NU E PJ: O Ladrão De Raios escrita por The Amazing Spider Green


Capítulo 6
Minha transformação em Senhor Supremo do Banheiro


Notas iniciais do capítulo

Desculpem a demora. Estava querendo postar mais rápido, mas eu tenho outras fics com que me preocupar. E para hotaru uzumaki no sabaku, agradecimentos atrasados pela sua recomendação. Você é incrível. Eu acho que nem mereço uma leitora tão ótima como você.



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/235247/chapter/6


P
E
R
C
Y

Depois que assimilei o fato de meu professor de latim ser um cavalo, Naruto, eu e Quíron fizemos um passeio agradável, embora tivesse tido o cuidado de não andar atrás de Quíron. Havia participado algumas vezes das rondas das pazinhas para recolher cocô de cachorro na Parada do Dia de Ação de Graças da loja Macy's e, lamento dizer, não confiava na parte de trás de Quíron tanto quanto confiava na da frente.

Passamos pela quadra de vôlei. Diversos campistas se cutucaram. Um deles apontou para os chifres de touro doidão com testosterona que Naruto e eu carregávamos. Um outro disse:

— São eles.

A maioria dos campistas era mais velha que eu. Seus amigos sátiros eram maiores que Grover, todos trotando de um lado para outro de camisetas cor de laranja do ACAMPAMENTO MEIO-SANGUE, sem nada para cobrir os traseiros peludos à mostra. Eu normalmente não era tímido, mas o modo como olhavam para nós me deixou pouco à vontade. Era como se esperassem que déssemos um salto mortal ou coisa assim. Naruto conseguiria, mas eu já era outra história.

Olhei para a casa da fazenda atrás de nós. Era muito maior do que eu pensara — quatro andares, azul-céu com acabamento em branco, como um hotel de veraneio de primeira classe à beira-mar. Eu estava conferindo o cata-vento de latão em forma de águia no topo qunado algo me chamou a atenção, uma sombra na janela mais alta do sótão. Alguma coisa havia mexido na cortina, só por um segundo, e tive a nítida impressão de que estava sendo observado.

— O que há lá em cima? — perguntei a Quíron.

— É. Sinto como se alguém me olhasse. — Naruto estremeceu, olhando para a mesma janela que eu.

Quíron olhou para onde nós apontávamos e seu sorriso desapareceu:

— Apenas o sótão.

— Mora alguém lá?

— Não — disse em tom definitivo. — Nem uma única coisa viva.

Tive a sensação de que ele falava a verdade. Mas também tinha certeza de que algo havia mexido naquela cortina.

— Mas eu posso jurar ter sentido... — Naruto começou.

— Venham, meninos — o interrompeu Quíron, o tom despreocupado agora um pouco forçado. — Há muito para ver.

* * *

Caminhamos pelos campos de morangos, onde campistas colhiam alqueires de morangos enquanto um sátiro tocava uma melodia numa flauta de bambu.

Quíron nos contou que o acampamento cultivava uma bela safra para exportar para os restaurantes de Nova York e para o Monte Olimpo.

— Paga as nossas despesas — explicou. — E os morangos não exigem esforço quase nenhum.

Ele disse que o Sr. D produzia esse efeito sobre plantas frutíferas: elas simplesmente enlouqueciam quando ele estava por perto. Funcionava melhor com as vinhas, mas o Sr. D estava proibido de cultivá-loas, portanto, em vez delas eles plantavam morangos.

Observei o sátiro tocando a flauta. A música fazia com que filas de insetos saíssem dos canteiros de morangos em todas as direções, como se fugissem de um incêndio. Imaginei se Grover podia fazer esse tipo de mágica com música. Imaginei se ainda estava dentro da casa, levando broncas do Sr. D.

— Grover não vai ter muitos problemas, vai? — perguntei a Quíron. — Quer dizer... ele foi um bom protetor. Sem dúvida.

— Grover é uma das pessoas mais corajosas que já conheci — disse Naruto. — Ele tem medo de tudo e fica se mijando toda vez, mas se for para ajudar um amigo, ele enfrentaria esses medos com toda a força que tem.

Quíron suspirou. Tirou o casaco de tweed e jogou-o por cima de seu lombo de cavalo, como uma sela.

— Grover sonha alto, meninos. Talvez mais alto do que seria razoável. Para atingir seu objetivo, ele precisa primeiro demonstrar uma grande coragem tendo sucesso como guardião, encontrando um novo campista e trazendo-o em segurança à Colina Meio-Sangue.

— Mas ele fez isso! — eu disse.

— E ainda com um campista extra — adicionou Naruto com um sorrisão. — E um belo extra.

Lhe dei um tapa na cabeça.

— Ai! — Ele massageou o lugar onde lhe bati.

— Eu poderia concordar com vocês — disse Quíron. — Mas não cabe a mim julgar. Dioniso e o Conselho dos Anciãos de Casco Fendido devem decidir. Receio que possam não ver essa missão como um sucesso. Afinal, Grover perdeu vocês em Nova York. Depois, há o desventurado... ahn... destino da mãe de Percy. E o fato de que Grover estava inconsciente quando Naruto o arrastou até os limites da propriedade. O conselho pode questionar se isso demonstra alguma coragem da parte de Grover.

