Bleeding - Projeto Paralelo escrita por caiquedelbuono


Capítulo 3
Cena 3: O sacrifício.


Notas iniciais do capítulo

Narrado por: Brian.



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Brian estava se sentindo tão enfurecido que seria capaz de enforcar com as próprias mãos a primeira pessoa que visse pela frente. Sua raiva podia ser evidenciada pela fúria com a qual digitava no notebook que estava bem diante de seus olhos. Estava sentado em uma das mesas da biblioteca, com o peso de um trabalho de biologia sobre as suas costas depois que decidira sair do grupo que era formado pela menina pela qual ele era apaixonado e por um novato que acabara de chegar ao internato e já estava se achando mais importante que qualquer outra pessoa.

O silêncio daquele lugar estava lhe incomodando e o único barulho que podia ser ouvido era o som do impacto de seus dedos com as teclas. A Sra. Strauss, a responsável por cuidar da biblioteca, havia lhe confiado a chave do ambiente e ele estava completamente sozinho, apenas com a companhia de seus pensamentos.

E eles eram atordoantes e inquietos. A única imagem que seu cérebro conseguia formar era a de uma menina meiga e frágil cujos cabelos loiros realçavam a palidez de sua pele. Sophia era tão linda e Brian ainda conseguia se lembrar do dia em que seus lábios tocaram os dela. Fora tão mágico que ele jamais conseguiria esquecer. Quando pôde senti-la envolvida em seus braços percebeu que a amava mais que tudo. Quando fez com que fosse um motivo para que ela pudesse sorrir, percebeu que a queria mais do qualquer outra pessoa. E ninguém ia tirá-la dele. Absolutamente ninguém.

Sua mente tentava lhe pregar peças desagradáveis. A imagem de Sophia rapidamente se distorcia e transformava-se no rosto arrogante de Logan, o garoto novato. O sangue de Brian logo fervia quando via a audácia nos olhos daquela coisa que ele recusava a chamar de gente. Seu cérebro começou a borbulhar dentro de seu crânio e seus neurônios enviaram impulsos nervosos que fizeram com que desse um forte soco na mesa.

Vou acabar com esse nojento, a frase se formava dentro de sua cabeça. E ele já havia começado a traçar planos para que pudesse prejudicá-lo. O falso hematoma em seu rosto era apenas o início. Queria acabar com a imagem do garoto e não teria um jeito melhor para isso do que o colocando contra a diretora do internato. Janeth era uma pessoa influente e sua opinião era respeitada pela maioria dos alunos, professores e funcionários. Se ela afirmasse com toda certeza que Logan era um sádico que adorava dar socos em rostos de pessoas indefesas, todos acreditariam e passariam a odiá-lo. Talvez ela tivesse uma influência mental sobre as pessoas e um sorriso maldoso escapou de seus lábios quando o pensamento se formou.

Brian voltou sua atenção para a tela do notebook e percebeu que o trabalho já estava pronto. Não havia ficado criticamente perfeito, mas sabia que pelo menos poderia obter uma nota azul.

Estava abaixando a tela do notebook quando um barulho na porta da biblioteca chamou sua atenção. O ambiente estava um pouco escuro e teve que apertar os olhos para reconhecer a pessoa que estava vindo em sua direção.

— Mark? — espantou-se Brian. Ainda não conhecia o menino devidamente. Apenas sabia que ele era outro novato que chegara ao internato um dia depois de Logan. Já o vira algumas vezes na cantina e na sala de aula, mas nunca trocara nenhuma palavra sequer com ele.

— Olá, Brian. — ele respondeu cordialmente, puxando uma cadeira vazia e sentando-se de frente para o garoto loiro — Será que podemos conversar?

As sobrancelhas de Brian se ajeitaram em uma expressão de curiosidade. O que Mark poderia querer com ele? Nem ao menos se conheciam e não sabia nada a respeito do garoto.

— É claro, mas eu realmente não posso imaginar o que você queira comigo. Acho que nem nos conhecemos direito.

Mark deu um sorriso inocente.

— Tenho certeza de que o assunto que me traz aqui é de seu completo interesse.

O único interesse que Brian tinha naquele momento era transformar a vida de Logan em um inferno. Mas, pelo o que ele já sabia, Mark dividia o dormitório com ele e provavelmente já deveria ter construído alguma amizade com o garoto.

— Comece a falar, então. Estou curioso.

Mark assentiu e sua voz logo pôde ser ouvida com clareza.

— Certo. Vim aqui porque Logan me contou todo o conflito pelo qual você e ele estão passando. Já que estamos apenas você e eu aqui dentro dessa biblioteca, posso ser franco e falar tudo o que penso sobre isso. — uma pequena pausa apenas para aumentar ainda mais o nervosismo de Brian — Logan é um idiota e estou disposto a te ajudar a acabar de uma vez por todas com a reputação dele.

Brian engasgou-se com a própria saliva e tossiu duas vezes consecutiva.

— O quê? Pensei que vocês fossem amigos.

A risada de Mark fez com que um arrepio lhe subisse à espinha.

— As aparências enganam. Sei muito bem disfarçar meus sentimentos, mas para você eu não preciso mentir.

Brian percebeu que um brilho se formou nos olhos de Mark e por um momento ele pensou que suas pupilas pudessem estar de uma cor diferente da usual. Era um olhar mais negro e intenso, que lembrava a imensidão de uma noite ausente de estrelas.

