NU E PJ: O Ladrão De Raios escrita por The Amazing Spider Green


Capítulo 8
Adestro um cão


Notas iniciais do capítulo

Oi. Decidi que não vou parar a história. Se ela não foi apagada até agora, significa que eu tô limpo. Eu prometo a todos vocês: eu não vou mais abandonar essa história, e nem As Crônicas De Um Ninja-Mago De Fibra. É uma promessa que pretendo manter.
E agora, com o capítulo.



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N
A
R
U
T
O

Bom, tirando o fato de que eu tinha aulas com sátiros, ninfas e um centauro, até que minha rotina se tornou bem normal.

Ah, você deve querer saber sobre aquela garota — Thalia. Bem, ela é filha de Zeus, o que já é bem óbvio, e me contou sobre como ela veio até o acampamento, mas ela não me contou tudo. Apenas sobre suas aventuras sozinha, e depois ela parou em uma parte. Eu perguntei o que era, e ela simplesmente disse que não queria falar disso. E ao perguntar sobre como ela era uma árvore, ela também disse que não queria falar disso.

Depois eu resolvi contar minha história. Ela não acreditou, mas após eu fazer o Kage Bunshin no Jutsu, ela rapidamente acreditou.

Também descobri rapidamente que ela na verdade era um... espírito, mais ou menos. O estranho era que ela podia me tocar, e eu descobri isso rapidamente após eu insultá-la — sem mesmo saber como —, e ela me dar um choque. Pelo visto sensibilidade corre na família.

Enfim, todas as manhãs Percy e eu estudávamos grego antigo com Annabeth e conversávamos sobre deuses e deusas no presente, o que era um pouco estranho. Descobri que Annabeth estava certa a respeito da dislexia: o grego antigo não era tão difícil de ler. Pelo menos, não mais difícil que inglês. Depois de algumas manhãs eu e Percy já conseguíamos ler sem muita dor de cabeça algumas linhas de Homero, tropeçando aqui e ali. E isso aí, baby, eu sou um semideus que sabe japonês, inglês e grego antigo. Pode falar, eu sou foda.

No resto do dia Percy e eu alternávamos atividades ao ar livre, procurando alguma coisa em que fôssemos bons. Quíron tentou nos ensinar arco e flecha, mas descobrimos bem depressa que nós não dávamos para aquilo. Ele não reclamou nem mesmo quando teve de arrancar de suas ancas uma flecha perdida de Percy, ou quando eu sem querer (eu juro, quando atirei a flecha, ela voou para atrás de mim — ISSO É MESMO POSSÍVEL?) acertei sua barba, e digamos que Quíron teve de ficar um tempo com uma barba mais rala do que antes.

Corrida? Eu era demais. As instrutoras, as ninfas do bosque, comiam a minha poeira. Percy, porém, não se saía tão bem assim. Tá, ele era massacrado pelas ninfas. Elas o detonavam. Elas o faziam comer poeira. Disseram-lhe que tiveram séculos de prática fugindo de deuses apaixonados — coisa que me fez rir, admito. Mas ainda devia ser humilhante ser mais lento que uma árvore. Logo em seguida as ninfas me parabenizaram e disseram que eu era um dos meio-sangues mais rápidos que elas já conheceram. Eu apenas sorri e agradeci.

E as lutas? Eu arrasava. Ninguém conseguia me derrotar. Já Percy, bem... Digamos que ele ficaria com o traseiro doendo por uma semana. Tradução: Clarisse chutava a bunda dele até o outro lado da galáxia.

"E vem mais por aí, seu mané", eu a ouvia murmurar ao ouvido de Percy graças à minha audição apurada.

Basicamente, a única coisa em que Percy era mesmo excelente era canoagem, mas ele me disse que esse não era o tipo de habilidade de herói que as pessoas esperavam de um dos caras que venceu o Minotauro. Eu apenas bati em seu ombro e disse que logo, logo ele seria um dos melhores campistas, e que eu o ajudaria nisso. Afinal, pra que servem os amigos?

Sabia que os campistas mais velhos e os conselheiros nos observavam, tentando concluir quem eram nossos pais, mas não estava sendo fácil para eles. Eu era tão forte quanto os garotos de Ares, era bom em forjar como os garotos de Hefesto, e ainda era um bom ladrão como os filhos de Hermes. As únicas coisas que eu não era bom era arco e flecha como os garotos de Apolo e — os deuses me livrem — o jeito de Dioniso com as vinhas. Já Percy, era exatamente o contrário: ele não era forte como os garotos de Ares, não era bom em forjar como as crianças de Hefesto, sabia arco e flecha tanto quanto eu — ou seja, nada —, e não era bom com as vinhas. Luke disse a ele que podia ser filho de Hermes, uma espécie de pau para toda obra, mestre nada. Achei isso desnecessário. Eu gostava muito de Hermes. Afinal, ele era praticamente o deus das brincadeiras. Mas eu sabia que Luke só estava tentando fazer Percy se sentir melhor. Percy me disse que, na verdade, também não sabia o que fazer com ele mesmo.

Bom, tirando esses detalhes, nós gostávamos muito do acampamento. Nos acostumamos com a neblina matinal sobre a praia, com o cheiro dos campos de morangos à tarde e até com os ruídos superesquisitos dos monstros nos bosques à noite. Jantávamos com o chalé 11, empurrávamos parte da nossa refeição para o fogo e eu tentava sentir alguma conexão com meu verdadeiro pai. Nada acontecia. Claro.

Comecei a entender o ressentimento de Luke e como ele parecia magoado com o pai, Hermes. O.k., talvez os deuses tivessem tarefas importantes pra fazer. Mas não poderiam fazer uma visitinha de vez em quando, alguma trovoada ou coisa assim? Dioniso podia fazer Diet Coke aparecer do nada. Por que meu pai, quem quer que fosse, não podia me mandar uma simples mensagem enviada por ave? Isso é comum de onde eu venho.

* * *

Quinta-feira à tarde, três dias depois de chegarmos ao Acampamento Meio-Sangue, Percy e eu tivemos nossa primeira aula de esgrima. Todos do chalé 11 se reuniram na grande arena circular, onde Luke seria nosso instrutor.

Começamos com estocadas e cutiladas básicas, usando bonecos recheados de palha com armaduras gregas. Eu já sabia o básico de esgrima, então pra mim foi fácil — sem querer me gabar, é claro. E confirmei minha suspeita: meus reflexos eram demais. Percy foi muito bem para uma primeira vez, até melhor que eu quando aprendi esgrima. Com certeza seria um dos melhores (senão o melhor!) espadachins do acampamento. E os reflexos dele eram tão bons quanto os meus.

