Crossroads - The Dark Hunters Chronicles escrita por Boneco de Neve, Guiga


Capítulo 30
EX - Repercussão Negativa




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/232306/chapter/30

É inegavelmente incrível o que os superdotados podem fazer. A essa altura eles eram largamente usados em combate e outras utilidades. Mas desta vez, foi comprovado o potencial dos superdotados, que beirava ao infinito.

Não demorou muito para uma explosão de reações mistas acontecerem ao redor do globo. Alguns sentiram medo; outros, admiração; mas entre a massa intelectual, o clima era de revolta. Criar uma ilha do nada em menos de um dia era um desafio às leis da natureza, e alguém teria que responder por isso.

Tóquio, Japão, 27 de outubro de 2070, 6 horas e 25 minutos da manhã. Yuurando acabava de voltar do exercício de treinamento matinal. De banho tomado, ele se dirigia ao refeitório do quartel. Depois de pegar sua refeição, ele se sentou em uma mesa onde não havia absolutamente ninguém. O jovem acreditava que comer enquanto se distraía não fazia bem para o organismo, por isso optava pelo sossego. Mas quando foi dar a primeira mordida na maçã que tinha pegado, um murmúrio o chamou à atenção.

Soldado 1: Você viu? O pessoal das Nações Unidas não gostou nadinha daquela ilha que os caras superdotados fizeram emergir... O nosso governo foi taxado de tudo que é nome!

Soldado 2: Ah, eu nem ligo muito. Eu ouvi falar de um termo que descreve bem esse pessoal. Qual era o nome mesmo? Ah sim! ... Ecochatos.

Soldado 1: Só quero ver onde isso vai chegar... Mas eu pessoalmente acho que o nosso governo passou dos limites.

Soldado 2: Sério mesmo? Nós só criamos uma ilha. Não ferimos ninguém! Vão mesmo nos criticar por usso? Os outros países atacam uns aos outros, usam armamento nuclear, ocupam países sem o menor direito. E quem passa dos limites somos nós?

Conforme a discussão ia se iniciando, os murmúrios se tornavam berros. Isso tomou totalmente a atenção de Yuurando.

Soldado 1: Olha, eu estou preocupado com essa situação toda. O nosso país nunca se envolveu nessa guerra tão diretamente. Não havia necessidade de se envolver!

Yuurando: Er... Pessoal, eu estou tentando comer em paz aqui. Por favor...

Soldado 2: Ah é? Se está tão incomodado, por que não vai para outro lugar?

O jovem espadachim sacou de sua arma, que estava repousada no chão, apoiada na mesa, e desferiu um corte rápido na direção dos soldados. Embora a distância fosse muito grande para a arma atingi-los, a lâmina, durante o balanço,  emitiu faíscas elétricas, assustando os dois soldados. Após isso, Yuurando continuou com a arma em punho, cuja lâmina emitia faíscas de eletricidade estática.

Soldado 2: Você... É um superdotado!

Soldado 1: Corre, cara; sujou!

Os dois levantaram da mesa às pressas e saíram correndo em disparada. Yuurando imaginava que iriam reclamar com um superior.

Yuurando: (Vou acabar me dando mal por isso...)

Como Yuurando havia previsto, assim que ele saiu do refeitório um superior estava à espera. De praxe, o garoto o encarou com um olhar sério e se preparou para ouvir sua reprimenda.

Tenzou: Já estou sabendo do que aconteceu lá dentro, Yuurando.

Yuurando: Suponho que pedir desculpas não vai adiantar nada...

Tenzou: Certamente que não. E no seu caso, ainda é pior, já que você é de uma divisão diferente daqueles rapazes. Por via de regra, você não deveria nem estar perto deles. Quando seu avô souber vai ficar muito irritado.

Yuurando: Sinto muito, senhor... Se me permite ao menos me explicar, a ideia de aparecer uma ilha do nada no Pacífico ainda está me atormentando, senhor. De qualquer forma, eu admito meu erro e aceitarei a minha punição, seja ela qual for.

Tenzou: Bem, eu poderia te jogar numa cela e deixá-lo lá por uns vinte dias, mas isso terá que esperar. Temos problemas mais urgentes para resolver.

Yuurando: Que tipo de problema, senhor?

Tenzou: Pra falar a verdade, não é só você que ficou incomodado com o que aconteceu. Há outros que também desaprovaram a Operação Ilha 6853 e estão esperando pela nossa explicação. Já convocaram alguns de nossos representantes para uma reunião nas Nações Unidas.

Yuurando: Entendo. Agora é só aguardar o desfecho dessa história. Mas, com todo respeito, senhor, eu não sei o que eu tenho a ver com essa situação... Isso não é coisa para o governo resolver?

Tenzou: Sim, mas exigiram a presença da organização que planejou a operação. E como o chefe desta operação é o patriarca de um clã em particular, a presença dele foi solicitada. Como você é membro deste clã, também é o único além dele apto para representá-lo; por isso, você terá que ir também. É como uma obrigação sua como militar e patriota.

Yuurando sentiu uma pontada de desânimo no peito. O capitão Tenzou prosseguiu.

Tenzou: Tentamos convidar a sua mãe a participar, mas você sabe como ela é. Está traumatizada demais para ouvir falar desses assuntos.

Yuurando: Sim, mas o que eu irei fazer lá? Não tenho nenhum conhecimento em relações internacionais. Eu terei que ficar sentado na cadeira, observando ao meu redor?

