Laços Fraternos: Megera escrita por MyKanon


Capítulo 20
XX - Pílulas




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/21647/chapter/20

“Essa não!” Pensou Lorrayne. “Estão comprando drogas? Estão drogando a mãe? Ou querem me envenenar?” Vira o suficiente. Layane e Renan conversavam furtivamente com o balconista, com algo na mão, talvez o medicamento que usariam. Antes que os dois saíssem da drogaria, Lorrayne correu de volta para casa.

Subiu para seu quarto. Não tinha idéia do que poderia acontecer. Layane drogaria alguém? Envenenaria alguém? Estava preocupada. Sua irmã seria mesmo capaz de matá-la? Não, aquilo era exagero. Foi até o quarto de Eduardo. Bateu. O garoto abriu a porta. Lorrayne perguntou:

_ Posso entrar?

_ Por que não perguntou da última vez que esteve aqui? Aí eu podia dizer não.

_ É sério Eduardo. Preciso conversar com alguém. E não tem ninguém além de você.

_ Você não tem algum telefone em sua agenda?

_ Eduardo, é muito sério isso!

O garoto afastou-se da porta, dando passagem para Lorrayne. Ele segurava um vidro. Tinha um animal dentro. Era uma rã. A rã que Layane um dia falara a respeito. Perguntou:

_ O que é essa coisa nojenta na sua mão?

_ Um projeto de ciências de dois anos atrás.

_ Eca! E você guarda isso? – perguntou sentando na cama do primo.

_ Lembrança.

Lorrayne fez uma careta e desviou o olhar. Eduardo perguntou:

_ Mas o que era tão sério que você tinha pra me falar?

_ Eu segui os dois.

_ E?

_ Eles entraram em uma drogaria.

_ E? – Eduardo perguntou relutante.

_ Ei! Será que você não percebe? Eles compraram um remédio, ou veneno, sei lá!

_ Layane ou Renan pode estar doente.

_ Engraçado. Eduardo, eles podem querer envenenar alguém, ou drogar... E agora? Contra quem eles vão usar isso? E quando? Como?

_ Não acho que Layane tenha coragem para matar alguém. Ela é esperta e sabe que se matar alguém, iriam descobrir, e com tantas testemunhas... Talvez ela esteja fazendo isso só para te assustar. – nesse instante, Eduardo brincava com uma bolinha, jogando-a na parede e pegando-a de volta.

_ E você não está preocupado, Eduardo?

_ Sinceramente? Não. Layane não vai envenenar ninguém. Ainda mais se o bundão do meu irmão está nessa.

_ Mas coisa boa ela não vai fazer.

_ Ela nunca fez coisa boa. Agora, é só isso? Tenho que sair.

_ Ah! Sair! Claro! Entendo esse tipo de coisa. Também já tive meus dates.

_ Não é isso.

_ Fica frio. Ninguém é de ferro.

Lorrayne pulou da cama e foi para seu quarto. Ouviu Layane e Renan subindo. Eles entraram no quarto de um dos dois. Lorrayne mais uma vez saiu de seu quarto. Apurou a audição, e descobriu que estavam no quarto de Renan. Colou o ouvido na porta e ficou a ouvir a conversa. Falavam muito baixo, e algumas palavras eram difíceis de se ouvir:

_ Cuidado, Renan! Põe aqui... Agora dá pra gente colocar...

_ ... Não! Vai acabar...

_ Fica quieto, vai!

Ficaram um instante em silêncio. Lorrayne se preparou, caso houvesse de sair sem ser percebida. Voltaram a conversar:

_ Colocou tudo, Renan?

_ Não.

_ Melhor.

Layane abriu a porta, e encontrou Lorrayne parada em frente à porta, confusa. Perguntou:

_ Lorrayne, irmãzinha, o que está fazendo?

_ Tentando descobrir o que vocês estão tramando.

Renan saiu do quarto e fechou a porta. Disse:

_ Não estamos tramando nada.

_ E o que estavam fazendo no quarto?

_ Lorrayne, o que você faz o quarto do Edu? – perguntou Layane irônica.

_ Converso.

