Laços Fraternos: Megera escrita por MyKanon


Capítulo 2
II - A primeira aula de química




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_ Lorrayne, a comida está pronta. E já se passaram os dez minutos.

Lorrayne fechou o diário com violência.

_ Não sabia que estava me espionando.

_ Eu não estava te espionando. Vim te avisar que a comida está pronta.

_ Já vou descer.

_ Não quero voltar para te avisar.

_ Não será preciso, já disse que vou descer!

_ Não levante a voz para sua mãe! Você já é crescidinha, mas ainda posso te dar uns tapas!

Lorrayne se levantou e saiu do quarto. Foi para a cozinha, e Catharina a seguiu.

_ Quer que eu coloque a comida para você?

_ Eu sou crescidinha, posso colocar sozinha.

Depois de comer e assistir um pouco de TV na esperança de se distrair, Lorrayne subiu para seu quarto. Mas não conseguia dormir de forma nenhuma. Estava sem a mínima vontade de estudar em uma escola particular. Por que sua mãe estava obedecendo às ordens daquela mulher? Será que ela era...

_ Lorrayne?

A garota abriu os olhos e deu de cara com sua mãe inclinada sobre seu rosto.

_ O que você quer?

_ Seu material está todo em ordem?

_ Sim, está.

_ Está ansiosa?

_ Nem um pouco.

_ Não está com vontade de ir para a escola?

_ Aquilo não é uma escola normal, é um colégio.

_ É muito melhor que uma escola estadual...

_ Não sei por que tenho que estudar nele!

_ Vai ser melhor para você.

_ Como você vai pagar?

_ Se eu não pudesse, não teria te matriculado.

_ Você ganha para isso?

_ Lorrayne, já disse, se eu não pudesse, não tinha te matriculado. Boa noite.

Catharina saiu do quarto, e Lorrayne continuou acordada. Finalmente, às três e meia da manhã, conseguiu adormecer.

Seis da manhã. Lorrayne acordou com o despertador fazendo muito barulho em seu ouvido. Cobriu a cabeça com o travesseiro e esticou o braço para desligá-lo. Continuou mais algum tempo com a cabeça coberta pelo travesseiro. Quando percebeu que corria o risco de cair no sono, pulou da cama. Colocou a cabeça pra fora da porta e olhou para os dois lados do corredor: para o quarto de sua mãe, que já havia se levantado, e para o banheiro, onde ela estava. Voltou para o quarto e resolveu arrumar a cama, enquanto sua mãe ocupava o banheiro. Quando Catharina passou pela porta de seu quarto, correu para o banheiro. Escovou os dentes e se penteou. Voltou para o quarto e colocou o uniforme. Lorrayne o achava ridículo, mas não tinha saída. Pegou seu material, e foi para o andar de baixo, onde ficava a cozinha.

Sentou-se na mesa e começou a preparar seu desjejum. Depois de alguns minutos, Catharina sentou-se na outra ponta da mesa e se servia de café. Tomaram o café silenciosamente.

Depois de terminado o café, Catharina avisou:

_ Lorrayne, se já está pronta, pode ir para o carro, já estou indo.

_ Posso te esperar.

_ Vá para o carro, Lorrayne, não perca tempo.

_ O que você vai fazer?

_ Nada! Vou só pegar umas coisas lá em cima, que eu esqueci!

Lorrayne se levantou e saiu. Catharina correu para o telefone e discou um número de celular. Logo foi atendida:

_ Alô? Suzana? Sou eu, Catharina. Vou sair de casa agora.

_ Tudo bem. Já deixei Layane lá. Estou indo para a firma.

_ Então posso ir, sem problemas?

_ Já disse que sim. E ande depressa! Vai atrasar a menina no primeiro dia de aula!

_ Já estou indo...

A mulher desligou, antes que Catharina pudesse dizer outra coisa qualquer. Lorrayne continuava sentada no carro, quando sua mãe chegou.

_ Demorei? -perguntou.

_ Sim, demorou.

_ Então vamos logo.

Catharina deu a partida e saíram. Levaram apenas dez minutos para chegarem ao colégio "Ábaco". Catharina ia dar um beijo de despedida em Lorrayne, mas quando se inclinou para beijá-la, a garota abriu a porta e saiu.

_ Na hora do almoço, eu venho te buscar. Combinado?

Lorrayne apenas virou as costas e entrou no colégio. Foi direto no mural que indicava a sala de cada turma. Queria entrar logo e se isolar de todas as pessoas que andavam no corredor para todos os lados. Sua sala era a B-3, sala B, no 3º andar.

Subiu as escadas, entre todos que também subiam, e que desciam. Lorrayne ficou fascinada com o colégio. Mas não estava feliz. “Aqui não é o meu lugar”. Aquela era uma escola para pessoas ricas, que tinham materiais importados, e passavam férias fora do país.

Chegou à sua sala e sentou-se na primeira mesa, bem em frente à mesa do professor. Olhou em seu relógio, ainda eram quinze para as sete. Havia acabado de constatar as horas, quando um grupo de meninas entrou, colocou os materiais sobre algumas mesas, não muito distantes umas das outras. As garotas, que eram em quatro, voltaram para a porta e ficaram lá, conversando muito alegremente. De repente, como se acabassem de se dar conta que Lorrayne estava na sala, se calaram. Olharam-na de cima a baixo, e, Lorrayne percebeu que os comentários que naquele momento faziam, eram sobre ela. As garotas diziam algumas coisas e abafavam alguns risinhos. Lorrayne sabia perfeitamente o que estava acontecendo. Tinha absoluta certeza que, caso aquelas garotas não parassem com as gracinhas, iria lá tirar satisfações. Mas uma delas se adiantou, entrou na sala, e caminhava em direção a Lorrayne. Chegou na mesa da garota e disse:

_ Meu nome é Caroline, qual é o seu?

