Ao entrármos naquele enorme casarão, vimos duas figuras paradas no jardim. Um homem de aparentemente 45 anos, e uma mulher um pouco mais nova. Pela lógica, eram o senhor e a senhora Olimpius. Senti um arrepio na espinha ao notar que o homem tinha exatamente os mesmos olhos de minha amiga Thalia. Agora já havia virado questão de honra, eu a encontraria.

– Nossa, eles são tão ricos, bem que ela poderia fazer uma plástica. - Percy pareceu dizer involuntariamente enquanto parava o carro.

Não consegui segurar minha risada. Em partes ele estava certo, mas tinha certeza que Hera não havia durmido a dias por causa do desaparecimento da filha.

– Percy, controle seus pensamentos perto deles. Temos que causar uma boa impressão. - lhe disse, mas sabia que seria inútil. Esse era um de seus defeitos, ele na maioria das vezes falava o que pensava. Tantas brigas já tivemos por causa disso.

Descemos do velho camaro preto de Percy e fomos encontrar os Olimpius. Eles pareciam estar realmente aflitos. Entreguei a Percy uma mala preta, onde estavam guardados todos os nossos equipamentos. Boa parte deles pertenciam a meu pai.

Andei até o casal e meu parceiro me seguiu. A mulher, deduzi ser Hera, veion até meu encontro. Ela usava uma roupa muito bonita, era ideal para sua idade. E no pescoço, tinha um colar com uma enorme pedra vermelha pendurada. Era provavelmente um rubi verdadeiro, ela não parecia ser daquelas que usam bijuterias.

– Que bom que chegaram rápido, meu marido e eu estamos muito preocupados.

– Bom, meu nome é Annabeth Chase, e este é Perseu Jackson, meu ajudante, e nós...

– Pode me chamar de Percy, e eu não sou ajudante, sou parceiro. - ele disse me interrompendo.

O fuzilei com o olhar e ele apenas sorriu ironicamente. As vezes eu gostaria de ter poderes iguais aos do Super-Homem, assim poderia fritar Percy apenas com um olhar.

– Muito prazer em conhecê-los, meus nome é Zeus Olimpius, sou o pai de Thalia. - o homem disse se aproximando.

Senti um arrepio em minha espinha ao escutar seu nome, ele não me era estranho. Talvez Thalia tivesse me falado sobre seu pai uma ou duas vezes. Era engraçado o modo como os olhos dela eram idênticos aos de seu pai. Seus cabelos eram cinzas, mas deduzi que anos atrás, poderiam ter sido pretos igual a minha lembrança de Thalia.

– Prazer, Annabeth Chase. - eu disse estendendo a mão.

Zeus estremeceu ao escutar meu nome, achei aquela atitude no mínimo suspeita.

– Já não nos conhecemos, Annabeth? - ele disse.

Balancei a cabeça negativamente e olhei para Percy. Ele provavelmente havia achado tudo aquilo tão estranho quanto eu.

– Será que nós poderíamos dar uma olhada no quarto de Thalia? - perguntei.

– Ele está trancado, e não conseguimos encontrar a chave. - Zeus disse.

Ele ficou me encarando por um minuto.

– Vocês têm um extintor de incêndio? - Percy perguntou ajeitando a mala nos ombros.

Zeus ainda me olhava de uma maneira diferente. Fiquei um tanto assustada.

– Temos sim, está dentro do carro. - Hera disse caminhando em direção a uma Ferrari vermelha. Era linda, meu sonho de consumo.

Ela abriu o carro e logo saiu com o extintor nas mãos e entregou para Percy. Entramos na casa, enquanto Hera e Zeus nos mostravam o caminho até o quarto de sua filha. Era uma casa muito bonita, bem cuidada, bem mobilhada. Provavelmente fora construída por algum arquiteto famoso.

Subimos as escadas e logo paramos em frente a uma porta escura cheia de adesivo dizendo coisas como: "Fique longe" ou "Proibida a entrada de pais". Pelo visto, Thalia não havia mudado muito. Tirei um saquinho cheio de luvas plásticas e peguei dois pares. As vesti e disse para Percy fazer o mesmo. Ele o fez.

– Acho melhor você se afastar um pouco da porta, Annie. - ele disse já com o extintor nas mãos. Dei dois passos para trás e Percy bateu o extintor na porta. Da primeira vez, ela só entortou um pouco, mas depois da segunda tentativa, a porta não aguentou. As dobradiças quebraram com o impacto.

Então nós entramos. Por precaução, pedimos para o senhor e a senhora Olimpius ficarem do lado de fora.

O quarto parecia mesmo estar intocado. Haviam várias roupas jogadas pelo chão, a maioria delas eram pretas, roxas, e esses tons escuros. Começamos então a procurar por alguma coisa interessante.