Eu quis protestar. Nada do que acontecera havia sido por culpa de Grover. Também me sentia muito, muito culpado. Se eu não convencesse Naruto, não teríamos escapado de Grover na estação de ônibus, ele poderia não ter se envolvido em encrenca.

— Ele vai ter uma segunda chance, não vai? — perguntamos Naruto e eu. Já estava me acostumando.

Quíron retraiu-se.

— Infelizmente aquela era a segunda chance de Grover, meninos. Além disso, o conselho não estava muito ansioso em lhe dar outra oportunidade depois do que aconteceu na primeira vez, cinco anos atrás. O Olimpo sabe, eu o aconselhei a esperar mais tempo antes de tentar de novo. Ele ainda é muito pequeno para a sua idade.

— Que idade ele tem?

— Ah, vinte e oito.

— O quê! E ainda está no sétimo ano?

Naruto assobiou.

— Cara, Grover deve ter o pior boletim escolar do mundo.

— Os sátiros amadurecem no dobro do tempo dos seres humanos, garotos. Grover teve idade equivalente à de um aluno de escola secundária nos últimos seis anos — Quíron explicou.

— Que coisa horrível.

— É... Como ele consegue aguentar todos esses anos escolares? — perguntou Naruto, e eu lhe dei um olhar tipo Você-tem-cérebro-na-cabeça?.

— De fato, é horrível — concordou Quíron. — De qualquer modo, Grover está atrasado, mesmo pelos padrões de sátiro, e ainda não avançou muito em magia dos bosques. O pobre estava ansioso por perseguir o seu sonho. Talvez agora encontre alguma outra carreira...

— Isso não é justo! — eu disse.

— Sim. Você nunca deve desistir de um sonho, ainda mais quando é o sonho da sua vida. Se você desiste assim, quer dizer que esse não era o sonho da sua vida. Era apenas um sonho bobo que é esquecido logo depois! — concordou Naruto, irritado.

— O que aconteceu na primeira vez? Foi mesmo assim tão ruim? — perguntei.

— Não pode ter sido tão ruim quanto comigo e Percy — disse Naruto.

Quíron desviou os olhos depressa.

— Vamos andando?

Mas eu ainda não estava pronto para mudar de assunto. Uma coisa me ocorrera quando Quíron falou sobre o destino de minha mãe, como se estivesse intencionalmente evitando a palavra morte. O princípio de uma ideia — uma pequenina e esperançosa chama — começou a se formar em minha cabeça.

— Quíron — eu disse. — Se os deuses, o Olimpo e tudo isso são reais...

— Sim, criança?

— Isso significa que o Submundo também é real?

A expressão de Quíron se fechou.

— Sim, criança. — Ele fez uma pausa, como se estivesse escolhendo as palavras cuidadosamente. — Há um lugar para onde vão os espíritos após a morte. E me surpreende você chamá-lo de Submundo, e não Mundo Inferior.

— Naruto vivia chamando tanto o lugar de Submundo, que eu peguei essa mania — expliquei, dando de ombros.

— Vamos enfrentar isso, gente: Submundo soa bem mais legal que Mundo Inferior — defendeu-se Naruto.

— Entendo. Bem, as palavras Submundo e Mundo Inferior podem ser diferentes, mas têm o mesmo significado, por isso é opcional chamar o lugar de Submundo ou Mundo Inferior. Mas por ora, Percy... até que saibamos mais... eu recomendaria que tirasse isso de sua cabeça.

— O que quer dizer com "até que saibamos mais"? — Naruto e eu perguntamos.

— Venham, meninos. Vamos ver os bosques.

Naruto ficou ao meu lado e cochichou:

— Ele pode ser um sábio de não sei quantos anos, mas ainda é péssimo sobre mudar de assunto.

* * *

Quando nos aproximamos, me dei conta de como a floresta era enorme. Tomava pelo menos um quarto do vale, com árvores tão altas e largas que a impressão era de que ninguém entrara lá desde os nativos americanos.

Quíron disse:

— Os bosques têm provisões, se vocês quiserem tentar a sorte, mas vão armados.

— Provisões de quê? — perguntei. — Armados com o quê?

— Vocês verão. O jogo Capture a Bandeira é na sexta-feira à noite. Vocês têm suas próprias espadas e escudos?

— Nossas próprias...?

— Não — disse Quíron. — Não creio que tenham. Acho que o tamanho cinco vai servir. Mais tarde vou visitar o arsenal.

— Ei, eu tenho armas. Não são espadas nem escudos, mas ainda são muito boas. — Ele tirou sua kunai e katana, que sempre levava guardada em um kanji nos bolsos. — E ainda tenho um chifre de touro doidão com testosterona como nova arma.

Eu sempre achei muito legal a katana de Naruto. A lâmina era feita de um metal negro-prateado com fio duplo (Naruto disse que katanas com fio duplo eram chamadas ken) e cabo negro com detalhes cor de laranja. Ele disse que a encontrou com sua bolsa-carteiro, quando foi enviado a esse mundo.

Quis perguntar que tipo de acampamento de verão tem um arsenal, mas havia muito mais a pensar, portanto o passeio continuou. Vimos a linha de tiro com arco e flecha, o lago de canoagem, os estábulos (dos quais Quíron parecia não gostar muito), a linha de lançamento de dardo (que por falar nisso, fizeram Naruto querer acertar em campistas inocentes, mas eu consegui impedi-lo à tempo), o anfiteatro para cantoria e a arena onde Quíron disse que eles realizavam lutas de espadas e lanças.

