Commentarius Angeli - Um Testemunho escrita por Francisco Lima


Capítulo 35
Capítulo 35- Mar de fogo.


Notas iniciais do capítulo

Gostaria de Agradecer minha beta AngelSPN por continuar aqui, acompanhando a fic e por continuar a me ajudar betando esta fic. Acho que agora consigo escrever até o fim!



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Capítulo XXXV – Mar de fogo.

O Broncoespasmo Induzido pelo Exercício, o “BIE”, pode acontecer após a pratica de atividades físicas intensas. A maioria das crianças asmáticas experimenta algum grau de obstrução brônquica enquanto realiza, ou após o exercício físico. Embora o BIE possa vir a ocasionar uma crise, ele não é capaz de agravar a doença e pode ser evitado pelo uso de medicamentos e com aquecimentos adequados. A pratica constante de atividades físicas, quando feitas de maneira correta, também tendem a melhorar a resistência do asmático.

Os últimos momentos podem ter se passado em minutos mas toda a tenção fez parecer que foram horas. Ademar surgiu naquele momento à minha frente como uma anunciação de total perda de controle e a abertura dos portões para a instauração do caos.

– Devo admitir que tenho uma grande satisfação em revê-lo aqui! – Ademar falou em auto tom de voz – Se bem me lembro havia lhe prometido ser seu algoz em nosso último encontro.

– Verdade! – Eu respondi buscado esconder meu nervosismo – Isso foi pouco antes de você se amedrontar com Raphael e fugir antes que Thomas muda-se de ideia em poupar a sua vida!

A ave dos condenados grunhia e abria suas asas envergando-se para cima e para frete, assumindo uma postura ameaçadora e verdadeiramente aterrorizante. Imagino que para Hélio, já não houvesse mais medos racionais, não acredito que ele ainda se mantivesse percebendo o que estava acontecendo e ainda conseguisse associar os acontecimentos, com tantas coisas completamente inaceitáveis para a noção de realidade de qualquer indivíduo normal, e depois de tantas situações claramente ameaçadoras ele deveria estar “mergulhado” em seus medos.

– Seu fedelho atrevido! – Ademar rosnou para mim, e apenas me olhando com o canto dos olhos, sua companheira fez com que a ave curvasse o pescoço para me encarar – Não precisa voltar sua atenção a ele, leve logo este traste escandaloso daqui, ele já nos deu muito trabalho! – Ele falou referindo-se a Hélio e caminhou até mim, fazendo sua espada surgir em sua mão direita.

Apertei meu arco e uma luz forte junto a meu braço o envolveu tomando forma e o cobrindo com um braço de armadura até o ombro, preparei meus sentidos para estar preparado para o próximo movimento de Ademar. Ele ficou entre mim e a garota.

– Certo, vou levá-lo então! – Ela falou e a ave começou a caminhar na direção de Hélio. A ave bateu suas asas para saltar e estendeu sua garra para agarrar o garoto.

– Eu não vou deixar! – Eu disse depois de já ter disparado três flechas contra a ave. Duas delas atingiram sua garra a fazendo dar um breve grunhido de dor e raiva. A outra flecha fincou-se sobre a superfície do escudo com a marca da lua minguante surgido no braço esquerdo de Ademar.

– Não pense que vai sair ileso daqui hoje, ou que vamos deixar a batalha sem nenhuma conquista! – Ademar falou enquanto arrancava a flecha de seu escudo.

Me preparei para disparar novamente. Por mais que conhecesse a força de Ademar, não poderia perder tempo com ele ou eles levariam Hélio embora.

– Não pense você que vai deixar a batalha! – Eu respondi decidido a dar um fim a tudo isso. – Desta vez, não vou deixar que você saia daqui! – Disparei minha flecha contra Ademar que se transportou e surgiu ainda mais perto, mas quando ele reapareceu, eu já tinha outra flecha envergando meu arco e disparei novamente contra ele, o forçando a se transportar para longe.

Em sua investida seguinte, minha flecha já estava perto demais quando ele se transportou para ele ter tempo de desaparecer novamente, então ele a bloqueou com seu escudo. Quando estava bem próximo, ele desferiu um golpe lateral girando o quadril assim como Thomas fazia para projetar seu peso e potencializar a força bruta do golpe.

