Nessie chegou ao píer as seis em ponto. Sentou-se em uma mesa próximo ao lago.

Era uma mesa quadrada, de madeira e grudada a plataforma do píer, pouco visível, mas não para quem estava indo com destino ao píer.

Ele chegou as seis e dez.

– Está atrasado. – ela censurou sem retirar os olhos do grosso livro de Shakespeare que lia.

– Eu sei. – ele disse despreocupado tirando uma caixinha de mini cereais do bolso do casaco do seu time de basquete – mas eu não sou de acordar com as galinhas.

Ela fechou o livro com brutalidade e o fitou de maneira séria.

– Vamos deixar as coisas bem claras, ok? – ela começou – Você pode ser popular quanto quiser ‘Ah nossa eu sou Jacob Black e eu sei rebater uma bolinha uuhhhh’ – ela falou afinando a voz e fazendo careta – Mas isso não vai te fazer passar de ano. Não adianta você fazer seus touchdowns e home runs, matemática não se importa com isso, física não da a mínima pra isso e química está bocejando para os seus gols e se nem matemática, nem física e nem química ligam pra isso, eu também não ligo e estou te avisando que só porque eu quero créditos para a faculdade eu não vou te passar com moleza. Se você não estudar não sou eu quem vai estudar por você. Então comece a se coçar e rodar a saia da macumbeira para passar de ano que a sua situação não está apenas feia, está praticamente impossível de ser concertada.

Ele olhou para a garota irritada a sua frente e falou:

– Ok. Mas me deixe fazer um comentário: Eu não rebato bolinhas eu mando uma bola para uma cesta. Eu não jogo baseball e nem futebol eu jogo basquete. E eu não acredito que você usou Touchdowns e Home Runs em uma mesma frase para indicar um esporte.

– Isso não interessa pra matemática então não me interessa também. – ela disse. – Vai querer estudar ou eu posso ir embora?

– Estudar. – ele disse.

Ela se abaixou para pegar os livros na mochila e Jacob não pode deixar de pensar que ela seria difícil.

Ela era imprevisível e ele não estava acostumado a isso. Ela se irritava fácil, mas ele podia ver que ela era uma pessoa centrada e competente. E, bem, mesmo se ele não conseguisse levá-la para a cama... suas médias poderiam melhorar não é mesmo? Talvez assim seu pai parasse de pegar um pouco no seu pé. Deus sabia o quão filho da puta Billy Black conseguia ser.

Ela voltou com os livros e os abriu.

Ele se inclinou para ela quando ela começou a explicar o assunto.

Ele gostou do cheiro suave que vinha dela. Era um suave cheiro de flores silvestres.

Balançando a cabeça, ele se forçou a se concentrar no estudo.

............................................

Nessie entrou correndo na escola.

– Oi! – arfou sentando-se ao lado do Seth que lia um livro de Tolstoi.

– Oi. – ele disse confuso – como foi a festa do pijama ontem na casa da Carrie?

– Ah, foi ótima. – ela disse – Aliás, como é que você sabe?

Ele puxou o celular e mostrou uma mensagem de Leah, ordenando não ser incomodada por ele devido a festa do pijama.

– Ah ta... Eu tive que sair mais cedo... Meu pai vai jantar hoje lá em casa e...

– Peraí! – ele pediu fazendo um aceno com a mão pedindo um tempo. – Seu pai vai jantar na sua casa?

Nessie então se lembrou que ele não sabia nada sobre o que acontecera no dia anterior.

Detalhadamente e com cuidado para não falar sobre as partes que envolviam o arrogante Jacob ela contou a ele.

– O tio da Carrie. – ele disse não parecendo surpreso – eu já desconfiava. Lembra dos arquivos que roubamos da clínica de reabilitação? Fiquei desconfiado, mas estava esperando ter certeza, não queria te dar pista errada ou te iludir com algo.

Nessie sorriu, mas logo o sorriso se desfez.

Ela se sentia uma traíra. Mas era por um bem maior. Ele iria ter uma vida social melhor agora na escola.

– Mas, mudando de assunto. – ele disse – Amanhã a noite eu vou jogar um mano a mano com o Jacob em Rivercourt. O perdedor sai do time e perde toda a honra. O ganhador escolhe o que fazer com a honra do outro.