— Lutas de espadas e lanças? — perguntei.

— Desafios entre chalés e coisas assim — explicou Quíron. — Não são letais. Normalmente. — Naruto sorriu um sorriso animado que eu sabia não ser bom sinal. — Ah, sim, e há também o refeitório.

Quíron apontou para um pavilhão ao ar livre emoldurado por colunas gregas brancas sobre uma colina que dava para o mar. Havia uma dúzia de mesas de piquenique de pedra. Sem telhado. Sem paredes.

— O que vocês fazem quando chove? — perguntei.

Quíron me olhou como se eu tivesse ficado meio maluco:

— Ainda assim temos de comer, não temos?

Resolvi deixar para lá.

Finalmente, ele nos mostrou os chalés — ou melhor, me mostrou, pois Naruto já tinha visto. Havia doze deles aninhados no bosque junto ao lago. Estavam dispostos em U, dois na frente e cinco enfileirados de cada lado. E eram, sem dúvida, o mais estranho conjunto de construções que já vi.

A não ser pelo fato de cada um ter um grande número de latão acima da porta (ímpares do lado esquerdo, pares do direito), eram totalmente diferentes um do outro. O número 9 tinha chaminés, como uma minúscula fábrica. O número 4 tinha tomateiros nas paredes e uma cobertura feita de grama de verdade. O 7 parecia feito de um ouro sólido que reluzia tanto à luz do sol que era quase impossível de se olhar. Todos davam para uma área comum mais ou menos do tamanho de um campo de futebol, pontilhada de estátuas gregas, fontes, canteiros de flores e um par de cestos de basquete (o que era mais a minha praia).

No centro do campo havia uma enorme área de pedras com uma fogueira. Muito embora fosse uma tarde quente, o fogo ardia de modo lento. Uma menina com cerca de nove anos estava cuidando das chamas, cutucando os carvões com uma vara, e Naruto também notou isso.

O par de chalés à cabeceira do campo, números 1 e 2, pareciam mausoléus casadinhos, grandes caixas de mármore branco com colunas pesadas na frente. O chalé 1 era o maior e mais magnífico dos doze. As portas de bronze polido cintilavam como um holograma, de tal modo que, vistas de ângulos diferentes, raios pareciam atravessá-las. O chalé 2 era de certo modo mais gracioso, com colunas mais finas encimadas com romãs e flores. As paredes eram entalhadas com imagens de pavões.

— Zeus e Hera? — adivinhei.

— Correto — disse Quíron.

Naruto assobiou.

— E falando em drama. Zeus e Hera devem realmente ser vaidosos.

Um trovão ribombou pelo céu. Naruto olhou para o alto surpreso.

— Não acho que deva dizer essas coisas, Naruto. Os deuses tendem a ser meio... sensíveis — disse Quíron, nervosamente olhando para o céu.

— Como se eu me importasse. — Naruto deu de ombros.

— Os chalés parecem vazios — eu disse, querendo tirar Naruto de uma enrascada.

— Diversos chalés estão vazios. É verdade. Ninguém jamais fica no 1 ou no 2.

Certo. Então cada chalé tinha um deus diferente como mascote. Doze chalés para os doze olimpianos. Mas por que alguns estariam vazios?

Parei na frente do primeiro chalé da esquerda, o número 3.

Não era alto e imponente como o chalé 1, mas comprido, baixo e sólido. As paredes externas eram de pedras cinzentas rústicas salpicadas de pedaços de conchas e coral, como se as pedras tivessem sido cortadas diretamente do fundo do oceano. Espiei para dentro da porta aberta e Quíron disse:

— Ih, eu não faria isso!

Antes que ele pudesse me puxar de volta, senti o odor salgado do interior, como o vento na praia de Montauk. As paredes internas brilhavam como madrepérola. Havia seis beliches vazios com lençóis de seda virados para baixo. Mas não havia indício de que alguém já tivesse dormido lá. O lugar parecia tão triste e solitário que fiquei contente quando Quíron pôs a mão no meu ombro e disse:

— Vamos, Percy.

Notei Naruto arqueando uma sobrancelha e olhando de mim para o chalé 3, o que me deixou confuso. Logo ele balançou a cabeça, como se tivesse acabado de ter uma ideia louca e tê-la descartado.

A maioria dos outros chalés estava abarrotada de campistas.

O número 5 era vermelho vivo — uma pintura muito malfeita, como se a cor tivesse sido jogada a esmo com baldes e mãos. O telhado era forrado de arame farpado. Uma cabeça de javali empalhada estava pendurada acima da porta e seus olhos pareciam me seguir. Dentro pude ver um bando de meninos e meninas mal-encarados, disputando queda de braço e discutindo enquanto o rock tocava às alturas. Naruto tampou os ouvidos, gemendo. Senti pena dele. Sua audição apurada podia ser uma maldição às vezes. A pessoa mais barulhenta era uma menina de talvez treze ou catorze anos. Usava uma camiseta do ACAMPAMENTO MEIO-SANGUE tamanho GGG embaixo de um casaco camuflado. Ela mirou em mim e lançou um maldoso olhar de desprezo, e depois ela mirou Naruto e seu olhar se tornou de puro ódio, e de repente me perguntei o que Naruto teria feito enquanto eu estava inconsciente. Ela me fez lembrar Nancy Bobofit, só que a menina do acampamento era muito maior e de aparência mais cruel, seu cabelo era comprido, esticado e castanho, em vez de vermelho.

