NU E PJ: O Ladrão De Raios escrita por The Amazing Spider Green


Capítulo 5
Eu jogo pinochle com um cavalo


Notas iniciais do capítulo

DESCULPA, DESCULPA, DESCULPA A DEMORA! É QUE EU TIVE UNS PROBLEMINHAS COM PROVAS E TRABALHOS ESCOLARES!
Mas enfim, aqui está o Capítulo.



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N
A
R
U
T
O

Não podia ser. Mas lá estavam eles. Os mesmos caras que faziam parte da Equipe 7 comigo. Usavam roupas diferentes, é claro, mas ainda eram os mesmos.

Eles viraram as cabeças na minha direção e eu juro que vi seus olhos saltarem das órbitas.

— Naruto? — Sakura-chan disse, parecendo muito atordoada.

Ela usava uma camiseta laranja do ACAMPAMENTO MEIO-SANGUE por baixo de um colete vermelho-vinho com um círculo branco nas costas (o mesmo símbolo que ela tinha na roupa que ela usava em Konoha), e uma bermuda cor-de-creme levemente apertada. Ela usava o mesmo laço vermelho que usava na nossa infância.

Sasuke também vestia uma camiseta laranja do ACAMPAMENTO MEIO-SANGUE, mas vestia por cima um casaco azul com forro branco e nas costas do casaco tinha o símbolo do Clã Uchiha – um leque com a parte inferior vermelha e a parte superior branca. Vestia uma calça branca com detalhes azuis.

— Eu soube o que você e seu amigo fizeram com o monstro. Nada mal para um perdedor — Sasuke disse, sorrindo para mim, e pela primeira vez, foi um sorriso amigável.

Eu logo me vi abraçando ambos, com lágrimas nos olhos, enquanto sorria como se eu tivesse apenas descoberto todo o ouro do mundo.

— Eu nunca fiquei — e acho que nem nunca vou ficar — tão feliz em ouvir sua voz arrogante que é tão chata e irritante — eu disse, enquanto colocava ambas as mãos nos ombros do Uchiha. — Mas você não deveria estar morto?

— Haku não me matou de verdade. Ele apenas me paralisou tempo suficiente para tudo terminar. Agora, ele e Zabuza estão em Konoha, vivendo como civis. O Conselho não gostou disso, mas o Sandaime ordenou.

— Muito bem — eu disse, balançando a cabeça. Aquele era bem o jeito do velhote.

— Mas e você? O que aconteceu? Quando a técnica de Haku foi destruída, não vimos você. Apenas Sasuke-kun — Sakura-chan disse, parecendo confusa e ao mesmo tempo feliz, enquanto nas bordas de seus olhos, haviam algumas pequenas lágrimas. Ela realmente sentiu minha falta?

— Bem, eu estava prestes a atacar Haku, mas então eu fui enviado para cá pelo meu pai, com uma carta e uma bolsa — respondi, enquanto lhes mostrava minha bolsa-carteiro de couro. — Mas e vocês? O que estão fazendo aqui?

— Somos meio-sangues. Nós vínhamos aqui desde que tínhamos dez anos. O Acampamento Meio-Sangue é o local mais seguro para pessoas como nós — Sakura-chan respondeu pacientemente.

— Meio-sangues? O que é isso? — perguntei, confuso.

— Ah, quer dizer que você ainda não sabe o que são meio-sangues? Bom, você descobrirá depois, com certeza amanhã ou depois de amanhã. Não se preocupe.

— Ah, fala sério — eu disse, irritado.

— Não se preocupe. Pare de reclamar — Sasuke disse, como se ele fosse superior a mim. Ah, como eu senti falta da arrogância dele.

— Ótimo, gente, foi muito bom ver vocês de novo. Mas agora... Eu tenho que ver se Percy já acordou. Ele é meu melhor amigo, afinal de contas.

Os dois franziram as testas, como se tivessem chupado limão azedo.

— Podemos ir com você? — Sakura-chan perguntou, agora tímida.

– Claro. Por mim tudo bem. – Dei de ombros, enquanto caminhava pelo mesmo caminho em que havia saído com Quíron.

* * *


P
E
R
C
Y

Tive sonhos estranhos, cheios de animais de estábulo. A maioria queria me matar. O restante queria comida.

Devo ter acordado várias vezes, mas o que ouvi e vi não fazia sentido, então adormecia de novo. Lembro-me de estar deitado em uma cama macia, sendo alimentado com colheradas de alguma coisa que tinha gosto de pipoca com manteiga, só que era pudim. A menina com o cabelo loiro encaracolado pairava acima de mim com um sorriso afetado enquanto limpava gotas de meu queixo com a colher.

Quando ela viu meus olhos abertos, perguntou:

— O que vai acontecer no solstício de verão?

Eu consegui resmungar:

— O quê?

Ela olhou em volta, como se estivesse com medo de que alguém a ouvisse.

— O que está acontecendo? O que foi roubado? Nós só temos algumas semanas!

— Desculpe — murmurei. — Eu não...

Alguém bateu à porta, e a menina rapidamente encheu minha boca de pudim.

Quando acordei novamente, a menina tinha ido embora.

Um sujeito loiro e forte, como um surfista, estava no canto do quarto me vigiando. Tinha olhos azuis — pelo menos uma dúzia deles — nas bochechas, na testa, nas costas das mãos.

