava sentado à mesa de pinochle com sua Diet Coke, usando a camisa havaiana com listras de tigre, exatamente como no nosso primeiro dia. Quíron estava do outro lado da mesa em sua falsa cadeira de rodas. Jogavam contra oponentes invisíveis — duas mãos de cartas flutuavam no ar.

— Bem, bem — disse o Sr. D sem erguer os olhos. — Nossas pequenas celebridades.

Nós aguardamos.

— Cheguem mais perto — disse o Sr. D. — E não esperem que eu me prostre diante de vocês, mortais, só porque os velhos Barbas de Craca e Bafo de Cadáver são seus pais.

Uma rede de raios brilhou atrás das nuvens enquanto o chão tremia levemente. Um trovão fez tremerem as janelas da casa.

— Blá-blá-blá — disse Dioniso.

Quíron fingiu interesse em suas cartas de pinochle. Grover se encolheu junto ao gradil, os cascos batendo para a frente e para trás.

— Se as coisas fossem do meu jeito — disse Dioniso —, eu faria suas moléculas irromperem em chamas. Nós varreríamos as cinzas e estaríamos livres de um monte de problemas. Mas Quíron parece achar que isso seria contra a minha missão neste acampamento maldito: manter vocês, moleques, a salvo do mal.

— Combustão espontânea é uma forma de mal, Sr. D — interveio Quíron.

— Bobagem — disse Dioniso. — Os meninos não sentiriam nada. No entanto, eu concordei em me conter. Estou pensando em transformar a prole de Poseidon em um golfinho e a prole de Hades em um fantasma em vez disso, e mandá-los de volta para seus respectivos pais.

— Sr. D... — advertiu Quíron.

— Ora, está bem — cedeu Dioniso. — Há mais uma opção. Mas é uma insensatez descomunal. — Dioniso levantou-se, e as cartas dos jogadores invisíveis caíram sobre a mesa. — Estou indo ao Olimpo para uma reunião de emergência. Se os meninos ainda estiverem aqui quando eu voltar, vou transformar um em um nariz de garrafa do Atlântico e o outro em um corvo. Entenderam? E Perseu Jackson e Naruto Uzumaki, se vocês forem mesmo espertos, verão que se trata de uma escolha muito mais sensata do que aquela que Quíron imagina.

— Não somos conhecidos por fazer escolhas sensatas — disse Naruto enquanto envolvia meus ombros com o braço, sorrindo desafiadoramente para Dioniso. Infelizmente eu tinha de concordar com ele.

Dioniso rosnou antes de pegar uma carta e torcê-la. Ela se transformou em um retângulo de plástico. Cartão de crédito? Não. Um passe de segurança.

Ele estalou os dedos.

O ar pareceu se dobrar e se curvar em volta dele. Ele transformou-se em um holograma, depois em um vento e depois desapareceu, deixando para trás apenas o cheiro de uvas recém-prensadas.

Quíron sorriu para nós, mas parecia cansado e tenso.

— Sentem-se, Percy, Naruto, por favor. Grover também.

Nós obedecemos.

Quíron pôs suas cartas na mesa. A mão vencedora que ele não chegara a usar.

Naruto sussurrou para mim.

— Puxa vida, mesmo sem jogar, ele já ia vencer. Esse cara tem mais sorte que eu.

E alguém ter mais sorte que o Naruto era um feito que eu achava ser impossível até então.

— Digam-me, meninos — disse ele. — O que vocês fizeram com o cão infernal?

Só de ouvir o nome, eu estremeci.

Quíron provavelmente queria que eu dissesse: Ora, aquilo não foi nada. Costumo comer cães infernais no café da manhã. Mas eu não estava com vontade de mentir.

— Ele me apavorou — falei. — Se Naruto não estivesse lá, eu estaria morto.

— Fiquei meio assustado quando ele me obedeceu e se sentou aos meus pés — disse Naruto. — Eu não sabia por que ele me obedeceu, até eu descobrir quem é o meu pai.

— Vocês vão enfrentar coisas piores, meninos. Muito piores, antes de terminar.

— Terminar... o quê? — perguntamos.

— Sua missão, é claro. Vocês vão aceitá-la?

Dei uma olhada para Grover, que estava cruzando os dedos.

— Ahn, senhor, ainda não nos contou qual será — falei.

— Foda-se — disse Naruto. — Qualquer coisa é melhor que virar cobaia do Sr. D, e além do mais, eu estou enferrujado. Preciso de uma missão para melhorar as juntas, como nos velhos tempos.

Eu o encarei irritado. Esse é Naruto Uzumaki: um cara que nunca pensa. Eu sou assim também, mas isso não vem ao caso.

— Bem, essa é a parte difícil, os detalhes.

Um trovão irrompeu pelo vale. As nuvens de tempestade haviam agora chegado ao limite da praia. Até onde eu podia ver, o céu e o mar estavam fervendo juntos.

— Poseidon e Zeus — disse eu. — Eles estão lutando por algo valioso...

— Algo que foi roubado, não estão? — completou Naruto, sério. Isso me assustou. Naruto raramente era sério.

