Laços Fraternos: Megera escrita por MyKanon


Capítulo 3
III - Advertência




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_ De onde você tirou esse números?

_ Professora, eu disse que não sabia direito...

_ Eu perguntei de onde você tirou esses números.

_ Não sei direito, professora, fiz umas contas...

_ Conta? Que conta? Me dite esta conta.

_ Não seria melhor a senhora olhar no meu caderno?

_ Não, eu disse que quero que a dite.

_ Por favor, professora...

_ Será que você não ouviu o que eu falei? Quero que dite esta conta.

_ Tudo bem, professora, o que acontece é que eu não fiz a conta.

_ E posso saber o por quê disso?

_ Eu não sei fazer! Uma pessoa me passou o resultado errado, e parece que fez isso de propósito.

_ Essa pessoa fez muito certo! Será que você não sabe que o certo é cada um fazer o seu?

_ Não concordo professora... Também não sei resolver esse exercício! – Lorrayne se pegou falando.

Carmem a encarou e depois de alguns segundos perguntou:

_ Vai me faltar com respeito?

_ Mas professora, não faltei com respeito com a senhora...

_ Falar sem ser convidada é uma tremenda falta de respeito. E que isso não se repita.

A professora voltou-se ao resultado na lousa e apagou os números entre as letras, restando apenas a palavra “IMBECIL”. Disse:

_ Bom, senhorita, parece que na verdade foi um recado que te passaram.

A turma toda caiu na gargalhada.

Yshara continuou encarando a professora.

_ Algum problema?

_ A senhora é sempre grosseira assim?

_ Não sei se de onde você vem, não ensinam direito a química ou se você sempre foi incapaz de resolver seus problemas, mas aqui é diferente! Aqui você deve ter uma postura correta, resolver seus problemas, e me respeitar! Você acabou de entrar nessa escola, e percebe-se que este não é o seu lugar...

A antipatia de Lorrayne pela professora vinha crescendo a cada momento, e agora tinha chegado ao seu ponto máximo. Ainda em seu lugar, a garota perguntou:

_ Como é, professora?

_ Como é o que?

_ A senhora disse que este não é o lugar dela?

_ Disse, por quê? Você se condoeu por ela?

_ Não é a senhora que vai dizer o lugar de cada um, pois a senhora não está no seu, que é o de instruir os alunos, e não julgar o lugar de onde eles vêm. Outra coisa, mesmo que este não fosse o lugar dela, ela poderia permanecer aqui, pois está pagando, para sustentar a senhora.

Houve um silêncio constrangido da professora, até que ela falou:

_ Se vocês não estiverem satisfeitas em me sustentar, podem sustentar outros, não são obrigadas a se submeterem a mim, e, acho bom vocês me acompanharem, você, a defensora dos fracos e oprimidos, e você, fraca e oprimida.

Carmem apontou para Lorrayne e Yshara, que se levantou no mesmo momento. Carmem saiu da sala, seguida pelas duas garotas. Desceram os dois lances de escada que Lorrayne havia subido no início da aula. As três caminharam até uma sala, com uma porta de madeira, onde se lia: Vigário Cruz, vice-diretor.

Lorrayne sentiu vontade de rir do nome, e percebeu isso em sua colega também, mas manteve-se firme.

A professora bateu na porta e entrou, saiu poucos minutos depois, ainda calada. Em momento algum olhou para qualquer das garotas, até que a porta se abriu. Nela apareceu um homem, pouco mais alto que a professora, mas muito mais magro que ela. Usava enormes óculos quadrados, e olhou pelas garotas por cima das lentes, depois levantou a cabeça e as olhou novamente, através da lente. Abriu passagem para a professora, e fez um sinal de cabeça, para que as duas entrassem. Entraram em uma sala pouco arejada, com um forte cheiro de fumaça. A mando do vice-diretor, as duas sentaram-se em um desconfortável sofá, e Carmem sentou-se em frente a sua mesa. Finalmente, Lorrayne ouviu as primeiras palavras daquele senhor:

_ Muito bem, senhora Ferreira, o que aconteceu entre a senhora e essas duas alunas?

_ Faltaram com respeito a mim, senhor Cruz. E o pior, tiraram a minha autoridade.

Lorrayne não sabia o que fazer para se defender, devia falar? Não, a professora falaria um monte, e o pior, estavam diante do vice-diretor. Talvez se levantasse a mão...

_ Fale. - disse o senhor, ao ver a mão de Lorrayne no ar.

_ Senhor, hã, senhor Vigário, podemos dar a nossa versão? Contar o que aconteceu?

_ Pra isso estão aqui. Conte-me o que você fez.

_ Eu apenas alertei a professora, que não devia continuar humilhando ela. - Lorrayne apontou para Yshara que estava ao seu lado.