O problema era que nós não conseguíamos encontrar uma lâmina que se adaptasse às nossas mãos. Eram pesadas demais, leves demais ou compridas demais. A única espada com que eu sabia lutar era minha katana, mas não deixavam eu usá-la — disseram que aqui nós tínhamos que aperfeiçoar nossas habilidades, e como eu já era muito bom com minha katana, eu não podia usá-la, pois tinha que melhorar minhas outras capacidades (Humpf! Sr. D idiota. Só queria estragar a minha vida!). Luke fez o melhor que pôde para nos ajudar, mas concordou que nenhuma das lâminas de prática parecia funcionar para nós.

Passamos adiante, para duelo em duplas. Luke anunciou que seria parceiro de Percy, já quera a primeira vez dele. Acabei tendo que ser parceiro de um campista chamado Connor Stoll.

— Boa sorte — disse um dos campistas para Percy. — Luke é o melhor espadachim dos últimos trezentos anos.

— Talvez ele pegue leve comigo — comentou Percy.

O campista riu, desdenhoso. Cerrei os olhos para ele, e ele parou de rir.

A luta com Connor foi boa. Ele era bom, mas ainda tinha um ritmo frouxo. Dois minutos depois, me protegi usando minha espada e o joguei no chão. Ele estava caído de bunda no chão, enquanto eu estava com minha espada na ponta da garganta dele, e ele tinha um olhar amedrontado no rosto. Até que eu tirei a espada e ofereci minha mão, que ele aceitou hesitante.

— Você é bom — eu disse, sorrindo para ele —, mas ainda precisa melhorar muito.

— He, he — ele riu envergonhado.

— Ei, cara, não precisa se envergonhar. Você ainda é muito bom. — Lhe dei um sorriso tranquilizador.

Luke pediu um tempo. Eu só estava um pouquinho cansado e suado. Todos correram para o isopor de bebidas. Percy estava empapado de suor. Luke despejou água gelada em cima da própria cabeça, e logo depois Percy fez a mesma coisa. Eu apenas bebi a água gelada e retirei minha camiseta. As garotas me davam um olhar estranho, como se olhassem um pedaço de carne. Até hoje não sei o motivo.

— O.k., todo mundo em círculo! — ordenou Luke. — Se Percy não se importar, vou fazer uma pequena demonstração.

Nós nos reunimos em volta. Estavam todos contendo o riso. Acho que já tinham passado por aquilo e mal podiam esperar para ver Luke usar Percy como saco de pancadas. Rosnei um rosnado baixo, porém audível, e todos pararam de rir. Luke disse a todos nós que ia mostrar uma técnica para desarmar o oponente: como girar a lâmina do inimigo com a parte chata da própria espada para que ele não tenha alternativa a não ser deixar a arma cair.

— Isso é difícil — enfatizou. E alguma vez é fácil? — Já usaram contra mim. Não riam de Percy agora. A maioria dos espadachins precisa trabalhar anos para dominar essa técnica.

Ele demonstrou o movimento para Percy em câmera lenta. Como previsto, a espada pulou da mão dele.

— Agora, em tempo real — disse ele depois que Percy recuperou sua arma. — Vamos fazer o movimento até que um de nós tenha sucesso. Pronto, Percy?

Percy assentiu, e Luke foi para cima dele. Percy o impediu de golpear o cabo da espada dele. Eu torcia como um louco para Percy, gritando:

— VAI, PERCY! VOCÊ CONSEGUE! IMAGINE QUE LUKE ROUBOU SEUS DOCES AZUIS!

Todos na plateia olharam para mim estranhamente, e eu falei indignado:

— O que foi? Nunca viram um cara torcer por seu amigo como um lunático?

Pela cara deles, não.

Percy rebateu um dos golpes de Luke. Ele deu um passo à frente e tentou sua própria estocada. Luke a desviou facilmente, e notei que a expressão de Luke mudou. Seus olhos se estreitaram, e ele começou a pressionar Percy com mais força. Arqueei uma sobrancelha.

Percy estava com uma expressão fraca, mas ela rapidamente mudou para uma feroz, como um leão enraivecido. Ele fez um movimento que reconheci.

Ele tentou a manobra de desarmar.

Sua lâmina atingiu a base da de Luke e ele a girou, em um movimento perfeito e fluído, como a própria água.

Plem!

A espada de Luke retiniu contra as pedras. A ponta da lâmina de Percy estava a dois centímetros do seu peito desprotegido.

Sasuke, chocado, cochichou no meu ouvido:

— Ele já usou uma espada antes?

— Não até hoje — respondi, igualmente chocado. Resolvi não contar a Sasuke sobre o incidente com a Sra. Dodds — ou a Fúria, ou o que for.

Os outros campistas ficaram em silêncio.

Percy baixou sua espada.

— Ahn, sinto muito.

Por um momento, Luke ficou perplexo demais para falar.

— Sinto muito? — Seu rosto marcado abriu-se num sorriso, o que achei meio assustador. — Pelos deuses, Percy, você sente muito? Mostre-me aquilo de novo!

Percy não queria, mas Luke insistiu.

Dessa vez, não houve disputa. No momento em que suas lâminas entraram em contato, Luke atingiu o cabo da de Percy, que saiu deslizando pelo chão.

Depois de uma longa pausa, alguém do público disse:

— Sorte de principiante?

Rosnei para ele, e ele se encolheu.

Luke enxugou o suor da testa. Ele avaliou Percy com um interesse totalmente novo, o que me fez sentir uma pontada de raiva.

— Talvez — disse. — Mas fico pensando o que Percy poderia fazer com uma espada equilibrada.

— Que tal agora eu ser seu oponente? — perguntei, me aproximando dos dois.

— Naruto, o que você...? — Interrompi Percy:

— Que tal, Luke? Uma lutinha amistosa?

Luke pareceu pensar, e então disse sorrindo:

— Claro, por que não?

Peguei minha espada e entrei em posição de luta. Percy foi para o círculo. Luke partiu pra cima de mim, e me preparei. Quando ele ia me atacar, usei a lâmina da minha espada para me defender e logo depois desviei a lâmina para outro lado. Quando fiz isso, pulei por cima de Luke com duas cambalhotas no ar e pousei atrás dele. Antes que eu pudesse golpeá-lo, Luke se virou e me atacou, e novamente percebi a mudança na expressão dele. Agora estava mais... cruel. O que estava acontecendo?

