Influence escrita por jbs313, ArthurLenz


Capítulo 16
The Cost of Deception




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Apesar da necessidade constante e, por vezes esmagadora de Santana para humilhar Quinn, ela não levou a noticia a publico de que Finn não era o pai do filho de Quinn. Poderia ser o inicio de decência humana, a incapacidade de chutar uma colega Cheerio enquanto ela estava para baixo, mas eu sabia que se tratava mais de proteger a própria imagem do que a imagem de Quinn. Puck estava com ela durante o acontecido. Ou, pelo menos era o que ela dizia para si  mesma e para quem quisesse ouvir. Puck pertencia a ela, mesmo que apenas fisicamente.

Seu alívio por não ser a “vitima” da gravidez já tinha se esvaído, provavelmente, também um fator. Sua reação inicial à notícia - relevo em vez de raiva - tinha me feito pensar, antes de tudo, o que ela teria feito se estivesse no lugar de Quinn. Se isso não acendeu nenhum pingo de empatia, eu não sei o que faria.

"É apenas uma questão de tempo até que alguém diga alguma coisa," ela bocejou. "Você tem alguma ideia de quanto esses perdedores do glee gostam de fofoca? Jesus. Se eles cantaram a metade do que eles fofocam, já teríamos as nacionais ganhas."

Uma semana antes das sectionals, quando os níveis de estresse eram os mais altos possíveis depois de toda a confusão que nomeou Mr. Schue novamente diretor do coral, Santana estava fazendo seu melhor para se manter calma, enquanto Glee se rasgava por dentro. Sue, apesar de seus melhores esforços, ainda não havia colocado o clube abaixo. Mas o drama interno sobre o segredo de Quinn e a ignorância de Finn eram o suficiente para acabar com o estado de paz algumas vezes. Quando suas melhores intenções vão completamente contra a dos outros membros é difícil manter a "alegria" em qualquer lugar que seja. Passamos semanas na ponta dos pés em torno uns dos outro, fazendo o nosso melhor para não deixar transparecer que todos nós sabíamos. Era desmoralizante viver com todas essas mentiras ao meu redor. Suas mentiras eram de segunda mão, enquanto as minhas inflamavam silenciosamente sobre minha pele.

Quando Rachel começou a juntar as peças, os poucos que ainda estavam fora dessa historia fizeram o máximo para manter a historia em segredo. Puck estava tornando isso muito mais fácil para Rachel, fazendo uma guerrinha de comida com Quinn na sala de economia doméstica. Todo mundo tinha o visto saindo da sala todo sujo de açúcar, farinha e ovos, seguido de perto por uma Quinn coberta por chocolate em pó e um Finn confuso como sempre. Sutileza não era o seu forte, e o fato de que Rachel e Finn foram os últimos a saber sobre a situação de Quinn não era lamentada por nenhum de nós. Nós sabíamos que um segredo dessa natureza não se escondia por muito tempo, e entre os seis de nós com interesses em ver o sucesso do Clube Glee, mantivemos nossos pensamentos baixos, enquanto esperávamos que a gota final caísse.

Santana e eu nos encontraríamos em nossos armários entre a 3ª e 4ª aula, para que ela pudesse verifique se eu havia pegado todos os livros que precisaria. Ela estava arrumando meu cabelo, colocando minha franja atrás da orelha quando vimos Rachel chegar a seu armário, que era pouco distante do meu. Ela estava resmungando algo sobre Puck, o que despertou o interesse de Santana. Sua mão tremeu na minha orelha enquanto ouvia Rachel sem se meter. Tentei chamar sua atenção, tocando seu ombro, mas ela me ignorou, seus olhos fixos em nossa colega enquanto ela continuava a murmurar coisas sem sentido para seu armário aberto.

“Santana, você esta bem?”

Ela acenou com a mão e casualmente se encostou aos armários, cruzando os braços sobre o peito e tomando seu brilho irônico, acompanhado por lábios apertados e franzidos.

"E aí, Treasure Trail?”, perguntou ela, tirando Rachel de sua conversa privada. "Quando vai voltar pra Tailândia? Espero que breve. Eu tinha certeza que o Schue tinha prolongado as férias depois de ver os outros brinquedos que ele trouxe de lá."

Rachel levantou a cabeça, arregalando os olhos quando percebeu que Santana estava se dirigindo a ela. Sua boca se abriu e fechou por um momento antes de balançar a cabeça na tentativa de limpar seus pensamentos e respondeu não se rebaixando a necessidade de Santana de humilhá-la sempre que possível.

"Santana", disse ela, reconhecendo a minha melhor amiga e ignorando a minha presença tudo ao mesmo tempo. "Eu estou muito interessada por você estar falando comigo e pelo assunto que se segue, mas eu vou me atrasar para a aula. Já estou saindo."

Santana parou na frente dela quando ela tentou sair sem reunir todas as coisas necessárias ara sua aula.

"Espere um segundo, Berry", disse ela, segurando sua mão para parar a morena menor. "Você estava falando sobre Puck agora. Você estava falando sobre Puck para si mesma, isso não importa muito, mas eu ainda estou interessado em saber o que você tem a dizer sobre o meu homem. "

Eu fiquei atrás de Santana, vendo o percorrer do diálogo sem interferir. Eu sabia o que Santana estava querendo, mas Rachel ainda não tinha ideia do que estava realmente acontecendo. Em vez de chamar a atenção para mim, pelo fato de que eu era muito alta, me encostei-me a meu armário agora fechado e apenas observei. Rachel gaguejou por um momento antes de suspirar e de se voltar para o armário dela, percebendo que Santana não iria permitir que ela saísse sem arrumar confusão.