Quíron e Grover trocaram olhares.

Quíron inclinou-se para a frente em sua cadeira de rodas.

— Como vocês sabem disso?

Senti o rosto quente. Desejei não ter aberto meu bocão. Naruto não parecia sentir o mesmo, por isso deixei que ele falasse.

— É meio óbvio. Desde o Natal o tempo está todo fodido, como se o mar e o céu estivessem dando uma série de porradas um no outro. Então nós falamos com Annabeth, Sakura-chan e Sasuke, e eles tinham ouvido alguma coisa sobre um roubo. E... também andei sonhando umas coisas.

— Você também? — perguntei, surpreso. Naruto se virou para mim, de olhos arregalados.

— Eu sabia — disse Grover.

— Quieto, sátiro — ordenou Quíron.

— Mas essa é a missão deles! — Os olhos de Grover estavam brilhantes de excitação. — Tem de ser!

— Só o Oráculo pode determinar. — Quíron alisou a barba eriçada. — No entanto, meninos, vocês estão corretos. O pai de Percy e Zeus estão tendo sua pior disputa em séculos. Estão lutando por uma coisa valiosa que foi roubada. Para ser preciso: um relâmpago.

Eu ri de nervoso.

— Um o quê?

Naruto tinha uma cara de tacho.

— Eles estão brigando... por um brinquedo?

— Não brinquem com isso — advertiu Quíron. — Não estou falando de um zigue-zague recoberto de papel-alumínio como vocês veem em peças da escola. Estou falando de um cilindro de bronze celestial de alto grau, com sessenta centímetros de comprimento, arrematado em ambos os lados com explosivos de nível deífico.

— Ah.

— O raio-mestre de Zeus — disse Quíron, agora ficando emocionado. — O símbolo de seu poder, conforme o qual todos os outros raios são moldados. A primeira arma feita pelos Ciclopes para a guerra contra os Titãs, que decepou o cume do Monte Etna e arremessou Cronos para fora do seu trono; o raio-mestre, que acumula potência suficiente para fazer as bombas de hidrogênio dos mortais parecerem fogos de artifício.

Naruto soltou um assobio.

— Puta que pariu! Isso é que é um brinquedo de destruição em massa! Eu queria um desses para mim! Imagina o que eu poderia fazer com isso.

Tremi com os pensamentos macabros que infestaram minha mente.

— E ele desapareceu? — questionei, ainda tremendo um pouco.

— Roubaram — disse Quíron.

— Quem roubaram?

— Quem roubou — corrigiu Quíron. Naruto revirou os olhos. Uma vez professor, sempre professor. — Vocês.

Meu queixo caiu, assim como o de Naruto.

— De que porra você está falando?! — rugiu Naruto, colocando uma mão protetora no meu ombro, o que me fez sentir meio feliz por ser valorizado. Mas logo a felicidade foi substituída por dor ao sentir as garras dele quase arrancando minha carne.

— N-Naruto... — falei. — Fico feliz por saber que você se importa tanto comigo, mas... você tá me machucando.

Ele percebeu o que fazia e rapidamente soltou. Verifiquei meu ombro e fiquei feliz por apenas a camiseta ter recebido o dano. Meu ombro tinha apenas marcas vermelhas.

— Acalme-se, Naruto — disse Quíron, erguendo uma das mãos. — Isso é o que Zeus pensa, pelo menos. Durante o solstício de inverno, na última assembleia dos deuses, Zeus e Poseidon tiveram uma discussão. As tolices de sempre: "A Mãe Reia sempre gostou mais de você", "Os desastres aéreos são mais espetaculares que os desastres marítimos" etc. Mais tarde, Zeus se deu conta de que o seu raio-mestre havia desaparecido, levado da sala do trono bem debaixo do seu nariz. No mesmo instante culpou Poseidon. Agora, um deus não pode usurpar diretamente o símbolo de poder de outro deus — isso é proibido pela mais antiga das leis divinas. Mas Zeus acredita que o pai de Percy convenceu dois heróis humanos a pegá-lo.

O quê? — rosnou Naruto, os olhos brilhando na cor vermelha. Eu entendia isso. Ele odiava tanto quanto eu o fato de sermos acusados de fazermos uma coisa que nem sequer fizemos.

— Mas nós não...

— Paciência, e escutem, crianças — disse Quíron. — Zeus tem boas razões para suspeitar. As forjas dos Ciclopes ficam embaixo do oceano, o que dá a Poseidon alguma influência sobre os fabricantes dos raios do seu irmão. Zeus acredita que Poseidon pegou o raio-mestre e está agora mandando os Ciclopes construírem secretamente um arsenal de cópias ilegais, que poderiam ser usadas para derrubar Zeus do seu trono. A única coisa de que Zeus não tinha certeza era qual herói Poseidon usara para roubar o raio. Agora Poseidon declarou abertamente que Percy é filho dele, e considerando o fato de que Naruto é seu amigo não o ajuda no assunto. Vocês estavam em Nova York nas férias de inverno. Poderiam facilmente ter se infiltrado no Olimpo. Zeus acredita que encontrou os seus ladrões.