Continuei andando, tentando ficar longe dos cascos de Quíron.

— Ainda não vimos outros centauros — observei.

— Não — disse Quíron chateado.

— Percy — disse Naruto —, centauros não são o que chamamos de um povo muito civilizado. Eles são... como eu posso dizer... selvagens, bárbaros.

— Naruto está certo — disse Quíron. — Você pode encontrá-los no mato ou em eventos desportivos importantes. Mas não verá nenhum aqui.

— Você disse que seu nome é Quíron. Você é mesmo...

Ele sorriu para mim.

O Quíron das histórias? Instrutor de Hércules e tudo aquilo? Sim, Percy, eu sou.

— Mas você não devia estar morto?

Naruto deu um tapa na própria testa, murmurando algo sobre pessoas sem tato.

Quíron fez uma pausa, como se a pergunta o intrigasse.

— Honestamente, não sei nada sobre o devia. A verdade é que eu não posso estar morto. Entenda, há muitas eras os deuses concederam meu desejo. Pude continuar o trabalho que adorava. Pude ser um mestre de heróis enquanto a humanidade precisasse de mim. Ganhei muito com aquele desejo... e renunciei a muito. Mas ainda estou aqui, portanto só posso presumir que ainda sou necessário.

Pensei sobre ser um professor por três mil anos. Isso não estaria na minha lista das Dez Coisas Mais Desejadas.

Naruto deu-lhe tapinhas reconfortantes no ombro — e ele teve que se apoiar na ponta dos pés para isso —, dizendo:

— Sinto muito por você, Quíron. Deve ser chato ser um professor por três mil anos.

— Não, não — disse ele. — Horrivelmente deprimente às vezes, mas nunca chato.

— Por que deprimente? — perguntei.

Quíron pareceu ficar com alguma deficiência auditiva de novo.

— Ah, olhem — disse ele. — Annabeth, Sasuke e Sakura estão esperando por nós.

* * *

As meninas loira e rosada que eu conhecera na Casa Grande estavam lendo um livro cada uma na frente do chalé da esquerda, o número 11. O menino com cabeça de pato estava polindo uma espada, com um expressão entediada no rosto.

Quando nos aproximamos, a menina loira olhou para mim com um ar crítico, como se ainda estivesse pensando em como eu babava. A rosada simplesmente me deu um olhar desconfiado e o moreno me deu um olhar de indiferença.

Ao ver Naruto, a rosada lhe lançou um enorme sorriso e o cabeça-de-pato lançou-lhe um sorriso mínimo.

Tentei ver o que as meninas estavam lendo, mas não consegui distinguir os títulos. Achei que fosse minha dislexia em ação. Então me dei conta de que os títulos não eram sequer em inglês. As letras pareciam grego para mim. Quer dizer, literalmente grego. Havia figuras de templos e estátuas e diferentes tipos de colunas, como em um livro de arquitetura, no livro da menina loira. No livro da rosada havia figuras anatômicas, mas ao invés de órgãos, havia vários pontos neles, e de repente me lembrei de Naruto me falando sobre pontos de chakra, e percebi que a rosada estava lendo um livro de controle de chakra.

— Annabeth, Sasuke, Sakura — disse Quíron —, eu tenho aula de arco e flecha para mestres ao meio-dia. Vocês cuidariam de Naruto e Percy a partir daqui?

— Sim, senhor.

— Chalé 11 — disse Quíron para mim e Naruto, fazendo um gesto em direção à porta. — Sintam-se em casa.

Entre todos os chalés, o 11 era o que mais parecia um velho chalé comum de acampamento de verão, com ênfase no velho. A soleira estava desgastada, a pintura marrom, descascando. Acima do vão da porta havia um daqueles símbolos de médico, um bastão alado com duas serpentes enroscadas nele.

— Naruto, como se chama aquilo? — sussurrei apontando para o bastão.

— Aquilo se chama caduceu, Percy — disse Naruto, olhando para o bastão com uma sobrancelha arqueada. — Se não me engano, é o símbolo de Hermes.

— Obrigado — cochichei em agradecimento, e ele apenas sorriu para mim.

— O que seria de você sem mim? — ele perguntou.

— Eu seria um cara que não teria de se preocupar com um certo loirinho que só se mete em encrencas, e que não teria cabelos brancos de tanta preocupação — respondi lançando-lhe um sorriso insolente.

Ele me lançou um olhar irritado.

Dentro do chalé, estava um abarrotado de gente, meninos e meninas, em muito maior número que os beliches. Sacos de dormir estavam espalhados por todo o piso. Parecia um ginásio onde a Cruz Vermelha estabelecera um centro de refugiados.

Quíron não entrou. A porta era muito baixa para ele. Mas quando os campistas o viram, todos se puseram em pé e fizeram uma reverência respeitosa.

— Então tudo bem — disse Quíron. — Boa sorte, meninos. Vejo vocês no jantar.

Ele partiu a galope rumo à linha de arco e flecha.