Sem outra alternativa, passei por debaixo das pernas dele e dei-lhe uma rasteira. Quando ele caiu de costas no chão, rapidamente dei um giro para ficar de frente ao corpo caído dele e coloquei a ponta de minha lâmina a um centímetro de seu pescoço, enquanto Luke suava e engolia em seco.

— Nada mal para um principiante, né? — Sorri para ele e retirei a espada. Ofereci minha mão e ele a aceitou.

— Com certeza — concordou Luke, sorrindo.

* * *

Sexta-feira à tarde. Percy e eu estávamos sentados com Grover perto do lago, descansando de uma experiência quase fatal no muro de escalada — pelo menos para Percy. Grover subira até o topo como um bode montanhês, mas a lava por pouco não atingiu Percy, enquanto eu plantei chakra nos meus pés e corri pelo muro como se fosse o chão. Percy ficou me xingando de nomes bem feios. Ué, eu usei minhas habilidades. Isso não é errado, né?

Sentamos no píer, olhando as náiades — que vou acrescentar, são as maiores gatas — que teciam cestos embaixo d'água.

— E então, Grover, como foi a conversa com o Sr. D?

Seu rosto assumiu um tom doentio de amarelo. Pelo visto, não foi muito boa.

— Ótima — disse ele. — Legal mesmo.

— Então sua carreira ainda está nos trilhos? — perguntei.

Ele me lançou um olhar nervoso.

— Quíron c-contou a vocês que eu quero uma licença de buscador?

— Bem... não — respondemos juntos. Eu não fazia nem ideia do que era uma licença de buscador, mas resolvi não perguntar.

Percy se pronunciou desta vez.

— Ele só disse que você tinha grandes planos, sabe... e que precisava de reconhecimento por completar uma tarefa. Então você conseguiu?

Grover baixou os ohos para as náiades.

— O Sr. D suspendeu o julgamento. Disse que ainda não fracassei nem tive sucesso com vocês, portanto nossos destinos ainda estão ligados. Se vocês ganharem uma missão, eu for junto para protegê-los e nós três voltarmos vivos, então talvez ele considere a tarefa concluída.

— Isso é ótimo — eu disse, sorrindo animadamente. — Vamos comemorar!

Bééé-é-é! Ele poderia igualmente ter me transferido para o serviço de limpeza de estábulos. As chances de vocês ganharem uma missão são quase nulas.

— Isso não é tão ótimo — me corrigi, me desanimando um pouco. — Não vamos comemorar.

— ... e mesmo se ganhassem, por que haveriam de querer que eu fosse junto?

— É claro que nós íamos querer você junto! — dissemos ao mesmo tempo. Já me acostumei a isso.

Grover continuou olhando melancolicamente para a água.

— Tecer cestas... Deve ser bom ter uma habilidade útil.

Percy e eu tentamos convencê-lo de que ele tinha muitos talentos, mas isso só o fez parecer ainda mais infeliz. Conversamos sobre canoagem, esgrima e brincadeiras (nem pergunte) por algum tempo, e então debatemos os prós e os contras dos diferentes deuses. E então, Percy perguntou a ele sobre os quatro chalés vazios.

— O número 8, o prateado, pertence a Ártemis — disse ele. — Ela jurou ser virgem para sempre.

— Que triste — eu disse. — Todo mundo merece pelo menos uma noite de sexo.

Um trovão ribombou no céu.

— Ah, qual é! Você sabe que é verdade! — gritei para o céu, abrindo os braços.

Mais um trovão.

Grover, ao se recompor dos trovões, continuou:

— Como eu ia dizendo, antes de ser rudemente interrompido — ele me lançou um olhar que achei muito sangrento para um amante da paz e do vegetarianismo —, sendo virgem, é claro, Ártemis não tem filhos. O chalé é honorário, entendem? Se ela não tivesse um, ficaria zangada.

— Se já uma mulher zangada é o pesadelo de qualquer homem — comentei —, imagine uma deusa zangada.

Pensamos sobre isso, e estremecemos com o pensamento.

— Sim, certo — disse Percy. — Mas os outros três, os que ficam no fim. São os Três Grandes?

Grover ficou tenso. Acho que estávamos chegando perto de um assunto delicado.

— Não. Um deles, o de número 2, é de Hera — disse ele. Franzi a testa com a menção desse nome. Novamente, não sou muito fã de Hera. — É outra coisa honorária. Ela é a deusa do casamento, portanto é claro que não iria sair por aí tendo casos com mortais. Isso é serviço do marido dela. Quando falamos dos Três Grandes, queremos dizer os três irmãos poderosos, os filhos de Cronos.

— Zeus, Poseidon, Hades — dissemos Percy e eu juntos.

— Certo. Vocês sabem. Depois da grande batalha com os Titãs, eles tomaram o mundo do pai e tiraram a sorte para decidir quem ficava com o quê.

— Zeus ficou com o céu — disse Percy. — Poseidon, com o mar, Hades, com o Submundo.

— A-hã.

— Mas Hades não tem um chalé aqui.

— Não. Também não tem um trono no Olimpo. Ele, bem, fica na dele lá embaixo no Submundo. Se tivesse um chalé aqui... — Grover estremeceu. — Bem, isso não seria agradável. Vamos deixar assim.

Fiquei com raiva. Eu sabia que Hades era temido e odiado, não só pelos olimpianos, mas também pelos semideuses e outros. E podia entender a dor de Hades. Eu também fui sozinho e solitário a minha vida inteira. Fui temido e odiado por toda a minha "casa". Tratado como um monstro. Quase me perdi no ódio e vingança como Hades, mas Iruka-sensei, Kakashi-sensei, Sakura-chan e Sasuke me arrancaram daquele inferno. Eu deixei de ser... sozinho. Finalmente havia arranjado amigos, pessoas que se preocupavam comigo. Mas Hades não teve ninguém, e por isso se perdeu no ódio. E também acho que ele, tão cansado de ser sozinho e solitário, resolveu se dar uma companhia com as próprias mãos, raptando Perséfone e a feito sua esposa. Por isso, acho que Hades é o deus que mais posso considerar igual a mim, mesmo ele sendo mau.

— Mas Zeus e Poseidon... os dois tinham zilhões de filhos nos mitos — disse Percy. — Por que os chalés deles estão vazios.

