Commentarius Angeli - Um Testemunho escrita por Francisco Lima


Capítulo 34
Reencontro Indesejável


Notas iniciais do capítulo

Muito obrigado AngelSPN, sempre que termina uma betagem, me sinto mais aliviado para postar um novo capítulo.



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Capítulo XXXIV – Reencontro indesejável.

Hoje entendo mais sobre o que chamamos de experiência de vida. Viver boas e más situações nos torna pessoas mais alertas, mais preparadas, tanto para aproveitar melhor as oportunidades que surgirem ao longo da vida, quanto para que saibamos nos preparar e nos defender quando estivermos prestes a nos deparar com situações perigosas. Graças a experiência, mesmo que não possamos evitar certas situações, somos capazes de nos preparar quando avistamos o que à por vir.

Nós surgimos em um cômodo rebocado com cimento, sem os acabamentos finais, a luz entrava pelo que seria o lugar da janela quando a colocassem no lugar. Estávamos em um quarto de um apartamento em construção, embora pudéssemos ouvir alguns barulhos, parecia que não haviam trabalhadores por ali, os poucos ruídos que podíamos ouvir, com certeza pertenciam as lutas que eram travadas naquele instante, neste cenário inusitado.

– Este é o antepenúltimo andar, quando fui buscá-los eles estavam dois andares abaixo e... – Thais foi interrompida quando o teto a suas costas desabou e dois corpos passaram direto atravessando o quarto onde estávamos e caindo no apartamento do andar abaixo – Bom, eles subiram, mas parece que estão descendo de novo! – Ela falou olhando para o cômodo de baixo pelo buraco causado no desabamento. – Ezequiel, eu disse para você não destruir tudo por aqui! – Ela gritou colocando as duas mãos junto à boca, com os polegares embaixo do queixo e com os dedos indicadores e médios tocando o nariz para direcionar o som.

– Olavo, empolgado como sempre! – Marília falou com um tom de graça na voz referindo-se ao anjo, a quem Thais chamou de Ezequiel, que atravessou direto pelo apartamento onde estávamos e então lutava no andar abaixo de nós.

– Droga, eles estavam mais contidos quando eu os deixei! – Thais falou ainda olhando para baixo.

– Que lugar e esse? – Eu perguntei.

– Uma construção para moradia popular, mas está abandonada a mais de oito anos! – Ela falou me olhando com o canto dos olhos. – estamos no décimo andar, o prédio tem doze andares.

O som de três disparos acima de nós nos chamou a atenção, não sou capaz de dizer quando percebi que Thais havia sumido da minha frente depois de olhar para cima por causa dos disparos e quando a senti ao meu lado segurando a minha mão e de Allan.

– Lucia, ajude Ezequiel! – Então ela nos transportou para o andar de cima, Allan correu até a porta que levava ao corredor daquele andar e a abriu tirando seu corpo da frente. Tão rápido quanto o ar do corredor poderia entrar pela porta, meu arco longo de madeira branca estava envergado com uma flecha pronta para ser disparada.

– Vão, eu vou ajudar a Lucia! – Thais falou e desapareceu por trás de nós.

Nós corremos até um dos apartamentos ao lado de onde os sons dos disparos estavam vindo, ouvimos mais três disparos e então a porta se abriu e um rapaz de cabelos castanhos e vestes escuras passou correndo por ela e veio em nossa direção.

Busquei uma flecha em minha aljava e enverguei o arco galês, tive certeza de ter aquele homem em minha mira antes de disparar minha flecha contra seu coração. Pascal saiu correndo do apartamento em perseguição a seu oponente, ele ergueu seu revolver e disparou instintivamente contra as costas do fugitivo. Allan me empurrou para a parede a minha esquerda enquanto ele se jogou para a direção oposta. O homem que fugia do combate com Pascal desapareceu diante de nós, seu corpo pareceu se desfazer em uma rarefeita nevoa escura, como a liberada pela queima de combustíveis fósseis, como gasolina ou diesel. A bala de luz disparada por Pascal atravessou a fumaça escura e atingiu a parede, passando no meio do corredor entre Allan e eu. Minha flecha fez o mesmo que a bala de luz e Pascal teve que se esquivar para não ser atingido.