Fiquei em pé no vão da porta, olhando para a garotada. Não estavam mais se curvando. Olhavam para Naruto e eu, medindo-nos com os olhos. Conheço essa rotina. Havia passado por ela em muitas escolas.

Naruto estreitou os olhos.

— Tudo bem? — instigou Annabeth. — Vão em frente.

— Espere — disse Naruto. Ele me olhou com um ar crítico igual ao de Annabeth e começou a tirar algumas dobras das minhas roupas, e ao olhar para meu cabelo com o mesmo ar crítico de antes, ele lambeu a palma da mão e começou a arrastar as mãos pelo meu cabelo para trás.

Me desvencilhei de suas mãos irritado, tentando deixar meu cabelo da mesma forma de antes.

— O que foi isso? — perguntei lançando-lhe o mal-olhado.

— Devemos deixar boas impressões — disse Naruto dando de ombros, mas eu sabia que ele fazia aquilo para me humilhar.

Ao terminar de arrumar meu cabelo, eu caminhei para dentro do chalé e, naturalmente, tropecei ao passar pela porta, mas antes que pudesse cair, Naruto me agarrou e me manteve de pé. Houve algumas risadinhas dos campistas, mas nenhum deles disse nada.

Annabeth anunciou:

— Percy Jackson, Naruto Uzumaki, apresento-lhes o chalé 11.

— Normal ou indeterminado? — perguntou alguém.

Eu não sabia o que dizer, mas Sakura disse:

— Indeterminado.

Todos gemeram.

Um cara que era um pouco mais velho que o restante chegou para a frente.

— Vamos, vamos, campistas. É para isso que estamos aqui. Bem-vindos, Naruto, Percy. Vocês podem ficar com aquele ponto no chão, logo ali.

O cara tinha cerca de dezenove anos e parecia muito legal. Era alto e musculoso, com cabelo com cor de areia aparado curto e um sorriso amigável. Usava uma camiseta regata laranja, calças cortadas, sandálias e um colar de couro com cinco contas de argila em cores diferentes. A única coisa pertubadora na sua aparência era uma grossa cicatriz branca que corria desde logo abaixo do olhos direito até o queixo, como um antigo corte de faca.

— Este é Luke — disse Annabeth, e sua voz pareceu mudar um pouco. Dei uma olhada nela e poderia ter jurado que estava ficando vermelha. Ela me viu olhando e sua expressão endureceu de novo. — Ele é seu conselheiro por enquanto.

— Por enquanto? — perguntei.

— Vocês são indeterminados — explicou Luke calmamente. — Eles não sabem em que chalé acomodá-los, então vocês estão aqui. O chalé 11 recebe todos os recém-chegados, todos os visitantes. Naturalmente. Hermes, nosso patrono, é o deus dos viajantes.

— E o deus dos ladrões, correto? — perguntou Naruto, e Luke assentiu. Naruto colocou a mão no bolso e tirou dela uma carteira. — Então você não é muito bom em notar quando alguém está te roubando.

Luke, Annabeth, Sasuke, Sakura e todos ali tinham uma expressão embasbacada, e abriam e fechavam a boca como peixinhos, e dei uma risadinha. Ah, Naruto, nunca iria mudar.

Olhei para o minúsculo espaço de chão que eles nos deram. Eu não tinha nada para pôr ali e marcá-lo como meu, nenhuma bagagem, nenhuma roupa, nenhum saco de dormir. Apenas o chifre do Minotauro. Ia colocar ali, mas Naruto colocou a mão no meu ombro e então me lembrei do que Naruto havia acabado de dizer: sobre Hermes também ser o deus dos ladrões.

Corri os olhos pelos rostos dos campistas, alguns mal-humorados e descofiados, outros com um sorriso idiota, alguns olhando a mim e Naruto como se esperassem uma oportunidade de limpar os nossos bolsos.

— Quanto tempo vamos ficar aqui? — perguntei.

— Boa pergunta — disse Luke. — Até vocês serem determinados.

— Quanto tempo isso vai levar?

Todos os campistas riram, e Naruto enviou-lhes um olhar que os fez calarem a boca.

— Venham — disse Annabeth. — Vou lhes mostrar o pátio de vôlei.

— Nós já vimos — dissemos Naruto e eu.

— Venham.

Ela agarrou meu pulso e Sakura e Sasuke agarraram um pulso de Naruto cada um e eles nos arrastaram para fora. Pude ouvir o pessoal do chalé dando risadas atrás de mim.

Quando estávamos a poucos metros de distância, Annabeth disse:

— Jackson, Uzumaki, vocês precisam fazer melhor do que isso.

— O quê? — perguntamos.

Ela revirou os olhos e murmurou baixinho:

— Não posso acreditar que achei que um de vocês fosse o cara.

— Ah, então você está procurando um namorado? — perguntou Naruto provocante. — Porque eu sei que Percy está superdisponível.

Lancei-lhe meu olhar de "cale a boca, antes que ela mate nós dois", enquanto Sakura dava um tapa na cabeça de Naruto gritando "BAKA!", fazendo-o gemer e massagear o galo que se formou em sua cabeça, mas ele tinha um sorriso, como se sentisse falta de ser socado. Me voltei para Annabeth.

— Qual é o seu problema? — Eu agora estava ficando zangado. — Tudo o que sei é que Naruto e eu matamos um sujeito-touro...