Nessie ficou tensa.

– Como assim?

– Bem, se eu ganhar não vai acontecer nada com ele. A não ser eu e Leah esfregarmos na cara dele que ele perdeu para o irmão dele.

– Vai ser meio injusto já que você é o mais velho. – ela observou.

– Dois meses apenas. – ele concertou – não mandei o Billy sair pegando duas ao mesmo tempo.

Nessie rolou os olhos.

– Bem, talvez não. – ela concordou. – Sabe o que eu estou com vontade de fazer?

Ele olhou bem nos olhos dela.

– Ah não! – ele lamentou – Nessie, pelo amor de Deus! Da última vez ficamos os dois de castigo por um mês e meio. Tava tão bom você quietinha, boazinha, sendo uma excelente estudante.

– E chata e sem-sal. – ela interrompeu o amigo – tia Rose disse que eu estava que nem a minha mãe, então eu percebi que só porque eu sou filha de Isabella Swan eu não tenho que ser certinha. Nem a minha mãe foi certinha se drogando e tudo mais.

– Nessie...

– Vai, por favor... – ela implorou.

– Eu levei uma detenção. – ele disse.

– Ninguém vai saber dessa vez.

Ele suspirou.

– Acho melhor não. – ele disse.

Nessie endureceu o olhar.

– Ok. Se não quer me ajudar. Faço sozinha. – ela disse dura e teimosamente.

Ela se levantou da cadeira onde sentara e entrou na escola.

Seth suspirou mais uma vez.

A vida era realmente ótima quando o sermão de Bella ainda perdurava na cabeça de Nessie. Ele conseguiu um ano e meio de liberdade das confusões da garota, desde a última vez que ela aprontara uma e ele levara a culpa por estar no lugar errado e na hora errada. Nessie podia ser dócil e meiga, mas quando ela queria podia ser o diabo.

– Porque esses suspiros... – Leah começou aparecendo e fazendo uma cara provocativa.

– Esse olhar pensativo... – Carrie imitou a amiga.

– E esse biquinho ‘fofo da mamãe’? – Leah terminou fazendo o amigo corar de vergonha.

– Nessie ta querendo trocar as calças dos jogadores de basquete de novo. – ele disse.

Leah gargalhou. Carrie balançou a cabeça.

– Por falar nela, para onde ela foi? Ela saiu voada de casa dizendo que ia resolver uma coisa sobre o jantar do tio Edward na casa dela hoje. – Carrie começou – mas quando a gente ligou pra casa dela a Rose disse que ela nem pisou em casa hoje de manhã.

Leah parou de rir.

– É verdade. – a morena disse.

Os três amigos se entreolharam.

Nessie nunca precisou mentir para eles antes. Ela nunca mentira para eles antes.

– Eu vou atrás dela tirar essa história a limpo. – Carrie disse – Seth mantenha a Leah longe de encrencas, por favor.

Sem esperar por uma confirmação ela saiu atrás da amiga.

Encontrou Nessie debruçada sobre os livros na sala de tutoria.

– Onde você foi hoje de manhã? – perguntou seriamente a amiga.

Nessie ficou tensa.

Carrie notou.

– Não adianta dizer que foi pra casa, porque eu falei com a Rose e você nem pisou na sua casa hoje.

Nessie suspirou.

– Ok. Você quer a verdade? Eu fui à biblioteca hoje de manhã. Não contei nada porque sabia que a Leah iria me zoar e eu não estou com um humor muito bom para as piadinhas dela. Eu fui lá peguei dois livros e vim para a escola. – ela mentiu usando toda a sua técnica de teatro que aprendeu na escola de artes de sua mãe.

Carrie pareceu confusa.

– Não precisava ter mentido.

– Eu não estou com humor para ser rotulada de ‘nerd’ por ninguém hoje. – Nessie mentiu bufando para dar mais ênfase a sua atuação. – Acordei virada no Samurai, isso pra não dizer Cão.

– Credo! – Carrie exclamou – Se era só isso era só ter deixado um bilhete. Você nem tomou café.

– Passei lá na Sue hoje. A propósito, volto a trabalhar lá amanhã. Eu pedi folga por causa das provas e tenho que repor o tempo perdido lá. Era para eu começar hoje, mas ela vai jantar lá em casa pra conhecer o meu pai. Se quiser pode ir também.