* * *

Quando finalmente voltei a mim de vez, não havia nada de estranho com o lugar ao meu redor, a não ser que era mais agradável do que eu estava acostumado. Estava sentado numa espreguiçadeira em uma enorme varanda, olhando ao longo de uma campina para colinas verdejantes a distância. A brisa tinha cheiro de morangos. Havia uma manta sobre as minhas pernas, umm travesseiro atrás do pescoço. Tudo isso era ótimo, mas minha boca me dava a sensação de ter sido usada como ninho por um escorpião. A língua estava seca e pegajosa, e todos os dentes doíam. Sobre a mesa ao lado havia bebida num copo alto. Parecia suco de maçã gelado, com um canudinho verde e um guarda-chuva de papel enfiado em uma cereja.

Minha mão estava tão fraca que quase derrubei o copo quando passei os dedos em volta dele.

— Cuidado — disse uma voz familiar.

— Caramba, ele está realmente mais fraco do que o normal — disse outra voz familiar.

Grover estava apoiado no gradil da varanda, e parecia não dormir havia uma semana. Embaixo de um braço, segurava uma caixa de sapatos. Estava usando jeans, tênis Converse de cano alto e uma camiseta laranja-claro com os dizeres ACAMPAMENTO MEIO-SANGUE. Apenas o velho Grover. Não o menino-bode.

Naruto estava sentado na minha cama, seus olhos transmitindo uma clara combinação de preocupação e diversão. Ele ainda usava seu casaco de couro sem mangas, a camisa laranja com mangas dobradas e sua camiseta preta com a cabeça da caveira de uma raposa. Seus jeans pretos estavam surrados, mas ainda bons, e seus tênis semiescondidos pela calça estavam um pouco desgastados. Suas roupas pareciam desgastadas e levemente sujas, mas ele ainda parecia bem.

Quem sabe não tive um pesadelo? Talvez minha mãe estivesse bem. Ainda estávamos de férias — ela, Naruto e eu — e tínhamos parado ali naquela grande casa por alguma razão. E...

— Você salvou minha vida, Percy. Você e Naruto — disse Grover. — Eu... bem, o mínimo que eu podia fazer... voltei na colina. Achei que você poderia querer isto.

Reverentemente, ele colocou a caixa de sapatos em meu colo.

Dentro havia um chifre de touro branco e preto, a base irregular por ter sido quebrada, a ponta salpicasa de sangue seco. Não tinha sido um pesadelo.

— O Minotauro — eu disse.

– Ahn, Percy, não é uma boa ideia... — Eu interrompi Grover.

— É assim que o chamam nos mitos gregos, não é? — perguntei. — O Minotauro. Meio homem, meio touro.

— Percy, não o chame pelo nome. Faça como eu: chame-o de Touro Doidão com Testosterona — Naruto aconselhou, sorrindo divertidamente para mim, o que me fez sorrir. Só mesmo meu melhor amigo para me animar em um momento como este.

— Vou tentar. — Dei de ombros.

Grover mudou de posição, pouco à vontade.

— Você ficou desacordado por dois dias. Do que se lembra?

— Minha mãe. Ela está mesmo...

Ele abaixou os olhos.

Olhei ao longo da campina. Havia pequenos bosques, um riacho sinuoso, campos de morangos espalhados embaixo do céu azul. O vale era cercado por colinas ondulantes, e a mais alta, bem na nossa frente, era a que tinha o grande pinheiro no topo. Mesmo isso parecia bonito à luz do sol.

Minha mãe se fora. O mundo inteiro deveria estar escuro e frio. Nada devia parecer bonito.

— Desculpe — fungou Grover. — Eu sou um fracasso. Eu... eu sou o pior sátiro do mundo.

Vi que Naruto estava prestes a confortá-lo, mas antes que pudesse, Grover gemeu, batendo o pé com tanta força que ele saiu, quer dizer, o tênis Converse saiu. Dentro, estava recheado de isopor, a não ser por um buraco em forma de casco.

— Oh, Estige! — murmurou ele.

Um trovão ecoou no céu claro.

Enquanto ele lutava para pôr o casco de volta no falso pé, pensei: Bem, isso resolve as coisas.

Grover era um sátiro, como dissera Naruto. Podia apostar que, se raspasse o cabelo castanho cacheado, encontraria pequenos chifres em sua cabeça. Mas eu me sentia infeliz demais para me importar com a existência de sátiros ou mesmo minotauros. O importante era que minha mãe realmente tinha sido espremida para o nada, dissolvida em luz amarela.

Naruto, como se lesse meus pensamentos, falou:

— Não fique assim, Percy. Sua mãe com certeza ficaria triste se o visse assim.

— Mas... Eu... eu estou sozinho. Eu agora sou um órfão — eu disse, à beira das lágrimas.

— Ser órfão não é tão ruim assim.

— É, mas agora eu vou ter de viver com... Gabe Cheiroso?

— Não se preocupe. Se isso acontecer, vamos nos alistar no exército, e fingiremos ter dezessete anos — Naruto disse com determinação.

— Mas nós nem parecemos ter dezessete — eu disse, infeliz.

