Haviam se passado malditos dois dias. Dois dias horríveis. Dois dias com a Jade dentro de um hospital. Dois dias com a Tori me irritando. Dois dias sabendo que do mesmo jeito ela me traía com André. Dois dias sem as loucuras da Cat. Dois dias me considerando um miserável. E por fim...

Eu precisava falar o que estava acontecendo, precisava desabafar... Mas com quem?

Tori.

Ela era a primeira pessoa em que eu pedia conselho, quando algo acontecia comigo e com a Jade. Tori sempre foi minha melhor amiga, mas neste caso, ela é minha namorada que me traí e que eu nunca cheguei a amar de verdade. Eu não posso falar o que está acontecendo com a Tori, isso vai ser uma loucura. Não dá. É antiético.

André.

Quando eu não conhecia a Tori, ou ainda se era impossível falar com ela. Eu tinha o André. Verdadeiramente o cara que preenche o lugar do meu melhor amigo há cinco anos. Mas o que eu falaria para ele? Que eu ainda amo a minha ex que é namorada dele? Não. Isso não poderia acontecer.

Cat.

A Cat é a Cat... Sim, podemos contar coisas a ela, desde que não sejam muito, muito, importantes. Ela pode falar para qualquer um no nosso grupo, ela é muito ingênua para entender algo. Eu realmente, desta vez, não posso contar com a Cat.

Robbie.

Minha última opção. Droga. O Robbie não é muito apropriado para isso, mas ele tenta... Embora, eu não me vejo pedindo um conselho, ou falando sobre minha vida particular a ele... Realmente. Mas, ele é a minha última e única opção por agora...

Eu devo fazer isso.

Suspirei quando avistei o cara de cabelo cacheado andando desjeitosamente pelos corredores. O chamei com um aceno de mão. Ele veio até mim, sorrindo.

- Olá Beck.

- Oi Robbie... – Olhei ao redor. – Posso falar com você?A sós?

- Uh, claro... – Ele disse. O levei até o Teatro. Estava vazio, sempre está... Chegando lá, me sentei no palco e escondi meu rosto com minhas mãos.  – O que foi, cara? – Ele pareceu preocupado.

- Bom, é... A Jade. – Eu falei.

- O que aconteceu com ela? Ela já saiu do hospital? Já teve alta pelo menos? – Ele perguntou, se sentando ao meu lado.

- Não, Robbie... Ela ainda está se recuperando. – Eu suspirei. – Mas, não é sobre isso.

- É o sobre o que então? – Ele me interrompeu.

- Eu iria te falar antes de você me interromper. – Fui grosso, eu não queria, mas... Eu estava perdido.

- Oh, tudo bem... – Ele ajeitou os óculos.

- Bom, - Suspirei. – Eu acho que você já sabe que eu não gosto da Tori. Não gosto de verdade dela.

- É, eu sei. – Ele também suspirou. Levantei minha cabeça e olhei com descrença para ele. Como assim ele sabe?

- É tão óbvio? – Perguntei.

Ele assentiu com a cabeça lentamente. – Você realmente não se importa que ela te traia com o André, não é?

- É... – Dei um tempo. – Espera, quem mais sabe que eu não gosto dela e que não ligo de ver ela me traindo?

- Uh... – Ele pareceu fazer uma conta matemática com a cabeça. – Eu, a Cat, o André, a própria Tori, o Sikowitz, a Helen,alguns amigos góticos da Jade, o grupo de jogadores de futebol.... Hã, a escola inteira.

- Sério? Como pode ser tão óbvio? – Eu perguntei, indignado.

- Bom, dá para ver nos seus olhos. Você realmente não tem “aquela coisa toda” com a Tori, do mesmo jeito que tinha com a Jade. E André e Tori, estão sorrindo de mais, andando juntos de mais, estão sendo “Melhores Amigos”, e até mesmo a Trina diz que eles estão em uma amizade colorida, e  que você só fica com a Tori, para aguentar ficar longe da Jade.