"Não é nada", respondeu Rachel despreocupadamente, embaralhando os papéis em sua bolsa para dar espaço para seu livro de geometria. "É só ..."

Ela parou, tentando avaliar se seriamos ou não receptivas ao que ela tinha a dizer. Você podia ver as engrenagens girando em sua cabeça enquanto ela tentava formular seus pensamentos em uma teoria que fizesse sentido. Você poderia dizer que ela estava tentando muito não dizer nada, até este ponto, mas suas paredes estavam cedendo.

"É que eu tenho notado que Puck vem se comportando de forma estranha em torno Quinn estas últimas semanas", continuou ela. "Você percebeu  isso também?"

Santana inclinou a cabeça para o lado, seus olhos se estreitaram quando ela fez seu melhor para fingir que não sabia de nada. "Eu não sei do que você está falando, Berry. Então você pode ser um pouco mais clara? O que exatamente você esta tentando dizer?"

Rachel deu de ombros com indiferença e empurrou seu livro em sua bolsa, mas se percebia que ambas as suas mãos tremiam. "Eu só quero dizer que eu acho que tem algo acontecendo entre Puck e Quinn. Ele passou muito tempo com ela recentemente, e ele não é muito sutil sobre o fato de que gosta dela, e mais do que apenas como um amigo. Eu só acho que, por Finn, alguém deveria dizer algo antes que isso acabe muito, muito mal.”.

Era óbvio para mim e Santana que não havia como tirar Rachel de seus planos uma vez que ela sabia que Puck e Quinn estavam apunhalando sua paixão pelas costas, não havia nada que se colocasse entre ela e sua busca pela confirmação de sua teoria. O melhor que Santana podia fazer era olhar com cara de confusão para ela e a chamar de "man-hands".

"Eu não sei onde você está tirando informações pra formular estas falsas acusações, menina Bait", Santana começou lentamente. "Mas você realmente deveria considerar as coisas antes de sair por ai falando merda. Quinn Fabray não é o tipo de pessoa que você espalha boatos maldosos, sendo ela líder de torcida destronada ou não. E acredite em mim quando eu lhe digo que, se você pensa quer sua vida é miserável agora? Basta você contar essa historinha pra mais alguém, vou acabar com você, Berry. Não só a sua vida no McKinley. Vou garantir que todos os seus preciosos sonhos sejam destroçados, você ainda vai estar catando pedaços de uma estrela quebrada quando estiver aos noventa anos de idade. "

O lábio inferior de Rachel tremia com tanta força e seus olhos estavam arregalados em terror, tanto que parecia que ela pertencia a um daqueles desenhos japoneses. Eu meio que esperava que ela falasse alguma coisa em japonês e sua boca parasse de se mover só três segundo depois. Considerando-se que ela não disse nada em resposta e fugiu um momento mais tarde, porém, eu sabia que Santana tinha influenciado suas decisões. Ela se virou para mim, o veneno de seu rosto foi substituído pela preocupação. Ela trancou a mão no meu pulso e me puxou na direção oposta a que Rachel tinha tomado.

"Teleconferência", disse ela, e imediatamente tirou meu celular da minha bolsa. Ela discou para nós duas, e entregou o meu para mim, hesitando apenas um momento, quando ela não soube diferenciar qual era o dela. Eles eram idênticos, cortesia de Sue e uma contribuição generosa para a equipe de uma empresa patrocinadora que insistiu para que aceitássemos. Sempre havia confusão entre as Cheerios, sempre alguém pegava o celular errado.

Ela apertou o telefone no ouvido e saiu pelo corredor com um propósito, me olhando com o canto do olho. Entre nós duas, as multidões se esvaiam quando descemos as escadas. A linha se abriu, e antes que alguém do outro lado tivesse a chance de dizer alguma coisa, Santana falou:

“Nós acabamos de ouvir, quem contou?”

"Achamos que tinha sido você." Artie foi o primeiro a responder. Eu não sei por que ela o teria chamado, mas, novamente, nós duas estávamos muito desesperadas por respostas.

Santana zombou, jogando os cabelos em tom desafiador. "Por que eu faria isso?"

Kurt falou depois, e fiquei surpresa ao ouvi-lo na mesma chamada com Artie. Por um momento eu sorri, eu sentia falta dele. "Para se vingar de Puck. Vocês não estão namorando?"

Ela estreitou os olhos, como se estivesse olhando para Kurt através do telefone, em seguida, usou as palavras que ela disse para mim mais vezes do que eu poderia contar. "Sexo não é namoro."

“Se fosse, eu e Santana estaríamos namorando.”

Sua reação foi instantânea, quando eu complementei sua resposta com a minha. Eu não consegui parar de colocar para fora as palavras enquanto elas despencavam na ponta da minha língua em uma avalanche. Ela congelou ao meu lado, virando a cabeça para a direita, onde eu caminhava ao lado dela. Eu parei quando percebi que eu tinha dito em voz alta. O olhar de pânico em seu rosto foi atado não com raiva, mas com medo. Foi tão breve, a pausa que ela fez antes de desviar os olhos dos meus e checou de cima a baixo o corredor, certificando-se de que ninguém mais tinha ouvido o meu desabafo. Ela se recuperou tão rapidamente que deixou minha cabeça girando, lembrando que tínhamos outras quatro pessoas do outro lado do telefone, esperando por nós.

"Olha", ela começou novamente, o ácido retornando a sua voz e sua coluna tão reta que ela poderia ser de plástico. "Eu não quero balançar o barco. Desde Quinn ficou grávida, eu sou a chefe por aqui."

