Alguns segundos de espera foram necessários para o atendimento da chamada de Reddar. Todos os presentes esperavam ansiosos. O ruivo líder de Omsk mantinha sua compostura, esperando o momento em que a chamada seria atendida e que ele pudesse resolver de uma vez por todas as pendências com seu amigo.

David: Senhor, sei que é meio tarde para perguntar, mas... Tem certeza que quer fazer isso? Yoshimoto é um sujeito difícil de lidar...

Reddar: Não há outra maneira, David.

A tela espectral emitiu um clarão e revelou a imagem de uma mesa de escritório. Sentada numa cadeira, uma jovem de feições orientais observava, mantendo uma expressão intrigada no rosto.

?????: Aqui é a linha particular de comunicação de emergência do Herdeiro do Império do Grande Japão. Identifique-se.

Reddar: Aqui quem fala é Reddar, líder da cidade russa de Omsk.

?????: Responda; quem lhe deu permissão para ocupar essa linha, senhor Reddar?

Reddar: Permissão? Duas de suas aeronaves “ocuparam” o espaço aéreo de Omsk horas atrás. O símbolo da flor de cerejeira nas asas dessas aeronaves é prova incriminadora do envolvimento de vocês. Não quero parecer ingrato, pois a ajuda foi bem vinda, mas acho que seu líder passou dos limites da discrição. Acredito que isso já me serve como permissão para falar com o Herdeiro do Império do Grande Japão, senhorita.

?????: Compreendo a sua situação, mas isso não muda o fato que sem permissão você invadiu essa linha. Portanto, se me der licença...

A jovem já ia encerrar a ligação, quando a porta pesada do escritório onde estava se abriu. A pessoa que entrou no recinto disse em voz alta algo que Reddar não entendeu, mas um participante da reunião, se pondo como intérprete, explicou que ele aparentava estar animado por ter sido o melhor jogador numa partida de beisebol. A jovem secretária se virou na direção dele. E ele esbravejou com a moça.

!!!!!: Kagome... Por que diabos tem alguém na minha linha direta?

Kagome: Eu não sei como eles conseguiram... Eu já estava para despachá-los e...

!!!!!: Malditos hackers! Não têm o que fazer! Tá legal, eu assumo daqui...

Ele gentilmente empurrou a cadeira com rodinhas onde a jovem estava sentada e se debruçou na mesa, fazendo seu rosto ficar bem próximo da tela. Porém, sua irritação deu lugar a surpresa de ver um conhecido na tela.

!!!!!: Reddar? Não acredito! Você ainda tá vivo, amigão? Peraí, isso não é uma pegadinha daqueles espíritos malignos do meu guarda roupa, é?

Reddar: Não me venha com gracinhas, Yoshimoto! Hoje, suas ações passaram do limite!

Ryuji: É, acho que não é pegadinha. Você é o verdadeiro Reddar. Se fosse os espíritos malignos você estaria dizendo que eu preciso pagar pelos meus pecados e...

Ele então ignorou Reddar e falou algo discretamente à Kagome. Ela aparentemente respondeu com um pedido de desculpas. Depois, ele voltou sua atenção a Reddar.

Ryuji: Bom... O que posso fazer por vocês?

Reddar: Primeiro de tudo, o Japão sempre foi uma nação neutra com relação a essa guerra. Eu quero saber o que fez você mudar de ideia e colocar sua corporação no meio disso.

Ryuji: Oh, sim... Tenho vários motivos. Primeiro, esse conflito já está durando tempo demais, e eu resolvi que devemos colocar um fim nisso. Por isso, eu passei os últimos dois anos preparando tudo para tudo saísse nos conformes.

Reddar: Por acaso, essa ação foi ordenada pelo governo?

Ryuji: Por que eu precisaria esperar o governo mandar eu fazer isso? Não entendo sua lógica.

Ninguém na sala de Reddar conseguia acreditar em tamanha audácia. O jovem Ryuji Yoshimoto estava agindo apenas de acordo com sua vontade. E ele não parou por aí.