– Não, valeu. Fiquei de ajudar a Leah com uns modelitos novos para ela usar aqui na escola. Ela tem alma de estilista que a minha mãe daria o braço para que eu tivesse!

– Tudo bem, então.

Carrie abraçou a amiga e disse:

– Desculpa por desconfiar de você. – Carrie disse fazendo com que a amiga se sentisse pior ainda.

– Ta. Tudo bem. – disse como se não fosse nada.

A verdade era que ela queria chorar por dentro. Chorar como se não houvesse amanhã.

– Aí estão as duas. – Leah entrou. - É o seguinte: sexta-feira, como todos sabem, eu estarei viajando para NY. Visitar minha avó e gastar os dez mil dólares que estão na minha conta. Carrie vai estar na inauguração de uma loja que a mãe dela decorou e o Seth precisa de companhia para ir a uma festa bombástica.

– Que festa? – Carrie e Nessie perguntaram em uníssono.

– Jacob avisou para Seth que sexta-feira vai ter uma festa para os jogadores de basquete na casa de praia dele. – Leah disse – e ele precisa ir acompanhado. E você, pequena Renesmee, irá acompanhá-lo.

Nessie engoliu seco e os amigos interpretaram sua reação errada.

– Não vai ser tão tuim assim ir a uma festa cheia de gente. – Carrie disse – No meu aniversário tinha mais.

– É, mas a maioria eu conhecia.

– E ainda precisou tomar calmante para subir ao palco. – Leah apontou.

Nessie rolou os olhos.

– Ok, eu vou nessa festa.

Os amigos sorriram e Nessie pensou que ela provavelmente era a pessoa mais azarada da face da terra.

..............................

Bella estava em seu escritório quando Rose, que estava substituindo Katie bateu em sua porta.

– Bells, visita pra você. – a loira avisou.

– Quem é? – Bella perguntou sem tirar os olhos dos papéis que lia.

– Alice Withlock.

– Mande-a entrar. – respondeu ajeitando os óculos e empilhando os papéis em uma organizada e grossa pilha.

Alice entrou com todo o seu glamour de 1,58 de altura adicionando mais oito centímetros de salto alto.

– Olá Bella Swan. – Alice disse sorrindo animada.

– Oi Alice. Ah, esqueci de te dar os parabéns pela gravidez.

– Oh, obrigada. Eu nunca esperaria ter um filho aos trinta e sete anos. Mas é bom, embora o meu médico tenha me dito que era praticamente impossível e se acontecesse seria de risco eu me sinto bem.

Bella sorriu.

– Por isso eu tive a minha com quinze. – ela fez graça.

Alice riu.

– Bem... É sobre ela que eu queria conversar com você.

Alice se sentou de frente para Bella.

– Eu sei que mais cedo ou mais tarde tanto ela quanto o meu irmão irão querer que ela mude o sobrenome e tal, então eu vim pedir para você procurar o Jasper o quanto antes possível para que quando eles pedirem para você, você já estivesse com os documentos prontos.

– Eu pensei nisso. – Bella disse e Alice notou o quanto a amiga parecia uma advogada. – Falei com Jasper há quinze minutos.

Alice sorriu.

– Agora algo mais importantemente juvenil.

– E essa palavra existe? – Bella franziu a testa.

– Pra mim existe. – Alice disse em um tom que não deixava aberto a discussões. – Nessie precisa de acompanhamento psicológico.

– Como assim? – Bella perguntou que tipo de problema sua filha estava passando que não fora procurá-la sendo que as duas eram muito abertas uma com a outra.

– Nessie foi dormir ontem lá em casa, você sabe.

– Sei. Se não tivesse acontecido o que aconteceu eu não iria deixar, mas achei que uma noite com as amigas faria bem a ela. – Bella disse pousando os cotovelos em sua mesa de madeira cor de mogno.

– Bem, fazer até fez... mas ela está em um dilema que eu achei muito adolescente e exagerado, mas ela é sua filha e é dramática e tal, mas está deixando ela psicologicamente afetada pela culpa, preocupação e exacerbada de tantas coisas a pensar. Eu sugiro que você converse com ela.

Bella estava visivelmente preocupada.