"Esperem, Rachel esta vindo pra cá," Mercedes cortou, e eu senti a mão de Santana a minha frente para impedir que eu prosseguisse, impedindo-me tão rapidamente que eu estremeci. Ouvi vozes fracas através do telefone como eu dei outro olhar cautelosos para Santana. Ela não olhava para mim. Mercedes voltou para a linha, e eu fui forçada a prestar atenção mais uma vez. "Ela se foi. Olha, eu sei que eu estraguei tudo contando a todos vocês sobre Quinn e Puck. E eu me sinto muito mal por isso. Mas não podemos deixar que Rachel descubra isso. Se ela disser a Finn, ele vai enlouquecer."

"E então nós realmente não teremos chance para as sectionals," Kurt acrescentou. Ninguém tinha nada para dizer, então todos desligaram seus celulares ao mesmo tempo. Finalmente, Santana encontrou meu olhar, e naquele momento eu sabia que estávamos prestes a brigar. Eu simplesmente não estava preparada para o quão intensamente o seu olhar penetrou meu.

Ela não disse uma palavra quando ela tomou meu pulso, mais uma vez, olhando para os lados antes de puxar-me para o vestiário ao lado do ginásio. Ela fechou a porta com força, e se pôs na frente para garantir que ninguém entrasse. Seus olhos estavam fechados, e seu queixo foi levantado como se estivesse tentando mais do que nunca manter a compostura. O rosto todo corado, até mesmo as orelhas, e seus dedos estavam enrolados em punhos apertados ao seu lado.

"San, eu sinto muito," eu sussurrei. No silêncio, mesmo que eu estivesse falando muito baixo, as palavras ecoaram em volta de mim, ponderadas com a culpa. "Eu sinto muito, eu não estava pensando. Nós dissemos tantas vezes isso que acabou escapando. Eu não quis dizer isso. Vou dizer a eles tudo que eu estava brincando. Eles já pensam que eu sou estúpida, eu vou dizer para eles que era idiotice. Juro, ninguém nunca vai saber.”

O único movimento foi a flexão dos joelhos quando eles se dobraram debaixo dela, e ela deslizou lentamente para baixo do comprimento da porta. Caindo no chão, com os joelhos dobrados até o queixo, ela respirava pesadamente por seu nariz e sua boca. Seu rosto queimando e embora seus olhos ainda estivessem fechados, eu podia ver a umidade crescente no canto dos olhos.

"Santana, por favor,", eu implorei, indo para mais perto dela e ajoelhando no chão de ladrilhos fios, mas mantendo a distância de um ou dois pés. Eu tentei criar frases para me desculpar, mas juntamente com essas frases vinham as possíveis reações que ela teria. Eu nunca tinha visto ela tão mal antes. "Eles não vão dizer. Todos os amigos deles são do glee, não há ninguém para conversar. Vou me certificar de que eles não digam nada. Eles são perdedores do glee, afinal, quem vai acreditar neles? Eu prometo, eu vou-"

“Pare”, ela sussurrou; não com raiva, como um assobio, mas preso em sua garganta e escorregou desajeitadamente dos seus lábios enquanto ela soluçava no chão. “Apenas pare, está feito”. Seus olhos se abriram cautelosamente, encarando o teto com suas pálpebras levantadas. Uma represa foi quebrada. Suas lágrimas escorreram livremente pelas bochechas avermelhadas em rios, levando traços de rímel e delineador com elas. Seus ombros tremeram quando ela mordeu seu lábio inferior com tanta força que sangrou. O nariz dela brilhava e corou um vermelho brilhante enquanto ela tentava segurar um soluço e falhou. Ele explodiu do peito dela e o som saltou de parede em parede da sala, ecoando pelos armários e chuveiros até voltar para nós, descansando sobre nossas cabeças como uma nuvem negra.

Isso durou até que houve silêncio novamente, agravado pela batida pesada e grossa dos nossos pulsos, respirações ásperas, até que ela finalmente deixou seus ombros relaxarem e seu corpo desabou. Ela explodiu em um soluço e pressionou os pulsos contra seus olhos. Eu estava muito assustada para chegar nela, por medo de assustá-la mais ainda, então eu escorrei meus joelhos para baixo  e sentei no chão. Ela colocou seus braços ao redor dos joelhos e pressionou sua testa contra eles, balançando pra frente e pra trás enquanto ela murmurava baixinho.

“Estúpida,” ela sussurrou. “Estúpida, estúpida, estúpida...”

No começo pensei que ela estava falando de mim, e meu coração balançou. Mas quando ela trouxe os pulsos de volta à cabeça, eu vi como ela os batia contra suas têmporas com raiva, se punindo tão violentamente que eu avancei em direção a ela, sem pensar duas vezes, pegando ela pelos pulsos e a puxando para mim. Ela lutou duramente comigo, batendo contra o meu aperto, mas eu segurei rápido e ela gritou sua raiva e sua frustração comigo, batendo  seus punhos contra meus ombros. Eu estremeci, mas aceitei que eu merecia aquilo, recebendo os golpes com o mais firme silêncio que eu podia reunir, até sua força acabar e ela cair no meu colo, com falta de ar.

Era tudo que eu podia fazer, sentar com ela no meu colo e não desabar em cima dela. Eu era apenas metade, e a visão da Santana – a guerreira, a mulher amazônica, a titã- histérica e quebrada no chão do vestiário era mais do que minha paranoia, meu cérebro propenso ao pânico, poderiam lidar. Eu pressionei minhas mãos nos seus ombros e apertei, quase tanto para o meu benefício como para o dela. Eu precisava de uma âncora para me segurar no lugar, e mesmo ela estando mais instável do que eu, nós nos enraizamos no chão e impedimos o mundo de flutuar ao nosso redor.