— Ainda tenho o meu Henge no Jutsu — ele disse, o que me confundiu. Ele me mostrou apenas o Kage Bunshin. Eu não conhecia mais nenhum jutsu dele.

Mas nem me atrevi a perguntar o que era este jutsu. Aprendi do pior jeito possível que Naruto tinha uma personalidade psicótica de vez em quando.

Grover ainda estava fungando. O pobre garoto — pobre bode, ou sátiro, ou o que for — parecia estar esperando levar um murro.

— Não foi sua culpa — eu disse.

— Com certeza. Você não tem culpa de nada — Naruto concordou.

— Foi, sim. Eu devia protegê-los.

— Minha mãe pediu para você nos proteger?

— Não. Mas é isso que faço. Sou um guardião. Pelo menos... eu era.

— Mas por que...

De repente senti uma vertigem, minha visão rodando.

— Não se esforce demais — disse Grover. — Aqui.

Ele me ajudou a segurar o copo e eu levei o canudinho aos lábios.

Recuei com o gosto, porque estava esperando suco de maçã. Não tinha nada a ver com isso. Era gosto de biscoito com pedacinhos de chocolate. Biscoito líquido. E não qualquer biscoito — os biscoitos azuis da minha mãe com pedacinhos de chocolate amanteigados e quentes, o chocolate ainda derretendo. Ao beber aquilo, meu corpo inteiro se sentiu bem, aquecido e cheio de energia. Minha tristeza não foi embora, mas era como se minha mãe tivesse acabado de acariciar minha bochecha e me dar um biscoito, como costumava fazer quando eu era pequeno, e tivesse dito que tudo ia ficar bem.

Antes de me dar conta, já tinha esvaziado o copo inteiro. Olhei para dentro dele e, com certeza, não era uma bebida quente, pois os cubos de gelo não tinham nem derretido.

— Estava bom? — perguntou Grover

Fiz que sim com a cabeça.

— Que gosto tinha?

Ele pareceu tão suplicante que me senti culpado.

— Desculpe. Devia ter deixado você provar.

Os olhos dele se arregalaram.

— Não! Não foi isso que eu quis dizer. Eu só... fiquei curioso.

— Biscoitos com pedacinhos de chocolate — eu disse. — Os da minha mãe. Feitos em casa.

— O quê? Quando eu provei, tinha gosto da melhor coisa que existe. A refeição da vida. A substância da vida. Tudo o que há de bom — Naruto dizia dramaticamente.

— E o que era? — perguntei extremamente curioso.

— O RAMÉN DO ICHIRAKU! — gritou ele, e eu senti uma gota de suor escorrer por meu rosto.

— Naruto, você é o mistério da vida — comentei, balançando a cabeça.

Ele me olhou confuso, como se não tivesse entendido nada. Suspirei. Eu adorava aquele garoto, mas ele podia ser tão idiota às vezes.

— A questão é que bebemos a mesma coisa mas ela tinha gostos diferentes. O que é essa coisa, Grover? — disse Naruto sério.

Grover parecia nervoso.

— Vocês vão descobrir logo. Quando nos encontrarmos com Quíron e o Sr. D.

Naruto parecia menos confuso do que eu, mas ele ainda estava.

— E quem é o Sr. D? — perguntou ele.

— Vamos vê-lo agora. Mas primeiro. — Grover virou-se para mim. – Como se sente, Percy?

— Como se fosse capaz de jogar Nancy Bobofit a cem metros de distância.

Naruto deu uma gargalhada.

— Cara, eu amo você por isso, sabia?

— Isso é bom, gente — disse Grover. – Isso é bom. Não acho que você deva se arriscar a tomar mais disso aí.

— O que quer dizer? — perguntei.

Ele pegou meu copo com cautela, como se fosse dinamite, e o colocou de volta na mesa.

— Vamos. Quíron e o Sr. D estão esperando.

* * *

A varanda circundava toda a casa da fazenda.

Senti as pernas trêmulas tentando andar oda aquela distância. Grover se ofereceu para carregar os chifres do Minotauro, ou como Naruto o chama: Touro Doidão com Testosterona, mas eu me agarrei a ele. Tinha pago um preço alto por aquele suvenir. Não iria largá-lo. Naruto disse que o chifre é a prova de sua vitória sobre o monstro, e que não iria largá-lo.

Quando demos a volta até o lado oposto da casa, parei para recuperar o fôlego.

Devíamos estar na costa norte de Long Island, porque daquele lado da casa o vale seguia até a água, que cintilava a cerca de um quilômetro de distância. Da casa até lá, eu simplesmente não consegui processar tudo o que estava vendo. A paisagem era pontilhada de construções que lembravam a arquitetura grega antiga — um pavilhão a céu aberto, um afiteatro, uma arena circular —, só que pareciam novos em folha, as colunas de mármore branco reluzindo ao sol. Em uma quadra de areia próxima, uma dúzia de crianças e sátiros em idade escolar jogavam voleibol. Canoas deslizavam por um pequeno lago. Crianças de camiseta laranja-claro como a de Grover corriam umas das outras em volta de um agrupamento de chalés no meio do bosque. Algumas praticavam arco e flecha em alvos. Outras montavam em cavalos em uma trilha arborizada e, a não ser que eu estivesse tendo alucinações, alguns cavalos tinham asas.