— Mas nós nunca estivemos na porra do Olimpo!

— Naruto está certo! Zeus está maluco!

— Não — discordou Naruto, fazendo-me olhá-lo confuso. — Maluco é pouco para descrevê-lo! — Ele bateu o punho com toda a força na mesa de pinochle, causando uma rachadura embaixo de sua mão. Seus olhos brilhavam num perigoso tom de vermelho e de sua boca saíam sons guturais que não eram humanos. Eu via presas em sua boca e as marcas de bigode em suas bochechas ficavam mais espessas, parecendo bigodes de verdade. Ele rugiu como um animal: — Zeus está drogado!

Quíron e Grover olharam nervosamente para o céu. As nuvens não pareciam estar se separando à nossa volta, como Grover prometera. Estavam vindo para cima do nosso vale, fechando-nos dentro dele como uma tampa de caixão.

Vendo isso, coloquei uma mão no ombro de Naruto, que me encarou com os enormes olhos vermelhos fendidos. Isso me fez encolher um pouco. Vendo meu medo, ele pareceu se acalmar. Fechou os olhos e começou a tomar respirações suaves, e ao abri-los novamente, eles estavam azuis, como sempre.

— Ahn, gente...? — disse Grover. — Nós não usamos essa palavra que começa com m, e com certeza não usamos essa palavra que começa com d, para descrever o Senhor do Céu.

Paranoico, quem sabe — sugeriu Quíron. Naruto zombou. — Mas, por outro lado, Poseidon já tentou derrubar Zeus antes. Acredito que essa foi a pergunta 38 da sua prova final... — Ele olhou para nós como quem realmente esperava que nos lembrássemos da pergunta 38.

Como podia alguém me acusar de roubar a arma de um deus? Eu não conseguia nem furtar um pedaço de pizza da mesa de pôquer de Gabe sem ser pego. Quíron estava esperando por uma resposta.

— Foi tudo com uma rede — resmungou Naruto, ainda irritado. — Poseidon, e Hera, e alguns outros deuses... eles prenderam Zeus numa armadilha e não o deixaram sair até ele prometer ser um soberano melhor. Certo?

Ele estava tão furioso que nem fez uma piada quando contou a história.

— Correto — disse Quíron. — E Zeus nunca mais confiou em Poseidon desde então. Poseidon, é claro, nega ter roubado o raio-mestre. Ele se ofendeu com a acusação. Os dois vêm discutindo o tempo todo há meses, com ameaças de guerra. E agora vocês apareceram — as famosas gotas-d'água.

— Eu odeio ser a gota d'água — murmurou Naruto, fazendo-me sorrir mentalmente. Mesmo irritado, ele inconscientemente fazia piadas.

— Mas nós somos apenas duas crianças! Claro, uma delas é um ninja altamente treinado na arte de roubar e que, por um acaso do destino, é descendente de Hermes e um mestre das pegadinhas e escapadas estratégicas, mas... — Eu vi os olhares de tacho direcionados a mim. — É melhor eu parar de falar.

— Com certeza — resmungou Naruto.

— Percy — interveio Grover —, se você fosse Zeus, e já achasse que o seu irmão estava planejando derrubá-lo, e então o seu irmão, junto a outro irmão, subitamente admitisse que havia quebrado o juramento sagrado que fizera depois da Segunda Guerra Mundial e que era pai de um novo herói mortal com um amigo que tem o sangue do deus dos ladrões correndo pelas veias que poderia ser usado como uma arma contra você... Isso não o deixaria com a pulga atrás da orelha?

— Também o tornaria um hipócrita — rosnou Naruto —, considerando o fato de que ele quebrou o juramento antes de Poseidon e Hades!

— Mas eu não fiz nada. Poseidon, meu pai, realmente não mandou roubar esse raio-mestre, mandou?

Quíron suspirou.

— A maioria dos observadores inteligentes concordaria que o roubo não faz o estilo de Poseidon. Mas o deus do mar é orgulhoso demais para tentar convencer Zeus disso. Zeus exigiu que Poseidon devolva o raio até o solstício de verão. Isso será em 21 de junho, dez dias a contar de agora. Poseidon quer um pedido de desculpas por ser chamado de ladrão até essa mesma data. Eu tinha esperanças de que a diplomacia prevalecesse, que Hera ou Deméter ou Héstia fariam os dois irmãos verem a razão. Mas a chegada de vocês inflamou o gênio de Zeus. Agora nenhum dos dois deuses quer recuar. A não ser que alguém intervenha, a não ser que o raio-mestre seja encontrado e devolvido a Zeus antes do solstício, haverá guerra. E vocês sabem como poderia ser uma guerra total, meninos?

— Ruim? — adivinhei.

— Uma droga? — resmungou Naruto.

— Imaginem o mundo em caos. A natureza em guerra consigo mesma. Os olimpianos forçados a escolher lados entre Zeus e Poseidon. Destruição. Carnificina. Milhões de mortos. A civilização ocidental transformada em um campo de batalha tão grande que fará a Guera de Troia parecer uma luta de balões d'água.