Olhou para Alice seriamente aproximou mais o corpo da mesa e disse:

– Me fala o que você sabe. – Bella pediu.

................

Nessie estava com frio. Não era para menos. Amanheceu chovendo – oh, que grande surpresa chover em Forks! – e com, aproximadamente 5˚C. E para piorar estava chovendo agora!

Ela não sabia como Leah iria dançar com aquele frio.

Ela sentou-se no ginásio lotado ao lado de Seth e Carrie ajeitando os óculos que usava para enxergar de perto. Ela amaldiçoava a sua hipermetropia todos os dias.

– Falta muito para começar? – ela perguntou a Carrie.

– Um pouco. – a loira disse – Leah disse que tem algo que vai deixar tudo o que a Lauren fizer no chinelo

Nessie escondeu o riso.

– Não duvido. – ela comentou. – Leah sempre foi muito perfeccionista com tudo!

– Olha, já vai começar. – Seth interrompeu a conversa das duas.

Lauren entrou com suas animadoras.

– OLÁ, PESSOAL! – ela gritou com animação e um sorriso enorme no rosto.

Todo mundo, com exceção dos três amigos gritou em aprovação.

As animadoras se posicionaram e iniciaram a dança, com acrobacias e passos difíceis.

http://www.youtube.com/watch?v=ytBpOUIfOYs&feature=related

Nessie não podia negar o espanto que sentia.

Lauren era boa.

“A vaca loira é boa mesmo”, ela pensou “Só espero que a Leah tenha algo melhor que isso, porque sinceramente, eu acho difícil”.

Subitamente então as luzes se apagaram.

Nessie gritou se agarrando em qualquer pessoa. Se tinha algo que ela tinha muito medo, era do escuro. Ta, nem tanto medo, nada que ficasse a frente dos palhaços, mas era aterrorizante não ver nada.

O teto, então se abriu deixando a chuva entrar na quadra.

Todo mundo soltou exclamações de indignação e medo

“Se isso fizer parte da apresentação da Leah eu juro que a mato” ela pensou tremendo de frio.

A chuva estava tão forte que ela logo ficou encharcada.

– VOCÊ QUER ACABAR COM O MEU SOM? – ela ouviu o garoto que comandava o som brigar com alguém que falou baixo então o carinha gritou apenas um – WOW!

A música começou e o queixo dela caiu de imediato.

– Ahn, com licença. – alguém pediu e ela notou que ainda estava agarrada a pessoa.

Era Marvin, o garoto que sempre narrava os jogos de Seth com os meninos em Rivercourt.

http://www.youtube.com/watch?v=BbyhwmEx2hM&feature=related

– Ela chamou o pessoal da dança de rua! – Carrie exclamou.

Nessie assentiu.

Leah nunca gostou de andar por shoppings como uma patricinha. Ela andava por lugares onde a maioria dos pobres da região, andava por lugares que deixavam Carrie com medo e Nessie preocupada. Lugares que se seus pais sonharem que ela freqüenta iriam deserdá-la e dar ao menos 1% da atenção que ela merecia. E foi nesses lugares que ela conheceu os ‘Washington Pirates’ um grupo de dança de rua. Carrie e Nessie os conheceram no mesmo dia que Leah. E foi uma história bem curta.

Leah estava animada por estar comprando roupas baratas pela primeira vez na vida, Nessie tentava agir despreocupadamente mantendo a mão dentro de seu bolso segurando firmemente seu spray de pimenta e Carrie engolia seco e andava grudada em suas amigas o tempo inteiro. Elas viram um grupo de dança e pararam para olhar, uma das garotas percebeu e foi peitar as três para que elas parassem de olhar. Nessie foi ácida e disse que ela olhava para onde quisesse já que os olhos eram dela. Carrie engoliu seco e Leah peitou a garota de volta. Ficaram amigas naquela mesma hora. A garota se chamava Peyton Richards e era a pessoa mais corajosa que Nessie já havia conhecido.

– A Leah tem um corpão! – Carrie comentou.

– Eu sempre soube. – Nessie deu ombros sem tirar os olhos da amiga que tinha a barriga exposta por culpa do top vermelho e molhado que usava.

Assim que a dança terminou o teto da quadra voltou, as luzes foram ligadas e o aquecedor ligado também.