_ Então, querida! E por favor, não se meta mais nos meus assuntos. Beleza? Renan, tranca a porta.

O garoto trancou a porta e desceram. Lorrayne ainda verificou se a porta estava realmente trancada, na esperança de entrar. Nada. Resolveu que era melhor esquecer o assunto.

No sábado, devido a uma terrível dor de cabeça, Lorrayne pediu à sua mãe que fosse ao clube com Layane e Renan, sem ela. Feito. Estava sozinha na casa, já que Eduardo também saíra.

Aproveitou para revistar o quarto de Renan, que já não estava trancado como no dia anterior. Mas não encontrou nada. A não ser uma sacola plástica da drogaria em que haviam estado. Não encontrando nada, Lorrayne foi até o quarto da irmã, e já havia deixado metade do quarto fora do lugar, quando alguém apareceu na porta e a repreendeu:

_ Que coisa feia! Mexendo nas coisas dos outros!

A garota saltou da cama onde estava esticada, procurando por algo escondido. Só foi impedida de se explicar quando reconheceu Eduardo. Gritou:

_ Você ficou louco? Quer me matar?

_ Se você se assustou, sabe que esta fazendo coisa errada.

_ Ah, é? Olhe isso!

Lorrayne mostrou a sacola plástica. Concluiu:

_ Eles compraram alguma coisa. E se fosse um remédio qualquer, não teriam escondido de mim.

_ Eles só estão fazendo pressão... Agora, acho melhor você começar a arrumar isso, antes que eles voltem e ponham a culpa em mim.

_ Não consigo acreditar que você esteja tão relaxado!

_ Isso pra mim não é novidade.

_ Beleza, então! Pode deixar que eu cuido disso sozinha!

_ Depois não diga que não avisei. E quem avisa amigo é.

_ Mui amigo.

Eduardo saiu do quarto e Lorrayne fez o possível para colocar no lugar tudo o que havia tirado. Levou a sacola plástica de volta onde a havia encontrado. Tinha que descobrir o que estava acontecendo.

E os dias se passaram com a dúvida ainda assombrando os pensamentos de Lorrayne. Mais tempo se passou, e então essa dúvida começou a cair por terra, já que nada de anormal acontecia. Então começou a notar as mudanças de humor de sua mãe. Durante a manhã estava sempre um tanto hostil. Mas mais acentuadamente com ela e Eduardo. Sempre tinha um motivo para dar broncas em Eduardo. E os motivos, como de costume, eram lançados por Layane. Lorrayne sempre tentava defendê-lo, mas acabava também sendo alvo de uma bronca.

Lorrayne não conseguia entender. Será que Lorrayne estava drogando sua mãe com algo inovador, que permitisse colocar opiniões e idéias em sua cabeça?

Isso não parecia muito possível. Talvez sua mãe também estivesse se enjoando com a nova filha. Parecia que as palavras de Layane haviam se tornado realidade, sua mãe estava lhe tratando como Eduardo. Não completamente, mas em poucos dias estaria totalmente igual. Foi o que percebeu durante um jantar de domingo, em que se defendia contra uma acusação de Layane:

_ Não, mãe! Layane fez isso de propósito.

_ Lorrayne, filha, já há muito tempo que você dá as mesmas desculpas! É sempre culpa de sua irmã Layane!

_ E há muito tempo ela vem fazendo as mesmas acusações, a senhora não percebe? Mãe, ela é má! Ela sempre coloca a senhora contra mim e Eduardo!

_ Espera Lorrayne, não quero que você ofenda sua irmã assim, ainda mais no horário de refeição...

_ Mãe, não estou ofendendo! Estou falando a mais pura verdade!

_ Chega Lorrayne! Eu não queria falar isso, mas parece que agora estou vendo a má educação que Catharina te deu.

Os olhos de Lorrayne marejaram. Impediu as lágrimas de correrem antes de falar:

_ Minha mãe me deu a melhor educação que eu poderia receber.

Quando as lágrimas saíram de seu controle, abandonou o jantar. Martha ainda reclamou:

_ Vejam só o que Catharina fez por mim!

Todos voltaram às suas refeições.