Grover se balançou de um casco para outro, pouco à vontade.

— Há cerca de sessenta anos, depois da Segunda Guerra Mundial, os Três Grandes combinaram que não iriam procriar mais nenhum herói. Os filhos deles eram poderosos demais. Estavam interferindo muito no curso dos eventos humanos, causando muitas carnificinas. A Segunda Guerra Mundial, sabe, foi basicamente uma luta entre os filhos de Zeus e Poseidon, de um lado, e os filhos de Hades do outro. O lado vencedor, Zeus e Poseidon, obrigou Hades a fazer um juramento junto com eles: nada de casos com mulheres mortais. Todos juraram sobre o rio Estige.

Cada palavra me parecia um soco no estômago. Os Três Grandes haviam feito um juramento de não ter nenhum filho, mas lá estava Thalia, a filha de Zeus, o Senhor dos Céus, um dos Três Grandes, transformada em um pinheiro na Colina Meio-Sangue. Zeus havia quebrado o juramento, porque eu sabia que as roupas que Thalia usava eram desse tempo.

Um trovão ribombou no céu. Caramba, as figuras da mitologia grega são bem dramáticas, hein?

— Esse é o juramento mais sério que se pode fazer — eu disse, depois de tanto tempo calado.

Grover assentiu.

— E os irmãos mantiveram a palavra, sem filhos? — perguntou Percy, enquanto eu sentia meu humor escurecendo.

O rosto de Grover se anuviou.

— Há dezessete anos, Zeus retornou aos maus hábitos. — Mas é claro que retornou. — Havia uma estrela da tevê com um penteado alto e armado, estilo anos 80... Ele simplesmente não conseguiu evitar. Quando o bebê nasceu, ume menininha chamada Thalia... Bem, o rio Estige é sério no que diz respeito a promessas. Zeus se safou com facilidade porque é imortal, mas causou um destino terrível para sua filha.

— É claro — eu disse, irritado. — Quando os deuses erram, somos nós, os seus filhos, que devemos pagar o preço por esses erros.

— Naruto está certo! Isso não é justo! Não foi culpa da menininha.

Grover hesitou.

— Percy, os filhos dos Três Grandes são mais poderosos que os outros meios-sangues. Eles têm uma aura forte, um odor que atrai monstros. Quando Hades descobriu a respeito da crianças, não ficou muito feliz com o fato de Zeus ter quebrado o juramento. Hades libertou os piores monstros do Tártaro para atormentar Thalia. — Opa. Thalia não havia me dito nada sobre isso. — Um sátiro foi designado para ser guardião dela quando completou doze anos, mas não havia nada que pudesse fazer. Ele tentou escoltá-la para cá com outros meios-sangues com quem ela fizera amizade. Eles quase conseguiram. Chegaram até o topo da colina.

Ele apontou para o outro lado do vale, para o pinheiro onde Percy e eu enfrentáramos o Minotauro.

— As três Benevolentes estavam atrás deles com um bando de cães infernais. Estavam quase sendo alcançados quando Thalia disse a seu sátiro que levasse os outros dois meios-sangues para um lugar seguro enquanto ela tentava conter os monstros. Estava ferida e cansada, e não desejava viver como um animal caçado. O sátiro não queria deixá-la, mas não conseguiu fazê-la mudar de ideia e tinha de proteger os outros. Assim, Thalia defendeu-se no final sozinha, no topo daquela colina. Quando ela morreu, Zeus se apiedou dela. Transformou-a naquele pinheiro. Seu espírito ainda ajuda a proteger as fronteiras do vale. É por isso que a colina é chamada de Colina Meio-Sangue.

Percy e eu olhamos para o pinheiro distante.

Então foi assim que Thalia tinha se transformado numa árvore. Foi por isso que ela não queria falar sobre isso. Devia ser muito difícil para ela falar sobre isso. Isso me fez sentir... inútil. Ela, com a minha idade, se sacrificara para salvar os amigos. Ela enfrentou um exército de monstros. Enquanto eu nem conseguira salvar a mãe do meu melhor amigo. Que droga de shinobi eu era? Que droga de amigo eu era?

— Grover, os heróis realmente partiram em missões para o Submundo?

— Algumas vezes — disse ele. — Orfeu. Hércules. Houdini.

— E chegaram a trazer alguém de volta da morte?

— Não. — Dessa vez fui eu que respondi. — Nunca. Bem... se eu não me engano, Orfeu tentou trazer a esposa de volta, e ele, através de uma melodia agoniada, conseguiu fazer Hades chorar — o que o torna meu herói por ter feito o deus mais sem-emoção chorar, devo acrescentar —, e Perséfone, emocionada, implorou para Hades conceder o pedido de Orfeu, e Hades, como queria uma noite de diversão, se é que me entende, o fez, mas com uma condição: Orfeu não poderia olhar para ela até que estivesse de novo à luz do sol. Mas como Orfeu era burro, no final do caminho ele olhou para trás, para ter certeza de que ela estava o seguindo e... Bem, Hades mantém seus acordos.

— Naruto está certo, Percy — concordou Grover, sério. — Você não está pensando mesmo em...

— Não — disse Percy. Mas eu sabia que ele estava mentindo por causa do batimento cardíaco acelerado. — Estava só imaginando. Então... um sátiro é sempre designado para guardar um semideus?

Grover o estudou cauteloso.

— Nem sempre. Vamos disfarçados para uma porção de escolas. Tentamos farejar os meios-sangues que tenham atributos de grandes heróis. Se se encontramos um com uma aura muito forte, como uma criança dos Três Grandes, alertamos Quíron. Ele tenta ficar de olhos neles, já que podem causar problemas realmente enormes.

— E você encontrou nós dois — disse Percy. — Quíron disse que você achava que nós poderíamos ser algo especial.

Grover soou como se Percy tivesse acabado de atraí-lo para uma armadilha.

— Eu não.... Ora, escutem, gente, não pensem assim. Se vocês fossem... vocês sabem... jamais lhes permitiriam uma missão, e eu jamais teria a minha licença. Você, Naruto, com certeza é filho de Hermes. Seu amor por pregar peças e essas feições traquinas já entregam isso. Já você, Percy, também é provavelmente filho de Hermes. Ou talvez até de um dos deuses menores, como Nêmesis, a deusa da vingança. Não se preocupem, tá?

Percebi que ele estava tentando tranquilizar mais a si mesmo que a nós.

* * *

Naquela noite após o jantar havia muito mais agitação que de costume.

