2015.

Jacob Black

Não acreditei no que estava acontecendo.

O silêncio da noite preenchia o terreno baldio enquanto a luz prateada da lua iluminava o local. Por sorte, meu moletom protegia a minha pele do vento frio. Senti o tronco da árvore roçar as minhas costas, incomodando-me. Contudo, permaneci no local, afastado de tudo e de todos.

Na minha frente, bem ao longe, encontravam-se Jasper e Alice. Eles estavam de mãos dadas enquanto pronunciavam várias palavras indecifráveis, permanecendo com os olhos fechados, formando um círculo ao redor do buraco que cavei para depositar o corpo desmaiado de Bella. Eu pude jurar que havia uma faísca de luz preenchendo o chão ao redor deles.

Bella.

Seu nome ecoou na minha mente, fazendo com que meu peito doesse de pura angústia. Fiquei ainda pior quando pensei que há pouco, meus braços envolviam o seu corpo machucado e inconsciente. Vez ou outra, os pêlos de minha nuca se arrepiavam, embora eu não sentisse medo. Magia. Era ela que me causava aquilo.

De fato, os padrinhos mágicos estavam conjurando uma magia muito forte para enviar Bella ao futuro, na esperança de que ela conseguisse a cura, a qual era capaz de destruir o conselho que supostamente controlava os contos de fada.

Em troca, Jasper devolveria Renesmee para a irmã, livrando, também, Edward.

Infernos, aquilo estava me recordando do filme do Harry Potter e o prisioneiro de Azkaban em uma versão um tanto distorcida.

Ao meu lado, Emmett estava enrolado em um saco de dormir com os braços ao redor de Nessie. Ela estava com os olhinhos fechados, sendo que sua aparência assemelhava-se muito com a de um anjo. Ambos se encontravam em um estado de sono muito profundo, embora eu tivesse a certeza de que Emmett era capaz de sentir o cheiro de perigo de longe. Louco de quem arrumasse uma briga com ele.

Percebi que alguém se aproximava sorrateiramente e ao olhar para o lado, minha visão periférica detectou um par de olhos dourados no meio da escuridão. Edward. Ignorei-o, afundando meu rosto para dentro do capuz. Aquela maldita Fera era a culpada de tudo. Principalmente por fazer da vida de Bella um inferno, privando-a de ter uma rotina como qualquer outra adolescente da sua idade.

– Sabe, Jacob? – Edward começou a falar ao se aproximar o suficiente. Sua voz soava perigosa. – Jasper me disse que meu estado atual reflete a pessoa que serei no futuro.

Por esguelha, notei que ele estava com as mãos nos bolsos, fitando-me.

– Não me importo. – Retruquei.

Edward suspirou, expondo um risinho irônico. Em seguida, se sentou no gramado, esticando as pernas para frente enquanto apoiava o peso nas mãos.

– Pois deveria. Afinal, sabe o que isso quer dizer?

Silêncio.

– Quer dizer que a Bella conhecerá a Fera.

Rosalie Hale

Abri meus olhos.

Assim que o fiz, fui recebida com uma pontada na cabeça dos infernos, enquanto que meus olhos enchiam-se de lágrimas por culpa da dor. Senti minha garganta seca e arranhada. Ao tentar me levantar, meu corpo foi arremessado para baixo, sendo que minhas costas bateram em algo muito duro.

E então analisei minha situação atual.

Eu estava sentada em uma cadeira velha. Bem, sentada não seria a palavra certa para usar, uma vez que meus braços e pernas encontravam-se amarrados por várias cordas úmidas, que cheiravam muito mal por sinal. Ao olhar para os lados, encontrei quatro paredes e uma pequena lâmpada iluminada com uma luz em um tom laranja em cima da minha cabeça, presa por fio que desaparecia no teto.

No meio do quarto do terror, uma baixinha com rosto de criança estava de pé, seu nariz estava com um belo hematoma. Feito por mim.

– Adorei o seu novo visual. – Provoquei, sorrindo. Pelo menos meu salto quebrou por uma causa justa.

– Logo você terá um idêntico. – Ela sorriu, aproximando-se.

Não me deixei abalar pela ameaça barata dela. Ao contrário, permaneci com um sorriso no rosto, empinando o nariz. Ignorei a sensação de náusea e tontura.

Recordei-me que antes de desmaiar, conclui que a única que sabia sobre a minha atual missão, era Alice. Seria possível ela estar trabalhando ao lado do conselho?

– O que você quer? – Perguntei.

– Quero que me diga a origem dos poderes de Bella. – Jane falou sem rodeios, abaixando o rosto para assim, ficarmos cara a cara.

Achei aquela pergunta um tanto estranha. Por que ela estava interessada naquilo? E por que pensava que eu sabia algo a respeito?

– Acho que você pegou a pessoa errada, porque eu não sei sobre o que você está falando. Deveria perguntar a outro ser humano.

Jane sorriu.

– Minha querida, pensa que eu não sei que você está rodeada de mágica? Eu consigo sentir. – Ela praticamente cuspiu as palavras na minha cara. – Como duas humanas adquirem magia de um dia para outro, quando isto não está previsto no livro?

Não entendi absolutamente nada. Eu sempre soube que eu era uma pessoa mágica, mas no sentido metafórico. Na verdade, tudo começou quando a vaca com peitos falsos fez com que eu tomasse aquele líquido nojento e então, pronto, minha vida desabou. Por esguelha, percebi um fio cinza caído na altura dos meus ombros. Ai, inferno.

Fiquei um pouco preocupada com o duende. Ele não estava ali, fazendo com que minha mente ficasse rodeada de perguntas a respeito do seu destino na mão daquela criança maléfica.

– Não sabia que além de burra, você é desinformada. – A encarei, enquanto as palavras saíam como veneno dos meus lábios. – Você realmente acha que sei alguma coisa do que você está falando? Se eu realmente fosse um ser mágico, eu saberia como sair daqui. E o que te faz pensar que Bella me contaria alguma coisa sobre os poderes dela?

Tudo o que eu mais queria era sair dali e correr para um espaço de muita massagem e manicure. Só que pelo visto, não aconteceria tão cedo.

Jane se levantou, ainda mantendo o sorriso no rosto. Seu cabelo estava todo bagunçado e o vestido não passava de pura sujeira.

– Não estou dizendo que você tem magia. – Disse. - Estou dizendo que você passou a ter o seu próprio conto de fadas. – Lentamente, ela se aproximou novamente, pousando a lâmina da faca em meu braço. Meu corpo inteiro se arrepiou e meu coração praticamente saltou de dentro do meu peito. – Nós vamos ter tanta diversão juntas.

E então ela afundou a lâmina da faca em minha pele.