Me esquivei jogando o corpo para trás para evitar seu ataque, mas enquanto sua espada ainda girava a minha frente ele desapareceu surgindo a minhas costas ainda executando o mesmo golpe. Ainda fui capaz de tentar evitar o ataque, mas sua lâmina me tocou e ele conseguiu fazer um corte superficial pouco acima as minhas costelas até perto do meu pescoço.

Recuei com os olhos fixos em Ademar e toquei o corte em minhas costas com minha mão direita. Era evidente que ele não estava satisfeito com o resultado de seu último golpe, o elemento surpresa daquele ataque foi um grande diferencial, e por muito pouco aquele golpe não foi o que poria fim a minha vida.

– Fedelho irritante, isso acaba agora! – Ademar falou com os olhos fixos nos meus enquanto uma fumaça escura começou a envolver toda a extensão da lâmina de sua espada, de onde queimou uma chama vermelha escura. O vermelho da chama em sua lâmina se refletia em seus olhos, que por sua vez eram o retrato da alma de um assassino.

Desta vez Ademar não se transportou. Em vez disso a fumaça negra disparou em minha direção com o foco das chamas queimando de dentro para fora, e em uma fração de segundo Ademar estava diante de mim, e as chamas escuras em sua espada explodiram sobre meu arco e a armadura em meu braço esquerdo me fazendo cair batendo o joelho direito no chão enquanto suportava a pressão causada por seu golpe. As chamas de um vermelho vivo caíram em torno de mim, mas por alguma razão não me queimaram.

Quanto o fogo começou a se apagar eu encarei Ademar que me olhava com ódio nos olhos, ainda projetando seu peso sobre a espada. Naquele momento algo havia acontecido com meus olhos, podia enxergar Ademar com mais clareza, como se estivéssemos a luz do dia, na verdade, as cores que eu enxergava me pareceram mais vivas. A armadura prateada em meu braço esquerdo refletia um brilho forte que parecia ser capaz de repelir as chamas daquele golpe, mas logo as cores que eu enxergava voltaram ao normal, e a luz que o braço de armadura refletia parou de brilhar.

– Como você é irritante! – Ele resmungou – O vi inclinar o corpo novamente para me atacar, e então senti que o ar me faltava, e fui invadido por aquela conhecida e detestável sensação. A tosse me tomou e me dominou, me fazendo ficar vulnerável. Quando Ademar me atacou novamente seu golpe não foi tão potente, nem tão violento ou espetacular como o anterior, mas mesmo que eu tenha conseguido bloquear o ataque, não tive forças para suportar o golpe e cai no chão, meus olhos estavam fechados quando senti a força de um chute que me atingiu à altura do estômago.

Com a mão direita puxei a bombinha de asma do bolso da calça, mas senti o cavaleiro renascido chutar a minha mão fazendo meu inalador ser atirado para longe.

– O que é isso? Asma? É só isso que você tem? Ele perguntou. – Acho que os mais fortes devem ter problemas mais sérios. – Ele então começou a chutar o meu abdômen repetidas vezes me empurrando cada vez mais para uma realidade onde não existe nada além da dor e do desespero, nada, principalmente o ar.

Minha vontade me fez sentir que segurava uma de minhas flechas com minha mão direita, mesmo sem eu ter que levá-la até minha aljava, e quando recebi outro dos chutes de Ademar, eu a estoquei em sua perna que reagiu gritando e parando de me chutar, não sei se ele caiu no chão ou não, eu ainda estava tentando conseguir respirar. Quando se tem uma crise de asma tenta-se puxar o ar com tanta força para dentro dos pulmões que parece que os músculos da sua garganta vão arrebentar.

Rastejei até o meu inalador que havia caído perto de uma parede não muito longe de onde eu estava e o senti soprar a vida novamente para dentro dos meus pulmões me recuperando daquela crise.

Ademar tirou minha flecha de sua panturrilha e a segurando com as duas mãos recitava em voz baixa e muito rapidamente palavras que pareceram fazer parar o sangramento e anular a sua dor. A garota loira que assistia nossa luta enquanto a ave dos condenados aterrorizava Hélio percebeu que eu estava começando a melhorar e correu na direção da criatura, ainda me recuperando, agarrei cinco flechas e disparei uma em sequência da outra contra o monstro. A fera foi atingida por três das minhas flechas, mas estas não lhe fizeram um dano grave capaz de feri-la ao ponto de que ela deixasse de ser uma ameaça. Em vez disso, ela gruiu e levantou voo, batendo fortemente suas asas e se voltando contra mim, então ela torceu seu longo pescoço e cuspiu uma rajada de óleo fervente em minha direção. Eu corri passando pela porta até as escadas de onde havia vindo quando persegui Melina para salvar Hélio para me abrigar.

