Commentarius Angeli - Um Testemunho escrita por Francisco Lima


Capítulo 8
Capítulo 8 - E a semana chega ao fim.




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Capítulo VIII – E a semana chega ao fim.

2 de Setembro de 2011, finalmente é sexta feira.

Recentemente ouvi em uma radio que, dois terços dos trabalhadores se acham mais capazes do que seus superiores, sendo a metade deste grupo, formada por pessoas que acreditam que seus gerentes, lideres, ou encarregados são bons profissionais, mas eles mesmos fariam um trabalho melhor. A outra metade deste grupo considera seus superiores verdadeiros incompetentes, que ocupam vagas importantes sem o preparo ou profissionalismo adequado para a função que realizam. Atualmente eu me enquadro no segundo grupo.

Passei alguns dias sem escrever, e não posso dizer que foram dias totalmente comuns. Com certeza foram muito mais comuns do que os últimos dias que relatei, mas esta semana teve seus destaques. Temo estar quebrando todos os protocolos de autores de diários deixando de escrever todos os dias – Um leve sorriso sem graça surgiu e desapareceu rapidamente, dando voz ao senso de autocritica de Wagner – Bom diário, admito que esta tentativa de piada foi péssima, com certeza não estou em um dos meus dias mais inspirados para isso.

Na segunda feira desta semana fui convocado para participar de uma entrevista de emprego. Foi bem diferente do que eu esperava, apenas eu e mais outros dois candidatos participamos da seleção e apenas um foi dispensado. Conversei por alguns minutos com o gerente da empresa após responder algumas questões de um teste de admissão. A sala do gerente não transmitia uma imagem de ordem, as pilhas de papeis e documentos sobre a mesa postos de canto, sugeriam que ele teria um dia muito tedioso pela frente. As cortinas fechadas tapando a claridade natural do dia e a lâmpada incandescente gerando aquela luz artificial enchiam as prateleiras de sombras e faziam com que a sala parecesse estranhamente desconfortável.

Nos últimos dias tenho me habituado a minha nova rotina. Acordar cedo, andar por alguns minutos até o ponto de ônibus, ir ao trabalho, voltar para casa, ir a faculdade e retornar para o conforto do maravilhoso mundo dos sonho que esta situado sobre a minha cama e abaixo do meu cobertor. A verdade é que é muito cansativa a rotina de se trabalhar e estudar.

E o que dizer sobre o meu emprego? Esta repleto de pessoas falsas, invejosas, que criticam seus companheiros de trabalho apontando neles seus próprios defeitos. Os funcionários do meu setor que se aproximam para fazer amizade, o fazem para ter alguém com quem se queixar. Alguns dos funcionários mais velhos dizem que iram nos ensinar a realizar nossas tarefas, apenas para transferir suas próprias obrigações para os mais novos. Nossos superiores são arrogantes, egocêntricos, e mesmo sendo apenas funcionários comuns, assim como todos os outros, agem como se acreditassem que são sócios da empresa. Enfim, em resumo, o lugar tem todos os “ingredientes” necessários para um “ambiente saudável” de trabalho. Bom, parece que minha veia cômica esta esquentando.

Falei com Allan ontem pelo celular, ele já se acostumou a andar por ai com Lex. Até o momento não tive mais nenhum contato com Thais e Pascal. Estava pensando naquela garota que encontrei no domingo quando Allan e eu saímos com Lex, aquela cachorra dela me deixou intrigado, e o fato dela ter me dito que era possível ter sido ela o cão que vi naquela noite em que perseguimos e lutamos contras as Aves dos Condenados me incomoda. Bom, talvez não chegue a ser um incomodo, pode ser só um pouco de medo mesmo.

Dorothy era o nome dela, ela tinha uma coisa que chamava atenção, é claro, além do cabelo gigante um pouco abaixo dos joelhos. Os olhos, um de cada cor, não que seja tão incomum, eu já tinha conhecido uma pessoa com os olhos assim, mas não é algo que se vê por ai com muita frequência. Chama-se “heterocromia”, é causada por uma anomalia genética no cromossomo responsável pela quantidade de melanina nos olhos. A internet tem todas as respostas que os curiosos podem querer, basta procurar bem.

Allan acabou de me ligar, me disse para ir encontra-lo em uma lanchonete que fica próxima do centro. Thais quer falar conosco, estou com a impressão de que terei muito mais o que escrever quando voltar dessa conversa. Eu vou me arrumar.

– Não precisa, esta ótimo assim! – Ouviu a pouco a voz de Thais vindo da janela a minhas costas, ela estava em meu quarto com as pernas cruzadas de pé, e as mãos apoiadas sobre a janela. Respirei fundo antes de responder.

– Já ouviu falar em campainha, telefone, avisar que esta entrando? Você precisa mesmo aparecer dessa forma? – Eu perguntei.

– Não, mas eu adoro o efeito que isso causa! – Thais me respondeu com um sorriso brincalhão estampado no rosto – Você sempre murmura o que escreve?

– Nem sempre, mas faço isso com frequência, me ajuda a formular algumas frases. – Respondi enquanto calçava o tênis – Qualquer dia desses os meus pais ou o meu irmão vão acabar vendo você aparecer do nada aqui no meu quarto e vão achar isso muito estranho.

– Nossa um rapaz jovem com uma garota no quarto, que “estranho”! – Ela falou com ar irônico acenando as aspas com os dedos indicadores e médios das duas mãos ao falar a palavra estranho.

– Sabe do que estou falando! – Eu respondi, não conseguindo deixar de achar graça do comentário dela.

– Eu sei! – Ela me respondeu sorrindo – Eu só estava brincando, mas me de licença, eu vou tocar sua campainha!

Ela desapareceu quando eu pisquei os olhos. Decidi escrever tudo agora, já que acabou de acontecer, mas vou ter que parar por enquanto, minha mãe acabou de atender a porta depois de ouvir a campainha e oficialmente, Thais acabou de chegar.



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Notas finais do capítulo

A partir daqui, alguns pontos serão esclarecidos.