– Garotos, Gabriel foi buscá-los? – Pascal perguntou.

– Sim, Marília nos encontrou primeiro! – Respondeu Allan – Elas estão lá embaixo.

– Devem ter ido ajudar Ezequiel! – Pascal respondeu.

– Isso mesmo! – Eu confirmei.

– Ótimo, Hadriel está lá em cima com o garoto! – Pascal pousou sua mão sobre nossos ombros – Vamos! – Ele nos transportou para o último andar.

O brandir das espadas parecia explodir no corredor do andar de cima, onde surgimos, duas montantes se encontravam naquele momento. Hadriel segurava ajoelhado, sua espada em posição de defesa com as duas mãos sobre a cabeça, uma espada longa, provavelmente a maior e mais pesada das espadas já utilizadas em batalha, principalmente por guerreiros germânicos e escoceses do período da idade média. Ele segurava o cabo de sua espada com firmeza enquanto seu oponente projetava seu peso sobre a lâmina de sua própria espada, afim de quebrar a defesa de Hadriel.

Ambas eram montantes, ou espadas longas de dois gumes. A espada de Hadriel tinha um cabo trabalhado, entalhado de madeira branca, assim como a do meu arco, com um pomo maciço prateado em sua extremidade para contrabalancear o peso da lâmina que tinha gravada sobre ela símbolos iguais aos gravados em meu arco, ou em qualquer uma das armas dos outros anjos que conheci. As duas espada possuíam o mesmo formato, embora a espada sobre a arma de Hadriel fosse feita de um metal negro, e a madeira de seu cabo parecia de um tom escuro mais avermelhado, como o mogno.

Hadriel ergueu o joelho esquerdo apoiando-se com o pé e então o usou para se impulsionar e com isso fez um movimento que lhe permitiu se levantar e fazer seu oponente recuar ao mesmo tempo. Diante dele, estava um outro guerreiro que utilizava uma arma igual a sua, seu olhar transmitia frieza, um pouco de raiva, mas uma raiva controlada, dirigida, aquele com certeza era um adversário perigoso.

– Hadriel, onde está o garoto novo? – Pascal perguntou, enquanto apontava sua arma contra aquele que lutava contra nosso aliado.

– Estava comigo – Ele fez uma curta pausa sem baixar a guarda, falando em um tom que parecia despreocupado – Mas não está mais! – Hadriel falou balançando negativamente a cabeça.

– Pretende interferir em nosso duelo? – Perguntou o homem diante de Hadriel olhando para Pascal. Ele devia ter algo em torno de um metro e oitenta, olhos escuros e bem expressivos, cabelo ondulado curto, vestia sapatos de couro pretos, terno cinza desabotoado, e por baixo uma camisa preta.

– Pro inferno com seu duelo idiota! – Pascal respondeu.

– O que você sabe sobre lá? – O demônio perguntou, com um sorriso cínico.

– Haziel, eu sou o oponente dele, um contra um, igual ao Tom! – Hadriel falou, e embora fosse claro que ele estava determinado a continuar sua batalha, sua atenção não parecia direcionada a seu oponente ou mesmo para Pascal, na verdade parecia que outros detalhes presentes à nossa volta prendiam-lhe mais a atenção.

– Em que ano você acha que está Hadriel? – Pascal perguntou com os olhos fixos no homem com a espada diante dos dois – Não viemos aqui para brincar de Távola redonda, onde está o garoto novo?

– Com o Tom! – Hadriel respondeu – O Tom luta como cavaleiro, o Tom luta como cavaleiro, eu também sou cavaleiro, então devo lutar como o Tom.

– Tom? – Perguntei em voz baixa.