— Ruim — repeti.

— Ótimo — disse Naruto. — Uma catástrofe causada por um brinquedo. Existe coisa pior?

— E vocês, Percy Jackson e Naruto Uzumaki, serão os primeiros a sentir a ira de Zeus.

Começou a chover. Os jogadores de vôlei interromperam o jogo e olhavam em silêncio perplexo para o céu.

Nós havíamos trazido a tempestade para a Colina Meio-Sangue. Zeus estava punindo o acampamento inteiro por nossa causa. Eu estava furioso.

— Então nós temos de encontrar o brinquedinho de destruição em massa de Zeus — disse Naruto —, e devolvê-lo.

— Que melhor oferenda de paz — disse Quíron —, do que fazer os filhos de Poseidon e Hades devolverem o que é de Zeus?

— Se não está com Poseidon, onde está essa coisa?

— Eu creio que sei. — A expressão de Quíron era soturna. — Parte da profecia que recebi anos atrás... bem, algumas frases fazem sentido para mim, agora. Mas, antes que eu possa dizer mais, vocês precisam aceitar oficialmente a missão. Você precisa procurar o conselho do Oráculo.

— Por que você não pode dizer de antemão onde está o rio?

— Porque, se eu fizer isso, vocês ficarão assustados demais para aceitar o desafio.

Eu engoli em seco.

— Boa razão.

Naruto soltou um resmungo irritado.

— Então vocês concordam?

Nós olhamos para Grover, que assentiu encorajadoramente.

Fácil para ele. Éramos nós quem Zeus queria matar.

— Está bem — disse eu. — É melhor do que ser transformado em um golfinho.

— Ou um corvo ou um fantasma — concordou Naruto.

— Então é hora de vocês consultarem o Oráculo — disse Quíron. — Vão para cima, Percy Jackson, Naruto Uzumaki, para o sótão. Quando desceram de novo, presumindo que ainda estejam lúcidos, conversaremos mais.

* * *

Quatro lances acima, a escada terminava embaixo de um alçapão verde.

Naruto puxou o cordão. A porta se abriu e uma escada de madeira caiu ruidosamente no lugar.

O ar morno que vinha de cima cheirava a mofo, madeira podre e mais alguma coisa... um cheiro que me lembrou a aula de biologia. Répteis. O cheiro de serpentes.

Naruto não pareceu abalado pelo cheiro quando subiu. Eu, por outro lado, prendi a respiração e subi.

O sótão estava atulhado de sucata de heróis gregos: suportes de armaduras cobertos de teias de aranha; escudos outrora brilhantes cheios de adesivos dizendo ÍTACA, ILHA DE CIRCE e TERRA DAS AMAZONAS. Sobre uma mesa comprida estavam amontoados potes de vidro cheios de coisas em conserva — garras peludas decepadas, enormes olhos amarelos e diversas outras partes de monstros. Um troféu empoeirado na parede parecia ser uma cabeça de serpente gigante, mas com chifres e uma arcada completa de dentes de tubarão. Uma placa dizia: CABEÇA N. 1 DA HIDRA, WOODSTOCK, N.Y., 1969.

Quando a viu, Naruto assobiou.

— Nossa, a cabeça de uma hidra. Nunca pensei que fosse ver uma.

— Hidra, na mitologia, era aquela criatura que tinha várias cabeças, né?

— Não exatamente — respondeu Naruto, encarando a cabeça com milímetros de distância. — Ela originalmente tem uma cabeça, eu acho, mas quando você corta uma das cabeças dela, mais duas crescem no lugar.

— Caramba. — Assobiei. — Deve ter sido difícil derrotá-la.

— Vamos — disse Naruto afastando-se da cabeça e continuando a caminhar.

Eu o segui.

Junto à janela, sentado em uma banqueta de madeira com três pernas, estava o suvenir mais pavoroso de todos: uma múmia. Não do tipo enfaixada em panos, mas um corpo humano feminino, ressecado até ficar só a casca. Usava um vestido de verão estampado em batique, com uma porção de colares de contas e uma bandana por cima de longos cabelos pretos. A pele do rosto era fina e parecia couro por cima do crânio, e os olhos eram fendas brancas vítreas, como se os olhos de verdade tivessem sido substituídos por bolas de gude; devia estar morta fazia muito, muito tempo.

— Porra — Naruto assobiou —, bem que ela tá precisando de um pouco de hidratante.

Estava com tanto medo que nem dei um tapa na cabeça de Naruto. Olhar para a múmia me deu arrepios nas costas. Uma névoa verde jorrou da garganta da múmia, serpenteando pelo chão em anéis grossos, sibilando como vinte mil cobras. Era semelhante ao jeito de quando o chakra da Kyuubi saía de Naruto, só que saía pelo corpo dele, não pela boca, e o chakra era vermelho, enquanto aquela névoa era verde. Tropecei em mim mesmo tentando chegar até o alçapão, mas ele se fechou com uma batida. Naruto me ajudou a levantar sem me olhar. Ele encarava com desconfiança a múmia que soltava névoa verde. Dentro da minha cabeça, ouvi uma voz, deslizando por um ouvido e se enroscando por meu cérebro: Eu sou o espírito de Delfos, porta-voz das profecias de Febo Apolo, assassino da poderosa Píton. Aproximem-se, vocês que buscam, e perguntem.