“Santana...” eu queria dizer alguma coisa, qualquer coisa, para tranquilizar ela, mas eu não tinha palavras. Ela era tão melhor fazendo as coisas soarem melhor, me fazendo sentir melhor, do que eu jamais seria para ela. Eu não queria estragar tudo, então eu a puxei pelos ombros, a parte superior do corpo dela estava embalada em meu colo com as costas dela pressionadas contra o meu estômago. Eu coloquei meus braços em volta dela, cruzando eles através do seu tronco e formando um abraço apertado, reconfortante.

“Sexo não é namoro,” eu me vi dizendo, sem olhar para ela enquanto nós balançávamos pra lá e pra cá no chão. "Isso é o que importa, certo? Isso não significa nada.Você é minha melhor amiga, isso é tudo.”

E, como se nada tivesse acontecido, ela se sentou. Seu rosto estava manchado e sujo com a maquiagem preta. Ela se afastou de mim, arrastando as costas das suas mãos pelo seu rosto, apenas conseguindo manchar ainda mais. Ela aspirou bruscamente, sacudindo sua cabeça e chegando a suavizar os fios de cabelo bagunçados que surgiram do seu rabo de cavalo. Ela olhou para mim, seus olhos vermelhos mostravam que ela ainda estava sofrendo.

“Eu não machuquei você, não é?”

Eu balancei a cabeça. “Não,” eu respondi, recuando alguns centímetros, como se isso fizesse alguma diferença. “ Eu estou bem.”

Ela assentiu com a cabeça, tomando uma longa e profunda respiração antes de se impulsionar trêmula até os pés. “Talvez possamos salvar esta situação,” ela disse brevemente, alisando sua saia e se curvando em um canto para checar sua maquiagem no espelho. Ela torceu o nariz com raiva para o seu reflexo e jogou água no rosto para limpar os resquícios do seu breve colapso. “Puck tem me pedido há séculos para trazer você para a casa dele. Antes de hoje eu sempre disse não para ele, mas agora parece que nós não temos escolha.”

Ela estava deixando bem claro como esperava que eu corrigisse a situação que eu tinha criado. Foi repugnante, pra dizer o mínimo, mas o que foi mais repugnante ainda foi que, por um instante, eu considerei isso. Eu estava mais aborrecida comigo do que com ela. A reação dela foi normal, pelos padrões da Santana. Mas aceitar a sugestão de ir com ela até o Puck e ... e, bem, aceitar  e realmente dar crédito a isso? Eu me negava.

“Você está brincando, não é?” Eu implorei, sabendo muito bem que ela não estava.

Ela puxou seu rímel da bolsa e estava muito ocupada o reaplicando para olhar acima do espelho.” Não é como se isso fosse uma coisa nova para nenhum de nós,” ela deu de ombros, os olhos arregalados enquanto ela reajustava sua máscara para o seu devido lugar. “ É só a combinação de duas experiências em uma. Vai ficar tudo bem. Puck certamente está um passo acima de Mike Chang.”

Eu fiquei ali, atordoada em silêncio.Ela estava tão disposta a me entregar como um sacrifício aos deuses da posição social, e tão espontânea sobre o fato de que eu poderia usar meu corpo para ajeitar as coisas. Eu estraguei tudo, dizendo ao clube sobre nós, e era esse o modo que ela queria me punir. Eu queria que ela tivesse me batido em vez disso. Machucaria menos. Eu pensei sobre o Puck, as mãos dele em mim enquanto Santana assistia, e tudo que eu podia sentir eram os dedos de lixa do Karofsky puxando minhas coxas. A memória trouxe um nó na minha garganta, o pânico se instalou no meu peito involuntariamente. Eu estendi minha mão e apoiei a palma contra o concreto frio, lutando para recuperar meu fôlego, enquanto meus pulmões se contraiam e meus joelhos cambaleavam perigosamente. Fazia muito tempo que eu não tinha um dos meus ataques de pânico, e eu não estava preparada para a rapidez com a qual aquilo me bateu.

Santana bateu juntos seus lábios recém retocados com batom e finalmente olhou para cima. Ela me viu apertando meu peito e deixou cair sua bolsa, correndo para o meu lado e segurando meus cotovelos enquanto eu começava a cair. Ela me pegou, me segurando enquanto sussurrava pra si mesma, tão baixo que ela pensou que eu não podia escutá-la.

“Merda. Jesus. Estúpida, estúpida, estúpida.”

Ela se sentou em um dos bancos na fileira de armários e me puxou para seu colo, deslizando suas mãos de cima para baixo nos meus braços enquanto ela se amaldiçoava baixinho, quase inaudível.

“Deus, eu sou tão idiota. Estúpida ideia, Santana. Inútil, imbecil.”

Seus palavrões, seu discurso de auto-depreciação não fizeram nada para me ajudar, mas seus braços apertados em volta dos meus, me segurando no seu peito, acalmou lentamente a minha respiração como na primeira vez que ela fez isso, quando nós tínhamos 13 no seu trampolim. Ela pressionou seus lábios no meu ombro e então encostou suas testa nele, suspirando profundamente.

“ Me desculpe, Britt,” ela murmurou amargamente. “ Aquilo foi horrível, e eu não quis dizer isso. Eu sei o que você passou e eu nunca iria sugerir que você devia... que nós poderíamos... Eu só sinto muito.”

Meu coração ainda sentia como se tivesse sido partido em dois, mas minha respiração já estava equilibrada e meus joelhos não estavam mais moles. Ainda incapaz de falar, eu não respondi ela, mas eu me encostei contra ela e deixei meus ombros caírem. Eu não a culpo por sugerir Puck como solução pro nosso problema. Essa era a resposta mais óbvia, afinal. Eu me culpei por desenterrar Karofsky, sabendo que isso não ia fazer nada além de machucar nós duas mais do que já estávamos. Eu só queria tirar o dia inteiro, limpar isso, e ir para casa. Foi o que eu disse a ela.

