As Quatro Casas De Hogwarts - Ano 2 escrita por Larissa M


Capítulo 6
Capítulo 6 - Dois Uísques de Fogo


Notas iniciais do capítulo

olha, o nome do capítulo é meio diferente né, mas é que eu não consegui pensar em outro melhor, e achei que isso ficava bom como nome de cap. Vcs vão entender o significado dos uísques no final.



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Ellen não seguiu diretamente para sua aula de História da Magia, tampouco. Ela correu de volta para sua sala comunal, sem nem querer olhar ao seu refor para ver a fria e nem um pouco aconchegante masmorra. Sua sorte foi que a turma de Daniel já havia entrado para a aula de Poções, e não havia resquício de nenhum deles pelo quieto corredor.

Alice tentara parar Ellen antes de ela sair do Salão Principal, mas a vergonha e o arrependimento falaram mais alto, e a amiga não deu ouvidos a outra. Queria ficar quieta e sozinha, mas sabia que se o fizesse iria começar a jogar a culpa, erroneamente, nela mesma. Contraditoriamente, queria organizar seus pensamentos, e resolver o que faria, e como seria o treino de sábado...

Alice ficara para trás no Salão, junto dos outros meninos. Ellen não sabia para onde Daniel fora, mas esperava que fosse para sua Sala Comunal. Ela mesma estava retornando para lá às pressas pelo corredor. Não sabia o que faria quando chegasse lá, mas qualquer coisa seria melhor do que aguentar dois tempos do torpor que era a aula do professor Binns. Seria um risco encontrar com um monitor pelo caminho, mas Ellen nem pensou no assunto enquanto andava.

Chegando a Sala Comunal da Sonserina, disse sua senha sem pensar, entrou para o local, e estacou no mesmo lugar. Não sabia o que faria a partir dali. Por sorte, o lugar aparentemente estava vazio. Tremendo de frio ou emoção, não saberia dizer (isso só a fez lembrar do comentário de Daniel), Ellen caminhou com passos certos para a lareira, pronunciando as palavras que conjuraram chamas azuladas para compor o antes vazio espaço na lareira. Ellen as achava mais charmosas do que as chamas avermelhadas.

Antes que a garota pudesse tomar um dos lugares da sala, surpreendeu-se ao notar que era observada por um par de olhos azuis semelhantes às chamas da lareira, sobressaindo por cima do encosto de uma poltrona, indagadores.

- Ellen! – o rosto de Aaron Fisher apareceu por sobre o encosto, iluminando-se com a presença da amiga.

- Aaron! – ao contrário da voz dele, a de Ellen estava carregada de alívio e espanto, pois por um momento se assustara com o garoto. Logo emendou: - O que está fazendo aqui? Não tem aula agora?

- Pergunto o mesmo a você. – ele respondeu. Não notara a aura de tristeza que Ellen deixava transpassar por seu rosto e seus gestos.

- Ah, eu estou matando aula de História da Magia. – ela respondeu sem pestanejar. Com um audível suspiro, tomou um lugar no sofazinho de veludo esverdeado, em frente à lareira, e se pôs a olhar as chamas recentemente conjuradas.

- Matando aula? Ellen! E se o professor da sua falta?

- Holy inventa uma desculpa qualquer pra me proteger. De qualquer jeito, Prof. Binns não enxerga os alunos. Ainda não teve aula com ele? – ela perguntou, e ele meneou a cabeça em resposta. – Bom para você.

Ainda sentindo frio, Ellen se aproximou mais da lareira, a fim de se aquecer com as chamas. Saiu do sofazinho e sentou no chão em frente a própria.

- Mas o que você está fazendo aqui? – ela perguntou para Aaron. Não havia mais ninguém do primeiro ano por ali.

- Eu não tenho aula agora. – ele respondeu, sério.

- E porque não ficar com seus amigos? Eles devem estar lá fora... né?

Ele concordou mais uma vez com a cabeça, mas não respondeu a primeira pergunta. Ellen voltou seu olhar para as chamas, e quase se esqueceu da presença de Aaron atrás de si, devido ao silêncio que fazia.

- Prefiro aqui embaixo. – ele respondeu por fim.

- Não acha a masmorra demasiado fria? – ela perguntou logo depois.

- Não. É aconchegante. – ele respondeu.

Ellen se virou para trás, e encontrou os olhos incrivelmente azuis de Aaron.

- Aaron, eu briguei com Dan. – ela falou de repente. Nem ela mesma sabia por que escolhera aquele momento para dizer-lhe isso. Os olhos azuis deixaram de encarar as chamas e se fixaram no rosto de Ellen. Aaron se repreendeu por não ter percebido que havia algo errado com Ellen antes.