_ Por que quer saber?

_ Estou tentando ser gentil com você, me parece um pouco sozinha...

_ Antes só, que mal acompanhada, não é?

_ Você á bem ignorante, heim?

_ Se está incomodada, devia se retirar.

_ Você tem que aprender a falar direito com as pessoas daqui. Não sei de onde você vem, mas aqui é diferente.

_ Falou certo, você não sabe de onde eu venho, portanto, você é quem tem que aprender a falar comigo.

_ Escuta, de uma coisa, eu tenho certeza: eu, diferente de você, não estou sozinha neste colégio.

_ O que quer dizer com isso? Que, se por acaso, eu faltar ao respeito com você, suas amiguinhas vem te defender? Realmente, como você disse, eu, diferentemente de você, posso me defender sozinha.

_ Eu tentei ser gentil, mas você foi muito estúpida, agora, vai ter que arcar com as conseqüências... Bom, foi um prazer, senhora ignorância.

Caroline foi de encontro com suas amigas, que ainda estavam na porta. Lorrayne não ouviu, mas sabia que Caroline contava a conversa com riqueza de detalhes. Já fazia a cabeça das outras, Lorrayne percebia no olhar de desprezo das garotas.

Nesse instante, uma professora entrou na sala. Não era uma das mulheres mais bonitas que Lorrayne já havia visto. Tinha por volta de um metro e meio, e uma saliente barriga apertada no meio por um cinto e ainda tinha um ponto de referência no rosto. Uma pinta nada discreta um pouco acima do lábio superior. A senhora se apresentou:

_ Bom dia, classe! Meu nome é Carmem Ferreira, e sou a professora de química de vocês. Creio que esta classe seja o 1ºA, estou certa?

Todos a responderam afirmativamente.

_ Muito bem. Acredito que grande parte de vocês se lembra de mim? Dei aulas de ciências na 8ªA. Estou certa novamente?

Novamente obteve respostas afirmativas.

_ Gostaria de conhecer os alunos novos. Vocês poderiam levantar os braços?

Lorrayne foi uma das três pessoas que levantaram os braços. A professora apontou para uma outra garota que havia levantado o braço, e perguntou:

_ Qual o seu nome?

_ Yshara.

_ E você veio de um outro período, ou de outra escola?

_ Vim de outra escola.

_ De que escola? Particular, ou pública?

_ Pública.

_ Certo. Só espero que seu nível escolar seja o mesmo desta classe. E você? Qual seu nome?

A professora agora apontava para Lorrayne. A garota foi invadida por uma onda de desespero. Nunca havia passado por situação parecida. Tomou fôlego e respondeu:

_ Meu nome é Lorrayne.

_ E veio de outro período, ou escola?

_ Vim de uma escola pública também.

_ E eu também espero que seu nível escolar seja o mesmo da sala.

_ Também espero.

_ Não perguntei sua opinião, meu bem, mas é bom saber que concorda comigo.

Lorrayne teve vontade de dizer coisas terríveis para aquela professora, mas seria loucura, sabia que ia levar a pior. A professora continuou, agora apontava para um garoto:

_ E você? Como se chama?

_ Marco Aurélio.

Lorrayne notou como aquela Caroline e suas amigas olharam hesitantes para o garoto. A professora continuou:

_ E de onde veio, querido?

_ Eu estudava a noite aqui mesmo.

_ Então não devo duvidar da sua capacidade escolar. – inferiu sorridente.

"Então quer dizer que para a senhora, a capacidade depende se ele pagou ou não para estudar? Quer dizer que acha que sou incapaz de acompanhar essa classe desse colégio nojento? Tenho muito mais qualidades que muita gente aqui!". Pensou Lorrayne. Mas duvidava que tivesse coragem de manifestar seus pensamentos.

Então a professora começou a aula:

_ Prestem atenção, vou passar alguns exercícios sobre a configuração eletrônica de um átomo, para relembrá-los, tudo bem?

A professora virou-se para o quadro-negro e começou a escrever. Lorrayne não sabia o que fazer. Nunca havia ouvido falar sobre aquilo, ou melhor, já havia ouvido, quando sua professora saciara sua dúvida, sobre quais matérias teria no segundo colegial. Ou seja, a professora estava passando um exercício, sobre algo, que ainda devia aprender... Mas, parecia que era somente ela que não sabia essa tal de configuração eletrônica, pois todos, tinham suas cabeças curvadas sobre o material, resolvendo cada um seu problema. Lorrayne até pensou em ir pedir a ajuda da professora, mas essa possibilidade logo se desfez. Não queria a professora criticando sua capacidade e sua escola. Ficou o tempo todo pensando no que deveria fazer.

Por fim a professora anunciou:

_ Todos terminaram? Vou escolher um numero aqui na lista de chamada, para que me dê a resposta correta.

A professora colocou o dedo sobre a lista de chamada e o deslizou. Parou em um número. Olhou para a classe e anunciou:

_ Número trinta, Yshara.

_ Sim, professora.  -A garota respondeu parecendo torturada.

_ Você já tem a resposta?

_ Não sei se está certo, professora, não aprendi isso direito...

_ Mas eu quero saber se você já chegou a uma resposta.

_ Sim, cheguei.

_ Posso saber qual?

_ 1I102M152B73E183C204I33L9.

Depois de anotar o resultado na lousa, a professora encarou-a gravemente.

Continua

 


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