“Nós não podemos, B,” ela suspirou, ainda me segurando.” Nós temos seletivas em uma semana. Você realmente acha que agora é uma boa hora para faltar ensaios?”

Eu balancei minha cabeça. ”Não. Mas eu também não quero enfrentá-los. Não sem uma explicação ou uma estória.”

“Fodam-se eles,” ela disse, com menos maldade do que ela queria; foi uma tímida tentativa na melhor das hipóteses. “ Nós iremos pensar em alguma coisa. Até lá, provavelmente é melhor nós não falarmos sobre isso. Espero que eles não toquem no assunto. E se eles fizerem isso...” Ela ainda não tinha uma resposta pra isso.

“Eles não vão,” eu a tranquilizei. “ Eu confio neles, San. Eu sei que você não, mas eu sei que eles não vão dizer nada pra ninguém. Glee é o porto seguro deles. Por que não pode ser o nosso também?”

Ela deu outro beijo no meu ombro e eu senti ela balançando a cabeça atrás de mim.Eu me levantei, usando o braço dela como suporte e depois a levantei também. O relógio na parede nos disse que já tínhamos perdido o quarto período, o que significava que nós tínhamos que nos dirigir para o lanche. “ Vamos, Schue queria a gente na sala do coral para o anúncio dele,” ela murmurou, limpando com o dedão o rímel manchado do meu rosto.

O resto do dia passou como um borrão que ainda me confunde. A ordem cronológica dos eventos parece corrida, mesmo para os meus padrões. Senhor Schue nomeou a senhora Pillsbury como nossa diretora interina durante o encontro do lanche, então ele agiu como se ele nunca mais fosse nos ver de novo. Isso me confundiu, porque eu tenho espanhol com ele todo dia. Para piorar a situação, aquela tarde ele entrou na sala como um super-herói em seu colete quando Finn começou a bater em Puck. Todos nós sabíamos o porquê do Puck estar sendo atacado, então ninguém interveio para impedi-lo até que Schue chegou. Ele merecia apanhar um pouco por todas as pessoas que ele tinha machucado. Eu tive uma espécie particular de prazer doentio sobre isso, mas eu sabia que esse era um tipo egoísta de felicidade. Santana estava horrorizada, e eu me senti envergonhada.

Assim, Quinn e Puck tinham sido descobertos, e pareceu que o drama deles e a saída repentina de Finn foram mais preocupantes para o grupo do que as façanhas sexuais minhas e da Santana. Ela estava visivelmente aliviada quando nós deixamos a sala do coral aquela tarde, caminhando um pouco mais leve do que antes. Nós passamos até o fim de semana sem nenhum incidente, principalmente porque o Finn não voltou mais para nenhum ensaio e isso tornou evidente que precisaríamos de um substituto para a competição. Jacob Bem Israel entrou em cena como nosso décimo segundo membro, e sábado de manha nós pegamos o ônibus até o local das apresentações, onde conhecemos nossa concorrência.

Eu estava perdendo a cabeça de nervosa, mas nós sentamos na plateia e assistimos as outras duas escolas usando nossos números – exatamente como nos tínhamos coreografado- eu entrei em pânico.

Eu tinha decidido vários dias antes que eu ia ficar calma para a competição, e eu percebi rapidamente que ideia horrível foi essa. No momento em que as crianças deficientes de Haverbrook começaram a cantar “Don’t stop believin’” minhas mãos estavam tremendo e eu estava suando e enjoada. Santana colocou a palma da mão na minha testa e me cutucou forte nas costelas. Eu acenei para ela no momento em que Rachel exigiu um encontro na sala verde para discutir as limitadas opções que nos restavam.

“ O que tem de errado com você?” Santana perguntou enquanto nós andávamos em fila para a parte de trás do auditório.

“Nada,” eu respondi rapidamente, limpando o suor da minha testa. “É só nervoso, eu acho. Nós estamos tão ferrados, San.”

“Não, não estamos,” ela sussurrou, tocando minha mão. Eu estremeci e ela se afastou, olhando em volta se alguém tinha visto. “Nós vamos ficar bem. Vamos pensar em alguma coisa.”               

Eu nunca tinha visto a Santana nervosa antes de uma apresentação. Ela se abriu em uma mistura de novas emoções desde que nos tornamos amigas, mas nervoso diante de uma multidão era inédito. Nós nos apresentamos pelo país todo com as Cheerios, e ela nunca hesitou. Agora, enquanto caminhávamos para a sala verde e paramos em um canto longe do resto do grupo, ela hesitou.

“Vocês entregaram a lista de músicas!” Kurt gritou para nós antes mesmo que qualquer um tivesse se estabilizado. “Vocês não querem estar aqui. Vocês são só as pequenas toupeiras da Sue Silvester.” Dava pra sentir a raiva na voz dele, e eu estremeci com a força que isso tinha. Ele realmente nos culpava, e aquilo doía. Eu confiava neles completamente, mas como se pôde perceber, aquela confiança não era recíproca. E, quando eu levei isso em consideração, eu sabia que eu não merecia aquilo mesmo. Eu tinha vazado a lista de músicas, afinal, mas como eu poderia saber que era isso o que Sue pretendia fazer? Ela seguia a perfeição, e trapaça era tão além da sua esfera de aceitabilidade. As normas com as quais ela mantinha as Cheerios eram mais firmes do que as que mantínhamos para nós mesmos, e trapaça era um comportamento que não seria tolerado entre campeões.

Mas eu acho que, no entanto, ela tinha um conjunto de normas diferentes para ela mesma.