Na extremidade da varanda, dois homens estavam sentados frente a frente em uma mesa de carteado. A menina de cabelos loiros que me alimentara com colheradas de pudim com sabor de pipoca estava apoiada no gradil da varanda, ao lado deles, junta de dois garotos que não reconheci. Uma era uma garota de cabelos róseos — o que achei estranho — e o outro era um garoto de cabelos pretos em forma de pato — o que também achei estranho.

O homem de frente para mim era pequeno, mas gorducho. Tinha nariz vermelho, grandes olhos chorosos e cabelo cacheado tão preto que era quase roxo. Parecia uma daquelas pinturas de anjos-bebês, como se chamam mesmo... surubins? Não, querubins. É isso. Ele parecia um querubim que chegou à meia-idade em um acampamento de trailers. Usava uma camisa havaiana com estampa de tigre, e teria se encaixado perfeitamente em uma das rodas de pôquer de Gabe, só que eu tive a sensação de que esse cara poderia ter ganhado até do meu padrasto.

— Aquele é o Sr. D — murmurou Grover para nós. — Ele é o diretor do acampamento. Sejam educados. A menina é Annabeth Chase. Ela é só uma campista, mas está aqui há mais tempo que quase todo mundo. Os outros dois são...

— Sasuke Uchiha e Sakura Haruno — Naruto terminou olhando os dois.

— Sim. Como você sabe? — Grover disse, olhando Naruto confuso.

— São amigos antigos. — Ele deu de ombros.

Admito que senti ciúmes. Naruto já me falou deles antes, e sabia que eram os melhores amigos dele. Eu queria estar feliz por ele ter amigos já conhecidos no acampamento, mas eu não conseguia.

— Bem, vocês dois já conhecem Quíron...

Ele apontou para o cara que estava de costas para mim.

Primeiro, percebi que ele estava sentado em uma cadeira de rodas. Depois reconheci o casaco de tweed, o cabelo castanho ralo, a barba desalinhada.

— Sr. Brunner! — exclamei.

O professor de latim voltou-se e sorriu para mim. Os olhos estavam com aquele brilho travesso de quando ele fazia uma prova-surpresa e todas as respostas da múltipla escolha eram B.

— Ah, bom, Percy — disse ele. — Agora já temos quatro para o pinochle.

Ele me ofereceu uma cadeira à direita do Sr. D, que olhou para Naruto e eu com os olhos injetados e soltou um grande suspiro.

— Ah, suponho que devo dizer isto. Bem-vindos ao Acampamento Meio-Sangue. Pronto. Agora, não esperem que eu esteja contente em vê-lo.

— Ahn, obrigado. — Logo me afastei um pouco dele, porque, se havia uma coisa que eu tinha aprendido convivendo com Gabe, era reconhecer quando um adulto andou tomando umas e outras. Se o Sr. D era um abstêmio, eu era um sátiro.

— Annabeth? Sakura? Sasuke? — O Sr. Brunner chamou os três.

Eles avançaram e o Sr. Brunner nos apresentou.

— Annabeth cuidou de você e Naruto até que ficassem bons, Percy. Annabeth, Sakura, Sasuke, por que não vão verificar o beliche dos meninos? Vamos instalá-los no chalé 11 por enquanto.

Os três disseram:

— Claro, Quíron.

Eles provavelmente tinham a minha idade, a menina loira talvez fosse uns cinco centímetros mais alta, e os três tinham a aparência muitíssimo mais atléticas.

A menina loira, com seu bronzeado intenso e o cabelo loiro cacheado, era quase exatamente como eu imaginava uma típica menina da Califórnia, a não ser pelos olhos, que arruinavam essa imagem. Eram surpreendentemente cinzentos, como nuvens de tempestade; bonitos, mas também intimidadores, como se ela estivesse analisando o melhor modo de me derrubar em uma luta.

A menina com o cabelo rosa tinha uma pele tão clara como a neve e olhos verdes, como esmeraldas; bonitos, de fato, mas que ainda mostravam força superior.

O menino com o cabelo em forma de pato tinha olhos ônix e pele branquinha, com uma expressão de superioridade e arrogância no rosto, como se ele dissesse: Eu sou o cara. Ninguém se compara a mim. Quer apostar?

Imadiatamente odiei esse cara.

A menina loira deu uma olhada para o chifre do Touro Doidão com Testosterona em minhas mãos, então de novo para mim. Imaginei que fosse dizer: Você matou um minotauro! ou Uau, você é tão assustador! ou algo do tipo. Em vez disso, ela disse:

— Você baba quando está dormindo.

Naruto soltou uma bela de uma gargalhada, apoiando-se em meu ombro, e tirando uma lágrima que se formava em seu olho. Eu o olhava mortalmente.

A menina, depois de dizer aquilo, saiu correndo pelo gramado, os cabelos loiros esvoaçando atrás dela.

— Nos vemos depois, Naruto — a menina de cabelo rosa disse dando um abraço em Naruto e um beijo na bochecha dele, e eu podia jurar ver suas bochechas ruborizarem, e foi a minha vez de rir, apoiar-me em seu ombro e tirar uma lágrima que se formava em meu olho. Ele me olhou mortalmente, mas eu não liguei.

— Até mais, Dobe — o garoto-pato disse com uma carranca no rosto e saiu andando pelo gramado seguindo a menina loira. — Vamos, Sakura.