— Não, obrigado, porta errada, a gente só estava procurando o banheiro — disse Naruto, forçando um sorriso inocente. Ele agarrou meu braço e me puxou para longe, mas logo fomos barrados por mais névoa verde. — Ou podemos ficar aqui e deixar nossas bexigas estourarem.

A múmia não estava viva. Era algum tipo de receptáculo horripilante para uma outra coisa, o poder que girava em espiral à nossa volta na névoa verde. Mas sua presença não parecia maligna, como a da professora demoníaca de matemática, a Sra. Dodds ou a do Minotauro. Era mais como as Três Parcas que nós tínhamos visto tricotando o fio de lã ao lado da banca de frutas da rodovia: antiga, poderosa e, sem dúvida, não humana. E também não parecia especialmente interessada em me matar.

Naruto e eu nos encaramos, e eu soube pelo seu olhar o que faríamos.

Respiramos fundo e perguntamos ao mesmo tempo:

— Qual é o nosso destino?

A névoa rodopiou, mais densa, juntando-se bem na nossa frente e em volta da mesa com os potes que continham partes de monstros em conserva. De repente, havia quatro homens sentados à volta da mesa, jogando cartas. Os rostos ficaram mais nítidos. Era Gabe Cheiroso e seus cupinchas.

Meus punhos se contraíram, embora eu soubesse que aquele jogo de pôquer não podia ser real. Era uma ilusão, feita de névoa.

Gabe voltou-se para mim e falou na voz rouca do Oráculo: Você irá para o oeste, e irá enfrentar o deus que se tornou desleal.

O cupincha da direita ergueu os olhos e disse com a mesma voz: Você irá encontrar o que foi roubado, e o verá devolvido em segurança.

O da esquerda colocou três fichas na mesa, depois disse: Você será traído por aquele que o chama de amigo.

Por fim Eddie, o zelador do nosso edifício, proferiu a pior sentença de todas: E, no fim, irá fracassar em salvar aquilo que mais importa.

As figuras começaram a se dissolver. Esperei que a névoa verde sumisse, mas ela pareceu se remodelar para formar a imagem de uma mulher ruiva muito bonita. Ela olhava Naruto com seus olhos quase violetas. Arregalei os olhos ao reconhecê-la da foto que Naruto guardava no bolso.

Kkaa-chan — murmurou Naruto, os olhos mais arregalados que os meus.

Naruto falava tanto japonês às vezes que eu soube que "Kaa-chan" significava "Mãe".

A mulher começou a falar:

O filho do Submundo devolverá o objeto furtado para seu verdadeiro dono,
Filho contra pai, essa luta definirá o sucesso da missão.
O vencedor será aquele que souber a verdadeira forma de ganhar,
E no final, seu maior desejo será realizado.

A figura voltou a se dissolver. De início ficamos atordoados demais para dizer alguma coisa, mas quando a névoa recuou, enrolando-se como uma enorme serpente verde e deslizando de volta para dentro da boca da múmia, Naruto gritou:

— Espere! O que quer dizer? Que filho? Que pai? Qual desejo meu vai ser realizado?

A cauda da serpente de névoa desapareceu na boca da múmia. Ela se reclinou de volta contra a parede. A boca fechou-se bem apertada, como se não tivesse sido aberta em cem anos. O sótão ficou silencioso de novo, abandonado, nada além de uma sala cheia de suvenires.

Tive a sensação de que poderíamos ficar lá parados até juntarmos teias de aranha também, e não ficaríamos sabendo mais nada.

Nossa audiência com o Oráculo estava encerrada.

* * *

— E então? — Quíron nos perguntou.

Desabamos em nossas cadeiras à mesa de pinochle.

— Ela disse que eu devia recuperar o que foi roubado.

Grover se inclinou para a frente, mascando animado os restos de uma lata de Diet Coke.

— Isso é ótimo!

— O que foi que o Oráculo disse exatamente? — pressionou Quíron. — Isso é importante.

Meus ouvidos ainda estavam tinindo com a voz reptiliana.

— Ela... ela disse que eu iria para o oeste e enfrentaria um deus que se tornou desleal. Recuperaria o que foi roubado e devolveria em segurança.

— Eu sabia — disse Grover.

Quíron não pareceu satisfeito.

— Mais alguma coisa?

Eu não queria contar a ele.

Que amigo iria me trair? Eu não tinha tantos assim.

E a última sentença — eu fracassaria em salvar o que mais importa. Que tipo de Oráculo me mandaria em uma missão e me diria, Ah, a propósito, você vai se dar mal.

Como eu poderia confessar aquilo?

— Não — falei. — Isso é tudo.