Tenzou: Exato. Você pode ser um inútil nesta situação, mas sua presença será bastante decisiva na hora de encará-los. Se não ocuparmos nossa cota de cadeiras, eles pensarão que somos fracos e covardes. Você gostaria de ser chamado de covarde para o resto da vida? Acho que não.

Yuurando exalou um suspiro pesado de insatisfação, mas ele entendia a situação. Viu que não tinha escolha a não ser acatar as ordens.

Tenzou: Eu posso contar com sua ajuda, Yuurando?

Yuurando: Sim, Comandante Tenzou.

Como instruído, naquela noite Yuurando foi para casa, preparar a bagagem e se despedir dos pais. A despedida seria difícil, pois o jovem sabia que nenhum dos dois concordaria com essa viagem. No entanto, naquela altura, Yuurando não se via em posição de desacatá-las.

A casa de Hatsuki e Yutomaru, os pais de Yuurando, seguia um estilo diferente àquele que era predominante no distrito de Kakunodate. Apesar da pouca importância dada aos costumes na região, Hatsuki não se enxergava vivendo em regiões mais agitadas, o que fez com que ela e Yutomaru decidissem que era melhor ficar ali.

Quando o jovem adentrou a sala, viu os pais sentados no sofá assistindo ano noticiário. Ele notou que era a respeito da Operação Ilha 6853 e reparou nas expressões apreensivas nos rostos deles. Os dois desviaram a atenção do televisor por um momento para cumprimentar o filho.

Yuurando: Olá mãe, olá pai, voltei.

Hatsuki: Bem vindo de volta.

Yutomaru: Bem vindo. Tem novidades?

Yuurando: Bom, eu... Tenho que fazer uma viagem.

Hatsuki: Ah, sim; já esperava por essa e também já sei para onde você vai... E, já aviso, eu não aprovo isso.

Yutomaru: Alguns militares vieram aqui tentar convencer sua mãe a participar de uma reunião de chefes de estado. Pode ver que ela já está bem aborrecida com isso.

Yuurando: Então... Eu vim aqui dizer que recebi ordens de comparecer à reunião.

Hatsuki: Filho, eu vou direto ao ponto. Você é militar, mas está quase na idade de tomar suas próprias decisões. Por isso, por favor, não vá para essa reunião. Você estará lidando com gente perigosa e traiçoeira.

Yuurando: Eu sei, mas... Eu sinto que, se não resolvermos essa situação logo, o país inteiro estará em risco. Eu estou indo lá para proteger o Japão... E para proteger vocês também.

Hatsuki: Ainda acho que você vai se arrepender de estar fazendo parte desta corporação. Seria melhor sair de lá o mais rápido possível.

A mãe virou as costas para Yuurando e se retirou da sala, deixando-o apenas com a companhia do pai. O jovem não podia deixar de notar que ela estava triste. O que restava agora era conversar com o pai, já que Hatsuki não deu sinais de que voltaria.

Yuurando: Eu não entendo... Por que ela ainda não superou o que aconteceu quando era mais jovem?

Yutomaru: Ela não está simplesmente triste, meu filho. Ela está revoltada com tudo isso. A guerra, a intervenção do Japão, o programa de treinamento de jovens superdotados, a perda de Haruka... São feridas que nem alguém com poderes como os meus consegue curar. Ela vai carregar isso com ela para o resto da vida.

Yuurando: Acho que entendo...

Yutomaru: É melhor você ir arrumar sua mala e se despedir de sua mãe. Senão você vai se atrasar.

Logo após se aprontar, o garoto procurou Hatsuki pela casa inteira. Só foi encontrá-la no banheiro, mas a porta estava trancada. Quando se aproximou, ele ouviu um som estranho.

Yuurando: (Ela está vomitando?)

Ele hesitantemente bateu na porta. Pouco depois,  Hatsuki abriu a porta. Ela parecia um pouco abatida e estava ofegante.

Yuurando: Mãe?

Hatsuki: Oi, filho. Pode falar.

Yuurando: Vim de despedir de você. Está tudo bem?

Hatsuki: Sim, estou bem... Tenha uma boa viagem, querido.

Os dois se abraçaram, e ela o beijou na testa. Ela olhava em seus olhos e deu um sorriso repleto de nostalgia.

Hatsuki: Você cresceu rápido... Parecia ontem que eu te pegava no colo e preparava sua mamadeira...

Yuurando: Er... Por que está falando isso?

Hatsuki: Ah... Por nada... Só uma saudade passageira...

O veículo de transporte já estava pronto para levar Yuurando ao aeroporto. O pai do jovem havia reconhecido o motorista e os dois estavam numa conversa animada. Quando Yuurando chegou, o pai reparou na expressão preocupada no rosto do garoto.

Yutomaru: Algum problema, filho?

Yuurando: Acho que tem alguma coisa errada com a mamãe. Parecia que ela estava passando mal.

Yutomaru: Ah... Então, ainda é uma surpresa.

A cara sorridente de Yutomaru intrigava seu filho. Afinal, via de regra, não era natural ficar feliz por sua esposa passar mal.

Yuurando: Por que está feliz, pai?

Yutomaru, ainda sorridente, se aproximou mais do filho e deu uma palavrinha ao pé do ouvido dele.

Yutomaru: Parabéns, filho. Você vai ter um irmãozinho.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Crossroads - The Dark Hunters Chronicles" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.