Quando o ataque acabou um jovem alto e forte subiu as escadas correndo para se juntar comigo. Lá de baixo vinha o som de diversos disparos de Pascal contra os inimigos.

– Pascal abriu caminho para eu vir te ajudar! – Disse o rapaz – Sou Ezequiel! – Os traços característicos em seu rosto arredondado mostravam que Ezequiel tinha a Síndrome de Down. Ele devia ter um metro e oitenta e um corpo forte. Me lembro que assim que chegamos junto com Thais e Marília ele havia atravessado o teto do quarto em que estávamos e passado direto para o andar abaixo de nós enquanto lutava contra um dos demônios daquele grupo.

– Além da garota tem um outro lá, muito forte, um da ordem dos cavaleiros renascidos, e uma ave dos condenados. – Eu falei, o vi assentir e então saímos novamente ao encontro de Ademar. Felizmente a fera ainda não havia levado o garoto porquê estava me procurando para atacar mais uma vez. Infelizmente, ela ainda estava lá.

Ouvi o som da lâmina coberta de chamas de Ademar cortar o ar enquanto ele a girava ao lado do corpo, que então em um movimento rápido lançou suas labaredas sobre o óleo fervente que estava no chão que ardeu como a superfície de um mar de fogo. A ave grunhiu com a nossa presença e se inclinou para descer do ar e nos atacar com suas garras. Disparei mais duas flechas contra ela que a acertaram, mas ela era muito forte para parar apenas com isso. Era visível que estava ferida, mas isso não a fez parecer menos ameaçadora.

– Chame sua ave Melina, não foi para isso que a trouxemos aqui! – Ademar ordenou e sua parceira fez com que a fera recuasse.

– Eu fico com ele, vá atrás da garota! – Falou Ezequiel que se transportou para perto de Ademar atravessando o óleo em chamas para surgir caindo do ar sobre o cavaleiro renascido que ergueu seu escudo sobre a cabeça, mas quando sentiu o peso do golpe de seu oponente deslocou seu corpo para a direita sobre a inclinação de sua perna esquerda e girou o braço esquerdo para a esquerda e para baixo, fazendo com que a arma de Ezequiel deslizasse por seu escudo e atingisse o chão, que o fez tremer lhe abrindo finas e longas rachaduras.

Ezequiel tinha em suas mãos dois bastões cilíndricos totalmente feitos em metal com um pouco menos de um metro de comprimento. Haviam dois pomos maciços em cada uma de suas pontas. A de baixo servia para equilibrar o peso da arma, a outra tinha pequenos espinhos que se estendiam ao longo do bastão, e haviam inscrições gravadas em espiral por toda sua extensão.

Os olhos de Ademar se encontraram com os de Ezequiel, que se levantou assim que sua arma foi rebatida pelo choque contra o chão e saltou em outro ataque contra o cavaleiro. O cavaleiro renascido bloqueou o ataque de Ezequiel com seu escudo, movendo-se para trás e fazendo com que a arma de seu oponente desliza-se por seu escudo, que já tinha ficado marcado pelos últimos dois golpes que acabara de receber. Ezequiel então tentou acertá-lo com um golpe vertical de baixo para cima com seu outro bastão em sua mão esquerda, mas Ademar desviou de seu golpe apenas movendo o pé direito para a esquerda e para trás e girando seu corpo. O ataque mal sucedido de Ezequiel abriu uma falha em sua defesa, e Ademar ergueu sua espada girando o pulso desferiu contra ele um golpe vindo de baixo para cima, do qual Ezequiel não teria como desviar, se não fosse por sua capacidade de se transportar. Ele surgiu as costas de Ademar que pareceu prever seu próximo ataque pois posicionou seu escudo e se preparou para girar seu corpo ainda antes de Ezequiel reaparecer em uma fração de segundo.

Eu deixei Ezequiel lutando contra Ademar e corri para interceptar a garota. Melina estava montada nas costas da ave, com as pernas em torno de seu pescoço, suas roupas estavam sujas com o óleo preto que recobria as penas da fera. A criatura havia agarrado Hélio com a garra direta, o menino se debatia em uma inútil tentativa de se soltar. Envergando o arco com duas flechas de uma vez disparei-as contra a asa esquerda que já batia para levantar voo. O monstro que já tinha as duas garras erguidas do chão aterrissou novamente e girou seu longo pescoço para trás urrando de forma ameaçadora.

