Laços Fraternos: Megera escrita por MyKanon


Capítulo 28
XXVIII - Plano de fuga




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Lorrayne estava deitada na cama, pensando em como ir até Catharina quando Martha bateu na porta:

_ Filha? Posso entrar?

_ Se eu não deixar, você vai levar isso ao tribunal?

Martha entrou no quarto e sentou-se ao lado da filha. Disse:

_ Está resolvido. Estamos livres dela. Agora vamos viver como uma verdadeira família.

Lorrayne nada respondeu. “Como ela ainda tem coragem de falar comigo? Ela está realmente ficando desequilibrada com os remédios que Layane vem trocando...” Pensou. A mulher continuou:

_ Sei que você está muito brava comigo, mas isso vai passar, você logo esquece a Catharina, e não teremos mais problemas... Você não concorda comigo?

_ Você não sabe o que é melhor pra mim? Então por que pede minha opinião?

_ Lorrayne, você tem que entender que...

Lorrayne levantou-se enquanto interrompia a mãe:

_ O que eu tinha pra entender, eu já entendi. Pra você eu não passo de um prêmio. Um troféu que você não quer perder pra sua irmã.

Martha se aproximou e tentou abraçá-la:

_ Não querida! Eu te amo! Muito!

_ Não. Não ama. Se amasse, você me deixaria ser feliz.

_ Lorrayne, você tem que viver com sua família. Você tem que nos aceitar!

_ Nunca vou aceitar.

_ Lorrayne, estou cansada desse seu comportamento. Não vou continuar a te dar corda. Você vai ter que aceitar. Sinto muito. Boa noite.

Martha saiu do quarto. Lorrayne fechou a porta e voltou para a cama. Sua única alegria era saber que aquela era a última semana de férias.

Foi uma semana conturbada. Martha a tratava como se nada houvesse acontecido. E a garota continuava com a idéia fixa de fugir de casa. Sabia que não era uma boa idéia, e que se conseguisse, não duraria muito tempo, mas era uma idéia reconfortante.

Para seu alívio, já acordava na segunda-feira para voltar às aulas. Estava pensativa durante o café, quando Layane comentou:

_ Puxa mãe! Lorrayne anda tão triste, o que está acontecendo?

Martha olhou brevemente para Lorrayne, que ignorou o comentário, e respondeu:

_ Lorrayne está um pouco enjoada da vida, mas logo passa. É apenas mais uma crise existencial da adolescência.

Lorrayne voltou de seus devaneios e saiu da mesa. Logo estaria na escola com seus amigos, pensando em uma forma de visitar Catharina.

Durante o intervalo, contou para Yshara:

_ Você não acredita!

_ O que aconteceu?

_ Sabe aquele dia que conversei com Catharina?

_ Hum.

_ Martha descobriu, e teve uma conversinha com o advogado. Eu e Catharina não podemos mais nos ver.

_ Ela fez mesmo isso?

_ Fez. Agora tenho que encontrar um jeito de ir ver Catharina escondida.

_ Você pode dizer que vai visitar algum de seus amigos...

_ Ela faria questão de levar.

_ Podemos pedir pro Marco pedir pra mãe dele ir pegar você na sua casa... E fazer de conta que está indo pra casa dele... E de lá a gente pode ir pra casa da Catharina.

_ Pode ser. Boa. Falando em Marco...

_ Ah, onde você acha que ele está?

_ Já sei. Carolzinha. Mas, se eles não estão mesmo ficando, o que tanto conversam? A Caroline não tem uma grande capacidade de bater um papo cabeça...

_ Você caiu mesmo nessa de “somos apenas amigos”?

_ Eu só não quis acreditar que ele tinha descido a esse nível...

_ Bem vinda à vida real.

Entraram para mais uma aula de matemática, e na aula de português, tiveram uma triste notícia: a professora Camila se ausentaria por quinze dias da escola por motivos pessoais. Lorrayne lamentou:

_ Uma das poucas que nos dá uma aula tranqüila...

_ O que é bom sempre dura pouco... – lamentou Yshara.