— Certo, Sasuke-kun — a menina de cabelo rosa disse lançando um último sorriso a Naruto e seguindo o garoto-pato.

— Então — disse, ansioso por mudar de assunto —, o senhor, ahn, trabalha aqui, Sr. Brunner?

— Sr. Brunner não — disse o ex-Sr. Brunner. — Lamento, era um pseudônimo. Você pode me chamar de Quíron.

— Combinado. — Totalmente confuso, olhei para o diretor. — E Sr. D... Significa alguma coisa?

O Sr. D parou de embaralhar as cartas. Olhou para mim como se eu tivesse acabado de arrotar alto.

— Rapazinho, os nomes são coisas poderosas. Você simplesmente não sai por aí os usando sem motivo.

— Ah. Certo. Desculpe — eu disse enquanto Naruto dava uma risadinha por trás de mim, fazendo-me olhar para ele com fúria controlada.

— Devo dizer, meninos — interrompeu Quíron-Brunner —, que estou contente em vê-los com vida. Já faz um bom tempo desde que fiz um atendimento domiciliar a campistas em potencial. Detestaria pensar que tinha perdido meu tempo.

— Atendimento domiciliar?

— O ano que passei na Academia Yancy para instruí-lo. Temos sátiros de prontidão na maioria das escolas, é claro. Mas Grover me alertou assim que o conheceu. Ele sentiu que você era especial, então decidi ir lá. Convenci o outro professor de latim a... ahn, tirar uma licença. E em seguida, o Naruto aqui apareceu, e Grover viu mais um caso especial.

Tentei me lembrar do começo do ano escolar. Parecia tanto tempo atrás, mas eu tinha uma vaga lembrança de outro professor de latim na primeira semana em Yancy. Então, sem explicação, ele desapareceu e o Sr. Brunner assumiu a turma.

— Você foi a Yancy só para me ensinar? — perguntei.

Quíron assentiu.

— Honestamente, de início eu não tinha muita certeza a respeito de vocês. Contatamos sua mãe, Percy, informamos que estávamos de olho em você, para o caso de estar pronto para o Acampamento Meio-Sangue. Mas você ainda tinha muito a aprender, e você também, Naruto. Não obstante, chegaram aqui vivos, e esse é sempre o primeiro teste.

— Grover — disse o Sr. D com impaciência —, vai jogar ou não?

— Sim, senhor! — Grover tremeu quando se sentou na quarta cadeira, embora eu não soubesse por que ele deveria ter tanto medo de um homenzinho gorducho de camisa havaiana com estampa de tigre.

Naruto pôs uma mão no ombro de Grover, olhando o Sr. D com um pouco de raiva e malícia.

— Não se preocupe, Grover. Eu jogo no seu lugar — ele disse enquanto Grover lançou-lhe um olhar de agradecimento e saiu da cadeira. Naruto tomou o seu lugar.

— Você sabe jogar pinochle? — indagou o Sr. D olhando para mim com desconfiança.

— Infelizmente não — eu disse.

— Infelizmente não, senhor — disse ele.

— Senhor — repeti. Estava gostando cada vez menos do diretor do acampamento.

— Bem — ele me disse —, este é, juntamente com as lutas de gladiadores e o Pac-Man, um dos melhores jogos já inventados pelos seres humanos. Imaginava que todos os jovens civilizados conhecessem as regras.

— Estou certo de que o menino pode aprender — disse Quíron.

— Por favor — eu disse —, o que é este lugar? O que estou fazendo aqui? Sr. Brun... Quíron, por que iria à Academia Yancy só para me ensinar?

O Sr. D bufou.

— Fiz a mesma pergunta.

O diretor do acampamento deu as cartas. Naruto sorria a cada vez que uma caía na sua pilha. Eu nunca o vi jogar qualquer tipo de jogo de cartas, mas ele parecia bem confiante.

Quíron sorriu para mim de um modo compreensivo, como costumava fazer na aula de latim para mim e Naruto, como para me dizer que qualquer que fosse nossa nota, nós éramos seus alunos mais importantes. Ele esperava que nós tívessemos a resposta certa.

— Percy — disse ele —, sua mãe não lhe contou nada?

— Ela disse... — Lembrei-me dos seus olhos tristes, olhando para o mar. — Ela me contou que tinha medo de me mandar para cá, embora meu pai quisesse que ela fizesse isso. Disse que, uma vez aqui, provavelmente não poderia sair. Queria me mantar perto dela.

— Típico — disse o Sr. D. — É assim que eles normalmente são mortos. — Naruto lançou-lhe um olhar irritado. — Rapazinho, você vai fazer um lance ou não vai?

— O quê? — perguntei.

Ele explicou, impacientemente, como se faz um lance em pinochle, e eu fiz.

— Lamento, mas há coisas demais a contar — disse Quíron. — Receio que nosso filme de orientação não seja suficiente.

— Filme de orientação? — perguntamos Naruto e eu.

— Não — concluiu Quíron. — Bem, meninos. Vocês sabem que seu amigo Grover é um sátiro. Vocês sabem — ele apontou para os chifres que Naruto e eu tínhamos — que vocês mataram o Minotauro. E não é um pequeno feito, rapazes. O ques vocês podem não saber é que grandes forças estão em ação nas suas vidas. Os deuses, as forças que vocês chamam de deuses gregos, estão muito vivos.

