Laços Fraternos: Megera escrita por MyKanon


Capítulo 5
V - Repreensão




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Era um professor. Carregava muitos livros. Caminhou até um pouco além de Lorrayne, e, com muita dificuldade tentava abrir a porta, até que a chave caiu no chão. Lorrayne abaixou-se, pegou a chave e abriu a porta. Antes de entrar e colocar os livros sobre a mesa, o professor sussurrou:

_ Muito obrigado.

Ainda em sua mesa, abriu um dos livros, e perguntou a Lorrayne que ainda o observava da porta:

_ O que faz sozinha aqui em cima?

_ Se eu não ficasse sozinha aqui em cima, ficaria sozinha lá em baixo.

_ Aproxime-se, hã... Seu nome mesmo...

_ Lorrayne.

_ Ah! Aproxime-se Lorrayne.

Lorrayne adentrou a sala. O professor pousou seu olhar na garota, e perguntou:

_ Seu primeiro dia de aula aqui?

A garota limitou-se a balançar a cabeça positivamente. O professor continuou:

_ Devia se enturmar com as pessoas de sua classe.

_ Acho que não sou muito popular na minha classe.

_ Como?

_ Nada. Problemas. O senhor é professor?

_ Ah, sim, sou. Professor Marcos, de Biologia.

_ É realmente uma pena que o senhor seja mais um professor.

_ E por quê?

_ As pessoas daqui, professores e alunos, inclusive o vice-diretor, não gostam de pessoas que vem de escolas públicas, o que é um ótimo motivo para me arranjar problemas.

_ Não concordo com você.

_ Acredite professor. Levei uma advertência, por falar para a professora, que ela não podia dizer qual era o lugar de cada um.

_ Posso saber como foi isso?

_ Ela disse a uma colega de classe, que por sinal veio de uma escola pública, que este não era o lugar dela. Eu simplesmente não aceitei aquilo, afinal, também vim de uma escola pública. E ela ficou meio aborrecida comigo. É isso.

_ E que professora é essa?

_ A professora Carmem, de Química.

_ Carmem. Você não devia ligar para ela. Ela sempre foi assim.

_ Mas o professor Paulo, de Matemática, também não é um dos meus maiores fãs. Sinto que seu maior hobby, será me humilhar.

_ Bem, Lorrayne, se você realmente não gostou do Paulo, talvez não goste muito dos outros professores. O Paulo era um dos professores que as oitavas mais gostavam.

_ Como é possível? Ele entrou na sala falando "Esta classe novamente! Fiz o possível para me livrar de vocês". É disso que esses alunos gostam? Meu Deus!

_ Pelo menos A Juliana, A Clarisse, a Caroline, a Paula, gostavam muito dele.

_ Ah! Então estamos falando da opinião da Caroline... Mais uma para meu fã-clube.

_ Caroline? Como assim?

_ Professor, Caroline, nessas três aulas, foi a pior coisa com que eu já tive contato durante toda minha vida, sinceramente.

_ Caroline não é, realmente, uma pessoa fácil. Não existem muitas pessoas que não tiveram problemas com ela.

_ Os professores parecem não terem muitos problemas com ela.

_ Ela é um tanto teimosa, mas muito comportada.

_ Somente na aula, não é?

_ Imagino que...

O sinal tocou, o professor avisou:

_ Acho melhor ir para sua aula.

_ Pois é... - na verdade, Lorrayne estava prestes a pedir auxílio para o professor, mas seu orgulho não permitiria tal aberração. -...Então até logo, professor.

_ Até logo...

Lorrayne saiu da sala com passos curtos. Ao virar no corredor, deu de cara com o professor Paulo.

Sempre sendo deixada para trás, Lorrayne sobreviveu a mais uma aula de matemática. Quando o professor saiu, entrou uma professora que se apresentou como Camila. Não era tão feia quanto Carmem ou Luzia. Nem tão velha. Também não era mal-humorada. Entrou na classe cumprimentando a todos alegremente e, durante a aula inteira não deu uma única bronca em Lorrayne.

Para sua tristeza, a aula logo terminou. Mas a próxima aula, de psicologia, também não era ruim. Uma senhora com aspecto protetor, chamada Geni era quem dava a aula. Como era a primeira aula de psicologia,, ela começou por apresentar a todos como lia suas expressões usando a neurolinguística. A respeito de Lorrayne, disse que era uma pessoa muito doce, mas que no momento parecia estar sofrendo muito. Lorrayne também gostou da parte que tocava Caroline. Uma garota com quem se deve tomar cuidado. E Laís, Paula e Ariane: "Têm personalidade próprias, muito bonitas por sinal, mas não querem revelar”. E coisas do gênero com o resto da classe. Ainda ressaltou que não estava ali meramente para dar aula, mas queria ajudá-los, em todos os sentidos, que podiam procurá-la, qual fosse o problema, desde problemas escolares a problemas familiares. Lorrayne sentiu-se muito atraída por aquela proposta.

No fim da aula, Lorrayne saiu logo após a professora e procurou por sua sala. Aproximou-se da porta. Ia bater, levantou a mão... Quando Caroline surgiu, não sabia de onde. Estava sozinha, perguntou:

_ Está com problemas mentais?

_ Não é problema seu. Mas você parece que também está...

_ Engano seu. Nunca me atreverei a conversar com essa senhora que me insultou!

_ Não a vi te insultando...

_ Disse que era necessário as pessoas tomarem cuidado comigo.

_ A verdade doeu?

