Faltava um dia. Faltava um dia.
- Mariana! - Gabriela sussurrou auto o suficiente para que o professor tirasse os olhos do livro em que lia. Não levantei os olhos da prova e ela encarou o outro lado, como se não fosse com ela. O Sr. Elídio voltou a sua leitura. - Mariana, qual é a resposta da quatro? - Ela me encarava, os olhos arregalados a espera de uma resposta.
- Quatro... eu.. eu ainda não fiz. - Sussurrei de volta.
- Você nem colocou o seu nome! Mariana, em que você está pensando? A aula acaba daqui a pouco!
- Eu vou pra Londres. Falta um dia....
- Se você se ferrar nessa prova, vai ser a primeira e a última vez que você vai à Londres. - Ela curvou novamente a cabeça quando o professor levantou o olhar novamente. 

Se eu respondi duas questões deve ter sido muito. Eu sei que não deveria ter feito isso mas, meu sonho iria se realizar dali a dois dias e, se Deus quisesse, e eu tinha fé que ele queria, eu conheceria o amor da minha vida. Acho que, por estar tão próxima de realizar o que tanto desejei por tanto tempo, não estava me importando se ele iria se apaixonar por mim, mas sabia que teria de fazer diferença, para que pelo menos nos tornassemos amigos e quem sabe um dia...
- Quer vitamina? - Minha mãe abriu a porta do quarto. Eu nem havia visto as outras aulas posteriores a prova passarem, quando dei por mim, já estava em casa. Tirando o pequeno ocorrido de que eu quase passei do ponto... Pensando na minha viagem para Londres. Estava maníaca eu sei. Sou meio neurotica, mas... Coloque-se no meu lugar, eu vou conhecer o meu ídolo!
- Só se for de avocado. - Sorri. Minha mãe entendia meu lance com vegetais... e manos zica...
- Já terminou de arrumar a sua mala?
- Eu... acho que sim. Não sei.  
- Termine de arrumá-la e vá dormir cedo.
- Dormir cedo? Mas por quê? - Levantei do computador e fui em direção à porta, onde minha mãe estava parada.
- Daqui a pouco trago a sua vitamina. - Mais um passo e ela teria batido a porta no meu nariz. Obrigada mãe.
- Por que eu tenho que ir dormir cedo hoje mãe? - Fui em direção a cozinha, e de longe a ouvi suspirar alto.
- Você não tem jeito hein dona Mariana. - Ela revirou os olhos quando entrei no cômodo. - O pessoal do aeroporto ligou, pediu desculpas pelo transtorno...
- NÓS NÃO VAMOS MAIS PRA LONDRES? - Senti minha garganta fechar, estava me sufocando.
- Dá para se acalmar? - Ela continuou séria. - O nosso voo foi cancelado e remarcado para amanhã às seis horas da manhã. Por isso pedi que fosse dormir cedo. Queria fazer surpresa... Mas como sempre, você estraga tudo. Vá deitar vai, não estou mais com cabeça para fazer vitamina...
- Mas mãe... essa é a melhor notícia do mundo! - Minhas bochechas doíam de tanto que eu sorria. - Ah, desculpa. É que isso é muito importante para mim, você sabe.

 Seis e quinze. O avião já havia decolado. Minha barriga parecia estar repleta de borboletas de fogo, que me queimavam com seu ácido defensivo. Coloquei os fones de ouvido e tentei relaxar. Entrar em pânico só atrapalharia as coisas. "I'll lift you up, I'll never stop, you know I'll take you to another world..." Sussurrava junto com a música. Fechei os olhos e acabei adormecendo.