“Eu sei que é um fato que isso é verdade,” Quinn interrompeu antes que tivéssemos a chance de nos defender. “ Sue nos pediu que espionássemos para ela.” Santana e eu ficamos firmes até esse ponto, quando ela cruzou seus braços defensivamente sobre o peito e olhou para Quinn como sua “amiga” indo sentar com o grupo. Era óbvio que sua lealdade havia falhado.

“Olha,” Santana começou, e eu podia ouvir um ligeiro vacilo em sua voz que ela tentou disfarçar com indignação. “ Nós podemos ainda ser Cheerios, mas nenhuma de nós deu a lista de músicas para Sue.”

Ela não sabia a verdade; Eu menti para ela sobre isso. Uma das muitas mentiras que eu contei para ela, mas agora isso tinha fechado o círculo. Não tinha como fugir disso agora, e eu preferia que eu levasse a culpa a ter que vê-los odiando ela mais do que já odiavam.

“Bem...” eu gaguejei lentamente, envergonhada. “E-eu entreguei, mas eu não sabia o que ela ia fazer com isso.”

Houve um suspiro coletivo do resto do grupo, e o abatimento, os olhares traídos nos seus rostos foi o suficiente. Eu estava silenciada. Santana lançou um olhar confuso, horrorizado em minha direção, antes de dar um passo para longe de mim, como que para se distanciar da vergonha que eu causei.

“Tudo bem, olhem,” ela declarou, tirando os olhos intimidantes de mim, o que me fez grata. “Acreditem no que quiserem, mas ninguém está me forçando a estar aqui. E se vocês falarem isso para alguém, eu vou negar... mas eu realmente gostar de estar no clube glee. É a melhor parte do meu dia, tudo bem? Eu não ia acabar com isso.”

 Ela foi para o outro lado das ala, longe de mim. Eu nem podia ficar chateada por ela me deixar ali sozinha. Não quando ela tinha acabado de ter o que se pode chamar de um grande avanço. Ela se abriu para todo o grupo e admitiu que gostava deles. Que ela precisava deles. Ela fez o clube glee como seu porto seguro.

Nosso porto seguro.

Estava silêncio na sala quando ela sentou em um canto da sala, enquanto todos estavam tentando determinar se ela tinha sido honesta ou não. Apenas eu sabia que ela tinha sido, mas Rachel foi quem falou primeiro.

“Eu acredito em você,” ela disse, e os sorrisos que elas trocaram foi o suficiente para fazer meu coração ficar verde de ciúmes antes de eu lembrar que aquela era Rachel Berry, e ela era Santana Lopez. Nunca as duas se reunirão.

Eles argumentaram sobre músicas para substituir as roubadas que planejávamos usar, e eu me dirigi para o sofá ao lado do Mike. Ele apertou meu joelho quando eu sentei, e instantaneamente eu me senti melhor, sabendo que eu ainda tinha um amigo na sala. Ele sorriu para mim e eu corei novamente, dando um tapinha na sua mão para ele saber que eu apreciei o gesto.

Finn apareceu como um cavaleiro, carregando as partituras em vez de uma espada, e de repente nós éramos uma equipe novamente. Ele realmente parecia como nosso líder. Rachel podia ser a alma do grupo, mas Finn? Ele era nosso coração. Nós paramos de bater por um tempo quando ele se foi, mas ele nos trouxe de volta à vida com uma pilha de músicas e um discurso emocionado. Eu não podia ajudar pensando, olhando para as músicas escolhidas, como oportunamente isso tudo parecia.

“Mike, Matt, Brittany, Santana...” ele designou nós quatro, e eu olhei para ele nervosa. “Vocês são nossos melhores dançarinos. Pensem em alguma coisa e nós iremos seguir vocês.”

“ Isso vai ser agitado,” Mike disse, olhando para a música cautelosamente.

“Bom,” Finn respondeu confiante. “Nós somos melhores quando estamos soltos.”

Sendo dada essa responsabilidade de preparar a dança eu estava a um passo do dia em que Kurt me pediria ajuda. Eu deveria estar feliz que eles ainda estavam pensando em mim, depois do que eu fiz, mas eu não pude evitar o pedaço de terror que surgiu na minha garganta quando Finn nos dispensou, e puxou o resto do grupo junto para olhar as letras.

Entre o nervosismo de fazer um novo número juntos e o estresse de admitir meu erro para o clube glee, meu estômago enjoado passou de tempestade tropical à monção em minutos. Eu queria desesperadamente passar o dia sem ser metade e confusa, mas Mike juntou nós quatro e começou a distribuir seções das músicas – refrão, verso e cavalete – eu sabia que não ia fazer isso. Eu fui para o banheiro e tomei um longo gole de água gelada da torneira, que eu levava com as mãos até a boca. Eu peguei um frasco de pílulas da minha bolsa e joguei duas delas na minha garganta sem checar o que eu estava tomando. Tudo tinha começado a se misturar mesmo, então eu parei de me preocupar em separar uma prescrição da outra.Isso foi feito para algo bem inconsistente, mas certas combinações me deixam cambaleando, e isso foi requintado e terrível ao mesmo tempo.

Eu olhei para mim mesma no espelho, as duras luzes fluorescentes pareciam como lâmpadas de calor. Haviam olheiras nos meus olhos. Eu estava mais pálida que o de costume e respirando dificilmente.

“Ficar juntos,” eu disse em minha reflexão, jogando água no meu rosto. “ Está quase terminando.”

