Socorro! Minha Mãe Virou Funkeira. escrita por Ingrid Fonseca


Capítulo 5
Agora todo o mundo conhece minha mãe.




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                Acordei no sábado seguinte com uma dor de cabeça enorme, não sabia se era dos dois copos de vodka que tomei ou do mico que minha mãe me fez passar na noite passada. Com certeza, foi o mico.  Acordei no finalzinha da tarde e fui direto tomar um banho gelado, me troquei e li as vinte mensagens acumuladas da Anna. Li a primeira e vi que a maioria era igual, apenas os xingamentos mudavam e cresciam. Ela pediu para eu entrar no facebook urgente. Com pouca vontade liguei o notebook e deitei-me na cama, entrei no facebook e vejo que havia mais de 100 notificações. Abri o link que havia um comentário de um garoto estranho e comecei a assistir.

                Quase derrubei meu notebook de tanta raiva. Algum filho duma puta, havia filmando minha mãe dançando até o chão. Já não bastava a vergonha daquele momento, agora eu tinha um vídeo que qualquer um poderia ver, desci e vi que havia muitos comentários, alguns com risadas, outros falando que minha mãe era “gostosa” e outros rindo muito mais.

                O link havia sido compartilhado umas 35 vezes e quem havia postado era a maldita Olivia que ainda me marcou e disse que era minha mãe dançando.

                Eu sei que ela me odiava e eu também a odeio, mas isso é jogo sujo.  Me humilhar numa rede social era demais e usar minha mãe para fazer isso. Ah! Ela iria pagar. Bufei de raiva e fechei meus punhos. Eu queria o sangue daquela maldita nas minhas mãos.

Ah! Ela que me aguarde... A deixarei em pedaçinhos – Pensei.

Passei o fim de semana inteiro em casa, estava morrendo de vergonha de sair de casa e entrar no facebook. 

                Segunda feira finalmente chegou. Na escola eu tive que aguentar as piadinhas dos meus amigos, piadas que eu nem ligava muito e até ria, pois eram os meus amigos. Mas quando um estranho falava sobre a minha mãe, eu ficava furiosa.  Olivia havia me evitado a escola inteira e como eu sou uma garota com muita classe eu nunca brigaria... Dentro da escola.

                Então, o final para o fim da aula bateu e todos nós descemos e saímos da escola. Minha classe inteira já sabia o que iria acontece e todos estavam loucos para ver uma boa e velha briga entre garotas.

                - Olivia – A chamei deitando fazer voz de gangster.

                Ela se virou para mim e cruzou os braços.

                - O que é?

                - Por que você colocou vídeos da minha mãe no seu perfil?

                - Lhe interessa?

                - Claro que sim, animal. Ela é minha mãe e eu não quero vídeos dela no seu perfil – Disse entre os dentes – Apague o vídeo, senão... A coisa ficará séria.

                Uma roda de pessoas haviam se formado em torno de mim e de Olivia. Aquela idiota estava com uma bermudinha e usando um perfume com cheiro horrível.

                - Ficará séria – Ela disse rindo – Aqui é um pais livre...

                - Escute aqui queridinha...

                - Vish, vai rolar briga – Um garoto gritou e todos se aproximaram mais.

                -... Se você não apagar, eu farei sua vida nessa escola um inferno.

                - Ha há, fará? Boa sorte com isso. Não apagarei o vídeo, esse é meu conceito, não serei hipócrita como você.

                Aquela jumenta estava falando nada com nada, usava palavras inteligentes e com certeza não deveria saber o que significava.

                - Diga-me porque sou hipócrita?

                - Por que... Por que você falava tanto mal do funk e sua mãe é uma funkeira...

                - Por acaso você sabe o que significa a palavra hipócrita?

                -... E falou que funkeiras são umas prostitutas e agora sua mãe é uma.

                - Eu nunca disse que funkeiras são prostitutas, eu disse que você é uma.

                Todos ficaram boquiabertos e surpresos, puxando briga e falando “Nossa, essa eu não deixava” ou “ Eu não acredito que ela disse isso”.

                Olivia me olhou furiosamente e logo voltou à calma, e disse aquela velha desculpa boba:

                - Não irei sujar minha mão com lixo... E boa sorte com sua mãe puta – Ela se virou.

                A raiva tomou conta do meu corpo. Peguei o cabelo seboso dela e puxei com tudo a derrubando no chão, subi em cima dela e dei um soco em seu maxilar. Ela logo se virou me deixando no chão. Meus amigos a puxaram e eu me levantei rapidamente, arranquei um enorme pedaço do cabelo dela e comecei a rir. Ela se levantou e me deu um soco bem no meu nariz, cai no chão.  Ela correu antes que eu pudesse levantar. Meus amigos me levantaram e me levaram para casa, no caminho entramos Victor que me deu um sermão enorme falando que brigas não resolvem nada.

                Enquanto eu estava deitada gemendo de dor por causa do meu nariz, Victor não parava de falar para eu pressionar o algodão.  

                - Julia, coloque o algodão – Ele me deu uma bronca.

