Laços Fraternos: Megera escrita por MyKanon


Capítulo 27
XXVII - A conversa com Catharina




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No dia seguinte, conversava com Eduardo quando ouviu o interfone tocando. Admirou Layane não tê-lo atendido, então percebeu que nem ela nem Renan se encontravam. Martha atendeu-o e a chamou:

_ Lorrayne, dois amigos seus estão te esperando...

Lorrayne abriu a porta. Antes de poder sair, ainda ouviu de sua mãe:

_ Outra vez enfiada no quarto desse garoto, Lorrayne!

_ Mãe, vou sair com eles, e logo eu volto, tá bom?

_ E aonde você vai?

_ Vamos dar uma volta, tomar um sorvete...

_ Eu ficaria mais satisfeita se você fizesse com Layane e os trouxesse para conhecer sua casa, sua família...

“Isso seria um desastre!” Pensou Lorrayne. Então disse:

_ Ah, mãe, estou de férias, preciso andar um pouco.

_ Tudo bem, mas não demore!

_ Não vou. Até loguinho!

Lorrayne correu até o portão. Cumprimentou-os com beijos nos rostos. Estranhando, Marco perguntou:

_ Lorrayne, será que sua irmã anda drogando você também?

Yshara comentou contente:

_ Como você está radiante! Isso nos deixa muito feliz!

Sorrindo Lorrayne se explicou:

_ Eu estou pronta para assumir meu erro, e isso me faz me imaginar morando bem longe dessa família! É isso! Melhor irmos logo, antes que Layane chegue. Ela deve ter ido comprar mais daquelas drogas...

Furtivamente seguiram até um telefone público a alguns quarteirões dali. Lorrayne discou o número. As chamadas pareciam intermináveis, quando o telefone foi atendido:

_ Alô?

_ A-alô. Catharina?

_ Sou eu.

_ É a Lorrayne...

_ Ah, Lorrayne.

_ Tudo bem?

_ Tudo. E você?

_ Também.

_ Então tá.

_ Tá.

Seguiu-se um silêncio constrangedor, então Yshara cutucou Lorrayne para que a garota falasse algo.

_ Bom... Meus amigos falaram com você... Não foi?

_ Foi. E, eu falei com Martha.

_ Falou?

_ Falei.

_ E o que ela disse?

_ Bem, ela disse que estava trabalhando muito, e não estava tendo tempo de trazê-la aqui.

_ Ah... É... E... Você pode vir?

_ Ela disse que vocês não estão em casa, que vocês também andam estudando muito.

_ Mas...

_ Eu sei que é uma desculpa. Quando eu perguntei para ela o que estava acontecendo, ela me disse que todos estavam muito bem, e que era para eu me afastar um pouco, e deixá-la cuidar da filha dela. Pelo menos por um tempo.

_ Mas... Não... Eu quero te ver. Eu estou com saudades...

_ Lorrayne...

_ Eu sei. Eu sei que fiz muita besteira, que te magoei, mas eu preciso...

_ Lorrayne, você só está com problemas de adaptação. Logo isso passa.

_ Não! Não é problema de adaptação! Eu... Eu detesto isso aqui! É terrível! Eu preciso muito te ver e conversar...

_ Você sabe que Martha vai ficar muito brava.

_ Que se dane a Martha! Por favor, eu preciso da sua ajuda como nunca precisei antes!

_ Mas por que você precisa tanto falar comigo?

_ Eu não consigo mais ficar nessa casa. Preciso sair daqui. Se você não me aceitar de volta, quero que me coloque em um orfanato, mas eu preciso sair dessa casa!

_ Lorrayne, por que, o que está acontecendo?

_ Ninguém aqui gosta de mim, é um inferno.

_ Mas foi você quem quis Lorrayne...

_ Eu sei! Eu queria experimentar coisas novas, eu estava deslumbrada, mas agora sei como as coisas realmente são!

_ O que está acontecendo aí?

_ Minha irmã Layane me detesta e faz de tudo para colocar Martha contra mim!

_ Lorrayne, briga de irmãs são normais...

_ Vai muito além de brigas! Martha cai na dela, e eu sempre acabo na pior! Eu quero ir embora daqui, me ajuda, por favor...