Olhei para os outros em volta da mesa.

Aguardei que alguém gritasse, Não! Mas tudo o que ouvi foi o Sr. D gritando:

— Oh, um casamento real. Truco! Truco! — Ele gargalhou enquanto contava os pontos.

— Sr. D — perguntou Grover timidamente atrás de Naruto —, se não for comê-la, posso ficar com sua lata de Diet Coke?

— Hein? Ah, está bem.

Grover mordeu um grande pedaço da lata de alumínio vazia e mastigou tristemente.

Olhei para Naruto, mas ele simplesmente deu de ombros, como se ele visse nosso melhor amigo comer latas vazias de Diet Coke todos os dias.

— Espere — eu disse a Quíron —, está me dizendo que existe algo como Deus?

— Bem, vamos lá — disse Quíron. — Deus, com D maiúsculo: Deus. Isso é outro assunto. Não vamos lidar com o metafísico.

— Metafísico? Mas você estava falando sobre...

— Ah, deuses, no plural, grandes seres que controlam as forças da natureza e os empreendimentos humanos: os deuses imortais do Olimpo. Essa é uma questão menor.

— Menor? — perguntamos eu e Naruto ao mesmo tempo. Não pude deixar de notar em como isso estava acontecendo muito nesse dia.

— Sim, muito. Os deuses que discutimos na aula de latim.

— Zeus — disse Naruto. — Poseidon. Hades. Você quer dizer, esses?

E, de novo, uma trovoada distante em um dia sem nuvens.

— Rapazinho — disse o Sr. D a Naruto —, se eu fosse você, seria menos negligente quanto a ficar soltando esses nomes por aí.

— Me impeça, velhote — disse Naruto sorrindo desafiadoramente para o Sr. D.

— Ora, seu... — O Sr. D estava espumando.

— Mas são histórias — eu disse, poupando Naruto de uma encrenca. — São... mitos, para explicar os relâmpagos, as estações e tudo o mais. Era nisso que as pessoas acreditavam antes de surgir a ciência.

— Ciência! — zombou o Sr. D. — E diga-me, Perseu Jackson — eu me encolhi quando ele disse meu nome verdadeiro, que nunca contara a ninguém, exceto Naruto —, o que as pessoas pensarão da sua "ciência" daqui a milhares de anos? Humm? Irão chamá-la de baboseiras primitivas. É isso o que irão pensar. Ah, eu adoro os mortais... eles não têm a menor noção de perspectiva. Acham que já chegaram tãããão longe. E chegaram, Quíron? Olhe para esses meninos e diga-me.

Eu não estava gostando muito do Sr. D, mas havia algo no modo como ele nos chamou de mortais, como se... se ele não fosse. Foi o bastante para me dar um nó na garganta, para sugerir por que Grover estava zelosamente atento às cartas de Naruto, mascando sua lata de refrigerante e mantendo a boca fechada.

— Meninos — disse Quíron —, vocês podem escolher entre acreditarem ou não, mas o fato é que imortal significa imortal. Podem imaginar isso por um momento, não morrer nunca? Existir, assim como vocês são, para toda a eternidade?

Eu estava prestes a responder, assim sem pensar, que parecia um negócio muito bom, mas o tom de voz de Quíron me fez hesitar.

— Você quer dizer, quer as pessoas acreditem em você ou não — eu disse. Naruto acenou com a cabeça em concordância.

— Exatamente — concordou Quíron. — Se você fosse um deus, gostaria de ser chamado de mito, de uma velha historia para explicar os relâmpagos? E se eu contasse a você, Perseu Jackson que um dia as pessoas vão chamar você de mito, criado apenas para explicar como menininhos podem sobreviver à perda de suas mães? E você, Naruto Uzumaki, fosse chamado de mito para explicar por que criancinhas são violentadas por seus aldeões.

Meu coração disparou. Ele estava tentando deixar Naruto e eu zangados por alguma razão, mas eu não ia permitir que o fizesse. Vi Naruto tomando respirações profundas, tentando se acalmar, e notei que suas unhas agora eram garras que arranhavam a mesa. Eu disse:

— Acho que nenhum de nós gostaria disso. Mas não acredito em deuses.

— Muito menos eu — concordou Naruto.

— Oh, é melhor mesmo — murmurou o Sr. D. — Antes que um deles o incinere.

Grover disse:

— P-por favor, senhor. Percy acaba de perder a mãe e Naruto foi muito sobrecarregado. Estão em estado de choque.

— Uma sorte, também — resmungou o Sr. D, jogando uma carta. — Ruim mesmo é estar confinado a esse trabalho deprimente, com meninos que nem mesmo têm fé!

Ele acenou e uma taça apareceu sobre a mesa, como se a luz do sol tivesse momentaneamente se encurvado e transformado o ar em vidro. A taça se encheu de vinho tinto.

Meu queixo caiu, e Naruto arregalou os olhos, mas Quíron mal ergueu os olhos.

Senhor D — advertiu —, as suas restrições.

O Sr. D olhou para o vinho e fingiu surpresa.

— Ora vejam. — Ele olhou para o céu e gritou: — Velhos hábitos! Desculpe!

