A Bella E A Fera escrita por Ruan


Capítulo 63
2ª Fase: Capítulo 20




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/218037/chapter/63

Durante o almoço em um restaurante localizado no centro da cidade, consegui obter algumas respostas.

Tive que ser cautelosa com todas as minhas perguntas, para que minha amiga que se chamava Nora, não desconfiasse de nada. Aliás, pelo o que os fatores indicavam, ela não era apenas uma simples amiga, mas sim, uma melhor amiga. Pelo jeito, a garota era capaz de me ler como seu eu fosse um dos seus livros de escola, do qual todas as informações estavam gravadas em sua mente de gênio.

— Você poderia me lembrar das dicas sobre a entrevista, não é? — tentei soar o mais descontraída possível. Mesmo sem fome, cortei um pedaço de frango do meu prato. — Eu tô um pouco nervosa. Aliás, sabemos o quanto é importante pra minha mãe.

Nora tomou um gole de suco e me encarou, incrédula. Em seguida, cruzou os braços. Aquele gesto foi muito parecido com o de Regina, minha mãe.

— Você não se preparou para a entrevista, não é? — antes que eu pudesse responder, ela me interrompeu. — Sem desculpas. Isso não só é importante para sua mãe como para você também. Se quiser entrar na faculdade de Direito a um passo de todos os outros acadêmicos, é sua obrigação conseguir esse emprego. O cara que vai te entrevistar, além de ser referência aqui na cidade, é quem cuida de toda a parte legal da empresa. Ou seja, é mais do que certo que ele passa todas as suas tarefas para as secretárias, pois ele tem que estar sempre presente nas reuniões. Isso sem falar que ele sempre leva suas funcionárias para aqueles eventos com pessoas importantes. É sua grande chance.

Eu estava pronta para falar que ela não havia me dado conselhos para a entrevista, mas sim um sermão sobre eu não estar preparada e de como conseguir aquilo seria gratificante para a minha carreira. Ao mesmo tempo, tentei me imaginar cursando Direito, principalmente na parte de ter que saber as leis. De repente, me senti desconfortável na cadeira. Tentei evitar sentimentos negativos aquele respeito, pois eu não sabia nada sobre mim.

Minha cabeça latejou como o inferno no momento em que tentei me lembrar de qualquer coisa relacionada com a minha entrevista de emprego, como por exemplo, o nome da empresa. Além da dor, fui recebida com um vazio da minha mente.

Ótimo!

— O que vai vestir para a entrevista? – Nora perguntou, arqueando uma das sobrancelhas.

— Isso. — Apontei para a minha calça jeans e minha camisa. Alguém passou ao meu lado, roçando a perna em meu braço.

Minha melhor amiga me lançou um olhar incrédulo. Ela estava vestida feito uma executiva e me senti desconfortável só de pensar em usar aquele traje tão formal. Preferia roupas que me deixavam confortável, sem destacar qualquer curva do meu corpo.

Ao olhar para o lado de fora do restaurante, observei pelas janelas grandes o tráfego dos carros e os pedestres apressados praticamente correndo na calçada. Por alguns segundos, pensei ter visto alguém usando um moletom preto com um capuz sobre a cabeça, parado no meio das pessoas, olhando diretamente em minha direção, como na delegacia. Entretanto, ao piscar, já não o encontrei no mesmo lugar. Balancei a cabeça, suspirando. Algo muito errado estava acontecendo na minha cabeça.

A partir daquele momento, tudo virou uma bagunça. Nora fez questão de me levar, ou melhor, me arrastar até a casa dela enquanto não parava de tagarelar dentro do carro sobre o fato de eu ser desleixada com os meus compromissos. Quando ela me perguntou o que estava acontecendo comigo, inventei a desculpa que estava com uma dor de cabeça daquelas e mesmo assim não foi o suficiente. Desse modo, arrumei a melhor desculpa de todas: TPM.

Por azar, tínhamos praticamente o mesmo peso e estatura e por isso, as roupas delas cabiam perfeitamente no meu corpo. O quarto dela era cheio de livros, onde havia uma escrivaninha para estudos e um guarda roupa enorme. Praticamente o que eu imaginava de uma menina com o perfil dela. Definitivamente, éramos opostos uma da outra.

Nora me mostrou as fotos das antigas funcionárias que trabalhavam na empresa Mason. Senti-me imediatamente desconfortável. Todas se vestiam como se estivessem prestes a ir a um evento social.

Arrepiei-me de cima a baixo quando Nora apareceu saltitante, segurando um vestido básico preto. Ela exibia um sorriso convencido.

— Sim, você vai usar esse vestido. Não é curto, é social e vai ficar incrível com um blazer e um salto. — Em seguida, ela o jogou em cima da cama.

— Olha o decote disso! — reclamei, imaginando o quanto aquilo iria destacar todas as curvas do meu corpo. Apontei com o dedo para o pedaço de pano preto. — Tô pronta para a prostituição.

— Mel, o cara é praticamente um cafajeste. Toda a semana ele é flagrado com uma mulher diferente. — Nora cruzou os braços, convencida. — Nada melhor do que destacar seu corpo, além da inteligência. Fique quieta e só vista.

Ela saiu do quarto imediatamente, afirmando que iria buscar seu par de sapatos na lavanderia. Contra minha vontade, despi-me das minhas roupas confortáveis e trajei o vestido quase que imediatamente. Não demorou muito para que eu me sentisse completamente nua com aquele pedaço de pano destacando cada curva do meu corpo. Logo a minha frente, reparei em minha imagem refletida no espelho e devolvi um olhar confuso para o reflexo.