_ Credo Yshara! Falando assim, até parece que é definitivo! – reclamou Lorrayne.

_ Façam-me o favor, garotas! É uma aula a menos! – conformou-se Marco.

_ Como você é insensível! – brincou Lorrayne.

_ Pudera! Para aturar a Caroline! – complementou Yshara em tom mais baixo.

_ Ela não é tão insuportável assim... – defendeu-se o garoto.

_ Pra você, com certeza! – alegou Yshara.

_ Hum... Estou sentindo cheiro de ciúmes no ar... – afirmou Lorrayne.

Yshara olhou gravemente para a amiga e pediu:

_ Por favor, não seja impertinente.

_ Ok, ok. Mas que eu estou sentindo, eu estou.

Marco somente ria da atitude de Yshara. Desceram para o pátio, e então Lorrayne contou a Marco o que havia contado para a amiga no intervalo, e revelou seu plano. Perguntou:

_ Então, você vai poder me ajudar?

_ Sem problemas. Se você conseguir ao menos fazer sua mãe concordar com a idéia...

_ Beleza! Falarei ainda hoje com ela. Vai dar tudo certo. Tenho certeza.

Lorrayne estava certa que tudo daria certo. Não perdeu a chance de pedir logo que entrou no carro:

_ Mãe, eu posso ir à casa de um colega na quarta-feira?

_ Lorrayne, seu curso de espanhol começa na quarta-feira.

_ Ah... Então, posso ir na quinta-feira?

_ Que colega é esse?

_ O Marco Aurélio. Posso?

_ Não conheço esse rapaz.

_ Mas eu conheço... E acho que isso é o suficiente...

_ Não pra mim, mocinha.

_ Certo. Então posso ir à casa da Yshara?

_ Também não conheço.

_ Posso ir à casa de qualquer colega minha?

_ Não Lorrayne. Quero que você passe um tempo em casa. Esses seus colegas já têm colocado muitas idéias na sua cabeça sem você visitá-los.

_ Além de não poder ver Catharina, também não poderei ver meus amigos?

_ Lorrayne, acho melhor você começar a me respeitar. Você vai aceitar isso sem reclamar.

A garota não podia protestar. Poderia piorar sua situação. Mas, e agora? Como se salvaria?

Martha os deixou em casa, e mais uma vez não ficou para o almoço. Lorrayne almoçava, já sem esperanças, quando Layane lhe tirou uma idéia que acabava de surgir:

_ Ah, maninha! Você deve estar muito feliz com o curso de espanhol, não é? Mas não se esqueça, você está de castigo.

_ E o que isso tem a ver? – perguntou Lorrayne sem encarar a irmã.

_ Oras! Você não vai poder matar aulas para “ir à casa de seus amigos”.

Lorrayne terminou sua refeição e olhou inocentemente para a irmã. Layane continuou:

_ Não se esqueça que vou ficar de olho em você, beleza?

_ Isso eu sei. É a única coisa que você faz bem.

Lorrayne levantou-se e foi para seu quarto. Pegou seu diário. Mais uma vez confidenciou:

Diário:

Cara, da última vez que escrevi, estava muito enganada a respeito de Layane, Renan e Eduardo. Layane é um monstro, e Renan seu capanga. Ela é muito maldosa, até os remédios da mãe ela troca. Acredite se quiser. Ela troca o remédio por uma droga que não conheço, e a coloca contra mim e Eduardo. Minha vida tem sido um inferno. Layane já tentou até me envenenar, mas acabou atingindo o Eduardo, e como Martha não acredita em mim, tive que me virar sozinha. Enquanto ela pensava que era uma mera virose, consegui um antídoto com meu professor de biologia e salvei a vida dele!

E a Martha que se diz minha mãe, já até me proibiu de ver Catharina, e não sei mais como agüentar a vida nessa casa! Quero voltar a morar com Catharina. O que eu faço? O que eu faço?!

Só sei que não vou conseguir continuar nessa casa por muito tempo...

Até logo.