Leah caminhou até Lauren que se mordia de raiva. Nessie nunca vira a amiga agir de modo tão... negro. Não que ela tivesse algum preconceito, mas Leah sempre agira como uma patricinha loira nojenta com bom coração. Quem tinha seus surtos de ‘negrice’ era Nessie, que peitava qualquer pessoa, girava o pescoço e apontava o dedo não se importando com seus um metro e sessenta e seis de altura contra os um e setenta e cinco da outra pessoa.

– E aí, perua. – Leah disse cheia de si – quero te apresentar o meu grupo.

Lauren olhou para o grupo com o típico olhar de nojo que os ricos esnobes dão para os pobres.

Eric arqueou uma sobrancelha para ela e Peyton torceu o pescoço estalando os dedos, o típico ritual que fazia quando ia bater muito em alguém.

Carrie vendo que sairia uma briga deu um tapa leve na barriga dos amigos e os três se levantaram indo em direção ao grupo.

– Você trouxe o gueto até nós? – Lauren perguntou.

– Oi pessoal! – Nessie disse quando viu Peyton dar um passo em direção a Lauren. – Se soubesse que teria show hoje teria ido aos ensaios.

Lauren olhou para ela horrorizada.

– Aí, se quiser a gente da outro show pra você aproveitando essa água toda. – sugeriu Mozzi, o mais pacifista deles.

O nome de Mozzi era Mozart. Sua mãe fora uma famosa violinista, que falecera ao dar a luz ao filho e desde então ele te vivido com seu pai, um mecânico; sua madrasta, que trabalha lavando roupas para a comunidade onde vivem; e seus dois meio-irmãos gêmeos.

Mozzi tinha uma irmã, mais velha, mas esta conseguida uma bolsa de estudos em Yale, Anna Maria (em homenagem a irmã de Mozart – Anna Maria ‘Nannerl’ Mozart).

– Ou a gente chuta a cara dela pra mostrar como são as coisas lá no ‘gueto’. – Peyton sugeriu.

– Estou com a Peyton. – Makenna levantou a mão.

– Eu não bato em mulheres. – Eric disse. – É contra os meus princípios nem que elas sejam as maiores vadias, mulher não merece apanhar de homem nenhum.

– Encontramos um homem de valor. – Carrie disse tentando desviar a atenção de Lauren para uma discussão melhor e com mais produtividade que não envolvesse pancadas, socos, tapas e nem nada relacionado a ‘atentados físicos’ que provavelmente levaria todos eles para o xadrez e seu pai ficaria muito puto.

O sinal soou e Lauren, ainda olhando com nojo para o grupo, gritou:

– Bruce! Quem ganhou?

Bruce pigarreou aproximando-se do grupo, parando ao lado de Nessie.

– Sinto muito princesa. Mas a gostosa com o pessoal da favela foi melhor.

Nessie olhou para Bruce e lançou um olhar típico de Rosalie o que fez o rapaz se afastar com um largo passo.

– Você lave sua boca quando for falar dessas pessoas. – ela disse severamente – elas têm mais alma que você e sabem muito mais sobre muita coisa do que você jamais aprenderá sobre a vida. Você não passa de um playboyzinho que fica andando pra cima e pra baixo em busca de sexo fácil. E, aliás... sexo, extremamente fácil porque pra pensar em ao menos encostar uma boca na sua... é barra pesada!

Lauren olhou com raiva para a ruiva e saiu batendo o pé, com Bruce atrás dela.

Nessie espremeu os cabelos.

– Espero que esteja feliz, Leah. – disse com raiva – porque eu vou ter que ir em casa trocar de roupa.

– Estou muito feliz. – Leah disse – o ‘povinho do gueto’ ganhou da ‘patricinha nojenta’.

Nessie balançou a cabeça.

Nunca iria entender sua melhor amiga.

....................

Bella não sabia o que pensar quando sua filha chegou em casa molhada dos pés a cabeça.

A conversa com Alice ainda martelava em sua cabeça e ela olhou para a menina esperando a garota dizer algo.

Nessie encontrou os olhos da mãe e captou a mensagem da mesma. Ela queria respostas.

– Depois eu falo com a senhora mãe, porque sinceramente eu não gosto de ficar molhada com água de chuva.