– É o Thomas! – Allan respondeu.

Ouvimos alguns barulhos nos andares de baixo, parecia que outra parede tinha sido derrubada. O homem de terno a nossa frente sorriu sem baixar a guarda.

– Me desculpe, mas antes de vir atrapalhar minha luta, não devia ir terminar a sua? – Ele inclinou o tronco para frente e investiu contra Hadriel ignorando a postura ofensiva de Pascal.

Antes que Pascal pudesse disparar, o homem que havia fugido dele no andar inferior surgiu muito rapidamente do chão pelas suas costas, o agarrou e saltou com ele e seus corpos pareceram por uma fração de segundos se desfazerem em uma rarefeita nuvem de fumaça escura. Mas antes que pudesse desaparecer com Pascal, Allan correu em direção de onde eles estavam e desferiu um golpe diagonal para cima com sua lança, que com um brilho forte de luz em sua lâmina atravessou a fumaça, o brilho no metal da lança se extinguiu, como se sua luz tivesse sido sugada para junto dos dois transportados e Pascal ressurgiu caindo no chão, enquanto o demônio que o atacara pelas costas surgiu diante de nós caindo de joelhos no chão segurando o ombro direito com a mão.

Hadriel bloqueava os ataques de seu oponente usando sua espada sem se deixar abalar pelo que ocorreu a seu lado. Provavelmente aquela tinha sido uma tentativa frustrada de distraí-lo ao mesmo tempo em que se livrava de um ataque de Pascal. Embora seu plano não tivesse dado certo, o oponente de Hadriel o atacava com grande habilidade demonstrando experiência ao manejar a espada. O anjo diante dele por outro lado, bloqueava cada ataque e embora todos os seus movimentos fossem muito rápidos, ele os fazia com uma expressão de tranquilidade e paciência, sem em nenhum momento permitir que seu adversário conseguisse abrir alguma brecha em sua defesa.

Pascal apontou sua arma e a disparou, mas o demônio que o enfrentava desapareceu mais uma vez enquanto ainda estava no chão. Ele deu um grunhido de raiva quando viu o que aconteceu.

– Esse desgraçado não para de fugir! – Pascal falou irado.

– Vamos ajuda-lo! – Allan falou se referindo a Hadriel.

– Não, Hadriel ficará bem, precisamos encontrar o Thomas! – Pascal falou.

– E como vamos achá-lo? – Eu perguntei – Ele pode ficar sempre se transportando, como vamos saber onde ele está?

– Tive uma ideia, você pode senti-lo Allan? Pascal perguntou.

– Sim! – Allan falou franzindo um pouco a testa, ele balançou um pouco a cabeça e continuou – Ele está alguns andares abaixo, mas está lutando, aparece e desaparece muito rápido, é difícil dizer onde está com segurança.

– Está abaixo de nós, já ajuda bastante, vamos! – Pascal nos segurou pelos ombros e nos transportou mais uma vez, nós surgimos caindo do teto no andar de baixo e antes que chegássemos até o chão, desaparecíamos e surgíamos no andar abaixo seguinte. Descemos assim quatro andares, até conseguirmos ver Thomas de relance e cairmos no andar logo a baixo – Nós passamos por eles! – Pascal falou e nos transportou para cima.

Um homem alto, de cabelo raspado e cavanhaque com uma lança feita com uma haste de madeira avermelhada e uma ponta com uma lâmina negra lutava contra Thomas. O homem investiu em um ataque violento contra ele, mirando a ponta de sua lança acima do abdômen. O templário agarrou a cadeira de rodas do garoto por trás de si e se transportou para o lado evitando o golpe e se posicionando para contra- atacar.

Thomas recebeu o ataque da lança de seu adversário girando o escudo e o quadril para a direita, o garoto que ele protegia gritava de medo cada vez que as armas se encontravam e protegeu os ouvidos com as mãos depois do barulho causado pelo último ataque.