_ Lorrayne, Martha me disse que estava fazendo o possível para que você se sentisse muito bem na casa...

_ Ela mentiu. Na verdade ela não sabe direito o que fala desde... – Lorrayne interrompeu a frase.

_ Desde o quê, Lorrayne?

_ Desde que Layane tem colocado ela contra mim... Mas nós precisamos conversar direito pessoalmente...

Yshara cutucou Lorrayne. A garota continuou no telefone:

_ Qualquer dia eu apareço por aí. Layane está vindo, tenho que desligar.

_ Lorrayne, Martha não vai gostar se você...

Lorrayne desligou o telefone. Layane aproximou-se sorrindo e perguntou:

_ Por que não usou o telefone lá de casa, maninha?

No mesmo tom, Lorrayne respondeu:

_ Porque esse me atrai mais, maninha. Estranho você estar sozinha. Cadê o Renan? Matou ele?

_ Você é tão divertida, Lorrayne! Agora, acho melhor voltarmos, senão a mamãe pode ficar preocupada...

Yshara ofereceu:

_ Podemos levá-la até em casa se ficar muito tarde. Daqui a pouco ela vai.

_ E você? Quem é? A Yshara? Melhor não se meter. Isso é assunto de família. A mamãe disse que você não ia demorar, Lorrayne.

Lorrayne tinha de voltar. Voltou-se para seus amigos e disse:

_ Melhor vocês irem. Tenho mesmo que voltar pra casa.

_ Liga pra gente, pra sairmos novamente. – pediu Yshara.

_ Você vai ficar legal? – perguntou Marco.

_ Claro que ela vai ficar legal! Ela está indo pra casa dela, tem mais é que ficar legal! – respondeu Layane impaciente.

_ Então não enrola, Layane, e vamos logo!

Lorrayne virou-se a começou a andar. Ao alcançá-la, Layane perguntou:

_ Pra quem você estava ligando?

_ Não é de sua conta.

_ É sim... Preciso saber. Você sabe.

_ Eu estava falando com uma antiga amiga.

_ E por que não usou o telefone de casa?

_ Porque eu preciso de privacidade.

_ Você não queria falar na frente da mãe, não é?

_ Não mesmo. Qual o problema?

_ Vou contar pra ela.

_ Contar o quê? Que eu estava usando o orelhão?

_ Vou contar que você estava conversando às escondidas com alguém. Aí ela vai imaginar um monte de coisas... Você sabe como a mente da mamãe trabalha, né?

_ É. Eu sei como ela trabalha.

_ Ótimo.

_ Sabe de uma coisa? Você vai deixa-la louca. Louca como você. Por que teve o trabalho de me procurar pra descobrir o que eu estava fazendo?

_ Sabe como é, né? As irmãs devem cuidar umas das outras...

Ao chegar, Lorrayne foi direto para seu quarto, enquanto Layane foi ao quarto da mãe. Lorrayne ficou esperando pela bronca de Martha quando o telefone tocou. Layane não atendeu, pois conversava com a mãe, então Lorrayne pôde atendê-lo:

_ Alô?

_ Por favor, a Lorrayne.

_ Sou eu.

_ Sou eu. Marco Aurélio.

_ O que você quer?

_ Você vai direto ao ponto, heim?

_ Fazer o quê... O que você quer?

_ Saber se ainda estava viva, sei lá...

_ Estou.

_ Precisa de ajuda?

_ Não. Estou mesmo bem. Aquela conversa com Catharina me deu mais esperanças, tenho mais força pra enfrentar essa família.

_ Então tudo bem. Era só isso. Se precisar de qualquer coisa, me liga, beleza?

_ Beleza. Tchau.

_ Tchau.

Lorrayne colocou o telefone na base, e se assustou quando Martha entrou perguntando:

_ Então você foi telefonar para Catharina?

A garota levantou-se. Enfrentaria Martha. Respondeu:

_ Fui. Fui sim. Já que a senhora não me leva até ela, tenho que ir sozinha. A senhora não vai conseguir me impedir de falar com ela.

Serenamente, Martha comunicou:

_ É. Isso foi longe demais. Catharina provocou, agora não reclame. Lorrayne, vou levar isso ao tribunal. Catharina não vai poder mais se aproximar de você. Vou acusá-la de assédio.