E ela saiu correndo para o quarto.

Bella apenas sentou-se na mesa da cozinha com a cabeça entre as mãos.

Ela não estava sabendo como agir com Nessie. A garota estava matando aula, fugindo da casa de Alice no meio da noite, saindo de manhã cedo mentindo sobre a sua localização, e agora chegava molhada em casa... É, definitivamente ela precisava de ajuda.

Pegou o celular e discou o número da única pessoa que conseguia ligar com adolescentes.

– Alô? – a voz da mulher soou alegre como se estivesse elétrica.

– Oi mamãe, é a Bella. – disse ao telefone.

– Que Bella? – Renée perguntou

– Isabella Swan, sua filha caçula. – explicou rolando os olhos.

Ao que parece seus pais passaram da conta na máquina de café!

– Ah sim! – Renée reconheceu – oi bebê, o que aconteceu?

Com rapidez ela contou tudo o que Nessie vinha aprontando esses dias.

– Bem, não me é surpresa ela estar desse jeito. – Renée disse – ela é sua filha... estava me preocupando com ela. Geralmente os adolescentes começam a aprontar aos catorze anos, ela tem o que? Quase quinze? É só relaxar e deixá-la em paz. Não estoure seus miolos a toa. Sua filha precisa sentir que você confia nela e quando se sentir segura vai te contar o que está fazendo. Eu fiz isso com você.

– É. E eu usei drogas. – Bella resmungou.

– Cada um é responsável pelos seus atos. – Renée disse – Eu fui uma excelente mãe, não fui?

– Foi sim. – Bella disse em um suspiro.

– Bem, então faça o que eu digo. – Renée disse – Agora eu tenho que ir. O seu pai está acabando com o bolo sozinho. Dá pra acreditar?

– O que eu não consigo acreditar é que vocês dois ainda estão inteiros e não tem colesterol e glicose alta. – Bella comentou.

Renée riu gostosamente.

– Beijos bebê. Te amo. Fica na sua. Tchau.

E desligou antes que Bella pudesse dar um ‘tchau’.

– Tchau mãe. – disse para o telefone mudo.

Foi nessa hora que Bella ouviu os passos de Nessie.

Guardou o Iphone de volta na bolsa e esperou a filha de pé na porta da cozinha.

Nessie desceu e encarou a mãe que a olhava.

– A culpa é toda da Leah. – Nessie explodiu no que parecia ser um acesso de raiva. – Ela que inventou de fazer um desafio com a Lauren e usou tudo. Abriu o teto do ginásio e acabou com tudo! Ah, mas eu compus uma música nova... quer dizer... só a letra, porque eu não tive tempo.

Bella encarou a filha, surpresa.

– Eu só queria saber por que você chegou molhando a casa inteira, mas fico feliz por saber que escreveu mais uma letra de música... Ah, aquela Mirror ficou legal. Gostei de verdade. Você deveria fazer uma versão de estúdio dela.

– Pois é... Eu vou falar hoje com o Edward para ver se ele ainda que gravar comigo.

Bella deu um pequeno sorriso.

– Eu nunca o vi dar pra trás. – ela disse – E aí? Já que chegou em casa faltando meia hora para sua aula acabar o que acha de me ajudar a fazer o jantar?

– O que vai ser?

– Bem, se ele ainda tiver o mesmo paladar... Massa! Muita massa, muita coca-cola e muito sorvete para a sobremesa.

Nessie bateu as mãos, animada.

Bella riu.

– Você sempre me lembrou muito dele. Quando ele tinha a sua idade tinha esse mesmo cabelo vermelho. Depois escureceu e depois, pelo o que eu posso ver, clareou.

– Meu cabelo tem muitas faces. – Nessie fez piada.

Bella riu.

– Vai pegar o macarrão. - ordenou

......................

Ainda eram cinco e meia da tarde quando a campainha tocou.

Bella saiu da bagunça que estava sua cozinha, ordenando a Rose que parasse de cutucar o mousse de laranja na geladeira e foi atender.

Ao abrir teve uma surpresa:

– ROYCE! – exclamou puxando o ex-cunhado para um abraço.

– Oi, Bella. – Royce sorriu.

– Royce? – era Rose que aparecia, confusa e completamente assustada com a presença do ex-marido.