Mais trovões.

O Sr. D acenou outra vez e a taça de vinho se transformou em uma nova lata de Diet Coke. Ele suspirou, infeliz, abriu a lata e voltou ao seu jogo de cartas.

Quíron piscou para Naruto e eu.

— O Sr. D irritou o pai dele tempos atrás, sentiu-se atraído por uma ninfa dos bosques que tinha sido declarada inacessível.

— Uma ninfa dos bosques — repeti, ainda olhando para a Diet Coke como se tivesse vindo do cosmos.

Naruto riu e fechou minha boca.

— É melhor fechar, antes que entre mosca.

O olhei irritado, tentado a lhe dar um cascudo, mas sabia que ele me jogaria no chão assim que colocasse uma mão nele.

— Sim — confessou o Sr. D. — O pai adora me castigar. Na primeira vez, Proibição. Horrível! Dez anos absolutamente terríveis! Na segunda vez... bem, ela era mesmo linda, não consegui ficar longe... na segunda vez, ele me mandou para cá. Colina Meio-Sangue. Acampamento de verão para moleques como você. "Seja uma influência melhor", ele me disse. "Trabalhe com os jovens em vez de arrasar com eles." Ah! Que injustiça.

O Sr. D parecia ter seis anos de idade, como uma criancinha fazendo pirraça.

— E... — gaguejei — o seu pai é...

Di immortales, Quíron — disse o Sr. D. — Pensei que você tinha ensinado o básico a estes meninos. Meu pai é Zeus, é claro.

— Você é Dioniso, não é? — disse Naruto, estreitando os olhos para o Sr. D. — O carinha do vinho.

O Sr. D olhou para Naruto surpreso.

— Carinha do vinho?

— Você é Dioniso? — perguntei, de olhos arregalados.

O Sr. D revirou os olhos.

— Como eles dizem hoje em dia, Grover? As crianças dizem, "fala sério"?

— S-sim, Sr. D.

— Então, fala sério, Percy Jackson. Achou o quê; que eu fosse Afrodite?

— Você é um deus;

— Sim, criança.

— Um deus. Você.

Ele se virou para olhar diretamente para mim, e vi uma espécie de fogo arroxeado nos seus olhos, um indício de que aquele homenzinho reclamão e gorducho só estava me mostrando uma minúscula parte da sua verdadeira natureza. Tive visões de vinhas estrangulando descrentes até a morte, guerreiros bêbados insanos com o entusiasmo da batalha, marinheiros gritando enquanto suas mãos se trasnformavam em nadadeiras, os rostos se alongando em focinhos de golfinho. Eu sabia que, se o pressionasse, o Sr. D iria me mostrar coisas piores. Iria plantar uma doença no meu cérebro que me levaria a usar camisa de força pelo resto da vida.

— Gostaria de me testar, criança? — disse em voz baixa.

— Não. Não, senhor.

O fogo diminuiu um pouco. Ele voltou ao jogo de cartas.

— Acho que ganhei.

— Talvez não, Sr. D — disse Naruto. Ele baixou uma sequência, contou os pontos e disse: — Acho que o jogo é meu.

Quíron e o Sr. D olharam para aquilo embasbacados.

— Quantas vezes você já jogou pinochle?

— Sinceramente, essa é a primeira vez que eu jogo pinochle.

O Sr. D suspirou e pôs-se de pé, e Grover levantou-se também.

— Estou cansado — disse o Sr. D. — Acho que vou tirar uma soneca antes da cantoria desta noite. Mas primeiro, Grover, precisamos conversar de novo sobre seu desempenho para lá de imperfeito nessa missão.

O rosto de Grover cobriu-se com gotículas de suor.

— S-sim, senhor.

O Sr. D voltou-se para eu e Naruto.

— Chalé 11, Percy Jackson e Naruto Uzumaki. E cuidado com seus modos.

Ele se afastou para dentro da casa, com Grover o seguindo arrasado.

— Grover vai ficar bem? — eu e Naruto perguntamos ao mesmo tempo a Quíron. É sério, isso estava ficando estranho.

Quíron assentiu, embora parecesse um pouco perturbado.

— O velho Dioniso não está realmente zangado. Ele apenas detesta seu trabalho. Ele foi... ahn, confinado à Terra, pode-se dizer, e não pode aguentar ter de esperar mais um século antes de ser autorizado a voltar ao Olimpo.

— O Monte Olimpo — eu disse. — Você está nos dizendo realmente existe um palácio lá?

— Mas ele não ficava na Grécia? — perguntou Naruto coçando a cabeça com um dedo.

— Bem, meninos, agora há o Monte Olimpo na Grécia. E há o lar dos deuses, o ponto de convergência dos seus poderes, que de fato costumava ser no Monte Olimpo. Ainda é chamado de Monte Olimpo, por respeito às tradições, mas o palácio muda de lugar, meninos, assim como os deuses.

— Você quer dizer que os deuses gregos estão aqui? Tipo... nos Estados Unidos?

— Bem, certamente. Os deuses mudam com o coração do Ocidente.

— O quê? — perguntamos eu e Naruto ao mesmo tempo. Isso estava me irritando.