Finalmente, era hora da captura da bandeira. O Papaizão aqui estava pronto pra mostrar quem era o melhor.

Quando os pratos foram levados embora, a trombeta de caramujo soou e todos nos postamos junto às nossas mesas.

Os campistas gritaram e aplaudiram quando Annabeth e dois de seus irmãos entraram correndo no pavilhão, carregando um estandarte de seda. Tinha cerca de três metros de comprimento, reluzindo em cinza, com a pintura de uma coruja em cima de uma oliveira. Do lado oposto do pavilhão, Clarisse e as amigas entraram correndo com outro estandarte, de tamanho idêntico, mas vermelho-berrante — laranja seria melhor —, com a pintura de uma lança sanguinolenta e uma cabeça de javali.

Isso vai ser bom, disse a Kyuubi depois de meses sem falar.

Ah, agora você resolve falar, né?, pensei irritado. O que você estava fazendo, seu animal?

Ei, calma, amigão, disse levemente assustado. Eu estava dormindo.

O QUÊ?, pensei furiosamente. SEU FILHO DA PUTA! ENQUANTO VOCÊ TAVA AÍ, DORMINDO, EU ENFRENTEI MAIS DESAFIOS QUE VOCÊ TEM DE CAUDAS NESSE SEU RABO GORDO!

Poxa, assim você me magoa, a Kyuubi disse, e logo voltou pro canto dele. Era bom mesmo.

Percy virou-se para Luke por cima do barulho:

— Aquelas são as bandeiras?

— Não — respondi sarcasticamente. — Não tá vendo que são dois postes de luz?

Percy me lançou um olhar mortal, mas logo virou-se novamente para Luke e perguntou:

— Ares e Atena sempre lideram as equipes?

— Nem sempre — disse ele. — Mas frequentemente.

— Então, se um outro chalé capturar uma delas, o que vocês fazem, pintam de novo a bandeira?

Ele sorriu ironicamente.

— Você vai ver. Primeiro temos de conseguir uma.

— De que lado nós estamos? — perguntei.

Ele nos deu uma olhada astuta, como se soubesse algo que nós não sabíamos. A cicatriz em seu rosto o fazia parecer quase mau à luz das tochas.

— Fizemos uma aliança temporária com Atena. Esta noite, tiraremos a bandeira de Ares. E vocês vão ajudar.

As equipes foram anunciadas. Atena tinha feito uma aliança com Apolo e Hermes, os dois chalés maiores. Aparentemente, haviam sido trocados privilégios — horários de chuveiro, escala de deveres, as melhores posições nas atividades — a fim de ganhar apoio.

Ares tinha se aliado a todos os outros: Dioniso, Deméter, Afrodite e Hefesto. Pelo que eu tinha visto, os campistas de Dioniso eram na verdade bons atletas, mas havia apenas dois deles. Os de Deméter tinham ligeira vantagem em habilidades na natureza e atividades ao ar livre, mas não eram muito agressivos. Com os filhos e filhas de Afrodite eu não estava nem um pouco preocupado. Eram apenas um bando de meninos e meninas mimados que se preocupavam mais com a aparência do que com a luta. Eles só esperavam sentados todas as atividades acabarem e iam conferir seus reflexos no lago, penteavam os cabelos e fofocavam. Os de Hefesto não eram bonitos, e havia apenas quatro deles, mas eram grandes e corpulentos de tanto trabalhar na oficina de metais o dia inteiro. Poderiam ser um problema bem grande. E essa adrenalina toda me animava muito. Com isso, é claro, restava o chalé de Ares: uma dúzia dos maiores, mais feios e mais perversos garotos e garotas de Long Island, ou de qualquer outro lugar no planeta.

Quíron bateu o casco no mármore.

— Heróis! — anunciou. — Vocês conhecem as regras. O riacho é o limite. A floresta inteira está valendo. Todos os itens mágicos são permitidos. A bandeira deve ser ostentada de modo destacado e não deve ter mais de dois guardas. Os prisioneiros podem ser desarmados, mas não podem ser amarrados ou amordaçados. Não é permitido matar nem aleijar. Servirei como juiz e médico do campo de batalha. Armem-se!

Ele estendeu as mãos e as mesas subitamente se cobriram de equipamentos: capacetes, espadas de bronze, lanças, escudos de couro de boi recobertos de metal.

Comecei a chorar e abraçando algumas das armas falei:

— Isso... isso é o paraíso das armas. É meu aniversário?

Sasuke me puxou revirando os olhos. Estranho, por que ele fez isso?

— Uau! — falou Percy. — Temos mesmo que usar isso?

Luke olhou para Percy como se ele estivesse louco. Eu concordava. Percy é mesmo louco.

— A não ser que você queira ser espetado pelos seus amigos do chalé 5. Aqui... Quíron achou que estes devem servir a vocês dois, Naruto, Percy. Vocês ficarão na patrulha da fronteira.

Nossos escudos eram do tamanho de uma tabela de basquete da NBA (como Percy me mostrara uma vez em um jogo de basquete), com um grande caduceu no meio. Pesava cerca de um milhão de quilos. Nós poderíamos usar isso como prancha de snowboard, Percy me disse. Nossos capacetes, como todos os capacetes do lado de Atena, tinha um penacho de crina azul no topo. Ares e seus aliados tinham penachos vermelhos.

Annabeth gritou:

— Equipe azul, para a frente!

Aplaudimos e agitamos nossas espadas, e a seguimos para baixo pelo caminho para os bosques do sul. A equipe vermelha gritou nos provocando enquanto seguia em direção ao norte.

Vi Sakura-chan e corri até ela, Sasuke me seguindo. Nós ficamos em cada lado dela e eu disse:

— Ei, Sakura-chan.

Sakura-chan sorriu para mim.

— Ei, Naruto. Já sabe qual a sua tarefa?

— Luke disse que Percy e eu estaríamos na patrulha de fronteira, seja lá o que isso for.

— É fácil — disse Sasuke. — Fique junto ao riacho, mantenha os vermelhos longe. Deixe o resto conosco.

— Mas não fique muito esperançoso, Naruto — disse Sakura-chan sorrindo maliciosamente. — Nós vamos acabar com vocês.

— Pode esquecer, gatinha — revidei devolvendo o sorriso, aproximando meu rosto do dela. Ela corou e se virou, correndo para o outro lado.

Fiquei confuso. Olhei para Sasuke e perguntei:

— O que aconteceu com ela?

Ele suspirou e balançou a cabeça exasperadamente.