- O que? Com Daniel, aquele Grifinório?

- Isso. – ela respondeu. – Nós começamos a discutir no Salão, foi agora há pouco... Nem sei como, nem porque, a briga começou. Acho que Daniel ficou insatisfeito com algo que eu disse, porque não escolhi as palavras direito, e a partir daí passou a me acusar...

- Sem motivo?

- Eu estava defendendo Prof.ª Norien primeiro. Ele chamou as masmorras de lugar frio e nem um pouco aconchegante... E reclamou da aula dela. Reclamou não, falou mal da aula e dela. Eu a defendi.

- Mas isto não é motivo para brigas... – Aaron falou, um pouco sem sensibilidade.

- Eu sei que não é! Foi algo tão repentino, infundado! Eu disse coisas inconsequentemente, e Daniel as interpretou do pior modo possível. – ela cobriu o rosto com as mãos, se arrependendo.

- Mas Ellen, do jeito que está falando, não foi tudo sua culpa.

- Foi. – ela respondeu. Era do tipo de pessoas que abstraiam a culpa, especialmente de uma briga, toda para si. Acreditava que fora ela o porquê da briga, e seu remorso a corrompia. Já pensava num modo de concertar as coisas entre os dois.

- Não foi. – Aaron respondeu convicto. Mesmo que não tivesse estado lá, conhecia Ellen desde mais jovem ainda, e sabia desse jeito dela de levar a culpa para si. – Pare de se culpar. O que exatamente ele disse?

Ellen contou as palavras de Daniel para Aaron, mesmo que não quisesse revê-las, sabia que ele poderia ajudar.

- Hm... Acho que com algumas sinceras desculpas isso está concertado.

- Mas como é que eu vou me desculpar sinceramente se a culpa supostamente não é minha? – Ellen perguntou, querendo deixar Aaron cair na contrariedade.

- Mas o amigo é seu. – ele respondeu sem parar para pensar. – Porém a culpa é dele. Estava me dizendo que ele tem que largar o orgulho e se desculpar.

- Eu não vou ficar sentada esperando Daniel vir falar comigo. – ela completou mentalmente: mesmo porque a culpa não é toda dele.

- Então vá falar com ele. – disse Aaron, simplesmente.

- Eu não faço ideia de onde ele está... E se ele não quiser falar comigo? E o treino de sábado? E se ele não entrar no time porque não praticou porque brigou comigo?

Ellen respirou fundo e cessou a fala. Surpreendera-se com si mesma. Sua rapidez e todas as questões que a assombravam em mente há poucos minutos.

Aaron se permitiu um sorriso, achando graça da situação.

- Calma. Vamos resolver.

O modo como ele falou vamos e não você vai foi o que mais reconfortou Ellen desde a briga.

Longe dali, outros problemas tinham lugar no castelo. Outros problemas, infelizmente, envolvendo amizade. No caso em especial, traída.

Scott Stuart acabara de lecionar mais uma turma de alunos, desta vez do primeiro ano. Era sempre mais fácil ensinar quando se tratava de novatos, pois a atenção que lhe era dada era incrivelmente superior do que os mais velhos. No entanto, Stuart tinha que aturar todos os erros de principiantes cometidos em sua aula de Feitiços, o que ele fazia bem. Era conhecido por sua paciência. No entanto, ele já havia presenciado uma série de casos que valiam a pena serem lembrados.

A turma em questão fora como qualquer outra, sem nada fora do comum. Scott permanecera em sala, porém, após a aula. Em poucos minutos receberia os alunos do terceiro ano no mesmo local.

Um pouco entediado, se levantou de sua escrivaninha ao fundo da sala e seguira para a janela, a fim de observar os terrenos de Hogwarts. Ao longe, no campo de Quadribol, via pequenos vultos indo e vindo. Sua janela dava diretamente para o local, elevada andares acima no castelo, e permitia até que Stuart visse uma parte do gramado por sobre as arquibancadas. Em contraste com a cor do chão, parecia, ao longe, ser o vermelho da Grifinória no uniforme daqueles jogadores. Stuart sorriu ao ver que era sua casa que praticava no campo.

Sobressaltando-se, Stuart ouviu a porta da sala abrir, e automaticamente virou o olhar para lá. Do outro lado da sala, Charles Hunnigan adentrava a sala sem ser convidado, e vinha com passos rápidos até onde Stuart estava. O outro, animado com a presença de Hunnigan, disse-lhe, ao permitir-se um sorriso:

- Recebeu minha carta, Charlie? Mandei-a há tanto tempo, no início das férias, no entanto não recebi resposta. Creio que gostaria de me dá-la agora, estou certo?

