Duo Reality escrita por Warfighter


Capítulo 4
Capítulo 3- A nave do governo


Notas iniciais do capítulo

Já não é tão urgente as explicações aqui. Mesmo assim, se não as tivesse, o leitor ficaria um pouco confuso. Boa leitura!



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Capítulo 3

A nave do governo


Ela estava lá. Me olhando. Na minha frente. Queria tocá-la mas simplesmente não conseguia, parecia que havia uma barreira entre nós dois. Ela me olhava de forma intensa, mas haviam alguns momentos em que seus olhos pareciam se encher de desespero. Pegou uma flecha e atirou no meio do meu peito.

Acordei completamente suado. Minha cabeça latejava como se fosse explodir. Fora um sonho, mas eu tinha certeza que era real. Tinha o pressentimento de que, da próxima vez, ela não me olharia ou furaria a minha perna. Da próxima vez, ela me mataria.

Uma pessoa normal pararia de jogar. Eu não. Tinha de dar um jeito de vê-la. E não morrer.

O quarto ainda estava escuro, mas o relógio apitava: dez horas da manhã. Hora de, infelizmente, ir a escola.

A escola, não é essa onde você vai até um grande edifício, senta por horas em uma carteira dura e desconfortável e tem mais vinte pessoas igualmente entediadas sentadas nelas. Não. Cada aluno tem em casa uma sala. Nessa sala há uma grande tela. O governo manda os exercícios e se você tiver alguma dúvida, fala com o software.

Terminei os exercícios mais rápido do que jamais terminara. Sentei no tapete e peguei o console. Não havia jeito de desmontá-lo. “ A internet.” pensei.

Quando eu abri a janela, apareceu a seguinte mensagem: “Esse computador é vigiado pelo governo.”

–Porcaria!-xinguei alto. Por que nada era do jeito que meus tataravós conheciam? Na época deles, o governo administrava o país. A casa era sua, a escola era sua, a internet era sua e o videogame era seu. Agora, não só tudo isso é deles, como também a sua vida. Literalmente. “ Se o governo não estiver feliz com seus atos, filho, ele não irá tentar conversar como eu e sua mãe fazemos. Ele irá te matar.” dissera meu pai antes de morrer. Tudo era tão mais fácil com ele... Com certeza saberia o que fazer. Mas eu não o tinha. Era apenas eu e minha confiança.

Estava nervoso. Eu não era amador, claro. Já havia hackeado vários programas. Mas nenhum tão complexo como o Duo Reality.

Não havia mesmo como desmontar o console. Já estava desistindo quando apareceu na pequena tela: “ Robert531 agora on-line.” Havia algo formigando em meu cérebro, então, resolvi vê-lo. Coloquei o capacete e fui até onde ele estava.

Era um parque muito bonito. O dia colaborava com isso, o céu estava azul, mas haviam algumas nuvens alvas pairando delicadamente. As árvores farfalhavam com o vento, e usuários de todo o tipo se divertiam. Avistei Robert rapidamente.

Ele estava sentado em um dos bancos alimentando pombos. “Tem algo errado” pensei logo que o vi. E então cheguei mais perto e percebi o que era. Fiquei estupefato. A XP dele estava em 1.000.000.000. Não era possível.

–Como conseguiu isso? - perguntei a ele, o assustando um pouco.

–Só uma coisinha...- respondeu Robert sem jeito.

–Estou vendo.- falei sarcástico.

–Quer mesmo saber?- ele perguntou com uma voz chorosa- eu invadi a central do governo!- e começou a soluçar baixinho. Bom, e qual era o problema? Tentara fazer isso o dia inteiro, mas sem sucesso. Tinha de falar com ele sobre isso, mas não agora. Tentei consolá-lo:

–Calma, cara. Hackeam jogos todos os dias.

–Você não entende- falou Robert, agora um pouco mais calmo- esse jogo é do governo.

Não aguentei:

–E daí?

–E daí que meu pai...

Mas ele não conseguiu terminar a frase. O céu límpido e azul se transformara em um cinza chumbo medonho. Todos os usuários que estavam ali deram um salto para trás quando uma enorme nave apareceu de repente; e o símbolo do governo gravado nela: uma esfera, metade sol, metade lua. O mundo é dividido e duas partes: o governo ocidental e o governo oriental. A parte do sol em nossa bandeira significa nosso governo, o ocidental. Parece que eles querem dizer que aqui é melhor do que lá. Ninguém sabe como o lado oriental realmente é, mas há boatos de que as pessoas são livres. Mas se arriscar indo, é como querer morte na certa, suicídio. Se você nasce em um governo, tem que viver sua vida toda nele. As pessoas nem se arriscam no Duo Reality tentando ir até a fronteira,conhecida antes da divisão, como meridiano de Greenwich, na época dos meus tataravós. Hoje em dia, o nome é apenas “fronteira”.

Mas o caso era: eu tinha quase absoluta certeza o por quê daquela nave estar ali. Por causa de Robert. Aviste-o. Seus olhos profundamente negros refletiam o símbolo do governo. Estava hipnotizado. Decidi sem hesitar que precisava levá-lo a um lugar distante. “A fronteira” foi o primeiro que me veio a mente. Segurei forte seu braço, e fomos levados a quilômetros de distância de tudo que conhecíamos.

Chegamos a uma formação rochosa de frente para um longo e brilhante rio. Já era noite, não podíamos começar uma caminhada. Robert já havia acordado de seu transe e se pôs a chorar no momento em que me viu. Entramos em uma caverna próxima, ele se sentou e continuou em sua tristeza.

–O que é isso? Quer que o governo descubra que estamos aqui?- uma voz feminina disse.



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