— Ah, Naruto, você é tão desesperador!

Observei ele se afastar confuso, até ver Percy cabisbaixo e Annabeth seguindo adiante. Aparentemente, não tiveram uma boa conversa.

— Tenho que ir — eu disse aos meus amigos, e logo corri atrás de Percy. — Ei, amigão, o que foi?

— Nada — respondeu ele.

Resolvi não falar nada. Sabia quando alguém queria ficar calado.

Era uma noite quente e úmida, grudenta. Os bosques estavam escuros, com vaga-lumes aparecendo e sumindo. Annabeth nos designou para um pequeno regato que rumorejava por cima de algumas pedras, depois ela e o restante da equipe se espalharam entre as árvores.

Percy e eu estávamos ali sozinhos, com nossos grandes capacetes de penacho azul e enormes escudos, como dois idiotas. A espada de bronze que eu empunhava estava mal equilibrada, e pelo visto a de Percy também. Por isso, em caso de emergência, eu trouxe minha katana. Quíron disse que qualquer item mágico era permitido, e minha katana era um item não muito comum. É isso aí, eu encontrei uma bela brecha pra usar minha katana. Pode falar: eu sou o cara, né?

— Não tem como alguém nos atacar de verdade, não é? — perguntou Percy, parecendo assustado. — Quero dizer, o Olimpo tem de ter responsabilidade, certo?

Eu não confiava muito nisso, mas não queria assustar meu melhor amigo que já estava assustado o suficiente.

Longe, a trombeta soou. Ouvi brados e gritos nos bosques, metais chocando-se, gente lutando. Um aliado de Apolo de penacho azul passou por nós correndo como um cervo, pulou o regato e desapareceu em território inimigo.

— Essa é boa — comentou Percy. — Vamos ficar de fora da diversão, como sempre.

Dei uma risada.

— Olhe pelo lado bom.

— Que lado bom?

— Bem... — Fiquei pensando. — Tem razão, não tem lado bom.

Ele revirou os olhos.

Então ouvi um som que me deu um calafrio na espinha, um rosnado canino grave em algum lugar por perto.

— Ouviu isso? — perguntei cauteloso e Percy assentiu, temeroso.

Erguemos nossos escudos institivamente. Alguma coisa estava nos espreitando.

Então o rosnado parou. Senti a presença recuando.

Do outro lado do regato, a vegetação rasteira explodiu. Cinco guerreiros de Ares saíram gritando e berrando da escuridão.

— Acabem com o mané! — berrou Clarisse.

Seus olhos feios de porco faiscaram nas fendas do capacete. Ela brandiu uma lança de um metro e meio de comprimento, a ponta de metal farpado lançando chispas de luz vermelha. Seus irmãos só tinham espadas de bronze comuns.

Eles atacaram cruzando o regato. Não havia ajuda à vista. Nós podíamos correr. Ou podíamos nos defender contra metade do chalé de Ares.

É claro que nós, inteligentes, avançamos para a luta. Conseguimos nos esquivar do golpe do primeiro garoto, mas aqueles caras, apesar de parecerem, não eram tão estúpidos como o Minotauro. Eles nos cercaram, e Clarisse investiu contra nós com sua lança. Larguei minha espada e meu escudo enquanto Percy usava seu próprio escudo para nos proteger da minha lança. Tirei um pergaminho do meu bolso e o abri. Passei minha mão pelo pergaminho e agarrei minha katana. Percy estremeceu.

— O que foi? — perguntei ajudando-o a se levantar.

— Elétrica. A maldita lança dela é elétrica! — ele gritou, irritado.

Outro cara de Ares me golpeou pelas costas. Percy caiu ao meu lado, então deve ter tido o mesmo que eu.

Eles podiam ter nos chutado até irmos para o outro lado da galáxia, mas estavam muito ocupados rindo.

Esse foi seu erro. Primeira regra na batalha: nunca baixe a guarda.

— Façam um corte no cabelo deles — disse Clarisse. — Agarrem o cabelo deles.

Percy colocou-se de pé e eu, dando uma rasteira em dois caras de Ares, também me levantei com uma cambalhota. Me coloquei em posição de batalha e coloquei minha katana na minha frente.

— O.k., as pessoas que querem morrer fiquem em fila e esperem a sua vez — eu disse, sorrindo. Ei, não me culpe. Eu sou como o Homem-Aranha. Faço piadas dos outros quando sinto medo. É como dizem: antes rir do que chorar.

— Ah, uau! — disse Clarisse. — Estou com medo desses dois. Realmente apavorada.

— Você devia — eu disse, olhando-a.

— A bandeira está para lá — disse Percy. Ele parecia bem fraco.

— É — disse um dos caras de Ares. — Mas, veja bem, nós não nos importamos com a bandeira. A gente se importa com um cara que fez o pessoal do nosso chalé de idiota. E como o amigo dele não nos deixa acabar com ele, vamos acabar com ele também.

— Vocês não precisam de mim para fazer o pessoal do seu chalé de idiota — disse Percy. Provavelmente não foi a coisa mais esperta a dizer.

Dois deles vieram para cima de Percy e outros dois vieram para cima de mim. Clarisse, é claro, foi atrás do Percy com os outros.

— O.k., desistam e talvez eu deixe vocês viverem — eu disse, sorrindo carinhosamente.

Eles riram.

— Até parece que você pode fazer isso. — Eles tinham um olhar ameaçador no rosto.

Suspirei.

— Tudo bem. Mas lembrem-se: eu avisei.

Transformei meu olhar agradável no meu Olhar de Batalha (um olhar que eu dou quando tento intimidar meus inimigos), e vi eles recuarem assustados.

Gritei e investi contra eles.

O tempo ficou mais lento. Quando um deles tentou me atacar com a espada, pulei por cima dele. Logo depois, bati minha mão em seu pescoço, fazendo-o desmaiar. Me virei para o outro e ele recuou. Nossa, eu era mais ameaçador do que pensava.

Mas, balançando a cabeça, ele investiu contra mim, gritando. Sorri animadamente e logo depois, com um giro, me abaixei, desviando da espada que agora estava acima de mim, e desferi um talho no estômago dele, fazendo-o cair no chão, agonizando.

Me virei na direção de Percy e vi sangue sair de seu braço, e ele parecia usar toda a sua força simplesmente para não cair no chão.

— Sem aleijar — disse fraco.

— Oops — disse um dos guerreiros de Ares. — Acho que perdi meu direito à sobremesa.