                - Desculpe – Murmurei e coloquei o algodão no nariz.

                - Essa briga foi feia – Disse ele se sentando ao meu lado – Sem querer te ofender, ela acabou contigo.

                - Você não viu, mas eu arranquei um pedaço de cabelo dela – Eu disse rindo relembrando o rosto assustado dela.

                - E você acha isso legal? Julia, briga...

                - Eu sei, eu sei – O interrompi – Briga não leva a nada.

                - Isso mesmo.

                Minha mãe chegou e fechou a porta, viu-me deitada no sofá e com o nariz sangrado e correu para mim.

                - O que aconteceu?

                - Érh...

                Victor abriu a boca para falar, mas eu dei um soco no ombro dele.  Eu não queria que minha mãe soubesse que entrei numa briga por causa dela e muito menos que apanhei.

                - Érh meu nariz começou a sangrar com nada – Menti.

                - Sua filha entrou numa briga – Victor me entregou sem culpa.

                Fiquei com raiva dele e fui para o quarto enquanto ele explicava o que houve comigo, por sorte eu não contei tudo. Logo em seguida, ele foi para o meu quarto e pediu desculpas, disse que se preocupava comigo e que minha mãe era a única que poderia fazer algo com Olivia. Depois que aceitei as desculpas de Victor, ele foi embora.

                Minha mãe veio com um sermão enorme para cima de mim – ela não havia condições para dá moral para mim, mas mesmo assim quis dá.  Ela queria ir para a minha escola, ter uma conversinha com a diretora e com a Olivia, protestei dizendo que não queria, pois morreria de vergonha, mas meus argumentos pareciam inválidos. Minha mãe não desistira da ideia de ir falar com a diretora e o único modo de eu não deixar lá ir era mentindo.

                - Ok mãe, eu a acordarei e iremos juntas, ok?

                - Claro – Minha mãe sorriu satisfeita e saiu.

                Acordei antes dos despertadores tocarem e os desliguei, me arrumei em silencio e peguei meu material, sai de casa sem fazer nenhum barulho.

                - Eu poderia ser um ninja – Disse a mim mesma.

                Fui para escola, chegando lá encontrei meus amigos que estavam comentando sobre a briga de ontem. Vi Olivia entrando na escola usando um chapéu, ela me fitou raivosa e logo entrou.

                - Você a deixou careca – Anna disse rindo.

                - E ela quase quebrou meu nariz.

                Formos para a primeira aula, que era inglês e seria aula dupla. A minha classe estava meio agitada falando sobre a briga de ontem. Tentei ignorar alguns idiotas e me concentrei no que a professora falava.  Depois fomos para aula de Filosofia, a classe ficou mais calma, pois a maioria estava dormindo.     

                O sinal do intervalo tocou, todos os alunos desceram.

                Fui para a quadra ver o pessoal jogar basquete junto com Anna e meus amigos foram jogar bola na outra quadra. Dois minutos depois Kevin correu até mim e me puxou pelo braço, disse que eu tinha que ver isso.

                Minha mãe estava conversando com alguns garotos que havia conhecido na festa, logo que me viu acenou. Todos os alunos ali olharam para mim.

                - Por que não me esperou filhinha? – Ela disse meio brava.

                - Eu...

                - Bianca, lembra-se de mim? Eu dancei Move Like Jagger com você – Um garoto que eu nunca havia falado disse com a maior intimidade com a minha mãe.

                - Claro que lembro Igor.

                Legal, todos conheciam minha mãe agora. Parecia estrela de vídeos toscos que faziam o maior sucesso no YouTube

                - Eu quero morrer – Murmurei. 

Minutos depois minha mãe e eu fomos para a sala da diretora. A diretora tomou um susto quando viu minha mãe – a diretora era acostumada a ver minha mãe em toda reunião de pais e minha mãe fazia parte do Conselho de Pais, mas saiu quando entrou em divorcio.

                - Diretora Helena – Minha mãe a cumprimentou sorrindo.

                - Dona Bianca... – A diretora disse sem jeito – Como mudou...

                - Obrigada.

                Aquilo não foi um elogio.

                - O que devo sua presença aqui? – Ambas sentaram e eu sentei logo em seguida.

                - Ah, houve uma briga aqui...

Eu não aguentava mais aquilo, não adiantou nada não falar o que houve de verdade. Decidi falar logo, ao invés de fazer minha mãe passar vergonha perto da Olivia e de sua mãe.

- Não brigamos na escola – Finalmente disse – Brigamos lá fora e eu comecei.

- Você mentiu para mim?

- Literalmente sim – Disse envergonhada.

                - Ah! – Ela gemeu raivosa – Desculpe-me por fazer lá perder seu valioso tempo... E Julia, nos vemos em casa.

                Minha mãe saiu da sala deixando apenas eu e a diretora.

                - Sua mãe está bem?

                - Fisicamente sim, mas mentalmente...

                - Rezarei por você.

                - Por favor, reze, precisarei de toda reza do mundo.


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Notas finais do capítulo

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