Por que eu estava sentindo que algo muito, muito errado estava acontecendo? A garota dos olhos verde, bem como do cabelo avermelhado, lançava-me um olhar atordoado.

Primeiro minha perda de memória. Depois, houve o incidente do cara do capuz seguido dos desenhos logo pela manhã. Ah, sem contar que teve a menina morta cujas partes do corpo foram espalhadas de maneira brutal pelo banheiro da minha escola. O pior era que não parava por ai. Havia o símbolo emoldurando a parede.

O símbolo.

De certa forma, tudo estava conectado com o símbolo. Se eu descobrisse o seu significado, quem sabe conseguiria esclarecer alguns pontos. Tentei procurar qualquer informação útil na minha mente, porém, mais uma vez, não foi o suficiente, tendo em vista que me deparei com a escuridão e um forte latejo. Freud provavelmente ficaria assustado ao descobrir que meu ego, superego e ID, estavam definitivamente em uma perfeita desordem.

Seria difícil me adaptar a minha nova vida cheia de segredos e mistério.

***

Sentada na sala de espera, me senti demasiadamente ansiosa.

Ao me trazer até o local da entrevista, Nora me explicou que se tratava da uma empresa que fabricava todo tipo de coisa, desde alimentos perecíveis até materiais para higiene pessoal. Era antiga em Manhattan e estava sob o cuidado da mesma família por longas gerações, sendo o cargo de chefe passado de pai para filho e assim por diante.

Empresa Mason. Esse era o nome do local que eu estava me candidatando para ter o emprego. Quando Nora me deixou em frente ao local da entrevista, me deparei com um prédio muito alto, revestido de vidros enormes com películas pretas, das quais serviam como janelas. Por um momento, pensei que minha amiga havia me deixado em algum hotel da cidade. Mas não, Nora jamais erraria. Segui para dentro e peguei o elevador para o último andar, ignorando os olhares que me lançavam. No caminho, lembrei-me do aviso do bilhete, o que só serviu para me deixar um pouco mais nervosa. Não faria sentido algum estragar a entrevista, tendo em vista que aquela vaga de emprego definiria meu futuro como acadêmica de Direito, aprimorando-a. Por que alguém estaria interessado nisso? Qual era a ligação a entrevista com tudo o que estava acontecendo?

Afastei os pensamentos negativos. Aquele não era o momento para eu me sentir nervosa. Ergui a cabeça, assumindo uma expressão determinada.

Assim que o elevador parou com um solavanco, as portas de metal deslizaram, revelando uma sala enorme. Não notei muito o lugar a minha volta, pois me contive quando uma mulher vestindo um terninho preto apareceu, pedindo para que eu me sentasse. Por incrível que pareça, ela sabia o meu nome e disse que o Sr. Mason logo me receberia.

Com esforço, recordei-me a cada instante em manter a coluna reta e as pernas cruzadas, mesmo me sentindo desconfortável ao extremo com aquele vestido. Por sorte, o blazer cobria boa parte do decote. Toda vez que o salto alto entrava em contato com o chão e minhas pernas eram obrigadas a se movimentar, eu me senti torta, como se estivesse prestes a cair e pagar o maior mico. Por sorte, consegui convencer a minha amiga a deixar meus cabelos soltos. Coloquei uma mecha atrás da orelha. Em minhas mãos, eu segurava uma pasta preta com meu currículo dentro dela, a qual foi entregue a mim pela minha amiga. Comecei a ficar realmente surpreendida com o quanto Nora estava preparada para tudo e principalmente, do quanto sabia sobre minha vida.

Será que ela havia deixado o bilhete em minha maca?

— Ele está pronto para vê-la. — escutei a voz doce da secretaria e praticamente pulei da cadeira, deparando-me com os olhos azuis e o cabelo loiro liso. Por um segundo, cogitei se ela não havia se materializado ali mesmo. — Me acompanhe.

Em seguida, ela deu as costas e a segui.

Reparei que a secretária era alta como uma modelo e bastante semelhante a uma. Parecia que estava desfilando pelo piso de mármore, enquanto que eu me sentia um pinguim de patins. Estávamos seguindo por um corredor com vários quadros dispostos na parede, os quais davam um belo contraste para as paredes brancas. Um vasinho de flor estava posto em cima da uma escrivaninha. Ah, não. Pensei, ao encontrar várias rosas negras formando um lindo buquê.

No fim do corredor, havia uma larga porta de correr. Sem dúvidas, estávamos caminhando em sua direção.

Instantaneamente, meu corpo foi recebido por uma série de arrepios.

A secretária abriu a porta com um movimento rápido e genuíno. Em seguida, deu um passo para o lado e estendeu a mão, em um gesto educado para que eu seguisse sem a sua companhia. Meu coração disparava dentro do peito e cada célula do meu corpo parecia queimar, enquanto que os arrepios persistiam em continuar.

Parei instantaneamente no lugar quando meus olhos caíram nas costas de um sujeito, sentado em uma mesinha no centro da sala.

— Entre. — ele disse e sua voz rouca ecoou por todo o local.

Dei um passo para dentro.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Olá leitoras! Espero que a leitura tenha sido boa, não deixem de comentar porque isso me ajuda bastante, sem falar que me da motivação para continuar a postar. Falando nisso, por falta de tempo, acabei não postando o capítulo de semana passada e por essa razão, o próximo estará disponível até sexta. O que acham? :)
Abraços e até a próxima!



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "A Bella E A Fera" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.