— Pelo amor dos deuses, que punição é essa? — gritei, incapaz de me conter.

Clarisse se virou para mim e arregalou os olhos. Aparentemente não esperava que eu conseguise derrotar os dois guerreiros.

O mesmo guerreiro de Ares que falou com Percy o empurrou para o regato e ele caiu espalhando água. Todos riram. Chamei Percy desesperado. Ele não respondia.

Clarisse e os outros guerreiros de Ares entraram no regato para pegar Percy, e eu apenas pude olhar impotente. Mas, para minha surpresa, Percy se pôs de pé para recebê-los. Seu olhar era de pura ferocidade e fúria — e admito que fiquei um pouco assustado. Ele desferiu a parte chata da espada contra a cabeça do primeiro cara e rrancou seu capacete. Ele o atingiu com tanta força que pude sentir quando ele estremeceu e caiu na água. Estremeci com ele. Isso devia ter doído.

O outro cara foi para cima de Percy. Ele o golpeou no rosto com o escudo e em seguida cortou o penacho da crina dele. Ele caiu de costas na água. Vi Clarisse correndo até Percy, a ponta da lança crepitando de eletricidade. Assim que ela investiu, ele pegou a vara da lança entre a borda do escudo e a da espada, e a partiu como se fosse um graveto.

Não me atrevi a interferir. Era a luta dele.

— U-hu! — berrei. — Vai, Percy!

— Ah! — berrou ela. — Seu idiota! Seu verme com bafo de cadáver!

— É sério? — perguntei. — Esse foi o melhor insulto que você arranjou?

Ela provavelmente teria me xingado com nomes ainda piores que os de Percy, mas ele a golpeou entre os olhos com a base da espada e a jogou cambaleando de costas para fora do regato.

Ele sorriu para mim e disse:

— Você não faz ideia do quanto eu queria fazer isso desde que a conheci.

— Você realmente está aprendendo a fazer piadas — eu disse, sorrindo orgulhosamente e tirando uma lágrima do meu olho. — Estou tão orgulhoso.

Percy simplesmente revirou os olhos.

Então ouvi gritos exultantes, e vi Luke correndo em direção à linha limite com o estandarte da equipe vermelha erguido alto. Vinha flanqueado por alguns garotos de Hermes — Sasuke sendo um deles —, cobrindo sua retirada, e alguns Apolos atrás deles, combatendo os garotos de Hefesto. O pessoal de Ares se levantou e Clarisse resmungou uma praga estupefata.

— Uma armadilha! — berrou. — Foi uma armadilha.

Eles saíram cambaleando atrás de Luke, mas era tarde demais. Todo mundo convergiu para o regato enquanto Luke atravessava para território amigo. Nosso lado explodiu em vivas. O estandarte vermelho remulou e ficou prateado. O javali e a lança foram substituídos por um enorme caduceu, o símbolo do chalé 11. Todos da equipe azul ergueram Luke nos ombros e começaram a carregá-lo. Quíron saiu a meio galope do bosque e soprou a trombeta de caramujo.

O jogo terminara. Tínhamos vencido.

Fui até Percy e ouvi a voz de Annabeth, bem a nosso lado no regato, dizer:

— Nada mau, heróis.

Olhamos, mas ela não estava lá.

— Onde diabo aprendeu a lutar assim, Jackson? — perguntou ela. O ar tremulou e Annabeth se materializou, segurando um boné de beisebol dos Yankees — Percy me ensinou sobre beisebol — como se tivesse acabado de tirá-lo da cabeça.

Como ela havia ficado invisível?

— Você armou isso para mim — disse Percy, zangado. — Você nos pôs aqui porque sabia que Clarisse viria atrás de mim, enquanto você mandava Luke dar a volta pelos flancos. Já tinha tudo preparado.

Arregalei os olhos e olhei surpreso para Annabeth.

Ela encolheu os ombros.

— Eu disse para você. Atena sempre, sempre tem um plano.

— Um plano para que eu fosse reduzido a pó.

— Eu vim o mais rápido que pude. Até deixei Naruto com você, para servir de proteção extra. Estava pronta para entrar na briga, mas... — Ela encolheu os ombros. — Vocês não precisavam de ajuda.

Então ela reparou no braço ferido de Percy:

— Como arranjou isso?

— Corte de espada — disse ele. — O que você acha?

— Não. Era um corte de espada. Olhe só.

Não tinha reparado, mas o sangue no braço de Percy se fora. No lugar do rasgo enorme havia uma longa cicatriz branca, e mesmo esta estava desaparecendo. Enquanto Percy e eu olhávamos, ela se transformou em uma cicatriz pequena e sumiu.

— Eu... eu não entendo — disse Percy.

— Eu, sim — eu disse. — Você é o Superman!

Ele me olhou como se eu fosse maluco. Qual é, nem mesmo uma piadinha caía bem agora?

Annabeth raciocinava com empenho. Eu juro que vi as engrenagens girando. Ela baixou os olhos para os pés de Percy, depois para a lança quebrada de Clarisse e disse:

— Saia da água, Percy.

— O que...

— Apenas saia.

Percy saiu do regato (caramba, nem conhece a menina e já foi chicoteado por ela) e, para minha surpresa, caiu com o rosto extremamente cansado. Ele teria caído de cara no chão se Annabeth e eu não o tivéssemos segurado.

— Oh, Estige — praguejou ela. — Isso não é bom. Eu não queria... Eu pensei que podia ser Zeus.

Arregalei os olhos. De repente, tudo se encaixou na minha mente, tipo quando o Sherlock Holmes tem um ataque de epifania durante um caso. A água da privada, o regato. Eu sabia quem era o pai de Percy.

Antes que eu pudesse perguntar para Annabeth se meus pensamentos estavam certos, ouvi um rosnado canino de novo, porém muito mais perto. Um uivo cortou a floresta. De algum jeito, eu sabia ao que pertencia.

A comemoração dos campistas cessou imediatamente. Quíron bradou alguma coisa em grego antigo que eu percebi ser:

Preparem-se! Meu arco!

Annabeth sacou a espada. Continuei segurando Percy.

Sobre as pedras, logo acima de nós, havia um cão preto do tamanho de um rinoceronte, com olhos vermelhos como lava e presas que pareciam punhais. Eu não tinha certeza de como sabia, mas sabia o que aquilo era — um cão infernal.

Estava olhando diretamente para Percy.

Ninguém se moveu exceto Annabeth, que gritou:

— Percy, Naruto, corram!