Allan correu em direção ao inimigo no instante em que a lança negra se chocou contra a cruz pátea do escudo de Thomas. Ele correu com grande explosão e antes que pudesse perceber já estava confrontando o demônio que lutava contra nosso companheiro.

Ao perceber a investida de Allan o demônio usou a haste de sua lança para desviar o ataque da lança de Allan, a deslocando para o lado, e ele então recuou contra a parede. Allan e Thomas o encurralaram nesta hora enquanto Pascal correu em direção do garoto.

Hélio era um garoto jovem, negro, de cabelo crespo bem curto, olhos escuros, braços fortes, provavelmente por estar sempre tendo que usá-los para tudo que faz e para movimentar a cadeira. Ele usava luvas pretas com detalhes azuis deste tipo que se utiliza para praticar esportes como ciclismo ou musculação, curtas, presas com velcro ao pulso, com uma abertura nas costas das mãos e com as pontas dos dedos para fora.

O demônio que enfrentava Pascal quando chegamos apareceu diante dele antes que ele chegasse até Hélio. Pascal tentou mirar seu revolver, mas o demônio o agarrou o impedindo de atirar.

– Me solta seu cretino! – Pascal gritou com raiva – Wagner, ajude os garotos.

– Certo! – eu concordei e corri para ajudar Thomas e Allan.

O demônio com a lança que lutava agora contra Allan e Thomas demonstrava habilidade em se defender com sua arma, tanto Allan quando o templário tentava fazê-lo abrir uma brecha em sua defesa o atacando por um lado para abrir espaço para o ataque do outro, mas o faziam sem sucesso.

– Allan! – Eu gritei e disparei uma flecha contra o inimigo, eu pensei tê-lo acertado no braço, mas a flecha o acertou de raspão e apenas prendeu a manga de sua camisa na parede. O garoto assustado gritava com os olhos fechados e as mãos tapando os ouvidos em meio a tudo.

Ouvi um grito de dor quando Pascal finalmente conseguiu acertar um disparo no demônio de cabelos castanhos que lutava com ele. O tiro também não fez um ferimento grande, mas chegou a atingi-lo.

– Agora! – Allan falou exaltado e desferiu um golpe rápido e furioso contra o homem preso a parede, mas surpreendentemente este puxou o braço com força rasgando a manga da camisa e conseguiu se mover para desviar do golpe.

O demônio de cabelos castanhos desapareceu novamente sumindo em meio à fumaça para aparecer junto de seu companheiro e o transportou, o tirando do cerco formado por Thomas e Allan, depois ele surgiu ao lado de Hélio. Quando tentou agarrá-lo pelo braço foi atingido na palma da mão por uma das minhas flechas.

– Nossa, a sua mira melhorou muito! – Pascal comentou, e o elogio foi reforçado por um assobio longo de Thomas.

Hélio estava assustado, claro, quem não ficaria em seu lugar, ele era apenas um adolescente, e já estava a muito tempo preso neste fogo cruzado.

– Afastem-se dele! – Pascal gritou para os dois.

– Por quê? Por acaso acham que fazem menos mal a ele do que nós? Acha que é só de nós que ele tem medo? – Perguntou o demônio com a lança.

Enquanto ele parecia distraído com Pascal enverguei meu arco e disparei uma flecha contra aquele que demonstrava mais habilidade em se transportar, enquanto Thomas percebendo minha intenção e para aproveitar o momento partiu em um ataque se transportando para perto dos dois, no instante em que disparei minha flecha, para pegar o demônio careca desprevenido. Porém, o demônio de cabelos castanhos percebeu nossas intenções e conseguiu evitar ser atingido, em vez disso, ele agarrou seu parceiro que com sua lança causou um ferimento no ombro de Hélio. Como a lâmina da lança tocava a carne do rapaz, ele foi transportado junto com os demônios sem que pudéssemos impedir.

Thomas bufou de raiva e balançou a cabeça negativamente, ele olhou para cima e então em um salto desapareceu no ar.