— Vamos, meninos. O que vocês chamam de "civilização ocidental". Vocês acham que é apenas um conceito abstrato? Não, é uma força viva. Uma consciência coletiva que ardeu brilhantemente por milhares de anos. Os deuses são parte dela. Vocês podem até dizer que eles são sua fonte ou, pelo menos, que estão ligados tão intimamente a ela que possivelmente não vão deixar de existir, a não ser que toda a civilização ocidental seja destruída. A chama começou na Grécia. Então, como vocês sabem... ou espero que saibam, já que foram aprovados no meu curso... o coração da chama se mudou para...

— Roma — terminou Naruto, surpreendendo tanto Quíron quanto eu. — É por isso que a mitologia romana é semelhante à grega. A única coisa que muda são os nomes, como Júpiter, que é Zeus em sua forma romana, Netuno como Poseidon e Plutão como Hades. É isso, não é: os deuses podem ter nomes diferentes, mas continuam os mesmos, assim como suas forças. — Ao ver o aceno de Quíron, Naruto suspirou. — Puxa, isso é o que eu chamo de dupla personalidade e transtorno de bipolaridade.

— Muito bem, Naruto. Eu sabia que você era um rapaz brilhante — disse Quíron sorrindo.

— Mas então os deuses morreram — eu disse.

— Morreram? Não. O Ocidente morreu? Os deuses simplesmente se mudaram, para a Alemanha, para a França, para a Espanha, por algum tempo. Aonde quer que a chama brilhasse mais, lá estavam os deuses. Eles passaram vários séculos na Inglaterra. Tudo o que vocês precisam é olhar para a arquitetura. As pessoas não esquecem os deuses. Em todos os lugares onde reinaram, nos últimos três mil anos, vocês podem vê-los em pinturas, em estátuas, nos prédios mais importantes. E sim, meninos, é claro que agora eles estão nos seus Estados Unidos. Olhem para o símbolo do país, a águia de Zeus. Olhem para a estátua de Prometeu no Rockfeller Center, para as fachadas de edifícios governamentais em Washington. Eu os desafio a encontrar qualquer cidade americana onde os olimpianos não estejam proeminentemente expostos em vários locais. Gostem ou não — e acredite, uma porção de gente não gostava muito de Roma também —, os Estados Unidos são agora o coração da chama. São a grande potência do Ocidente. E, portanto, o Olimpo é aqui. E nós estamos aqui.

Aquilo tudo foi demais para mim, especialmente o fato de que eu parecia estar no nós de Quíron, como se fizesse parte do mesmo clube. E pela cara de Naruto, ele também pensou assim.

— Quem é você, Quíron? Quem... quem sou eu?

— Fácil. Você é Percy Jackson, o garoto mais buro e irritante do mundo — respondeu Naruto sorrindo para mim.

— Cale a boca — sibilei.

Quíron sorriu. Ele mudou de posição, como se fosse se levantar da cadeira de rodas, mas eu sabia que era impossível. Era paralítico da cintura para baixo.

— Quem é você? — ele ficou pensativo. — Bem, essa é a pergunta que todos queremos ver respondida, não é? Mas, por enquanto, temos de lhes arranjar dois beliches no chalé 11. Ali haverá novos amigos para vocês conhecerem. E tempo à vontade para as aulas amanhã. Além disso, haverá guloseimas em volta da fogueira esta noite, e eu simplesmente adoro chocolate.

— Quem não adora? — perguntou Naruto com uma sobrancelha levantada.

— Tem razão — concordou Quíron.

E então ele se levantou da cadeira de rodas. Mas havia algo de estranho no modo como fez isso. A manta caiu de cima das pernas, mas elas não se moveram. A cintura foi ficando mais longa, erguendo-se acima do cinto. De início, pensei que estivesse usando roupas de baixo muito compridas de veludo branco, mas à medida que ele foi se erguendo da cadeira, mais alto que qualquer homem, percebi que a roupa de baixo de veludo não era roupa de baixo; era a parte da frente de um animal, músculos e tendões sob um pelo branco e áspero. E a cadeira de rodas não era uma cadeira. Era algum tipo de recipiente, uma enorme caixa sobre rodas, e devia ser mágica, porque não havia como ela contê-lo inteiro. Uma perna saiu, comprida e com joelho saliente, com um grande casco polido. Depois outra perna dianteira, depois a parte traseira, e depois a caixa ficou vazia, nada além de uma casca de metal com um par de pernas humanas acoplado.

Olhei para o cavalo que acabara de pular da cadeira de rodas: um enorme corcel branco. Mas, onde devia estar seu pescoço, estava a parte de cima do corpo do meu professor de latim, suavemente acoplada no tronco do cavalo.

— Que alívio — disse o centauro. — Fiquei tanto tempo confinado lá dentro que minhas juntas adormeceram. Agora venham, Naruto Uzumaki e Percy Jackson. Vamos conhecer os outros campistas.

Naruto sussurrou em meu ouvido com uma mão escondendo o movimento de seus lábios:

— Lembra-se quando você me perguntou sobre Quíron e falei que era um homem com bunda de cavalo, mas você não acreditou, e acabamos apostando dez dólares?

— Sim — sussurrei de volta.

— Você me deve — ele disse simplesmente.


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Notas finais do capítulo

E aí? Está bom? Pra quem gostou, REVIEWS!!!!!!!!!!!!!