- Quase. – Hunnigan respondeu, parando a poucos metros do outro. – Bem, eu não vim dar-lhe uma resposta, está mais para um... Aviso. Gostaria de dizer também que sua carta agora não passa de cinzas na minha lareira, deixadas aos cuidados do tempo, e até quando eu resolver dar um fim nelas. Mas, sabe, meu amigo, a carta me pareceu muito mais bonita num tom acinzentado de mil partículas do que inteira, e especialmente carregando as palavras que carregava.

Stuart recebeu o golpe com um sorriso, porém por dentro se deixava abalar apenas um pouco. Deu o troco na mesma moeda:

- Passou as férias pensando num modo de me ofender com palavras, não foi? Porque é o máximo que pode fazer, do mesmo jeito.

- Fala como se você tivesse coragem para mais. Foi ou não foi com palavras que primeiro começaram as suas ofensas dirigidas a mim, Stuart?

- Lá no tempo em que você me chamava de Scott, não é mesmo? – o sorriso ainda não saíra do rosto de Stuart. Com o passar dos anos, fora colocando um ar um tanto sádico no rosto dele, mas que quase nunca era notado pelos outros. – Pois é, devo admitir que foi realmente assim que começou... Porém, não fui nem um pouco covarde. – Scott admitiu uma expressão de orgulho ferido, mas logo depois riu de si mesmo, admitindo para Hunnigan: - Talvez um pouco.

- Vinte anos, Scott. Vinte. – Hunnigan enfatizou. – E você me pede algo daquele patamar.

Scott riu, andando pela sala, se aproximando novamente da janela.

- Charlie. Olhe os jogadores. – Stuart disse, apontando para os alunos que não passavam de vultos coloridos. – Um dia estivemos lá.

- E um dia eu deixei de estar. – disse Hunnigan, apenas se aproximando um passo de Stuart. – Scott, eu deveria ter lhe escrito uma carta. Não agora; não anos depois, quando nos reencontramos no mesmo local, mas no corpo docente, não discente. Eu deveria ter lhe perguntado porque, logo naquela época.

- Não é possível que ainda me culpe por aquilo. – Stuart se virou para Hunnigan; dessa vez o espanto em seu rosto era verídico.

- E você tem a audácia de dizer que não foi culpa sua? – Hunnigan aumentou o tom de voz, apontando para o campo de Quadribol.

- Grifinórios são audaciosos, o que eu posso fazer? – o sorriso sarcástico de Scott já fora partilhado por Charles, mas agora lhe causava raiva.

- E aqueles da Corvinal são espertos. Por isso não tente me enganar com esse seu charme, porque eu sei que por debaixo dessa máscara de sarcasmo e desses sorrisos você sabe da verdade, Scott. Sua coragem e seu orgulho o impedem de me ver as coisas direito.

- Muito pelo contrário, meu caro Charlie. Mas vou fingir que você não me ofendeu nem um pouco e seguir com isso... O que você quer que eu faça?

Ignorando o sarcasmo novamente, Hunnigan respondeu:

- Duas coisas: diga-me o porquê; e diga-me o que você queria com aquela carta.

- Mas não fui explícito o suficiente? Eu queria realmente que parássemos com essas bobagens, assim como o velho Oliver nos instruiu, e continuássemos como dois adultos que lecionam em Hogwarts.

Foi a vez de Hunnigan rir. Ainda com o sorriso no rosto, disse:

- Eis a minha resposta, o que você estava esperando: não. Desculpe-me, Scott, mas para isso foi precisar de duas garrafas de uísque de fogo de Madame Rosmerta. E por acaso, há tempos que não vou ao Três Vassouras.

- Saudades? Ou isso seria um convite para mim? – Stuart perguntou, parte de brincadeira, parte sério.

- E por que não? É claro, o uísque vai ficar na prateleira, tanto para mim quanto pra você, mas eu gostaria de obter respostas de você.

- A curiosidade matou o gato, Hunnigan. – Stuart respondeu, com uma sombra perpassando por seu rosto.

- E pode-se dizer, de certo modo, que o orgulho excessivo matará também.

Stuart cruzou os braços, refletindo.

- Eu aceito. Dou-lhe respostas, mas você paga as bebidas. Além do mais, não fará mal se esses boatos chegarem aos ouvidos de um certo Oliver...

