Laços Fraternos: Megera escrita por MyKanon


Capítulo 21
XXI - Em quem confiar




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O dia começou a clarear, e Lorrayne ainda estava no corredor, pensando no que devia fazer. Layane surgiu na porta. Disse ao passar pela irmã, em direção ao quarto da mãe:

_ Sugiro que você esqueça isso.

_ Como você quer que eu esqueça? Você cometeu um crime, sabia? O que você vai fazer agora? Dar soda cáustica para ela tomar com a pílula?

_ Vou conversar com ela. Sabe como é, né? Tenho que aproveitar que ela fica um pouco doidona, e dar algumas coordenadas básicas...

_ Então é assim que você consegue colocá-la contra mim? Só assim mesmo, não? Você tem consciência que ela gosta muito de mim. Melhor assim.

_ Ah, Lorrayne! Ache o que quiser, agora tenho que ir.

Lorrayne colocou-se à frente da irmã e perguntou:

_ E se eu não deixar?

_ Chamo ela e falo muitas coisas.

_ Ela não está “doidona”?

_ Ela ainda não tomou o remedinho. Mas se você vai mesmo ficar aí... Mãe! Ô manhê!

Lorrayne desimpediu a passagem de Layane e foi para seu quarto se arrumar para mais um dia torturante de aula. Ao se trocar, parou em frente ao espelho. Pensou um pouco, e correu para o quarto da mãe. Abriu a porta repentinamente. Sua mãe ainda estava deitada, mas já havia acordado. Layane estava ao seu lado. Parecia que ainda não havia tomado o remédio. Vendo aquele comportamento de Lorrayne, Martha perguntou:

_ Lorrayne, isso são maneiras de entrar?

_ Desculpa, mãe... A senhora já tomou seu remédio?

_ Hã? Por que quer saber?

_ Por nada... Pesquisa de opinião... – sorriu nervosa tentou disfarçar.

_ Qual o problema, Lorrayne? Está com ciúmes da Layane? Não se preocupe, venha cá, tem Martha pra todo mundo.

_ É que...

Pensando melhor, Lorrayne aceitou a proposta. Sentou-se do outro lado da cama. Imaginou que talvez pudesse impedir Layane de encher a cabeça de sua mãe. Mas logo Martha levantou-se, pegou o vidro do medicamento e foi para o banheiro.

Layane agarrou a irmã pelo braço e a levou até a porta. Sussurrando disse:

_ Sai já daqui!

_ Não, eu não vou! – replicava Lorrayne também sussurrando.

_ Vai sim!

_ Me larga!

Layane puxou a irmã até o quarto de Renan. Bateu violentamente na porta enquanto se esforçava para não deixar Lorrayne se livrar.

O garoto abriu a porta. Layane empurrou Lorrayne para dentro e mandou:

_ Renan, não deixa ela sair até eu mandar! Se você deixar, vai se ferrar! Fecha logo a droga da porta!

Ainda zonzo de sono, o garoto fechou a porta e Layane voltou ao quarto da mãe. Lorrayne ameaçou:

_ Se você não abrir essa porta, vou ter que abrir eu mesma!

_ Lorrayne, é melhor você aceitar e ficar quieta.

_ Certo, então eu abro!

Lorrayne avançou para a porta, mas Renan a impediu. Segurava suas mãos atrás do corpo, enquanto dizia:

_ Lorrayne, você vai acabar se machucando!

_ Você é que vai me machucar, me solta senão eu grito!

_ Sua mãe não vai ouvir. E se ouvir, eu e a Layane vamos fazer ela acreditar em qualquer coisa que te incrimine. Lorrayne, não é necessário isso. Ela vai descer para tomar café, então você sai numa boa.

_ Sabia que posso dar queixa de vocês na polícia?

_ E do que você vai nos acusar?

_ Eles vão examinar o remédio, e vocês estarão encrencados.

_ A tia Martha jamais deixaria você fazer isso.

_ Ela não precisa saber.

_ E quando eles vierem aqui?

_ Eles podem vir quando ela não estiver.

_ E quem vai permitir a entrada deles?

_ Eu.

_ Ainda tem eu e a Layane.

