Laços Fraternos: Megera escrita por MyKanon


Capítulo 4
IV - Aula de matemática




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_ Ah, vocês. Entrem, sem demora.

A professora abriu passagem para que entrassem. A sala estava silenciosa. E ficou mais ainda quando as duas garotas entraram. Cada uma voltou ao seu lugar, como se nada houvesse acontecido. Só tiveram tempo de se acomodarem, e o sinal bateu. A professora Carmem, antes de sair, trocou uma palavrinha com uma das garotas que riam de Lorrayne no começo da aula. Rapidamente entrou outra professora. Desta vez, contrastava com a professora Carmem, era alta e magérrima. Não se vestia com muita elegância, pois tinha um enorme avental por cima das vestes. Depois de colocar seu material sobre a mesa, olhou a classe sem muito entusiasmo, e disse:

_ Vocês me conhecem, para quem é novo, sou Luzia, a professora de história. Quero dar um recado: será terminantemente proibido ultrapassar os horários de aula, me entenderam? Ótimo, quem cala consente, então, vamos à aula.

Lorrayne até pensou que a professora de história era uma pessoa legal, mas sua opinião começou a mudar quando a professora começou a reclamar de sua falta de jogo com as palavras, na redação sobre a civilização antiga.

Logo a aula terminou. Lorrayne estava quase dormindo quando entrou outro professor. Era um japonês. Lorrayne sempre teve uma boa opinião sobre japoneses, todos que já havia conhecido eram muito legais. Tinham uma simpatia própria. Mas no tom de voz do professor, percebia-se que com ele, não seria exatamente a mesma coisa.

_ Essa classe novamente! Espero que saibam que tentei me livrar de vocês, mas não foi possível, por isso, este ano vocês tratem de tomar muito cuidado comigo! Especialmente as novas alunas!

O professor olhou significativamente para Lorrayne. Quando a garota fez idéia do por quê daquilo, o professor disse:

_ Já fiquei sabendo do probleminha de duas alunas com a professora Carmem, e tenho algo a dizer a elas: comigo, não! Vocês tratem de entrar na linha, ou vão se dar muito mal comigo! Muito bem, voltemos à aula. Para quem não me conhece, sou Paulo, professor de matemática, e vamos estudar funções, portanto, escrevam vinte números de cada conjuntos numérico.

Lorrayne não sabia o que fazer. Não se lembrava quais eram os conjuntos numéricos, nem quantos eram. Sabia que precisava falar com o professor, mas, tinha a impressão que não seria uma conversa calorosa. Ela levantou a mão. O professor...

_ Você! O que quer?

_ Bom, professor, hã, os conjuntos numéricos... Quais são mesmo?

O professor a estudou com uma cara furiosa. Perguntou:

_ A senhorita está querendo brincar novamente? Eu já disse que comigo não vai ter isso!

_ Não professor! A última coisa que eu quero neste momento é desagradar um professor novamente! Só estou perguntando quais são os conjuntos...

_ Todos aqui presentes, sabem quais são os conjuntos numéricos?

A classe respondeu em uníssono então o professor pediu que respondessem em voz alta, e como se fossem treinados, responderam em alto e bom som para Lorrayne:

_ Naturais, inteiros, racionais e reais.

Lorrayne sentiu o rosto queimar. Já estava cansada de ser tão humilhada. Apertou o lápis, com toda a força que juntou. Tinha que descarregar a raiva no lápis, senão, seria em algum professor, o que não seria muito bom naquela ocasião. Começou a escrever os números no caderno.

Quando chegou no vigésimo número do conjunto natural, tudo o que havia passado naquele dia, veio à tona. Por que estava passando por aquilo? Tudo por causa daquele maldito dia em que chegou cedo em casa e ouviu aquela conversa. A partir daquele momento, não apenas sua vida, mas a relação com sua mãe mudou radicalmente, e para pior. Se ela tivesse avisado que estava em casa, talvez aquela conversa não se realizasse, e sua vida estaria normal. Estaria nesse momento, dormindo tranqüilamente em sua cama, pois as aulas só começariam dali uma semana. Depois de algumas horas, quando acordasse, telefonaria para sua mãe, pedindo que trouxesse alguma coisa, ou apenas dizendo coisas carinhosas. Nesse mesmo dia, também telefonaria para sua turma, o Dinho, a Li, a Dri, e combinariam de andar de bicicleta na praça, tomar um sorvete, e, quando voltasse acabada para casa, tomaria um banho relaxante, e, quando sua mãe chegasse, poderia descansar no seu colo, contando tudo o que havia feito. Também comeria feito louca. Sempre comera muito, mas até seu apetite havia mudado. Como queria ter avisado que estava em casa naquele dia...

_ A senhorita já terminou? - o professor estava ao lado de Lorrayne.

O lápis de Lorrayne ainda estava pousado onde terminava o número zero. Ela voltou à realidade, e, ingenuamente respondeu:

_ Não. Ainda não terminei.

_ E fala com essa tranqüilidade toda? Estamos querendo estudar as funções, e você ainda... No número vinte do primeiro conjunto!

_ Sinto muito professor, já vou terminar. Pode prosseguir com a aula.

_ Parece que a senhorita não está mesmo a fim de acompanhar a turma, não é?

_ Não liga professor, ultimamente tenho estado realmente isolada.