– Seu desgraçado! – Melina falou puxando um punhal que estava escondido por baixo da camisa cor de vinho. O cabo de seu punhal tinha o formato de uma cobra, e era feito do mesmo metal escuro da lâmina. Ela segurou sua arma com a mão direita e deslizou o dedo indicador e médio da mão esquerda ao longo da lâmina que foi tomada pelas mesmas chamas escuras usadas por Ademar.

Eu levei a minha mão até a minha aljava para sacar outra flecha, mas antes que pudesse envergar meu arco, ao seu comando a fera cuspiu uma rajada de óleo fervente, e com um movimento de sua mão direita, Melina lançou as chamas de seu punhal diante do óleo cuspido pela fera, o transformando em uma rajada escura de fogo.

A cada vez que saltava para o lado para escapar, a fera interrompia seu ataque e recomeçava quando eu parava em algum lugar, e a cada vez que ela recomeçava Melina lançava suas chamas para incendiar o óleo fervente. Logo me vi cercado por um mar de óleo em chamas. Foi como estar diante de um verdadeiro dragão.

O calor causado pelas chamas dificultava a respiração e a fumaça carregada de fuligem irritava os olhos os fazendo arder e lacrimejar. Então comecei a notar que por entre a fumaça que se levantava do fogo, algumas sombras se esgueiravam, e as sombras iam tomando formas humanas, até se revelarem de fato. Armados, com corpos sujos cobertos de cicatrizes e com as pálpebras costuradas.

– Você os invocou? – Eu perguntei segurando uma flecha em meu arco voltado para baixo.

– Não! – Melina respondeu – Eles são servos de Ademar, foi ele quem os invocou, para acabar de uma vez com você eu suponho.

Aqueles que Raphael havia derrotado da última vez já não estavam entre eles, mas Ademar os havia substituído. Um dos que estavam a minha direita carregando um machado de batalha ergueu sua arma e correu atravessando as chamas contra mim. Eu o vi se mover com minha visão periférica e isto me fez envergar o arco de forma instintiva, mas disparei com convicção de que o acertaria de forma definitiva, e minha flecha o atingiu direto no coração. A ponta da flecha transpassou seu corpo surgindo a suas costas, o guerreiro curvou seu corpo para o lado e seus braços que seguravam o machado sobre a altura da cabeça começaram a baixar.

Enquanto o guerreiro ainda corria cambaleando em minha direção, vi seu braço direito se separar do corpo, e braço e machado passaram direto a minha frente antes que fosse a vez de sua cabeça a se separar do corpo que caiu sem vida jorrando sague no chão.

A lâmina prateada, curva e longa de um alfanje de cabo branco recurvado brilhava refletindo o fogo a nossa volta. Havia uma pedra cristalina preta presa a alfanje e em sua outra extremidade estavam presos sete elos de corrente. O uivo longo e a silhueta de um grande cão negro além das chamas anunciavam sua chegada, seus cabelos já quase tocavam o chão.

– Você está lutando bem Wagner! Pensei que pudesse precisar de ajuda com este aqui mas você já o teria derrotado antes que eu o tocasse. – Dorothy falou já a meu lado. Ela estava usando botas de couro pretas, uma calça jeans preta rasgada nos joelhos, as mesmas luvas de sempre com as pontas dos dedos para fora, e uma jaqueta de couro azul com zíper em diagonal. Seu olho violeta refletia um brilho vivo das chamas ao nosso redor.

– É bom te ver de novo! E esta arma? – Eu perguntei.

– Bom, digamos que é como um “presente de Gabriel”! – Ela falou – Raphael esteve me ensinando a usar.

– Isso é bom! – Eu assenti.

– Vamos acabar logo com isso! – Disse Dorothy.

– Olha só isso, uma bruxa caçando outra! – Milena falou montada em sua fera – Me diga falando francamente, que bruxa tem mais perfil de heroína?

– Não vim até aqui para dizer nada para você! – Dorothy respondeu – Eu vim para mostrar-lhe seu caminho, e te guiar-lhe para a outra vida! – Ela então estendeu sua mão para Milena – Pegue na minha mão criança, e eu lhe levarei até a sua sepultura.


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