Naruto me encarou nos olhos, sério. Ele sabia que eu estava mentindo e não gostava muito disso.

— E você, Naruto? — Quíron virou-se para ele.

Naruto fez uma pausa antes de falar.

— Ela disse que o filho do Submundo deve devolver o objeto furtado para o seu verdadeiro dono.

— Incrível — disse Grover, sorrindo, os dentes cobertos com pedaços de alumínio.

— Ela também disse que meu maior desejo seria realizado.

— Melhor ainda! — Grover quase pulava em sua cadeira de tanta excitação.

— Mais alguma coisa? — perguntou Quíron.

— N-não. — Me surpreendi quando Naruto mentiu. Era comum eu mentir, mas ele nem tanto.

Quíron estudou nossos rostos.

— Muito bem, meninos. Mas saibam disto: as palavras do Oráculo frequentemente têm duplo sentido. Não se fiem demais nelas. A verdade nem sempre fica clara até que os eventos aconteçam.

Tive a sensação de que ele sabia que nós estávamos escondendo algo ruim, e tentava fazer com que nos sentíssemos melhor.

— Certo — falei, ansioso por mudar de assunto. — Então, aonde vou? Quem é esse deus no oeste?

— Ah, pense, Percy — disse Quíron. — Se Zeus e Poseidon enfraquecem um ao outro numa guerra, quem tem a ganhar com isso?

— Algum outro que queira tomar o poder — respondeu Naruto, os olhos escuros. Imagino que ficar tanto tempo no campo de batalha tenha deixado Naruto com diversos conhecimentos sobre estratégias de batalha.

— Sim, exatamente. Alguém que guarda um ressentimento, alguém que está infeliz com a parte que lhe coube desde que o mundo foi dividido eras atrás, cujo reinado se tornará poderoso com a morte de milhões. Alguém que odeia os irmãos por forçá-lo a um juramento de não ter mais filhos, um juramento que os três agora quebraram.

Pensei nos meus sonhos, na voz maligna que falara do fundo da terra.

Naruto arregalou os olhos.

— Hades — falamos juntos.

Quíron assentiu.

— O Senhor dos Mortos é a única possibilidade.

Grover babou um pedaço de alumínio pelo canto da boca.

— Opa, espere aí. O-o quê?

— Uma das Fúrias veio atrás de Percy e Naruto — lembrou Quíron. — Ela observou os rapazes até ter certeza das suas identidades, e então tentou matá-los. As Fúrias obedecem a um só senhor: Hades.

— Sim, mas... mas Hades odeia todos os heróis — protestou Grover. — Especialmente se tiver descoberto que Percy é filho de Poseidon. E Naruto é filho dele, lembra?

— Um cão infernal conseguiu entrar na floresta — continuou Quíron. — Eles só podem ser convocados dos Campos da Punição, e ele tinha de ser convocado por alguém de dentro do acampamento. Hades deve ter um espião aqui. Ele deve suspeitar que Poseidon tentará usar Percy para limpar seu nome. Hades gostaria muito de matar esse jovem meio-sangue antes que ele possa assumir a missão.

— Boa — murmurei. — São dois dos deuses mais importantes querendo me matar.

— Eu não acho que seja Hades — disse Naruto. Ele parecia se recusar a chamar Hades de pai. — Por que ele tentaria me matar? Eu não sou filho dele?

— Lamento dizer, Naruto, mas eu não acho que Hades se importe muito sobre esse assunto.

Naruto abaixou a cabeça, os cabelos loiros arrepiados cobrindo seus olhos. Ele tremia cheio de raiva, e eu ouvia rosnados animalescos no lugar aonde ele estava.

— Mas uma missão para... — Grover engoliu em seco. — Quer dizer, o raio-mestre não poderia estar em algum lugar como o Maine? O Maine é muito agradável nesta época do ano.

— Hades enviou um protegido para roubar o raio-mestre — insistiu Quíron. — Ele o escondeu no Submundo, sabendo muito bem que Zeus culparia Poseidon. Não pretendo entender perfeitamente os motivos do Senhor dos Mortos ou por que ele escolheu esta época para começar uma guerra, mas uma coisa é certa: Naruto e Percy precisam ir ao Submundo, encontrar o raio-mestre e revelar a verdade.

Um fogo estranho queimou em meu estômago. O mais esquisito era que não se tratava de medo. Era expectativa. O desejo de vingança. Hades tentara nos matar três vezes até agora, com a Fúria, o Minotauro e o cão infernal. Por sua culpa minha mãe desaparecera em um clarão. Agora ele tentava nos enquadrar e meu pai por um roubo que não tínhamos cometido.

Eu estava pronto para enfrentá-lo.

Além disso, se minha mãe estava no Submundo...

Epa, rapaz!, disse a pequena parte do meu cérebro que ainda estava lúcida. Você é um garoto. Hades é um deus.

Grover estava tremendo. Tinha começado a comer cartas de pinochle como se fossem batatinhas fritas.