Lorrayne correu para seu quarto. Não. Não se jogaria na cama para molhar o travesseiro. Manteve-se firme. Enxugou o rosto molhado. Tinha que fazer alguma coisa. Layane conseguira o que queria. Talvez se fosse embora... Mas para onde? Catharina não lhe receberia de braços abertos. Não queria nem sua visita. E também, Martha podia não deixar. Podia proibir. E contra Martha não podia fazer nada. Era sua mãe. Diante da justiça. E podia fazer com os filhos o que quisesse até atingirem a maioridade.

Bateram na porta. Era Eduardo. Lorrayne não podia deixá-lo vê-la naquele estado. Aquilo era sinônimo de fraqueza, o que não existia em seu dicionário. Perguntou:

_ O que você quer?

_ Falar com você.

_ Mas eu não estou afim.

_ Você está legal?

_ É preciso muito mais para me derrubar. Boa noite.

_ Boa noite.

Fez algo que era muito reconfortante: jogar-se em sua cama. Mas nem aquilo lhe afastava os fantasmas da mente. Como mostraria para Martha a verdadeira filha que tinha?

Adormeceu ainda tentando encontrar uma forma de desmascarar Layane. Acordou no meio da noite, ou melhor, no meio da madrugada com um ruído. Levantou-se silenciosamente e foi até a porta. Ao abrir uma fresta, viu uma luz acesa. Vinda do quarto de Renan. Rastejou pelo corredor e ficou a observar a ação. Layane fazia alguma coisa sobre a escrivaninha do primo, que observava sonolento.

A garota mexia com muito cuidado o que fazia. Ficou um longo tempo fazendo os mesmos movimentos até que terminou e sussurrou para o primo:

_ Terminei. Toma, joga esse na privada e dá descarga.

Entregou-lhe um pequeno embrulho. O garoto saiu e fez o que a prima lhe pedira. Então Lorrayne pode ver que Layane colocou as pílulas da mãe de volta na embalagem.

“Não acredito! Layane está mesmo drogando a mãe!” Pensou Lorrayne. Escondeu-se em uma sombra quando a irmã passou para o quarto da mãe e colocou o medicamento no mesmo lugar. Renan já havia voltado para sua cama. Layane voltava calmamente para seu quarto, quando foi barrada por Lorrayne:

_ Então é isso? Você está drogando nossa mãe? Ou está envenenando?

_ Ora, ora! Desde quando você é espiã? Não seja idiota! Por que eu envenenaria minha mãe?

_ Então o que você fez? Você trocou os remédios dela, eu vi!

_ Lorrayne, você não sabe de nada. Melhor voltar a dormir.

_ Não! Vou acordá-la e contar tudo. Vão examinar as pílulas e descobrirem o que você fez!

_ Fale mais baixo senão ela pode mesmo acordar. Aí vou ter que falar que você me acordou no meio da noite para falar abobrinhas.

_ E eu falo pra ela o que você fez!

_ E você acha mesmo que ela vai acreditar? Sua ficha está suja, querida! Ela vai achar que é um truque seu para se vingar de mim.

_ Basta ela examinar a pílulas.

_ Você acha que ela vai se dar ao trabalho, tendo a minha opinião e a do Renan contra a sua?

_ E contra a do Eduardo.

_ Aí é que ela não vai acreditar mesmo. - riu-se Layane.

Layane tinha razão. Mas o que era aquilo? Lorrayne já não tinha idéia...

_ Layane, você está fazendo tudo isso por minha causa? Por favor, pare! Farei o possível para que Catharina me aceite de volta!

_ Minha mãe não vai deixar. E não é porque ela te ama taaaannnto... É porque ela detesta perder.

_ Você não vai me fazer acreditar que sou um objeto para ela.

_ Não acredite se não quiser. Agora, com licença, estou com sono e amanhã é apenas segunda-feira.

Layane voltou ao seu quarto e dormiu tranqüilamente. Lorrayne ficou parada no corredor. O que devia fazer? Contar para sua mãe a verdade? Mas ela jamais acreditaria... Não custava tentar, afinal, aquilo estava custando sua vida naquela casa. Mas era capaz de até ficar de castigo...

Continuar


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Laços Fraternos: Megera" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.