_ Garota, se enxerga. Estou aqui procurando sua amiguinha Inchada...

_ Ela não é minha amiguinha, e não sei onde está. Falando em amiguinhas onde estão seus guarda-costas?

_ Você é realmente irritante, sabe? Eu deveria ter imaginado... Você é pobre... Com licença, tenho que ir andando, não tenho tempo para você.

Antes que Lorrayne pudesse retrucar, a garota virou-se e foi embora. Lorrayne voltou-se novamente para a porta. Já havia desistido da idéia, quando a porta se abriu. A professora Geni disse sorrindo:

_ Ouvi algumas vozes, mas... Entre querida...

_ Não... Não, obrigada... - respondeu nervosa.

Lorrayne saiu apressadamente, como se houvesse acabado de se dar conta que aquilo era uma besteira.

Saiu porta afora do colégio, entre uma multidão que ainda se movimentava para fora. Uma enorme fila de carros estava parada em frente ao colégio, entre eles, o de Catharina.

Lorrayne foi até ele e entrou. Animada sua mãe perguntou:

_ E então, querida? Como foi seu primeiro dia de aula?

Lorrayne olhou fulminantemente para sua mãe, que respondeu:

_ Querida, cara feia pra mim é fome. Estou te fazendo uma pergunta.

"Isto é o cúmulo!" Pensou Lorrayne. Voltou seu olhar para frente e respondeu:

_ Não poderia ser pior.

Catharina deu a partida no carro. Enquanto dirigia falou:

_ Ora, vamos! Não pode ter sido tão ruim assim...

_ Ah, falando nisso, trouxe algo para que assine...

Lorrayne abriu sua mochila, a vasculhou por uns instantes, e pegou a advertência. Sem desviar a atenção da estrada, Catharina perguntou:

_ O que é? Deixe-me adivinhar... Uma convocação para reunião? Um convite? Um aviso?

_ Uma advertência.

Catharina nada disse até chegar em casa. Quando estacionou o carro e desceu. Abriu a porta, bloqueou a passagem de Lorrayne e perguntou:

_ Que história é essa de advertência?

_ Eu levei uma advertência. Só.

_ Qual o motivo, Lorrayne? Por que?

_ Ah, isso não importa!

_ Claro que importa!

_ Não, não importa!

_ Lorrayne, quero que me explique exatamente o que aconteceu! Entregue-me isso! - Catharina tirou a advertência da mão de Lorrayne. - Desrespeito a funcionário? Lorrayne, o que significa isso?

_ Nada! Não é nada!

_ Você pode cometer todo tipo de desrespeito a mim, Lorrayne... Embora eu tente evitar isso, mas você não vai levar isso para fora de casa! Não quero que vire uma pessoa sem valores morais!

_ Não tenho nada para levar fora dessa casa! Não tenho nada para levar de você! Nem coisas ruins... Nem boas! Não tenho valores seus para levar...

Não terminou sua frase. Catharina a calara com um tapa. Lorrayne cobriu o rosto com a mão. Olhou incrédula para Catharina, que cobria a boca com a mão e também parecia não acreditar no que havia feito. Disse:

_ Nossa, como eu te odeio!

Antes que Catharina pudesse impedir, Lorrayne correu para seu quarto. Jogou sua mochila em um canto e sentou-se em sua penteadeira, apoiou a cabeça entre as mãos e olhou-se no espelho.

Catharina bateu na porta:

_ Lorrayne, abre, por favor, preciso falar com você!

Lorrayne passou a mão pela face ainda dolorida. Ficou calada.

_ Lorrayne, me desculpe, minha filha, não faça isso comigo, abra essa porta! Por favor, Lorrayne!

_ Vai embora, por favor.

_ Lorrayne, deixe-me falar com você! Perdoe-me, eu não queria machucá-la!

_ Não quero falar com você. Deixe-me em paz. Estou cansada.

_ Lorrayne, por favor...

_ Pare de pedir! Eu não vou falar com você!

_ Lorrayne, abra já essa porta, ou eu vou abrir!

Lorrayne se calou. Sabia que Catharina não faria aquilo. Depois de um tempo tudo se silenciou. Lorrayne imaginou que Catharina havia ido para o trabalho. Pegou seu diário e escreveu, a mão trêmula de raiva:

Diário, tenho que sair dessa casa! Hoje foi meu primeiro dia na escola, e não poderia ter sido pior! As pessoas não gostam de mim pelo simples fato de eu ter vindo de uma escola pública! Os professores também, o que me custou até mesmo uma advertência! E quando eu penso que isso tudo é culpa de uma única mulher, tenho vontade de xingá-la de todos os nomes que eu lembro!

Hoje essa hipócrita me deu um tapa no rosto! Como ela pode me tratar assim, sendo que não minha mãe?! Tive vontade de mandá-la para um lugar horrível, mas me mantive no "TE ODEIO!". Depois ela veio com aqueles solucinhos e pedidos de desculpa. Será que minha mãe sabe que ela tem feito isso comigo? Acho que não. Se estiver gastando tanto dinheiro para que ela cuide bem de mim, não deve saber que estou sendo maltratada.

Será que minha mãe é uma mulher rica? Será uma mulher que conseguiu vencer na vida? Deve ser. Diferente dessa que se diz minha mãe, e que é tão miserável, que nem uma casa pôde comprar, teve que casar para conseguir alguma coisa na vida!

Fechou o diário e levantou-se. Seu rosto ainda estava vermelho.

Continua


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