_ A senhora não pode fazer isso!

_ Posso sim e já vou tomar providências. Vou ligar para o meu advogado...

_ Não! Eu quero voltar a morar com ela! A senhora não pode fazer isso comigo!

_ Não Lorrayne! Ela me tirou você por quinze anos! Não vou permitir que isso se repita!

_ Mas foi a senhora quem me entregou!

_ Só porque ela tirou seu pai de mim! Se isso não tivesse acontecido, eu jamais a entregaria!

_ Ele te deixou porque não te amava. Amava minha mãe. A Catharina. A senhora não vai mudar isso.

_ Eu sou sua mãe. E Catharina não vai te tirar de mim novamente.

_ Mesmo que eu não goste da senhora e não te considere minha mãe?

_ Mesmo.

_ Como a senhora vai conseguir conviver comigo, sabendo que eu jamais a considerarei minha mãe?

_ Convivendo. Farei o possível.

_ Não! A senhora não vai fazer isso! Eu vou fugir de casa! Não vou ficar aqui!

_ Chega Lorrayne!

Martha segurou Lorrayne pelos braços e continuou:

_ Você é minha filha, e farei o que achar melhor. Você não vai mudar isso.

_ A senhora mesma já mudou. A senhora mesma me faz crer que não sou sua filha. Catharina sempre será minha mãe.

Martha jogou Lorrayne em sua cama. Saiu do quarto. Lorrayne correu atrás de Martha. Segurou-a. Continuava:

_ Não! Não pode fazer isso! A senhora jamais conseguirá meu amor assim!

_ E se não fizer, não conseguirei ter nem sua presença!

Layane e seus primos surgiram na porta de seus quartos, atraídos pela gritaria. Lorrayne continuou:

_ Mas terá minha felicidade!

_ Eu quero ficar você!

_ Eu não quero ficar com a senhora!

Martha esbofeteou Lorrayne. E não dando ouvidos às suas palavras, se dirigiu ao telefone. Lorrayne ainda apoiava-se na parede. Layane veio ao encontro da irmã. Perguntou:

_ Ihhhh... Parece que agora ferrou de vez, né não?

Lorrayne nada respondeu. Layane tinha razão. As lágrimas correram silenciosamente pelo seu rosto. Deixou-se largar no chão. Layane ajoelhou-se frente à irmã que soluçava baixinho, ainda escorada na parede. Perguntou:

_ Por que está chorando? Aqui é tão ruim assim? Ora vamos Lorrayne! Você vai ver que essa casa pode ser muito legal...

Eduardo aproximou-se e disse enquanto guiava Lorrayne para seu quarto:

_ Layane, deixa ela em paz ao menos uma vez.

_ Deixar ela em paz? Mas o que eu estou fazendo? Só estou tentando ajudar!

O garoto fechou a porta. Lorrayne enxugou o rosto e entre soluços, contou:

_ Você viu? Viu o que ela fez? Vai ser pior daqui em diante! Ela vai ligar para o advogado e acusar Catharina de assédio! O que eu faço? Eu preciso fazer alguma coisa! Eu não posso continuar nessa casa!

_ Eu estou aqui há dez anos.

_ Mas eu tinha uma escolha... E ela está acabando com a única chance que eu tinha de reparar meu erro... – Lorrayne sentou-se na cama -... Nunca pensei em quanta maldade minha própria mãe poderia fazer pra mim... Claro! Ela não é minha mãe! Catharina é a minha mãe. Mas eu caí na besteira de negar isso... Agora... Está tudo perdido.

Eduardo sentou-se ao lado de Lorrayne. Passou o braço por seu ombro, e a consolou:

_ Não está tudo perdido. Ela não quer que você veja a Catharina. Mas ela não precisa saber.

_ E de que vai adiantar? Catharina não vai poder fazer nada para me ajudar.

_ Claro que vai. Vai levar um tempo... Mas ela pode provar que Martha te entregou pra ela e que ela te criou durante todos esses anos, e que agora você está sofrendo maus tratos com sua verdadeira mãe, etc...

Lorrayne concordou. Catharina podia. Voltou para seu quarto ao anoitecer.

Continua


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