— Você não sabe a sorte que tiveram! — disse Sasuke irritado. — Eu adoraria estar no lugar de um de vocês dois.

— Sasuke está certo! — disse Annabeth. — Você sabe quantos neste acampamento gostariam de ter tido a chance de um de vocês?

— De ser mortos?

— De enfrentar o Minotauro! Para que você acha que treinamos?

Eu sacudi a cabeça.

— Olhe, se a coisa contra a qual lutamos era realmente o Minotauro, o mesmo das histórias...

— Sim.

— Então só existe um.

— Sim.

— E ele morreu, tipo um zilhão de anos atrás, certo? Teseu o matou no labirinto. Portanto...

— Monstros não morrem, Percy. Eles podem ser mortos. Mas eles não morrem.

— E isso era para fazer algum sentido? — perguntou Naruto com uma expressão vazia.

— Eles não têm alma, como nós cinco, Percy — disse Sakura suavemente. — Você pode bani-los por algum tempo, talvez até por toda uma vida, se tiver sorte. Mas eles são forças primitivas. Quíron os chama de arquétipos. No fim, eles se reconstituem.

— Ah, que ótimo. — Naruto soltou um gemido cansado. — Quer dizer que, enquanto conversamos, o Touro Doidão com Testosterona e algumas das criaturas mais perigosas e ferozes da mitologia grega ainda estão vivos e que nós devemos lutar contra eles?

— É. Basicamente isso — concordou Sakura.

— Estamos ferrados. — Naruto abaixou a cabeça em derrota.

Pensei na Sra. Dodds.

— Você quer dizer que se nós matamos um, acidentalmente, com duas espadas e uma foice...

— A Fúr... Quer dizer, a sua professora de matemática. Está certo. Ela ainda está lá fora. Vocês apenas a deixaram muito, mas muito zangada mesmo — disse Sasuke.

— Estamos mais ferrados ainda — murmurou Naruto.

— Como você sabe da Sra. Dodds?

— Você fala dormindo — Annabeth respondeu por Sasuke.

— Você nem faz ideia — disse Naruto. — Acho que, a essa altura, eu já sei todos os segredos dele, de tanto que o ouço falando enquanto dorme.

Lhe dei mais um olhar irritado, mas resolvi ignorar e me voltei para Annabeth.

— Você quase a chamou de alguma coisa. Uma Fúria? Elas são torturadoras do Hades, certo?

Annabeth, Sasuke e Sakura olharam nervosamente para o chão, como se esperassem que ele se abrisse e os engolisse.

— Você não deve chamá-las pelo nome, mesmo aqui. Se acabamos tendo de falar nelas, nós as chamamos de as Benevolentes.

— Acho que vocês exageram um pouco nos nomes — disse Naruto com cara de tacho. — E sem falar que a aquela coisa não tinha nada de benevolente para mim.

— Puxa, existe alguma coisa que se possa dizer sem que haja trovões? — Eu soei reclamão, até para mim mesmo, mas naquele momento não me importei. — Por que temos de ficar no chalé 11, afinal? Por que fica todo mundo tão amontoado? Há uma porção de beliches vazios logo ali.

Apontei para os primeiros chalés e Naruto assentiu com a cabeça, enquanto Sasuke, Sakura e Annabeth empalideceram.

— A gente não escolhe simplesmente um chalé, Percy — disse Annabeth.

— Depende de quem são seus progenitores. Ou... o seu progenitor — disse Sakura, olhando fixamente para mim, esperando que eu entendesse.

— Minha mãe é Sally Jackson — eu disse. — Trabalha na doceria da Grande Estação Central. Pelo menos trabalhava.

— Eu não sei nada sobre os meus pais — disse Naruto. — Apenas algumas coisas em alguns pergaminhos, mas o resto... nada.

Sakura enviou a mim e Naruto um olhar de pena e compaixão.

— Sinto muito por sua mãe, Percy. E Naruto, sinto muito por não ter conhecido seus pais — disse Annabeth. — Mas não é isso o que Sakura quis dizer. Percy, ela está falando sobre seu outro progenitor. Seu pai.

— Ele está morto. Nunca cheguei a conhecê-lo.

Annabeth suspirou. Era claro que já tivera aquela conversa com outras crianças:

— Seu pai não está morto, Percy. Tampouco o seu, Naruto.

— Como pode dizer isso? — perguntei. — Você os conhece?

— Não, é claro que não.

— Então como você pode dizer... — Naruto foi interrompido.

— Porque eu conheço vocês. Vocês não estariam aqui se não fossem iguais a nós.

— Você não sabe nada a nosso respeito. Nenhum de vocês. Bom, Sakura e Sasuke podem saber sobre Naruto, mas vocês três não sabem nada sobre mim.

— Não? — Ela ergueu uma sobrancelha. — Aposto que você, Percy, ficou passando de escola em escola.

— O quê...

— Aposto que foi expulso de uma porção delas. — Dessa vez foi Sasuke que se pronunciou.

— Como...

— Tiveram diagnóstico de dislexia. Provavelmente transtorno do déficit de atenção também. — Agora foi Sakura.

Tentei engolir meu constrangimento.

— Por que acham que sou eu que fui expulso? E o Naruto?

— Ele não é desse mundo — disse Sakura, dando de ombros. — E Sasuke-kun e eu o conhecemos desde que tínhamos nove anos.