Ela tentou se interpor entre nós e o cão infernal, mas o bicho foi rápido demais. Pulou por cima dela — uma enorme sombra com dentes — e mostrou as garras para nós. Percy, para minha surpresa, teve força suficiente para me jogar para o lado, recebendo todo o golpe do cão. Ver isso desatou uma coisa que nunca senti tão forte assim antes — sentimento de proteção.

Me levantei e rugi:

— DEIXE ELE EM PAZ!

O cão infernal se virou para mim, com um olhar quase... submisso? Parecia que ele estava olhando para um mestre que queria agradar, mas fracassou. Ignorei isso, e não pude deixar de sentir uma coisa dentro de mim — uma chama forte que ia do meu coração até todo o meu corpo.

— EU MANDEI DEIXAR ELE EM PAZ! — rugi mais forte ainda, e pude ver que todos se encolheram ao som disso.

O monstro automaticamente saiu de cima de Percy e caminhou até mim de cabeça baixa. Em seguida, deitou-se aos meus pés. Arregalei os olhos, assim como os outros.

— Vá embora — rosnei ameaçadoramente, deixando a surpresa de lado.

O cão infernal choramingou baixinho e correu de volta para a floresta com o rabo entre as pernas.

O peito de Percy estava cheio de sangue e sua armadura estava esfrangalhada. Agarrei seu braço e o puxei até ele conseguir ficar de pé.

— Você está bem?

— Bom, se quase ser transformado em quarenta e cinco quilos de carne fatiada é estar bem, então estou ótimo.

— Sarcasmo é um bom sinal de saúde — eu disse, aliviado, mas logo me virei, confuso. — Quarenta e cinco quilos? Sempre achei que você tivesse trinta.

— Eu não sou tão magro e baixo assim! — ele disse.

— Claro que não — eu disse, revirando os olhos. — Continue pensando isso e talvez aconteça.

— Naruto! Percy! — Me virei e vi Sasuke e Sakura-chan correndo até nós. — Vocês estão bem?

— Estamos — respondemos.

Quíron trotou para perto de nós com um arco na mão, a expressão soturna.

Di immortales! — disse Annabeth. — Aquilo é um cão infernal dos Campos da Punição. Eles não... eles não deveriam...

— Alguém o convocou — disse Quíron. — Alguém de dentro do acampamento.

Luke se aproximou, o estandarte esquecido em sua mão, o momento de glória acabado.

Clarisse berrou:

— É tudo culpa do Percy! Percy o convocou!

— Fique quieta, criança — ordenou-lhe Quíron.

— Isso mesmo — eu disse. — Fique quieta, criança.

— Você também fique quieto — disse Quíron. Magoou.

— Você está ferido, Percy — disse-me Annabeth. — Rápido, entre na água.

— Eu estou bem.

— Não, você não está — disse ela. — Quíron, veja isto.

Percy parecia hesitante, então coloquei uma mão em seu ombro e disse:

— Tudo vai ficar bem se você entrar na água, Percy. Eu prometo.

Percy sorriu, mas então sua expressão ficou confusa.

— O quê? — perguntei.

— Os... os seus olhos — ele disse.

Arqueei a sobrancelha, confuso. Caminhei até o regato, seguido por Sasuke e Sakura-chan, e, vendo meu reflexo, arregalei os olhos.

Meus olhos, normalmente azuis, estavam vermelhos, mas a diferença era que eu não estava com o chakra da Kyuubi. Aqueles olhos eram mais... majestosos do que demoníacos. E sem falar que a esclera — a parte branca dos olhos — estava preta. Eu parecia um verdadeiro demônio.

— Mas... mas como? — murmurei.

Percy voltou para dentro do regato, o acampamento inteiro reunido à nossa volta. Humpf, xeretas.

Os cortes no peito de Percy, como eu suspeitava, se fecharam. Alguns dos campistas sufocaram um grito.

— Olhem, eu... eu não sei por quê — falou Percy. — Sinto muito...

Mas não estávamos olhando as feridas cicatrizando. Estávamos olhando para algo acima da cabeça dele.

— Percy — disse Annabeth apontando. — Ahn...

Quando Percy olhou para cima, o sinal já estava desaparecendo. O holograma de luz verde, girando e cintilando. Uma lança de três pontas: um tridente. O pai de Percy era...

— Seu pai — murmurou Annabeth. — Isso realmente não é bom.

— Está determinado — anunciou Quíron.

Por toda a volta de Percy, os campistas começaram a se ajoelhar, até mesmo o chalé de Ares, embora não parecessem muito felizes com isso. Sem escolha, fiz o mesmo, Sasuke e Sakura-chan em cada lado meu.

— Meu pai? — perguntou meu melhor amigo, completamente perplexo.

— Poseidon — disse Quíron. — Senhor dos Terremotos. Portador das Tempestades. Pai dos Cavalos. Salve, Perseu Jackson, Filho do Deus do Mar.

Caminhei calmamente até Percy e coloquei uma mão em seu ombro.

— Você está bem?

— Acabei de descobrir que o meu pai é o deus do mar — ele disse, perplexo. — Acho que vou precisar de um tempo.

Sorri e assenti.

Olhei para Sasuke e arregalei os olhos com o que vi acima da cabeça dele.

— Olhem! — gritei, apontando.

Todos se viraram e finalmente perceberam o holograma vermelho acima da cabeça de Sasuke. O símbolo da cabeça de um javali e uma lança sanguinolenta.

— Salve, Sasuke Uchiha, filho de Ares, Senhor das Batalhas, Deus da Matança, Deus da Guerra.

De repente, todos engasgaram. Olhei para eles, confuso, até ver Percy olhando para algo acima da minha cabeça.

Me virei e arregalei os olhos ao ver que não havia um holograma, mas sim dois: um de luz dourada com um elmo negro no meio. Acima dele, estava um holograma menor e prateado, com um caduceu no meio.

De repente, percebi o porquê me confundirem como um filho de Hermes. Percebi em como puxei a cara da minha mãe, que tinha as mesmas feições traquinas que as minhas.

E percebi outra coisa: que não só tinha um pai como deus, mas também um avô.

Todos continuaram curvados.

— Hades, Senhor dos Mortos. Hermes, Deus dos Viajantes — disse Quíron. — Salve, Naruto Uzumaki, Filho do Deus do Submundo e Descendente do Mensageiro dos Deuses.


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Notas finais do capítulo

E aí? Ficou bom?