Lorrayne fechou seu diário. Sentia-se impotente. Não podia fazer nada. Como sairia daquela casa sem que Layane a seguisse? Telefonou para Yshara, mas o telefone não foi atendido. Então telefonou para Marco Aurélio onde foi recebida com mais uma brincadeira:

_ Uau! Dois telefonemas numa mesma semana... Vai chover...

_ Preciso conversar.

_ Realmente. Se você não me queimou depois dessa brincadeira, é porque a coisa tá mesmo preta!

_ Vai ouvir ou não? Preferia mil vezes a Yshara, mas parece que ela não está.

_ A coisa não está tão preta quanto eu pensava...

_ Marco, preciso de ajuda, é sério!

_ Eu sei. E aquele plano de você vir na minha casa e tal?

Lorrayne deu uma espiada pelo corredor, mas lembrou-se mais aliviada que Layane havia ido para o curso de espanhol. Voltou sua atenção para o amigo e explicou:

_ Ela me proibiu também de visitar meus amigos.

_ Ela fez isso também?

_ Podes crer.

_ E, não tem ninguém na extensão?

_ Estou sozinha em casa.

_ E por que você não vem aqui agora, depois nós vamos até a Catharina?

_ Porque estou trancada dentro de casa.

_ Pula a janela, o muro, sei lá!

_ Mesmo que eu pulasse, assim que Layane chegasse, contaria pra ela, e ela saberia direitinho onde me encontrar.

_ Pede pra Catharina te esconder, fugir com você...

_ Até eu conseguir fazer ela acreditar em mim, já seria tarde.

_ Então, o que você vai fazer?

_ Eu estava pensando em fazer isso durante a noite. Quem sabe com todos dormindo eu tenha tempo suficiente...

_ E você vai fazer isso essa noite?

_ Não. Antes eu tenho que ter certeza de que vai dar certo, e tenho que falar com a Yshara... Mas ainda essa semana, sem falta. Amanhã nós três conversamos melhor.

_ Então legal. Tá sabendo que amanhã é duas aulas mais tarde, não é?

_ Sim, sem problemas. Agora vou desligar porque daqui a pouco Layane tá baixando aqui.

_ Então até amanhã.

_ Até.

Lorrayne desligou o telefone. Já havia tomado coragem suficiente para fugir daquela casa.

Durante a noite, Martha quase enlouqueceu com a idéia de Lorrayne entrar mais tarde:

_ Como vou deixar você ir sozinha para a escola?

_ Mãe, eu vou numa boa...

_ Não, Lorrayne. Você não confia em mim, por que eu deveria confiar em você?

_ Mas... Eu tenho mesmo que ir pra escola...

_ Tudo bem. Eu te levo.

_ Mas a senhora tem que levar a Layane e o Renan...

_ Eu os levo, volto, levo você, e vou trabalhar.  Estamos combinadas?

_ Se é assim que a senhora quer...

_ Muito bem, agora, volte a comer.

“Pelo menos ela me deixou ir...” Pensava Lorrayne ao se conformar. Ao subir para seu quarto, colocou o relógio para despertar mais tarde, mas teve de acordar no horário normal. Layane sentada ao seu lado mexia em seu cabelo. Lorrayne ao perceber o que acontecia, pulou da cama e correu até o banheiro. Gargalhando, Layane perguntou:

_ Acha que cortei seu cabelo, é?

_ Não sei. Você é louca. – respondia Lorrayne examinando seu cabelo.

Suspirou aliviada ao constatar que estava tudo em ordem. Voltou para o quarto e perguntou:

_ O que você quer?

_ Eu jamais cortaria seu cabelo. Sabe por que? Porque cabelo comprido é brega.

_ Estou realmente interessada nas suas dicas de moda, mas eu gostaria de saber o que você faz aqui.

_ Nada, só vim me despedir, é triste saber que você não vai pra escola conosco...

Um pensamento passou pela mente de Lorrayne. A garota foi até a porta de seu quarto, mexeu no trinco, perguntou:

_ Como você entrou? Eu tranquei a porta ontem à noite.

Continua


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