- Não quer enganar o diretor, quer?

- Se isso for deixa-lo quieto, gostaria. – o rosto de Stuart admitiu uma expressão de impaciência. – Não gosto nem do Lavoisier mais novo. Me lembra muito você.

Hunnigan sorriu, e notou que os alunos saíam de suas salas, prontos para entrar a qualquer momento para ter aula de Feitiços.

- Muita sorte minha que não tenho nenhum aluno igual a você.

Hunnigan virou as costas para o outro homem, enquanto a turma de alunos da Corvinal do segundo ano adentrava o recinto.

Alice estranhou a presença de Hunnigan na sala de Prof. Stuart, ainda mais com aquele sorriso, que ela não soube interpretar, no rosto. O professor encontrou o seu olhar ao passar por ela, e pareceu reconhecê-la. Deu um breve aceno de cabeça, com o sorriso já fora de sua face.

Alice seguiu em frente, e foi tomar o seu lugar, sem saber o que pensar do professor. Pensativa, ela se sentou numa carteira em que não havia ninguém ao seu lado e guardou um lugar para Ellen, caso ela viesse. Não a vira desde o momento em que se separaram no Salão Principal. Depois, se pôs a estudar Stuart. Parecia feliz demais para ter encontrado com Hunnigan.

Enquanto os alunos chegavam, Alice alternava entre avaliar Stuart e olhar nervosamente para trás, a procura de Ellen. Não tardou muito, a garota chegou, trazendo a mesma expressão de tristeza no rosto que tinha quando saiu do Salão Principal.

- El, você está bem? – Alice perguntou enquanto a garota se sentava. Ao notar a expressão dela, se corrigiu. – Ok, foi uma pergunta idiota, desculpa.

- Nem tanto. – Ellen suspirou. – Definitivamente estou melhor do que antes.

- Mas não completamente...

- Oh, você sabe que eu preciso remendar essa besteira que eu fiz pra me sentir bem de novo.

- Sim, eu sei. Eu não se repudie por isso, El. Daniel teve sua parcela de culpa, ou melhor, quase toda a culpa. Foi errado o que ele fez. – Alice falou, na esperança de reduzir a tristeza de Ellen. – Eu vou dar um toque nele, se você quiser.

- Não precisa, Alice, senão ele pode brigar com você também...

- Vou tentar ser imparcial, prometo. – ela falou num tom tranquilizador. – Naquela hora você foi para sua Sala Comunal?

- Onde mais? – Ellen perguntou, e, enquanto retirava os materiais necessários da mochila, ia contando seu encontro com Aaron na sala comunal da Sonserina. Contou também como era estranho ele estar lá embaixo aquela hora, e Alice achou que era porque ainda não havia feito amizades muito bem. Porém, não falou nada com Ellen; o assunto principal ainda continuava sendo a briga com Daniel.

- Ellen, eu sei que é difícil esquecer um pouco a briga com Dan, mas faça isso, pelo menos. É ruim ver você em agonia.

Ellen sorriu perante a lealdade que a amiga demonstrava.

- Vou tentar. – ela falou. – Alice, me lembre de nunca, mas nunca mesmo, levantar a voz com você.

- Bem, é difícil fazer uma promessas dessas, mas é claro que eu vou tentar. E o mesmo vale para você.

De repente, Ellen se lembrou de um dia no ano passado, em que dissera exatamente a mesma coisa para Dan. Ela se lembrava perfeitamente, e as memórias vinham numa enxurrada, inesperadamente, e dolorosamente.

– O que foi? – ele perguntou – Pode falar.

– Eu ia perguntar se você poderia me prometer que nunca ia brigar comigo.

– Isso eu não posso te prometer.

Ellen olhou para ele, imaginando se algum dia iria se desentender com ele.

– Mas outra coisa eu posso te prometer: – ele continuou – Se algum dia nós brigarmos, eu prometo que farei de tudo para que nós possamos nos falar de novo.

Ellen sorriu.

– Nós nunca deixaremos de ser amigos. – ela completou.

Ele fará de tudo para que nos falemos de novo. Ela pensou. Não parece ser o que ele fez agora... Ellen suspirou, ainda mais desanimada. Porém, se lembrou se outra frase de Daniel, daquele mesmo dia: Até melhores amigos se desentendem, às vezes.

Ellen desviou o olhar para a janela, pensando em como ele estivera certo. E em como ela faria o que poderia para concentrar isso e ir ao treino de Daniel no sábado. 


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Notas finais do capítulo

e então, gostaram? um mistério revelado, ao menos. n deixem de comentar!