_ Vocês fazem curso de espanhol durante as tardes de segunda e quarta?

_ Mesmo que isso fosse possível, como você provaria que foi Layane quem fez isso? A tia Martha seria a primeira a inocentá-la. E a primeira pessoa que ela acusaria, seria o Eduardo.

_ Então, por favor, parem com isso! Vocês não têm medo de matá-la?

_ Tomamos muito cuidado.

_ Renan, por que você ajuda a Layane? O que você ganha com isso?

Calaram-se ao ouvir passos no corredor. Era Martha. Bateu na porta:

_ Renan, levanta, está na hora.

_ Hum-hum, já vou, tia.

Ouviram-na se afastar e descer. Renan soltou Lorrayne. Abriu a porta. Confusa, Lorrayne correu para seu quarto e bateu a porta. Eduardo vendo a cena, perguntou a Renan:

_ E agora? Qual foi sua nova estupidez?

_ Sabe como é... Ela é muito sensível.

_ Se tem uma coisa que ela não é, é sensível. O que você fez dessa vez?

_ Pergunte pra ela.

Renan fechou a porta de seu quarto. Eduardo bateu na porta de Lorrayne, que mal-humorada perguntou quem era. E só disse que a porta estava aberta quando a resposta foi “sou eu”.

Eduardo encontrou Lorrayne sentada em sua cama, com olhos fechados, massageando as têmporas. Sentou-se aos pés da cama e disse:

_ Você tem que começar a se acostumar com esses dois.

_ Uma vez eu disse para uma colega que não me conformo com os problemas, que eu luto. E essa foi a maior verdade que eu já disse na vida.

Lorrayne levantou-se. Pegou sua mochila e começou a arrumar seu material, que não havia sido arrumado na noite passada. Contrariado, Eduardo perguntou:

_ Certo. O que eles fizeram dessa vez?

A garota certificou-se que a porta estava realmente fechada e disse:

_ Eles estão colocando minha mãe contra nós, com uma ajuda.

_ ...?

_ Droga, Eduardo. Eles estão drogando minha mãe.

_ Como eles fazem isso?

_ Trocam os remédios dela.

_ E por que você não conta pra ela?

_ Ela jamais acreditaria, já que está contra mim. Seria minha palavra contra a da Layane e do Renan. Ela inocentaria Layane, e acusaria você.

_ E por que eu?

_ Porque é quem mais convém.

_ Então por que você não troca os remédios de volta sem que eles percebam?

_ Eles jogam o remédio original fora.

_ Como você sabe?

_ Eu vi os dois durante a noite. Eles jogam o remédio na descarga. Agora, melhor irmos. Estamos atrasados. Quando voltarmos, pensamos em alguma coisa.

Saíram do quarto e desceram. Todos já haviam terminado o café e esperavam por Lorrayne. Ao vê-la, Martha perguntou:

_ O que faziam?

_ Nada, mãe. Estávamos conversando.

Martha aproximou-se de Lorrayne. Disse:

_ Lorrayne, melhor se afastar de Eduardo. Acho que ele está lhe influenciando bastante.

_ Mãe, a senhora vai me desculpar, mas as más influências por aqui são outras pessoas.

_ Lorrayne! Você está falando isso de sua irmã?

_ Não disse quem, mãe. Não estamos atrasados?

_ Estamos, mocinha, e quando eu chegar, teremos uma conversa muito séria, entendeu?

Lorrayne manteve-se inexpressiva e seguiu sua mãe para o carro.

Ao serem deixados na escola por Martha, cada um seguiu seu caminho. Ao entrar na sala, Lorrayne ainda cumprimentou Yshara e Marco Aurélio:

_ Bom dia Yshara, bom dia Marco.

Surpresos, os jovens não tiveram a chance de responder, a professora Carmem entrava na sala. Lorrayne não conseguia se concentrar nas aulas. Era muita coisa para sua cabeça. E diferente de todas as outras aulas, o professor Paulo de matemática nem fez alusão a Lorrayne durante toda a aula. Lorrayne achou que talvez ela estivesse perdendo a graça. Quando o sinal do intervalo tocou, Lorrayne enrolou o máximo possível. Não estava com a mínima vontade de encontrar sua irmã ou Renan. E só saiu da sala quando o professor mandou:

_ Anda logo, menina, não tenho tempo!