– Eles subiram! – Allan comentou, com expressão de atenção estampada na face.

– Então vamos! – Pascal nos agarrou e nos transportou mais uma vez com ele.

Surgimos novamente no último andar, Hadriel estava lá e ainda lutava com seu oponente, que durante todo esse tempo enquanto lutava com Hadriel ainda não tinha sido capaz de penetrar em sua defesa, a frustração e a raiva do demônio estavam bem claras em sua expressão e quanto mais raiva e ira ele sentia, mas violentos e mais imprudentes eram suas investidas contra Hadriel, que permaneceu em todo momento sem esboçar qualquer sentimento a não ser de tranquilidade, na verdade acho que ele parecia mais estar sempre com uma imutável cara de distração.

Thomas já estava atacando o demônio careca quando Allan se pôs entre ele e seu adversário. Allan correu até eles raspando a lâmina de sua lança no chão e desferiu um ataque que o atingiu fazendo um corte superficial em seu abdômen. O som das lâminas e das hastes das duas lanças se encontrando em sequencias de ataques e movimentos defensivos começou a se espalhar por aquele andar enquanto os dois guerreiros lutavam em um duelo de armas semelhantes.

Ao ver Allan, Thomas percebem que por causa de sua arma e sua forma de lutar, Allan tinha mais chances de penetrar na defesa do inimigo e de derrotá-lo. Da mesma forma, Thomas tomou para si o então oponente de Pascal. O demônio de cabelos castanhos revelou duas facas com o cabo entalhado feito com a mesma madeira avermelhada e as lâminas de metal enegrecido como as armas de seus companheiros, enquanto lutava com Thomas, ambos desapareciam e reapareciam muito rapidamente entre um golpe e outro, embora fosse claro que suas investidas eram sempre mais traiçoeiras.

– Wagner! Vamos! – Pascal gritou para mim e se virou para correr até Hélio.

Diante de nós, surgiu envolta a uma fumaça escura que logo se dissipou, uma garota baixa, magra, com cabelos loiros repicados na altura dos ombros, algumas sardas sobre o nariz e abaixo dos olhos, ela vestia short jeans preto, e uma camiseta preta por baixo de uma camisa desabotoada cor de vinho, com as mangas dobradas acima do cotovelo. Com a mão direita ela segurava junto ao ombro a alça de um tubo de projetos preto, e uma lata de tinta spray na mão esquerda. A garota se colocou entre nós e Hélio, seu olhar transmitia frieza e ela parecia muito segura de si, para ser capaz de se opor a Pascal e eu.

– O nosso grupo não é tão fraco como a maioria, nós não estamos acostumados a falhar! – A garota loira falou para nós. Hélio enxergou neste momento uma oportunidade de se afastar de tudo aquilo, ele virou sua cadeira e correu rápido com ela até as escadas no fim do corredor, mas ao chegar lá percebeu que outra luta acontecia logo no fim da primeira descida do lance de escada, o que o fez se jogar no chão e rastejar pelos degraus para subir ao terraço do prédio, nesse momento não sei o que ele tinha em mente, acredito que a única coisa que ele queria era sair de perto de todos. A garota que se colocava entre Hélio e nós não pareceu se importar, ela tinha confiança de que iria pegá-lo de qualquer forma.

– Ah, cala a boca! – Pascal falou irritado, mirou e disparou uma bala de luz contra a garota, que se jogou e girou no chão para a esquerda.

Muito rápido, tanto que não fui capaz de enxergar perfeitamente quando ela o fez, ela tirou uma folha de papel de seu tubo de projetos e a esticou no chão, a folha tinha símbolos estranhos recortados que foram marcados quando ela usou a tinta spray sobre o papel e então uma sensação de mal estar se instaurou e um calafrio me percorreu a espinha. Pascal atirou mais uma vez contra ela, mas ela se transportou para o lado para evitar o golpe.