- Oh... – Respirei fundo, processando que... A escola toda sabia mais da minha vida pessoal do que eu mesmo. – Não tem chances de isso ser apenas boatos?

Robbie balançou a cabeça negativamente. – De jeito nenhum. É óbvio demais.

- Ah... Eu acho que um obrigado, Rob. – Toquei em sua costa,o cumprimentando com um aperto de mão.

- De nada. – Ele parou e pegou seu celular do bolso. – Oh, é a KittyKat, ela está me chamando... Preciso buscar ela. – Ele disse sorridente ao falar sobre a Cat, sorri e nos despedimos. Ele foi embora do Teatro. Sentei-me novamente na beirada do palco.

Agora, era apenas eu e meus pensamentos.

Todos estavam juntos, e felizes.

Mesmo Tori e André. Juntos. Traindo eu e Jade.

Isso estava se tornando impossível, é a Jade estava certa...

POV Tori.

- Ah, tudo bem Robbie. Estou indo lá! – Acenei animadamente e corri para o Teatro. Beck estava lá,  e eu precisava falar com ele.

Não, não vou terminar com o Beck, pobre coitado... Isso não seria justo, ele precisa de apoio agora... Eu acho.

Abri a porta do Teatro, e sabe o que eu encontrei? O Beck, chorando? Talvez sim... Ou não. Sim. Ele estava chorando.

Isso corroeu meu coração. Eu não aguentava o vê-lo assim. Talvez, ainda estar junto a ele, só estava dando mais problemas do que o ajudando de verdade.

Eu queria tanto que a Jade estivesse aqui, para eu poder terminar de uma vez com ele e poder assumir para todos o meu namoro com o André...

Mais eu sabia que até a Jade voltar, seriam longas semanas de esperas e sofrimentos.

- Olá... – Disse suavemente, me aproximando dele. Ele levantou rapidamente, enxugando as lágrimas e forçando um sorriso.

- Olá amor...

- Por favor, Beck, para com isso. – Fui até ele. – Isso só deixa as coisas piores ainda.

- Hã, mais o que? – Beck se fingiu de desentendido, e droga, ele é um bom ator!

- Você e eu. Não te amor nenhum. – Me sentei ao seu lado, passando as mãos em sua costa. – Tudo bem, eu não vou te deixar até a Jade chegar.

Ele sorriu, agradecido. – Obrigado, Tori. Você realmente é uma amiga especial.

- Eu sei! – Sorri animadamente. – Mas agora, você não pode continuar acabado assim. Por favor, continue assistindo as aulas, e no final, eu te levo para ver a Jade. Tudo bem?

- Claro, sim e obrigado. – Ele me deu um beijo na testa. – Eu não sei o que eu faria sem você.

- Ow, de nada! – O abracei. – E agora? Quer que eu conte o que realmente está acontecendo comigo e com o André...?

Ele suspirou. – Uhm.

- Bom, lembra-se daquele dia de tempestade? – Beck assentiu. – Eu e André nos beijamos,na verdade, ele havia me beijado e eu continuei. Começamos um namoro escondido, Beck... Nos amávamos. E por medo, continuamos junto com vocês. Então, quando a Jade bateu o carro, bêbada, sentíamos que eu não poderia deixar você, pois você precisava de apoio. E a cada dia mais, o André passava menos tempo no hospital ao lado dela, para ficar as tardes comigo. Desculpe-me.

Ele sorriu. – Tudo bem.

- O que? – Senti minha alegria voltando com tudo. – Como assim?

- Está tudo bem, eu entendo. – Eu suspirei, em alívio. Ele riu de mim.

- Achou que eu me zangaria? – Beck me perguntou.

- Eh, não... Tá legal! Sim, é claro que eu achei! – Sorri. – Aw, amo você maninho!

Ele sorriu. – Também te amo, maninha.

E então, eu tive a certeza de que voltamos a nossa perfeita amizade. Tratando-nos como irmãos que nunca tivemos.

Sorri, parece que minha vida está saindo da pior... Aquela sensação era boa.

Obrigado, Beck.