– Oi! – alguém gritava – Dá pra descongestionar a porta?

– Tanya? – Bella parecia tão furiosa quanto surpresa.

– Oi, família! – Tanya sorriu entrando e puxando uma mala a qual Bella notou.

– Eu me esqueci de te avisar... – Rose começou para Bella que fez sinal para que ela esquecesse.

– Eu fico feliz por conhecer meu novo namorado, Bella! – Tanya sorriu.

Os olhos das Swan’s se arregalaram.

– Isso não está acontecendo hoje. – Nessie disse.

.........................

Emmett sentia a tensão do ambiente.

Olhou para Rose e a mesma parecia não dar a mínima para o fato de sua irmã estar namorando o seu ex-marido. Bem, ele também não ligava, mas era difícil não notar o mínimo de tensão com Bella fazendo uma cara assassina e apertando tanto a taça de vinho que ameaçava quebrá-la. Nessie não tirava os olhos da comida e Tanya e Royce estavam dando um Sr Beijo Pornográfico. Edward não falara nada disso quando o chamara para conhecer oficialmente a sobrinha, que por sinal, Nessie era linda.

– Então, Emmett... – Rose começou – Você é agente de atletas, não é?

– É. – ele confirmou. Ele não podia negar. Ela era linda, diferente e parecia não ligar para a torcida estúpida e idiota que era a sociedade! – E você o que faz?

– Eu sou fotógrafa. – ela disse com um brilho nos olhos – Ainda sem estúdio, mas será por pouco tempo, garanto.

Edward, então, perdendo a paciência pigarreou.

A taça na mão de Bella quebrou com um estalo.

Tanya e Royce se afastaram na hora.

– Ah, desculpa! – Tanya disse – onde estávamos?

– Você disse ‘Olhem isso’ e aí começou a beijar o ex-marido da sua irmã. – Nessie disse em um tom acidamente sarcástico para a tia.

Tanya não pareceu constrangida.

– Eu vou pegar mais cerveja. – Rose disse.

– Vou com você. – Emmett disse.

Enquanto isso Edward se perguntava se o vidro da taça não machucara a mão de Bella.

– Então... – Tanya começou – não sabia que vocês tinham reatado! – apontou para Bella e Edward.

– Não reatamos. – Bella disse duramente – não que você tenha algo a ver com isso.

Rose e Emmett voltaram com as cervejas.

– Então, Rose... – Tanya começou quando a loira se sentou – Royce me disse que você meteu chifres nele e foi por isso que vocês se divorciaram.

Rose empalideceu. Todos olharam com os olhos arregalados para ela.

– É, e aparentemente ela me traiu com o grandão aí. – Royce disse apontando para Emmett.

– Como é que é? – Emmett chiou. – Se enxerga cara! Eu tenho filho e acabei de conhecer a Rosalie.

Todos fitaram Rose que engoliu seco resolvendo deixar tudo a pratos limpos.

– Eu menti pra você. – Rose sussurrou – Eu nunca te traí.

Royce arregalou os olhos.

– Eu menti porque estava cansada. Você não me deixou escolha. Sua possessividade estava me enchendo o saco. Eu nunca fui uma pessoa presa, e não era com você que eu seria. Você sinceramente achou que eu ficaria inconsciente ao rastreador no meu carro? Ou ao rastreador que você mandou implantar no meu celular? Eu não sou burra, Royce. Eu sou covarde. Burra não. Não tive coragem para te enfrentar e aqui estamos nós. Invadindo um jantar que era para ser especial para Nessie e estragando-o. E eu realmente acabei de conhecer o Emmett.

Royce parecia ter perdido a fala.

Nessie se levantou e disse:

– Eu vou ir ao banheiro, com licença.

– Eu vou pegar mais uma cerveja. – Edward declarou.

Assim que eles se foram Bella chiou:

– Você colocou um rastreador no carro e no celular dela? Você é o que, algum maníaco psicótico?

Royce permaneceu calado, mas olhando magoado para Rose.

– Você é uma vadia. – disse por fim.

Bella se levantou e disse:

– Royce, eu tenho muita consideração por você, mas não volte a xingar a minha irmã ou eu esqueço que você ainda quer ter filhos algum dia. E Nessie tinha conversas mais adultas do que essa aos cinco anos de idade.