Eu senti as pílulas dentro de mim quando voltei à sala verde. Eu usei o pouco tempo que tive antes de virar uma inútil compondo uma simples coreografia, com Mike e eu fazendo os passos enquanto Santana e Matt levavam o ritmo. Ela não disse nada aparentemente hostil para mim, mas eu podia dizer que ela ainda estava chateada sobre o lance da Sue e da lsita de músicas. Eu não culpo ela.

Nós tivemos meia hora para ensaiar o número com o grupo antes que nós tivéssemos que vestir os trajes. Mike demonstrou com Santana como sua parceira, mostrando a cada pessoa onde ela devia estar nos lugares do palco e dando a Artie suas sugestões para que ele não ficasse no caminho. Eu assisti, ficando próxima a Matt, tentando espantar a vaga e imperceptível auréola que rondava minha cabeça. Meus olhos caíram pesados, por causa do relaxante muscular que eu engoli indevidamente. Meus membros pareciam geleia, mas eu me forcei a ficar em pé, e passar por aquilo.

“Tem certeza que você está bem?” Santana perguntou enquanto entravamos rapidamente nos vestidos no banheiro da sala verde. “Você parece meio desligada.”

“ Eu juro,” eu disse,cruzando meu coração com meu dedo indicador. “Eu estou bem. Estou exausta e nervosa. Eu só preciso subir no palco e vou ficar bem.”

“Seu coração fica do outro lado do peito, B,” ela corrigiu com uma risada nervosa, movendo minha mão do lado direito para o lado esquerdo e a segurando um pouco mais do que deveria.

Eu sorri preguiçosamente. “Viu? Está tudo bem.”

Eu fiz os movimentos no palco, porém com duas pílulas no meu organismo, não havia paixão por trás daquilo. Ninguém pareceu notar; provavelmente porque não tinha nada diferente no meu comportamento do que eles estavam acostumados. Ou isso ou eles estavam ocupados demais com seus próprios problemas para se preocuparem por que eu estava fora do espaço ou perdendo um passo aqui e ali.

Mas eu passei por isso. E no final, apenas da nossa preparação de última hora, nós vencemos. Eu não tenho certeza de que Jane Adams ou Haverbrook eram realmente nossa competição para começar. Nós gastamos tanto tempo discutindo uns com os outros, mantendo segredos, brigando por injustiças mesquinhas que tivemos sorte em conseguir fazer isso. A verdadeira competição que tínhamos era entre nós mesmos. Se conseguimos superar todos os obstáculos que tivemos até então, eu suponho que possamos passar por qualquer coisa.

Santana se esgueirou para Puck depois que anunciaram o vencedor, e eu tinha deixado se afastar de mim. Mike me abraçou no palco, e sussurrou no meu ouvido que estava orgulhoso de mim. Eu olhei para Santana sobre o ombro de Mike, e ela estava radiante. “Santana” e “feliz” realmente não pertencem à mesma frase, mas eu assistindo ela abraçando a Mercedes na comemoração, isso era tudo que eu podia ver: Santana estava feliz. Isso era reconfortante, e fez mais fácil arranjar um lugar sozinho no fundo do ônibus, longe do resto do grupo que insistia em cantar durante toda a viagem de volta para o McKinley.

“Parece que alguém matou seu gato pela sua cara.”

Eu fiquei surpresa ao sentir o assento ao meu lado me deprimir com um “woosh” suave do ar, e a voz meio-soprano flutuando ao meu redor no meu torpor. Eu quase podia ver as notas musicais acompanhando.

“Oi Kurt,” eu disse com um sorriso meio dentuço. “ Você foi tão bem hoje.”

Ele fez uma careta para mim, sem nem mesmo fingir que ele não estava ainda com raiva de mim. “Eu diria o mesmo de você, mas eu acho que nós sabemos que não é exatamente verdade.”

“Hmm.” Isso foi o mais próximo de um consentimento que ele ia conseguir de mim.

“Você está dopada agora, não está?”

Eu sorri de novo, amplo e cheio de dentes, minha cabeça caindo para trás contra o plástico do assento. “Sim. Como uma pipa.”

Ele balançou a cabeça amargamente, diminuindo sua voz, se no caso alguém estivesse ouvindo. ”Por que hoje, Britt? De todos os dias? Nós precisávamos de você. 

“Eu estava lá,” eu retruquei, observando as faixas da rodovia passando. “Nós vencemos, não?”

“Nós vencemos,” Kurt replicou, apontando para o grupo na frente do ônibus. “Você não. No instante em que tomou aquelas pílulas, você perdeu, Britt. E você poderia ter nos custado a competição. Você quase nos custou a competição antes mesmo de passarmos pela porta. Você entregou sua equipe para a pessoa que tenta nos destruir desde o início. Por que você fez isso? Por que mais ela iria querer a lista de músicas?”

“Eu não sei,” eu respondi honestamente, tentando convencer a mim mesma de que eu não era tão má quanto ele fazia parecer. “Mas Sue viu através de mim. Ninguém mais viu, nem mesmo a Santana. Eu devia a ela, eu acho.”

“Eu vejo você,” ele disse baixo enquanto se acalmava um pouco, me olhando e estudando meus suaves e lentos movimentos. Ele percebeu minha pesada dificuldade para respirar, e notou minhas olheiras e pele pálida. Ele suavizou seu tom, e eu sabia que era porque ele sentia pena de mim. “Eu te conheço, Britt, gostando você ou não, você não pode se esconder de mim.”

Eu sorri, pressionando minha testa na janela fria. “Eu posso me esconder de qualquer um.”

“Não para sempre.” Ele alisou uma mecha do meu cabelo, procurando eles quando eles eram claros. “Por que você não me fala sobre a Santana?”