Ryuji: Segundo, me aproveitei do fato de minha corporação estar numa ilha à parte do território japonês para mostrar que os Estados Unidos precisam saber que eles não são imbatíveis e que há oponentes à altura deles. Portanto, eles que fiquem espertos.

Reddar: Certo, você já deu essa demonstração. Inclusive, quase matou alguns de meus soldados. Muito obrigado, sim?

Ryuji: De nada. Terceiro, e mais importante: Eu estava entediado.

Todos os presentes da sala de Reddar começaram a murmurar entre si. Reddar esperou um instante para mandar todos se calarem. Então, ele respondeu.

Reddar: Tédio? Quer que eu acredite que você atacou um exército por mero tédio?

Ryuji: Qual o problema? O que importa é que funcionou! Foi melhor que manipular um reality show para conseguir a atenção do povo! Além disso...

Kagome: Senhor, conseguimos já os dados de reconhecimento dos Meiyoku XV. As filmagens estão prontas para o senhor ver.

Ryuji: Certo. Me mostre primeiro as gravações dos agentes de campo. Quero ver a cara daquele Chriass. Me dá licença, Reddar?

Reddar promoveu um intervalo, autorizando a todos a saírem da sala, caso desejassem. Alguns acabaram indo embora, pois não suportaram a atitude do jovem Yoshimoto. Apenas David e Reddar permaneceram no local, conversando entre si.

Reddar: Eu não gosto do rumo dessa situação...

David: Também não, senhor. Acho que isso vai nos deixar ainda mais inseguros, pois os americanos irão querer retaliar.

Reddar: Francamente... Não sei o que fazer. Estou de mãos atadas. Não quero ter que lidar com uma situação dessas de novo.

David: Ainda está com Novo Edom em mente, senhor?

Reddar não respondeu; apenas ficou cabisbaixo.

David: Senhor, com todo respeito, Novo Edom já é passado.

Reddar: Errado! Novo Edom é a prova de que eu fracassei e que posso muito bem fracassar de novo!

A visão de um Reddar exaltado era algo bem raro e isso certamente deixou David receoso. Ele temia até o rumo que a conversa poderia tomar.

David: Desculpa, senhor... Toquei num assunto delicado...

Reddar: Não precisa se desculpar...

Ryuji: REDDAAAAAARRRRR!!!

O grito estridente do jovem libertou Reddar do devaneio, mas não diminuiu a sua irritação.

Reddar: Qual é o problema agora?

Ryuji: Eu vi uma filmagem da batalha entre Youth e Chriass. O gelado tomou um pau bonito! Quase estraguei o botão do replay!

Reddar: Hmph... Yoshimoto, modere essa língua, tá? O Youth deu o melhor de si.

Ryuji: Eu sei, oras; tanto que eu notei como ele é fera na espada. Inclusive me faz lembrar alguém... Claro, essa pessoa não está mais por aqui.

Reddar: Ah, ele te lembra de algum samurai? É isso?

Ryuji: Não, ele me lembra duma família em particular. As feições dele, entende? Só que ele é mais moreninho.

Reddar: Aonde você quer chegar?

Ryuji: Tenho uma proposta para Youth. Pergunte a ele para mim, se puder...

Reddar e David observavam Yoshimoto com um misto de intriga e curiosidade enquanto ele falava em voz baixa sobre a tal proposta.

Ryuji: Bom, deixo o resto com vocês. Sayonara!

Após encerrar a transmissão, o jovem Yoshimoto se dirigiu à janela de seu escritório, que ficava no andar mais alto da edificação onde estava. De lá, ele viu um rapaz de sobretudo preto sentado num banco em frente a um canteiro. O rapaz parecia entretido com o punhado de papéis que estavam em seu colo, lendo-os com demasiado interesse. Com um sorriso no rosto e certos interesses em mente, Yoshimoto murmurou para si mesmo.

Ryuji: Meu amigo... E se eu dissesse que você não é o único?