_ Mais uma falta de respeito como essa, e a senhora me acompanha até a diretoria! Já disse que comigo, a senhorita não brinca!

O que Lorrayne mais queria no momento era pedir ao professor que a deixasse em paz, mas se contentou em apenas ignorá-lo e continuar seu dever.

O professor, percebendo o desinteresse de Lorrayne, ou só para deixá-la atrasada, prosseguiu com a aula. Lorrayne sentia que alguma coisa estava acontecendo com ela. Era uma raiva tão intensa que sentia no peito, que estava bloqueada para ouvir o professor. Nada que ele dizia parecia coerente. Graças a uma força maior, o sinal tocou. Teria vinte minutos livres do professor. Ela gostaria de ficar na sala, mas a resposta do professor foi um retumbante "não". Não sabia o que fazer. Para onde ir? Fazer o que? Se estivesse em sua escola, estaria com seus amigos, indo para o pátio, conversando alegremente. Descia as escadas lentamente, quando sentiu um forte esbarrão. Sua surpresa não foi grande ao ouvir o falso perdão de Caroline:

_ Oops! Desculpe-me! Acontece que não te vi!

_ Eu entendo, você é loira, não é mesmo? - replicou Lorrayne.

_ É. Por isso. Loiras são superiores.

Lorrayne tentou continuar seu caminho, mas Caroline e suas outras três amigas, impediram. Caroline continuou:

_ Olha, gostaria de te apresentar: Laís, Paula e Ariane.

Caroline apontou primeiro para uma garota pouco mais loira que ela, com um delicado nariz aquilino e de olhar superior. Depois apontou para uma outra, que, quase não se via seu rosto, de tão empinado que estava, dessa vez não era uma loira, mas uma morena, com reflexos. Tinha uma pinta parecida com a da professora de Química, mas bem menor. A última para quem apontou, era uma ruiva, com umas sardas disfarçadas por uma grossa camada de base com pó. Tinha os volumosos cabelos presos em um rabo de cavalo.

_ Agora que já nos apresentamos, gostaria que nos dissesse seu nome.

_ Olha, me faça um favor, deixe-me em paz, que não serei estúpida com você.

_ Ora, por favor! Você já deve ter percebido que aqui não é um bom lugar para ser estúpida. Você já viu o que aconteceu, não é mesmo?

Lorrayne ia responder, mas de repente, Caroline foi até o outro lado da escada, onde alguém descia com a rapidez com que tentava escapar de algo.

_ Hei, espera aí, Inchada. Por que a pressa?

_ Meu nome é Yshara, e a minha pressa, é para não respirar o mesmo ar que o seu, posso me contaminar.

Lorrayne poderia ir embora se seu caminho ainda não estivesse impedido por Paula e Ariane. Ao seu lado, Caroline continuava a bater um papo, com Yshara:

_ Calma, você ainda está chateada comigo? Perdoe-me, não sabia que o resultado estava errado, peguei com a Laís...

E Laís se defendeu...

_ Me perdoe, Carol, peguei com Ariane...

E Ariane...

_ Paula! Você me passou o resultado errado!

Paula por sua vez, olhou inocentemente para Lorrayne:

_ Ah... Você me disse que estava certo...

Lorrayne murmurou alguma coisa com som de palavrão e tentou descer as escadas, mas Paula logo disse;

_ Ei, é bom não empurrar! Você já está bastante encrencada...

Lorrayne virou as costas e subiu, seguida pelo quarteto. Yshara ainda pensou se devia subir ou não, afinal, Lorrayne já havia a ajudado antes, e resolveu subir. Caroline falava alguma coisa para Lorrayne, que apenas fazia cara de descaso, enquanto as outras três davam gostosas gargalhadas. Yshara disse:

_ A professora Carmem com toda sua delicadeza perguntou por vocês assim que vocês subiram.

Caroline, Laís, Ariane e Paula olharam sérias para Yshara. Paula se aproximou de Yshara e disse:

_ Você não acha mesmo que vamos acreditar, não é?

_ Não tenho a mínima vontade de saber se vão acreditar ou não. Não é a mim que ela está procurando.

Nisso, Laís murmurou para Caroline:

_ Pode ser a respeito daquilo que ela falou na aula de química.

_ Vamos ver. - disse Caroline. - Se ela estiver com brincadeira com a nossa cara, vai se arrepender.

As quatro garotas desceram, apreensivas. Lorrayne perguntou:

_ É verdade?

_ Não.

_ Imaginei. Valeu. Mas não é por isso que vou ficar agradecida e te fazer companhia.

_ Não precisa. – respondeu a garota indignada.

Yshara virou as costas e desceu. Lorrayne pensou em se explicar, mas desistiu. Naquela identidade em que vivia, não pedia desculpas, nem se explicava. Não tinha culpa, cada um devia entender como merecia.

Lorrayne nunca quis tanto ir para a casa. Colocou o material no chão e se sentou junto à porta. Perdeu-se em seus pensamentos. Não suportava aquele colégio, aqueles professores, aquelas pessoas, e o pior, o fato de sua mãe... Não ser sua mãe. Que maneira de se descobriu que não pertencia a uma família. Aquilo doía mais que tudo. Ouviu o som de alguém na escada. Levantou-se rapidamente e olhou atentamente para as escadas. O que Lorrayne mais desejava, era que não fosse o quarteto infeliz. Não era.

Continua


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