Duas figuras indefinidas, como se seus corpos fossem feitos daquela mesma fumaça rarefeita, deixada pelos demônios quando se transportam, surgiram no corredor. Não tenho como fazer uma boa descrição das criaturas, por que elas não apresentavam corpos bem definidos fisicamente, eram como uma nuvem de fuligem que tomava a forma de um animal como uma hiena, mas com um porte de um cachorro grande, como um São Bernardo ou um terra nova.

– Essa não é uma invocação fácil de controlar! – Pascal falou. Allan e Thomas tiveram sua atenção atraída pelo feitiço realizado pela garota, mas não puderam deixar de se concentrar em suas próprias lutas.

– Ataquem! – A garota ordenou, depois andou alguns passos de costas olhando para nós, até se virar e ir atrás de Hélio.

Me preparei e disparei duas flechas rápido, que os atravessou quando ainda estavam longe de nós, mas foi só isso que elas fizeram, atravessaram seus corpos sem nenhum efeito.

– Cuidado! – Pascal falou se colocando em minha frente e fazendo um gesto rápido com o braço esquerdo fazendo surgir diante de nós uma barreira de luz que brilhou intensamente por um segundo.

– Cães do inferno nunca param depois que definem suas presas, a menos que os mate. – Pascal explicou. As criaturas recuaram, mas logo se prepararam para nos atacar mais uma vez, ele as afastava com sua barreira de luz e com os disparos de sua arma. – Por isso não é fácil encontrar alguém capaz de invocá-los, eles normalmente atacam aquele que o fez. – Ele se transportou para evitar um ataque e ressurgiu rápido disparando contra o monstro que havia saltado para tentar mordê-lo, mesmo os ataques de Pascal demonstrando efeitos, as feras continuavam determinadas em seu desejo por nos caçar.

– A minha flecha atravessou essa coisa, como posso matá-lo? – Eu tive que saltar para o lado para escapar de uma destruidora e feroz mordida. Pascal atirou com sua arma na criatura e pareceu ser capaz de feri-la.

– Acho que você ainda não domina seus poderes bem o suficiente pra isso, mas não podemos deixá-la pegar o garoto! – Ele falou afastando as criaturas de nós.

– Eu vou atrás dela! – Eu falei e corri contando com Pascal para me dar cobertura. Eu senti as patas enormes de uma das criaturas em minhas costas me derrubando no chão, felizmente Pascal se transportou para junto de mim e afastou o monstro, me permitindo levantar e correr mais uma vez até as escadas.

Eu subi correndo pelas escadas passando pela porta aberta até o terraço com medo de termos falhado em proteger aquele garoto, e quando cheguei até lá confesso que aquilo que vi não me trazia boas recordações, bem como aquele desagradável odor de óleo queimado.

Hélio estava no chão, apoiado sobre o braço esquerdo olhando abismado para aquilo que estava diante de seus olhos. A garota loira estava a alguns metros diante dele segurando uma pedra com uma pena amarrada a ela por uma fita. Entre ambos a criatura gigante encarava Hélio, maior do que as outras que eu já tinha enfrentado a um tempo atrás pelo que me lembro. A garota invocou uma ave dos condenados.

– Eu disse que conseguiria pegá-lo. – Ela falou em voz alta.

– Muito bem! Você é mesmo fantástica com suas invocações e feitiços! – Falou uma vós masculina, eu conhecia aquela voz. Hélio estava desesperado e gritou ainda mais alto e com maior desespero do que em qualquer outra vez.

A ave dos condenados abaixou mais a cabeça e encarava o garoto nos olhos, parecia enxergar o pavor que brotava de sua alma.

– Olha só! Um dos insetos deles conseguiu chegar até aqui, vocês estão descuidados! – O homem que falava com a garota me percebeu e se mostrou saindo por de trás da fera caminhando tranquilamente. – Não faz ideia do quanto estava ansioso para encontrá-lo e a seu amigo novamente!

– Ademar! – Eu falei rangendo os dentes.


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