— Você ainda não respondeu se quer a minha ajuda para isso.

Brian hesitou antes de dizer qualquer coisa. Não sabia se podia confiar em Mark. Ele era um estranho que estava bem na sua frente propondo uma aliança para acabar com uma pessoa. Não parecia muito honesto, mas quem havia dito que Brian estava limpo naquele jogo? Já havia mentido uma vez. Não faria diferença se fizesse mais coisas que pudessem ser consideradas inescrupulosas. Ele iria até o fim, quaisquer fossem as circunstâncias.

— Eu topo. — ele respondeu com um sorriso confiante no rosto — É claro que eu topo.

O brilho nos olhos de Mark ficou ainda mais intenso e agora Brian teve a certeza de que eles haviam mesmo mudado de cor. Estavam completamente negros e vazios.

— Ótimo. Mas para que a reputação de Logan possa ser transformada em nada, você terá que fazer um sacrifício.

Brian franziu as sobrancelhas.

— Que sacrifício?

Mark levantou-se da cadeira e sua expressão não era mais suave e branda como antes. Agora era rígida e cruel, como se olhasse para Brian de um modo assassino. Aquilo realmente o deixara transtornado.

— Olhe para os meus olhos. — disse Mark com a voz mais rouca que o normal — Não consegue perceber?

— Eles estão negros. — murmurou Brian — O que está acontecendo?

Mark sorriu novamente e quando seus dentes ficaram à mostra, Brian percebeu que eram amarelados e pontiagudos. O terror começou a tomar conta de seu corpo. Levantou da cadeira e lentamente deu alguns passos para trás, enquanto observava o corpo de Mark ser envolvido por uma energia que transformara sua pele em algo cinzento e escamoso. O rosto ficara ensanguentado e desfigurado, como se tivesse levado milhares de machadadas e as roupas foram transformadas em farrapos que mal cobriam seu corpo asqueroso.

Brian levou as mãos à cabeça e abafou um grito de terror. O que era aquela coisa na qual Mark havia se transformado? Nunca vira em toda sua vida algo tão repugnante e a vontade de vomitar logo foi a única coisa que conseguia sentir.

— Seu sacrifício será mortal, Brian. Veja se não é um plano perfeito: matarei você com as minhas próprias garras e deixarei seu corpo aqui na biblioteca, à mercê da vista de qualquer pessoa. E o que acontecerá amanhã quando o colégio todo encontrar o seu corpo estatelado no chão? A culpa cairá toda em Logan porque ele seria a única pessoa que teria motivos para te querer morto. Não acha que a reputação dele irá para o buraco desse modo? Quero ouvir as palmas.

Brian estava apavorado demais para conseguir tentar raciocinar naquele momento. Apenas queria poder fugir e esquecer a imagem que seus olhos estavam vendo.

— Onde está Mark? Quem é você?

— Quem sou eu? Eu posso ser quem eu quiser.

A criatura começou a se movimentar e Brian rapidamente permitiu que seu corpo fosse levado para trás. Sabia que seria inútil tentar fugir, não havia nenhuma saída naquela biblioteca além da porta que estava atrás da figura sombria na qual Mark havia se transformado. Suas costas logo tocaram uma prateleira com livros e suas mãos se agarraram desesperadamente a alguns deles.

— Olhe, vamos conversar com calma. — a voz de Brian soava desesperada — Eu desisto de tudo isso, está bem? Não quero mais vingança contra Logan. Prometo que o deixarei em paz e não contarei a ninguém o que vi aqui nessa biblioteca. Ficarei em absoluto silêncio, mas, por favor, não faça nada comigo.

A criatura esticou o braço e elevou a mão na altura do ombro. Unhas afiadas saíram de todos os seus dedos.

— Você já selou seu destino quando topou se aliar a mim. Agora aceite seu sacrifício para que seu desejo se torne realidade. Estou fazendo isso por você.

O monstro já estava há apenas alguns poucos metros de distância e Brian não tinha mais para onde fugir. Ele morreria nas mãos de algo que ele nem ao menos sabia o que era.

— Não! Pare! Por tudo que há de mais sagrado!

— Não há nada de sagrado nesse mundo podre. Deveria estar me agradecendo por estar te tirando dele.

A fúria no olhar vazio da criatura ficou mais do que evidente e as mãos afiadas empurraram Brian com toda a força. Ele caiu ao chão e alguns livros vieram junto com ele, envolvendo o corpo desprotegido do garoto.

Ele não queria morrer. Não podia partir sem ao menos olhar pela última vez nos olhos de Sophia e dizer que a amava. Nunca tivera coragem de dizer isso olhando para ela e agora jamais teria essa chance novamente. Sua vida seria arrancada e ele nem ao menos sabia o motivo. Não sabia nem o que estava acontecendo e nem quem seria responsável pela sua morte. Era Mark? Ou era algo superior a isso? Brian jamais saberia...

Sentiu a dor aguda se apossando de seu corpo e pôde ouvir o barulho da pele rasgando-se ao toque da unha afiada da criatura. Um buraco se formara em seu peito e já imaginava o que estava por vir. Alguns segundos que pareceram ser uma eternidade foram suficientes para que Brian se preparasse para mergulhar de cabeça em um mundo que todo ser humano desconhecia: a morte.


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