O pobre sujeito precisava completar uma missão conosco para obter sua licença de buscador, o que quer que fosse isso, mas como poderíamos lhe pedir que participasse daquilo, principalmente sabendo que o Oráculo dissera que nós — bem, eu — íamos fracassar? Era suicídio.

— Olhe, se nós sabemos que é Hades — disse a Quíron —, por que não podemos simplesmente contar aos outros deuses? Zeus ou Poseidon poderiam descer ao Submundo e fazer rolar algumas cabeças.

— Suspeitar e saber não são o mesmo — disse Quíron. — Além disso, mesmo que suspeitem de Hades... imagino que Poseidon suspeite... os outros deuses não poderiam recuperar o raio por si mesmos. Deuses não podem entrar nos territórios um do outro a não ser que sejam convidados. Essa é outra regra muito antiga. Heróis, por outro lado, têm certos privilégios. Podem ir a qualquer lugar, desafiar qualquer um, desde que sejam corajosos e fortes o bastante para fazê-lo. Nenhum deus pode ser responsabilizado pelos atos de um herói. Por que acha que os deuses sempre agem por intermédio de seres humanos?

— Em outras palavras — disse Naruto, sombrio e irritado, diferente do habitual —, estamos sendo usados.

— Naruto está certo — falei. — Você está dizendo que estamos sendo usados.

— Estou dizendo que não é por acaso que Poseidon o assumiu agora. É uma jogada muito arriscada, mas ele está em uma situação desesperadora. Precisa de você, Percy. E Naruto deve ajudá-lo. Não sei o motivo de Hades ter assumido Naruto, mas não sinto que seja por uma boa causa.

Meu pai precisa de mim.

As emoções giraram dentro de mim como pedaços de vidro em um caleidoscópio. Eu não sabia se sentia ressentimento, gratidão, alegria ou raiva. Poseidon me ignorara por doze anos. Agora, de repente, precisava de mim.

— Ahhhh... — Naruto suspirou, irritado. — Parece que nós vamos ter que consertar as burradas dos nossos pais. Normalmente não são os pais que salvam os rabos dos filhos?

Olhei para Quíron.

— Você sabia o tempo todo que eu era filho de Poseidon e que Naruto era filho de Hades, não é?

Naruto arregalou os olhos. Ele encarou Quíron, chocado.

— Tinha minhas suspeitas. Como eu disse... também falei com o Oráculo.

Tive a sensação de que havia muita coisa que ele não estava nos contando sobre sua profecia, mas percebi que não poderia me preocupar com aquilo naquela hora. Afinal, eu também estava sonegando informações.

— Então, deixe-nos entender direito — falei. — Precisamos ir para o Submundo e confrontar o Senhor dos Mortos.

— Confere — disse Quíron.

— Para encontrar o brinquedinho de destruição em massa de Zeus, que por acaso é a arma mais poderosa do universo — falou Naruto.

— Confere.

— E levá-la de volta ao Olimpo antes do solstício de verão, daqui a dez dias — disse eu.

— Isso mesmo.

— Hum... — Naruto colocou um dedo ao lábio antes de dar de ombros. — O.k. Não deve ser tão difícil.

Olhamos para Grover, que engoliu o ás de copas.

— Cheguei a mencionar que o Maine é muito agradável nesta época do ano? — perguntou ele de um jeito cansado.

— Sim, amigão — respondeu Naruto esfregando seu ombro.

— Você não precisa ir — disse a ele. — Não podemos lhe exigir isso.

— Percy está certo — concordou Naruto. — A escolha é sua, não nossa.

— Ah... — Ele se balançou de um casco para outro. — Não... é só que sátiros, e os lugares embaixo da terra... bem...

Ele respirou fundo, depois se pôs de pé, sacudindo os pedaços de cartas e alumínio da camiseta.

— Vocês salvaram a minha vida, gente. Se... se estão falando sério em querer que eu vá junto, não vou deixá-los na mão.

Fiquei tão aliviado que tive vontade de chorar, embora não achasse isso muito heroico. Grover era o único amigo — além de Naruto — que já tivera por mais que alguns meses. Não sabia muito bem o que um sátiro poderia fazer contra as forças dos mortos, mas me senti melhor sabendo que meus dois melhores amigos estariam comigo.

— Juntos até o fim, homem-bode. — Eu me virei para Quíron. — Então, para onde vamos? O Oráculo só disse para ir para oeste.

— A entrada para o Submundo fica sempre no oeste. Muda de lugar de era em era, como o Olimpo. Atualmente, é claro, fica nos Estados Unidos.

— Onde? — perguntou Naruto.

Quíron pareceu surpreso.

— Pensei que fosse óbvio. A entrada para o Submundo fica em Los Angeles.

— Desculpe, mas a minha geografia não é a melhor, ainda mais considerando o fato de que eu venho de outra dimensão! — Naruto falou meio alto na última parte.

— Ah — falei. Minha geografia também não era a melhor. — Claro. Então é só pegar um avião...

— Não! — gritou Grover. — Percy, o que está pensando? Alguma vez na vida já esteve em um avião?