Eu dei um sorrio triste. “Você ouviu aquilo, né? Nós esperávamos muito que isso fosse esquecido.” Eu estava tentando fazer ele rir, fazer ele abrir um sorriso, mas eu sabia que ele não estava a fim de brincadeiras. Eu botei a equipe toda em risco, botei a mim mesma em risco. Ele estava preocupado, e mostrava isso.

“Meio difícil de esquecer,” ele respondeu friamente. “’Sexo não é namoro.’ ‘Se fosse, Santana e eu estaríamos namorando.’ Isso não foi exatamente sutil.”

“Não me lembre,” eu lamentei, botando minha mão nos olhos e olhando entre meus dedos. “ Não é um dos meus mais delicados momentos.”

Ele arqueou as sobrancelhas. “Você tem momentos delicados?”

“Ai,” eu sussurrei, batendo devagar em seu ombro, mas sua expressão sombria não vacilou. “Golpe baixo, Hummel.”

“Esta é uma pergunta legítima, Pierce,” ele respondeu, sem levianidade na voz. “Quando foi a última vez que você fez algo que te deu orgulho?”

Nunca. Aquela era minha resposta imediata, mas eu me atrapalhei com isso. Eu queria proclamar como estava feliz, que tudo era ótimo e eu estava bem. Mas eu não podia, porque isso não era verdade. E eu já tinha dito mentiras o suficiente por um ano.

“Eu não sei”, eu disse ao invés, encarando minhas mãos, as torcendo em meu colo. “Faz tanto tempo que não faço nada, muito menos alguma coisa que eu tenha orgulho. Eu só estou apenas existindo.”

“E você está bem com isso?”

Eu dei de ombros. As palavras apenas saiam agora. Tudo que eu queria dizer parecia escaper de qualquer maneira. Kurt tinha esse efeito sobre mim. “Enquanto eu tiver ela, eu realmente não preciso de mais nada, preciso?”

Kurt franziu sua testa e olhou para o corredor do ônibus, para o lugar onde Santana estava aconchegada com Puck. Ela viu o seu olhar firme e desviou os olhos, corando. “Você realmente não tem ela, você sabe disso, né?”

“Sim,” eu concordei, observando ela cantando junto com o resto do grupo um versão empolgada de “we are the champions.” “Eu sei disso.”

“Nada nesse relacionamento é saudável, Brittany.”

Ele pegou minha mão e eu quase evitei o contato. A pressão dos seus dedos ao redor dos meus era tão leve, e ainda assim era chocante como sua mão parecia pesada em cima da minha pele. Isso doeu, e eu pisquei para baixo por um momento, balançando minha cabeça, tentando sacudir meus sentidos. Eu nunca tinha sentido a pele de ninguém na minha quando eu estava meio fora. Só a da Santana. Eu achava que era só o toque dela que fazia minha pele formigar, mas aqui estava Kurt segurando minha mão, e isso doía. Eu estudei ele cuidadosamente, passando as nossas palmas uma sobre a outra antes de responder. “Eu sei disso, também. Mas eu não preciso de nada saudável. Eu só preciso dela.”

Ele apertou com força os meus dedos, suas bochechas queimavam em vermelho enquanto ele tentava não explodir de raiva ou tristeza ou alguma emoção que eu era incapaz de sentir, no entanto ele queria sentir por mim. Eu era um personagem lamentável em seus olhos, e por um segundo eu só queria afastá-lo de mim.

“Você disse a ela?”

Eu levantei minha cabeça e encontrei seu olha, sem certeza de qual das muitas mentiras ele estava de referindo. “Disse a ela o quê?”

Ficou claro que essa resposta partiu seu coração, e ele escorregou contra mim, me fazendo tremer mais uma vez, e mais forte. “Qualquer coisa.”

“O que há para dizer?” Eu fiz a pergunta mesmo sendo simples a resposta. Eu podia dizer a ela a verdade. Sobre as pílulas, que eu achava que era gay, como eu realmente me sentia sobre ela. Eu podia dizer a ela que a amava desde que tínhamos oito anos e ela me puxou para fora da lama, que eu amei ela mais ainda quando ela bateu na cara daqueles garotos populares por rirem de mim. E eu amei ela mais quando ela se arrastou nua na minha cama e apenas me segurou quando eu disse a ela sobre ser assediada pelo Karofsky.

Mas nós dois sabíamos que eu nunca diria. Então ele sentou em silêncio do meu lado, sua mão protetora ainda envolvia a minha, pelo resto da viagem para casa.

Santana estava esperando por mim no seu carro no estacionamento. Kurt segurou firme minha mão e meu parou enquanto descíamos do ônibus, me segurando longe o suficiente para ela não nos ouvir.

“Longe de mim dizer a alguém como viver sua vida,” ele começou, agora pegando a minha mão livre na dele. “Mas você não pode guardar isso para sempre, Britt. Você não pode se esconder dela para sempre. Então quando você decidir que está pronta para ver o sol de novo... você me liga, tá bom?”

Eu assenti e me inclinei para beijar sua bochecha. Eu não tinha a intenção de chamá-lo. “Claro.”

Santana gritou para mim do outro lado do estacionamento, sacudindo suas chaves por cima da cabeça impacientemente. Eu me virei e dei a ela um sinal de ‘um minuto’, e ela revirou os olhos para mim antes de entrar no Mustang e fechá-lo com um estrondo.

“Não seja uma estranha, Brittany,” Kurt gritou enquanto eu me afastava dele em direção ao carro da Santana, em marcha lenta. “Lembre-se... eu vejo você.”

Eu acenei para ele enquanto sentava no banco do passageiro e ela fazia sinal para eu colocar o cinto. “O que ele queria?”

Eu passei o cinto pelo meu colo, afivelando e suspirando. “Nada,” eu menti. “Ele não queria nada.”


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