Tive que engolir meu ciúme.

— Ele é do mundo de vocês? — Annabeth arregalou os olhos, surpresa, e então ela pareceu ter uma epifania, pois disse: — Ah, então foi isso o que Quíron quis dizer.

— E o que a dislexia e o déficit de atenção têm a ver?

— Tudo junto, é quase um sinal certo. As letras flutuam para fora da página quando vocês leem, certo? Isso é porque a sua mente está fisicamente programada para o grego antigo. — Annabeth tinha um olhar sério.

— E o transtorno do déficit de atenção... vocês são impulsivos, não conseguem ficar quietos na classe. Isso são os seus reflexos de campo de batalha. Numa luta real, eles os manterão vivos. — Sasuke nos olhava tão sério quanto Annabeth.

— Quanto aos problemas de atenção, isso é porque enxergam demais, Percy, Naruto, e não de menos. Seus sentidos são mais aprimorados que os de um mortal comum. É claro que os professores querem que vocês sejam medicados. Eles são em maioria monstros. Não querem que vocês os vejam como são. — Sakura tinha um olhar mais suave que os de Sasuke e Annabeth, e de repente achei que dos três, ela era a mais agradável.

— Vocês parecem... vocês passaram pela mesmas coisas?

— Bem, Sakura e eu, não — disse Sasuke. — Os monstros não vão para as Nações Elementais. Portanto, nós tivemos uma vida sem monstros... até chegarmos ao acampamento.

— Mas a maioria das crianças daqui passou. Se vocês não fossem iguais a nós, não poderiam ter sobrevivido ao Minotauro, e muito menos à ambrosia e néctar — disse Annabeth.

— Ambrosia e néctar? — perguntou Naruto.

— A comida e a bebida que estávamos dando a vocês para curá-los. Aquilo teria matado garotos normais. Teria transformado seu sangue em fogo e seus ossos em areia e vocês estariam mortos. Encarem os fatos. Vocês são meio-sangues.

Meio-sangues.

Minha cabeça estava girando com tantas perguntas que eu não sabia por onde começar.

Então uma voz rouca gritou:

— Ora, ora! Mais um novato! Deve ser o meu dia de sorte!

Eu dei uma olhada. A menina grandalhona do chalé feio e vermelho vinha andando lentamente em nossa direção. Havia três outra meninas atrás dela, todas grandes, feias e de aparência malvada como ela, todas usando casacos camuflados.

— Ei, Clarisse. — Naruto acenou para ela, e a menina grandalhona olhou para ele com um olhar como se estivesse dividida entre acenar de volta ou arrancar a cabeça dele fora.

— Clarisse — suspirou Annabeth —, por que você não vai polir sua lança ou coisa assim?

— Claro, Srta. Princesa — disse a grandalhona. — Para poder atravessar você com ela na sexta-feira à noite.

Erre es korakas! — disse Annabeth, o que eu de algum modo entendi que era "Vá para os corvos!" em grego, embora tivesse a sensação de que devia ser uma praga pior do que parecia. Pelo olhar no rosto de Naruto, ele também chegou à mesma conclusão. — Você não tem chance.

— Vamos transformá-la em pó — disse Clarisse, mas seu olho se crispou. Talvez ela não tivesse certeza de poder cumprir a ameaça. Voltou-se para mim. — Quem é esse nanico?

— Percy Jackson — disse Annabeth —, esta é Clarisse, filha de Ares. Naruto, você parece já conhecê-la.

Eu pisquei.

— Tipo... o deus da guerra?

Clarisse sorriu desdenhosa.

— Você tem algum problema com isso?

— Não — eu disse, recobrando minha presença de espírito. — Isso explica o mau cheiro.

Naruto deu um tapa na própria testa. Achei que ele estava fazendo muito isso para o meu gosto.

Clarisse rosnou.

— Nós temos uma cerimônia de iniciação para novatos, Persiana.

— Percy.

— Seja o que for. Venha, vou lhe mostrar.

— Clarisse... — Annabeth e Sakura tentaram dizer.

— Fiquem fora disso, espertinhas.

Elas pareceram ofendidas, mas ficaram de fora, e eu realmente não queria a ajuda delas. Eu era o novato. Tinha de construir minha própria reputação.

Entreguei a Naruto meu chifre de minotauro e me preparei para a luta, mas antes que eu percebesse Clarisse tinha me segurado pelo pescoço e me arrastava na direção de um edifício de blocos de concreto que percebi imediatamente que era o banheiro.

— Naruto, faça alguma coisa! — ouvi Annabeth dizer a Naruto, que suspirou.

— Não posso. Apesar de querer ajudá-lo, Percy tem de lutar suas próprias batalhas.

Agradeci a ele mentalmente. Pelo menos ele entendia como minha cabeça funcionava.

Eu chutava e dava murros no ar. Já tinha estado em muitas brigas antes, mas aquela Clarisse grandalhona tinha mãos de ferro. Arrastou-me para dentro do banheiro das meninas. Havia uma fileira de vasos sanitários de um lado e uma fileira de chuveiros do outro. Cheirava como qualquer banheiro público, e eu estava pensando — tanto quanto podia pensar com Clarisse me arrancando os cabelos — que se aquele lugar pertencia aos deuses, eles deviam poder comprar privadas melhores.