O homem voltou sua atenção para Carmem, e perguntou:

_ Como foi isso, senhora Ferreira?

_ Não, senhor Cruz, eu jamais humilharia um aluno. Eu apenas disse a ela - disse a professora apontando para Yshara - que ela não deveria pegar resultados com outras pessoas. Eu expliquei que aqui, ela não pode ter as faltas de educação que tinha em outras escolas, então essa outra mocinha - dessa vez apontava para Lorrayne - não gostou e disse que eu não devia falar com elas como quisesse, pois estavam pagando para me sustentar.

Mais uma vez a mão de Lorrayne se ergueu no ar. O vice-diretor olhou para a garota, e fez sinal para que falasse.

_ Não foi bem assim, senhor Vigário. A professora Carmem humilhou esta aluna, dizendo que este não era o lugar dela.

A professora apressou-se em se defender:

_ Não foi isso que eu falei. Eu disse que ela não podia repetir aqui as coisas erradas que fazia nas outras escolas, então elas começaram a me crucificar. Bom, senhor Vigário, espero que o senhor seja rápido e justo, tenho uma classe inteira sozinha.

_ Pode ir senhora Ferreira. Tratarei das advertências com essas mocinhas.

Lorrayne ficou indignada com aquilo, mas se calou. Carmem saiu da sala. O vice-diretor virou-se para o computador e procurou alguma coisa. Uma folha começou a ser impressa. Ele se levantou e foi até um arquivo do primeiro ano. Abriu uma gaveta, a gaveta da turma de Lorrayne, 1ºA. Perguntou:

_ Qual o nome de vocês?

Lorrayne foi a primeira a responder, seguida de Yshara:

_ Lorrayne Santiny.

_ Yshara Souza Nohara.

O vice-diretor pegou duas pastas e escreveu algo em cada uma delas. Então a folha impressa ficou pronta. O diretor a recolheu e colocou uma outra na impressora, que começou a se imprimir também. Então Vigário pediu às duas que assinassem, cada uma em sua pasta correspondente. As duas levantaram-se e assinaram na folha, em que estavam escritas data e advertência. Também estava escrito o suposto desacato delas para com a professora. A segunda folha terminou de ser impressa. Cada uma recebeu uma e o vice-diretor informou:

_ Tem que ser assinada pelo responsável, e entregue amanhã. Isto é tudo. Voltem para aula, ainda têm dez minutos.

Lorrayne pegou o papel silenciosamente. Yshara olhava incessantemente do papel que recebia, para Lorrayne. Tinha esperanças que a garota replicasse, mas Lorrayne não fez nenhuma contestação. Yshara pegou o papel, e antes que percebesse, Lorrayne já havia deixado a sala. Yshara correu, até alcançar Lorrayne, que andava apressadamente em direção à sala. Finalmente, depois de tomar fôlego, agradeceu:

_ Obrigada.

Lorrayne diminuiu a velocidade, até quase parar, para encarar a garota. Era pouco mais alta que ela, e também tinha cabelos bem longos como os seus, porém, bem enrolados e de um castanho bem claro. Lorrayne perguntou:

_ Obrigada, por quê?

_ Pelo que você fez na sala da professora, e do vice-diretor.

_ O que tem de mais?

_ Bom, você levou uma advertência... E... Bom, acho que deveria te agradecer...

_ Ah! Você está me agradecendo por eu tomar uma advertência?

_ Não! Você sabe que não! Estou te agradecendo por você interceder por mim na aula e na diretoria.

_ Não fiz isso por você.

_ Então por que fez?

_ Por que? Porque, ofendendo a você, também estava ofendendo a mim. Também vim de uma escola pública e... - Lorrayne lembrou-se do pensamento que teve no início da aula, quando entrava no colégio -... Não significa que este não seja meu lugar, contanto que eu pague...

_ Mas eu não pago.

Lorrayne ficou intrigada, mas não perguntou, nem olhou interrogativamente para Yshara. A garota respondeu por conta:

_ Ganhei uma bolsa. Por isso, talvez o que ela diga me atinja de vez em quando.

Um assomo percorreu Lorrayne. Serenamente, ela respondeu:

_ Você não pode deixar isso acontecer. Se esse não é o seu lugar, por que eles te deram a oportunidade?

Ao chegarem no terceiro andar, Yshara parou subitamente. Perto da porta, Lorrayne perguntou:

_ O que foi?

_ Não vou entrar. Não vou suportar olhar para a cara dela.

_ Escuta uma coisa, se você não entrar agora, vai ser muito mais difícil entrar em outra aula.

Yshara pensou um pouco, então chegou perto de Lorrayne, que bateu na porta. A primeira coisa que Lorrayne viu, quando a porta se abriu, foi um ponto negro, repulsivo, perguntou:

_ Podemos entrar professora?

Continua


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