E dizendo isso ela foi para a área da piscina.

......................

Bella chegou a área da piscina e passou as mãos pelo cabelo castanho.

– Isso não está acontecendo... – disse para si mesma.

– Infelizmente está. – a voz de Edward soou.

Ela olhou na direção dele. Ele desceu do muro onde estava sentado.

– Estava aí todo esse tempo? – ela perguntou sentindo-se envergonhada.

– Sim. E você precisa se acalmar. – ele disse – suas bochechas estão adoravelmente vermelhas devido a irritação.

Ela soltou um riso curto.

– Você tem que me conhecer tão bem?

– Felizmente sim. – ele respondeu – Eu estava pensando aqui... Nessie agora tem ambos os pais e uma família absurdamente grande... Acho que só falta eu me arranjar! O Emmett já tem meio caminho andado, não dou até o fim da noite pra ele e Rose começarem a se pegar.

Bella o olhou confusa.

– Eu nunca tive ninguém ao meu lado Bella. – ele disse olhando-a nos olhos. – Nesses quinze anos eu nunca tive ninguém ao meu lado. Vai parecer meio gay o que eu vou falar, mas... eu só queria ter você perto de mim. Eu estava na faculdade e ninguém me interessava. Meu maior sonho era morar em uma casa grande, acordar com você do meu lado e nós dois teríamos muitos filhos para nos acordar de manhã cedo gritando que queriam café da manhã ou que era Natal.

Bella tinha os olhos marejados.

– E eu nunca te disse isso, mas você é a pessoa mais sexy que eu já vi na vida. – ambos riram curtamente – Eu sei que nunca vou poder curar as feridas que eu mesmo causei no seu coração, mas eu juro que vou morrer tentando... se você me der mais uma chance. Se der mais uma chance a nós dois.

– Edward... – ela começou – se passaram quinze anos. Você não pode esperar que eu esqueça quinze anos! Não posso dizer que vou fazer isso, porque eu não vou. Eu não sou mais uma adolescente que podia dizer que iria apagar tudo e nunca mais pensar no assunto e fazer exatamente isso! Somos adultos agora. Temos uma filha e uma penca de responsabilidades e...

– Eu sei. – ele interrompeu – Não estou pedindo para você esquecer o que passou nesses quinze anos, e nem para esquecer de suas responsabilidades. Estou apenas pedindo mais uma chance. E eu te prometo que não vou falhar dessa vez.

Ela sentia cada vez mais dificuldade em segurar as lágrimas.

– Você já me fez promessas antes e quebrou. – ela disse erguendo a mão direita onde repousava um anel de prata, grosso e com os nomes deles.

– Mas agora é diferente. – ele disse.

– E no que é diferente? – ela questionou sentindo uma lágrima quente descer por sua bochecha.

– Como você disse... Somos adultos e não adolescentes drogados e inconseqüentes. E, também porque eu sei o que é viver sem você. E não quero isso novamente para mim.

Agora ela já chorava livremente.

Ela enxugou as lágrimas e controlou o choro novamente.

– E eu tenho que dizer que você está sexy demais nesse vestido. – ele disse. – E eu estou com uma vontade imensa de te beijar agora.

Ela sorriu brevemente.

– Você deve. – ela disse.

Ele sorriu.

Era o sorriso mais aberto que ela já o vira dar.

Ele aproximou-se apressadamente dela, pegou seu rosto entre as mãos e a beijou.

As bocas saudosas encaixaram-se perfeitamente. Edward pediu passagem com a língua que foi logo concedida.

Logo eles já sentiam o sabor da boca um do outro. As línguas exploravam novamente as bocas. Mãos dançavam. Bella não sabia o quanto aquela boca, aquele toque fizera falta. E soube que nunca mais conseguiria sobreviver sem aquilo novamente.

Edward sentia-se no paraíso. Aquela boca era tudo o que ele estivera esperando. Era tudo o que ele queria. Tudo o que ele almejava havia quinze anos. E finalmente ele encontrara. Estava em casa.

Nessie que ia atrás dos pais parou na porta com a boca prestes a falar algo.

Sorriu feliz.

Ao menos uma coisa boa acontecera naquela trágica noite.