As amigas de Clarisse estavam todas rindo, e eu tentava encontrar a força que usara para enfrentar o Minotauro, mas ela simplesmente não estava lá.

— Como se ele fosse dos "Três Grandes" — disse Clarisse me empurrando em direção a um dos vasos. — Certo. O Minotauro provavelmente vaiu na risada, de tão bobo que ele parecia. Ou Naruto simplesmente fez todo o trabalho enquanto ele olhava, chorando igual a um bebezinho.

As amigas abafaram o riso.

Sakura escondeu o rosto no peito de Sasuke, como se para não me ver levando uma surra. Sasuke olhava aquilo com certa vergonha. Naruto olhava aquilo com uma fúria intensa, e eu percebi que ele se esforçava ao máximo para não me ajudar. Annabeth ficou no canto, com as mãos na frente do rosto, observando através dos dedos.

Clarisse me forçou sobre os joelhos e começou a empurrar minha cabeça para dentro do vaso sanitário, que fedia a canos enferrujados e, bem, ao que vai dentro de vasos sanitários. Fiz esforço para manter a cabeça erguida. Estava olhando para a água imunda e pensando: eu não vou enfiar a cabeça naquilo. Não vou.

Então algo aconteceu. Senti uma pressão violenta na boca do estômago. Ouvi os encanamentos roncando, os canos estremeceram. A mão de Clarisse no meu cabelo afrouxou. A água pulou para fora do vaso, formando um arco por cima da minha cabeça, e em seguida me vi estatelado sobre os ladrilhos do piso do banheiro com Clarisse berrando atrás de mim.

Eu me virei bem no momento em que a água explodiu para fora do vaso outra vez, atingindo Clarisse bem no rosto com tanta força que a fez cair de traseiro no chão. A água continuou jorrando em cima dela como o jato de uma mangueira de incêndio, empurrando-a para trás, para dentro de um boxe de chuveiro.

Ela se debateu, esbaforida, e as amigas começaram a ir em sua direção. Mas então os outros vasos também explodiram, e mais seis jorros de água de privada as empurraram de volta. Os chuveiros também entraram em ação e, em conjunto, todos os dispositivos lançaram as meninas camufladas para fora do banheiro, fazendo-as rodopiar como pedaços de lixo sendo removidos com jatos d'água.

Assim que elas foram postas porta afora, senti a pressão nas minhas entranhas se aliviar, e a água parou de jorrar tão depressa quanto começara.

O banheiro inteiro estava inundado. Naruto, Sasuke, Sakura e Annabeth não tinham sido poupados. Estavam todos molhados e pingando, mas não foram empurrados para fora. Estavam em pé exatamente no mesmo lugar me olhando em estado de choque.

Naruto cuspiu um punhado de água de sua boca.

— Bem, por essa eu não esperava.

Olhei para baixo e me dei conta de que estava sentado no único ponto seco em todo o recinto. Havia um círculo de piso seco em volta de mim. Não havia nem uma gota d'água nas minhas roupas. Nada.

Levantei com as pernas trêmulas.

Annabeth disse:

— Como você...

— Eu não sei.

— Puxa, Percy — disse Naruto, de olhos arregalados e sorrindo. — Você com certeza merece o título "Senhor Supremo do Banheiro" por causa disso.

Caminhamos até a porta. Do lado de fora, Clarisse e as amigas estavam prostadas na lama e um bando de outros campistas se reunira em volta para olhar, perplexos. O cabelo de Clarisse estava colado no rosto. O casaco camuflado estava encharcado e ela cheirava a esgoto. Ela me lançou um olhar de ódio absoluto.

— Você está morto, novato. Está totalmente morto.

Talvez eu devesse ter deixado pra lá, mas disse:

— Quer gargarejar com água de privada de novo, Clarisse? Cale essa boca.

As amigas tiveram de segurá-la. Arrastaram-na para o chalé 5, enquanto os outros campistas abriam caminho para evitar seus braços e pernas que esperneavam.

— E então, querem que eu nos seque? — perguntou Naruto, e Sasuke, Sakura e Annabeth lhe deram olhares curiosos.

Ele fechou os olhos e logo depois a água em seu corpo virou vapor e voou pelo ar, deixando-o seco. Eu sabia que aquilo era o chakra demoníaco, que fervia seu sangue e fazia com que a água, caso tocasse seu corpo, vaporizasse.

Ele então abriu a boca e os olhos e soltou uma rajada de ar quente nos outros, e logo todos estavam perfeitamente secos.

Annabeth olhou para mim e Naruto. Eu não sabia dizer se ela estava apenas enojada ou zangada comigo por encharcá-la.

— O que foi? — perguntei. — O que está pensando?

— Estou pensando — disse ela — que quero vocês dois no meu time para capturar a bandeira.



Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Olhem, a quantidade de Reviews no último capítulo foi decepcionante. Apenas três. Eu até pensei em parar com a fic, mas então pensei nos leitores que ainda comentam e eu não podia simplesmente abandonar essa fic quando eles querem tanto que eu continue. E essa história ainda é o meu xodó. Mas eu ainda posso demorar para atualizar. Portanto, caso queiram um capítulo mais rápido, comentem. Ou sofram no Hades! Brincadeirinha, he-he-he. Mas é sério: comentem, por favor! Eu imploro.