Sacudi a cabeça, sem graça. Minha mãe nunca me levara para lugar algum de avião. Ela sempre dizia que não tínhamos dinheiro para isso. Além disso, os pais dela tinham morrido em um desastre de avião.

— Percy, pense — disse Quíron. — Você é filho do deus do mar. O rival mais rancoroso do seu pai é Zeus, Senhor do Céu. Sua mãe sabia muito bem que não podia confiar você a um avião. Você estaria nos domínios de Zeus. Jamais desceria com vida. O mesmo vale para Naruto, sendo filho de Hades.

Acima de nós, relâmpagos estalaram. O trovão ribombou.

— Certo — disse eu, determinado a não olhar para a tempestade. — Então, viajarei por terra.

— Certo — disse Quíron. — Então temos dois líderes nessa missão. Isso quer dizer que dois parceiros poderão acompanhar cada um de vocês. Grover é um dos parceiros de Percy. O outro já se apresentou como voluntário, se Percy aceitar a ajuda dela.

— Puxa — falei, fingindo surpresa. — Quem mais seria bastante estúpido para se apresentar para uma missão como essa?

— Só alguém com problemas no cérebro — disse Naruto, entrando na brincadeira.

O ar tremulou atrás de Quíron.

Annabeth se tornou visível, enfiando o boné dos Yankees no bolso de trás.

— Eu estava esperando há muito tempo por uma missão, Cabeça de Alga e Bafo de Cadáver — disse ela. — Atena não é fã de Poseidon, e tampouco de Hades, mas se vocês vão salvar o mundo, sou a melhor pessoa para impedir que estraguem tudo.

— Nossa, quanta generosidade sua, hein? — zombou Naruto, mas ele tinha um sorriso divertido no rosto.

— Se é ela quem diz — falei para Naruto. Me voltei para Annabeth novamente. — Tem algum plano, sabidinha?

As bochechas dela coraram.

— Vocês querem minha ajuda ou não?

A verdade é que eu queria. Precisava de toda a ajuda que pudesse encontrar. Naruto parecia concordar pela sua expressão.

— Um trio — disse eu. — Isso vai dar certo.

— Mas espere aí — disse Naruto. — E os meus parceiros?

— Eles devem chegar... — Quíron foi interrompido.

— Ei — disse uma voz conhecida.

— ...agora.

Nos viramos para ver duas pessoas que já tinham se tornado comuns na minha vida, apesar de um deles ter a cabeça parecendo a bunda de um pato, e o outro ter cabelo rosa.

— Sasuke? Sakura-chan? — Naruto estava perplexo.

— Não achou que fôssemos deixar você ter toda a diversão, não é, Gasparzinho? — Sasuke sorria de forma discreta, mas divertida.

— Nós somos seus amigos, Naruto — disse Sakura, os punhos apertados no peito. — Estaremos com você até o fim. Pode contar com a gente.

Os olhos de Naruto, para minha surpresa, começaram a umedecer. Lágrimas caíam por suas bochechas, e ele começou a soluçar. Um sorriso enorme enfeitou seu rosto. Isso me chocou. Desde o dia em que o conheci, eu nunca tinha visto Naruto chorar. Ele, provavelmente não querendo que ninguém visse as lágrimas, rapidamente as secou com a manga de sua camisa. Então, ele olhou para todos nós e sorriu o maior sorriso que eu já vi ele dar — e isso é dizer alguma coisa.

Arigatô — disse ele, tendo uma recaída no seu japonês. — Vocês são os melhores.

— E nunca se esqueça disso — respondeu Sasuke, o sorriso aumentando um milímetro que me surpreendi ter notado.

— Excelente — disse Quíron. — Esta tarde podemos levar vocês no máximo até o terminal de ônibus em Manhattan. Depois disso, estarão por conta própria.

Um relâmpago. A chuva desabou sobre as campinas que jamais deveriam ver um temporal violento.

— Não há tempo a perder — disse Quíron. — Acho que todos vocês devem fazer as malas.


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Notas finais do capítulo

Olha, gente, desculpa a demora. Mas é que eu fiquei um mês inteiro com a Internet não funcionando, e nos outros meses eu tive tantas provas, tantos trabalhos e tantas lições de casa que eu mal tinha tempo pra respirar.
Por fim, eu resolvi atualizar a minha história nas férias, quando eu tenho mais tempo. Me levou uma semana inteira pra fazer esse capítulo.
Eu não vou culpar nenhum de vocês se me odiarem agora. Quero dizer, eu poderia ter dado o aviso de quando vou atualizar. Também não vou me surpreender se não comentarem.
Mas tudo o que eu posso fazer agora, para tentar me redimir do meu erro imperdoável, é dizer: Eu sinto muito. Eu amo os meus leitores, e sei que eles que eles esperam o melhor de mim, mas eu também tenho defeitos e uma vida. Eu precisava cuidar dos meus problemas antes de poder ficar livre e escrever pra vocês. Provavelmente o próximo capítulo vai ser postado no sábado, e senão, vai ser no domingo.
Do seu Amigão da Vizinhança, o Spider Green.