Vasculhei as roupas e encontrei um pequeno bilhete no bolso de uma das calças.

"Amor, precisamos conversar sobre o plano. Te encontro as 7h. Não se esqueça de levar tudo o que combinamos LW"

"Namorados" pensei. Com cuidado, coloquei o papel dentro de um saquinho de evidências. Mas devo admitir, quem escreveu o bilhete tinha uma ótima caligrafia, a letra era belíssima.

– O que é isso, Annie? - Percy perguntou. Não havia notado que ele estava tão perto.

Mostrei para ele o bilhete. Ele leu e retrucou:

– Credo, que coisa melosa!

Dei risada.

– Ele é romântico, provavelmente.

Percy fez uma cara de tanto faz e continuamos a vasculhar as coisas. Em uma destas buscas, acidentalmente, Percy abriu uma gaveta cheia de calcinhas. Ao ver seu erro, ele corou violentamente e fechou a gaveta. Ri de sua cara, mas por vingança, levei uma mordida no ombro. Percy levou um tapa. Íamos continuar nossa briga, mas lembramos que "Trabalho primeiro, assuntos pessoais depois" este era nosso lema.

Estávamos lá a mais de uma hora, e não tínhamos encontrado nada relevante. Pegamos alguns de cabelo, amostrar de unha no chão, e o tal bilhete, nada mais.

Saímos do quarto e fomos encontrar Hera e Zeus.

Não os encontramos na sala, nem em nenhum outro cômodo da casa. Fomos para o jardim e notei que eles pareciama estar discutindo, mas ao nos verem, pararam instantaneamente.

Caminhamos ao seu encontro, mas de repente Percy parou. Parecia ter pisado em algo.

– Annie - ele gritou - passe o coletor para mim, por favor?

No mesmo momento, tirei o pequeno frasco e o entreguei para Percy. Comecei a observar, e vi que ele tinha pisado em algo parecido com graxa. Mas claramente se via que aquilo não era graxa. Ele pegou um pouco daquilo e guardou no pote.

– O que você acha que é? - perguntei guardando o pote fechado de volta na bolsa.

– Não sei, chegando no laboratório, pedimos para Grover analisar.

Assenti. Grover era um amigo de Percy que trabalhava no laboratório. Seus pais eram hips, então ele cresceu em meio a vegetarianismo e plantas para todos os lados.

– O que é isso? - Zeus perguntou apontando para o resto daquela meleca preta que ficou no sapato de Percy - Deve ser apenas graxa.

O encarei séria. Ele parecia não nos querer por perto. Por algum motivo, não tinha gostado nem um pouco de nossa visita.

– Annie, acho que é melhor nós irmos. - Percy disse me puxando pelo braço.

Assenti e nós caminhamos de volta para o carro. Hera e Zeus andavam lado a lado, e notei que ela não dissera uma palavra sequer desde que saímos do quarto de Thalia.

– Encontramos este bilhete em uma das calças de Thalia, reconhecem a letra? - eu disse antes de entrar no carro, para a infelicidade de Zeus.

Hera pegou o bilhete, ainda dentro do plástico, e disse:

– É do namorado dela, Willian é o nome dele.

"Willian" isso explica o "W", mas e o "L"? Fiquei frustrada. Odiava quando as peças de um quebra-cabeça como esse não se encaixavam.

Sorri de maneira forçada e entrei no carro. Percy já estava lá dentro me esperando. Coloquei o cinto e esperei até que estivéssemos longe daquela casa.

– O que achou daquele tal Zeus? - perguntei.

– "Aquele tal Zeus" é ninguém mais do que um empresário muito famoso. E não achei nada, por que a pergunta?

Percy era meio lento as vezes, mas ele provavelmente havia notado que tinha algo muito estranho em Zeus.

– Não sei, tem algo estranho nele. É como se eu já o tivesse visto por ai. Não sei explicar. Acha que ele tem alguma coisa a ver com o desaparecimento de Thalia? - perguntei um tanto assustada. Percy deu risada.

– Annie, acho que este caso está mexendo com seu estado psicológico. Vai ver ela fugiu com o namorado, só isso.

Não era só isso, eu sentia. A vaga lembrança de minha convivência com Thalia, me fizera recordar como ela era uma pessoa valente. Nunca fugia de seus desafios. Tantas vezes ela me defendeu de apanhar das garotas mais velhas. Apostaria meu pagamento que não havia fugido.

– Vamos para o laboratório? Já amanheceu mesmo. - eu disse encostando a cabeça no banco.

Percy asseniu e continuou dirigindo.

Apesar de não querer admitir, eu estava exausta.