Lorrayne jogou a mochila nas costas e saiu. Assustou-se quando Yshara a cumprimentou na porta:

_ Bom dia para você também!

_ O que você está fazendo aqui?

_ Vim responder seu cumprimento!

_ Faça-me o favor!

_ Venha, melhor sairmos de perto. – disse a garota apontando para o professor.

Lorrayne seguia Yshara pelos arredores da escola. Perguntou:

_ Você e sua irmã continuam brigadas?

_ Quem me dera se fossem apenas brigas...

Sentaram-se em um banco. Yshara perguntou:

_ E agora? O que ela anda fazendo de tão grave?

_ Coisas.

_ Tá. Que coisas?

Nesse instante, Caroline se aproximou com Ariane. Sorria alegremente, quase simpática. Voltou-se para Lorrayne:

_ Lorrayne! Fiquei sabendo que mudou de vida! E aí? Está gostando?

_ Pois é... Parece que agora sou mais rica que você, né?

_ Será?

_ Será não, é! E é realmente uma pena que você não é bem-vinda na minha família, portanto, não me importune.

Caroline gargalhou graciosamente. Contou:

_ Nem tanto minha querida! Layane é muito minha amiga. Ainda mais agora que...

_ Que o quê? Que ela me detesta?

_ Não! Como você tem coragem de falar isso da sua irmã? Ela não me disse isso. Ela só disse que há constantes desentendimentos entre vocês... Verdade?

_ Não é problema seu.

_ Então ela me pediu uma ajuda, sabe, só te ajudar a entender que ela só quer seu bem... Ou seria o bem dela? – Caroline riu, seguida de Ariane.

Concentrando-se para não avançar na garota, Lorrayne perguntou:

_ Então quer dizer que Layane tem tanto medo, que até na escola precisa de aliados contra mim? Está me saindo pior que a encomenda. Bom eu devia imaginar. E também, só gentinha como você entraria nesse tipo de acordo com ela, não?

_ Lorrayne, se enxerga querida. Pau que nasce torto, morre torto, você sempre será pobre.

Dessa vez a gargalhada foi de Lorrayne.

_ Olha só Carol. Presta mais atenção ao que você diz. Seu pai foi empregado da minha mãe...

_ Pelo menos minha mãe não me entregou a ninguém...

_ Ela tem compaixão pelo próximo.

_ Você é tão baixa...

_ E você é tão ridícula...

_ Epa, epa, o que está acontecendo aqui nesse meio? – perguntou Marco que acabava de chegar.

Caroline deu sua versão:

_ Como você pode ver, Lorrayne estava me ofendendo.

E Yshara deu a versão de Lorrayne:

_ Só porque você a ofendeu primeiro.

Lorrayne levantou-se e disse:

_ Quer saber Caroline, estou pouco me lixando se agora você vai me perseguir a mando de minha irmã. Só que eu acho que você podia fazer coisa melhor.

E saiu pelo pátio do colégio. Caroline tentou se explicar para Marco, mas o garoto já deixava o local juntamente com Yshara. Encontraram Lorrayne sentada no jardim da escola. Sentaram-se em frente à garota. Marco perguntou:

_ Então quer dizer que agora a tirana da sua irmã se juntou com Carol e sua turma?

_ O que você sabe sobre minha irmã? – Lorrayne perguntou indignada.

Yshara se explicou:

_ Lorrayne, me desculpa, mas fui eu que contei. Mas não se preocupe, pode confiar na gente.

_ Como posso confiar em você, se você contou pra ele?

_ Mas eu contei pra ele porque ele é a única pessoa com quem eu converso...

_ Então quer dizer que se você conversasse com metade da escola, teria contado para metade da escola?

_ Não! Se eu não confiar nele, em quem eu vou confiar? Você fez o mesmo! Contou pra mim porque sou a única pessoa que você sabia que podia confiar aqui na escola.

Lorrayne permaneceu calada. Constatando a reação da colega, Yshara perguntou:

_ Ficou com raiva?

Continua


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