_ Não. Não fiquei com raiva. Acontece que é assim que admito que não estou com a razão. Satisfeitos? – Dizendo isso, Lorrayne abriu um amistoso sorriso.
_ Assim está bem melhor. – Aliviou-se Marco.
_ Mas então Lorrayne, o que sua irmã fez dessa vez?
_ Cara, vocês têm que me prometer que não vão contar nada a ninguém.
_ Prometemos.
_ E que não vão envolver polícia.
_ Polícia?! – exclamou Marco.
_ Lorrayne, mas o que está acontecendo na sua casa?- perguntou Yshara preocupada.
_ Muitas coisas... Minha mãe começou a ficar contra mim, depois que Layane passou a drogá-la.
_ Drogá-la?
_ Podes crer! Essa madrugada eu flagrei ela e o Renan trocando as pílulas. Então ela me disse que enquanto a droga faz efeito, ela enche a cabeça da nossa mãe.
_ E por que você mesma não denunciou ela? – protestou Yshara.
_ Porque não tenho como provar que foi ela, e a primeira pessoa que minha mãe acusaria, seria o Eduardo.
_ E por que você não impede a Layane de drogá-la? – intrigou-se Marco.
_ Como? Ela pode inventar um monte de coisas para a mãe. Hoje eu tentei ficar com ela no quarto, e não deixar que ela falasse um monte para a mãe, e sabe o que ela fez?
_ O que?
_ Me prendeu no quarto. Ou melhor, mandou o Renan me prender no quarto dele.
_ E esse outro primo, por que você não pediu ajuda a ele? – perguntou Yshara.
_ Se eu gritasse, minha mãe ia querer saber o que estava acontecendo e seria a palavra de Renan e Layane, contra a minha e a do Eduardo. O que já sei muito bem o resultado.
Lorrayne relatava furtivamente os acontecimentos, quando avistou Layane observando-a. Acompanhada de seu fiel escudeiro: Renan. Layane fez sinal para que Lorrayne se aproximasse. Insegura a garota foi. Hostilmente, Layane perguntou:
_ O que está conversando com eles?
_ Que indiscrição, irmãzinha. Você tem seus amigos que eu tenho os meus, beleza?
_ Não, não está beleza e você sabe porquê! Escuta uma coisa, se você está mandando eles intervirem, sabe que vai se dar mal, né? – disse Layane segurando o braço da irmã.
_ Se você não me soltar, vou ter que te machucar também.
_ E como você explicaria pra mãe?
_ Tenho duas testemunhas, enquanto você, só uma.
Layane soltou a irmã. Quando o sinal tocou, ainda falou:
_ Só vim te avisar Lorrayne. Cuidado com o que você fala. Vamos Renan.
Lorrayne seguiu com Marco e Yshara para a classe. Não puderam se falar pelo resto da aula. Quando novamente tiveram a oportunidade de conversar, Yshara perguntou:
_ O que ela queria?
_ Nada. Só me ameaçar. Mas eu não tenho medo, não.
Antes de mais conversas, Layane parou em frente à porta e chamou:
_ Vamos, Lorrayne?
_ Claro, Layane.
Lorrayne seguiu para o carro com Layane. Logo Renan embarcou e partiram. Quebrando o silêncio, Martha anunciou:
_ Lorrayne, eu vou matricular você em um curso de espanhol. Layane me disse que você ainda não fez.
_ Legal.
_ Eu também vou matricular o Eduardo, afinal, ele precisa fazer alguma coisa da vida. E olha, procurei colocá-los em dias separados, mas como não havia vaga, resolvi esperar por outras turmas. Não gosto nada desse grude de vocês.
_ Mãe, Layane também é um grude com Renan...
_ Layane e Renan são diferentes!
_ Por que? Porque você gosta do Renan e da Layane?
_ Lorrayne, o que você está dizendo? Gosto de todos igualmente.
Resmungando, Lorrayne deixou escapar:
_ Parece que não...
_ O que Lorrayne? – perguntou Layane, e continuou para a mãe – Tá vendo, mãe? Viu o que ela falou? Ela disse “parece que não”. Tô falando que ela é uma mal agradecida.
Olhando pelo retrovisor, Martha a repreendeu:
_ Lorrayne, que essa seja a última vez que você faz isso! Da próxima vou tomar medidas mais drásticas!
Graças a um grito de Layane, Martha desviou-se a tempo de um outro carro. Furiosa, a garota virou-se no banco e esbravejou:
_ Você viu! Culpa sua! Podíamos ter batido e morrido! Mãe, qualquer dia essa menina nos mata, tô avisando!
_ Me deixa em paz, Layane! Não sou eu quem está dirigindo!
_ Mas foi por sua culpa que a mãe quase bateu!
Lorrayne achou melhor se calar para não iniciar uma guerra em plena viagem. Martha ficou para o almoço. Os quatro jovens comiam silenciosamente. Martha terminou sua refeição e fechou os olhos. Todos olharam para ela, e ela os acalmou:
_ Não se preocupem, só um ligeiro mal-estar.
_ O que a senhora está sentindo? – perguntou Lorrayne preocupada.
Layane olhou ameaçadoramente para a irmã.
_ Nada, só uma tontura. Acho que estou estressada. Gente, eu estava pensando, no mês que vem vocês entram de férias, e que tal se fossemos descansar no sítio?
_ Sítio? – indagou Lorrayne.
_ Pois é Lorrayne, temos um sítio no interior. Eu adoraria, mãe! Faz tanto tempo que não vamos lá! – precipitou-se Layane.
_ Grande idéia tia! – animou-se Renan.
_ E você filha? O que acha da idéia? Afinal, você ainda não o conhece! – Martha perguntou a Lorrayne.
A garota não havia gostado nem um pouco da idéia. Ficar presa no meio do mato com Layane e Renan não parecia um bom negócio. Eles já haviam provado que eram perigosos. Ainda indecisa, respondeu:
_ É, eu ainda não conheço. Deve ser legal. E você Eduardo, não disse se gostou ou não da idéia!
Prontamente Layane respondeu:
_ Ele adora ir ao sítio! Não é Dudu?
Eduardo sorriu confirmando ironicamente.
E depois do almoço, pela primeira vez, Lorrayne sentiu vontade de poder encontrar-se novamente com seus amigos Yshara e Marco. Se ao menos tivesse o telefone de algum deles...
Na terça-feira seguinte pôde cumprimentá-los e perguntar como havia sido o dia, sem medo de ser pega pela professora, pois a aula era de português, com a professora Camila, pessoa diferente do restante dos professores. Mas como havia de fazer seus deveres, só conseguiu conversar abertamente durante o intervalo. Sentaram-se no mesmo local do dia anterior. E Lorrayne lamentou:
_ Pô, cara! Minha mãe inventou de viajar para um sítio nas férias, dá pra acreditar?
_ Qual o problema? Meus pais querem acampar... – reclamou Marco.
_ O problema não é a viagem! Pelo contrário, seria o máximo passar férias em um sítio, mas passar a férias em um sítio com a família que tenho, é danação!
_ Realmente. Longe de qualquer pessoa que você conheça... Mas você ainda tem um mês para fazê-la mudar de idéia... – sugeriu Yshara.
_ Pode ser... Eu posso inventar uma doença... Ou uma alergia...
Nesse momento surgiram Paula e Laís. Lorrayne bufou e virou o rosto. Mas para surpresa, elas a ignoraram:
_ Marco? A Carol queria falar com você...
_ Sobre o que?
_ Você sabe. É melhor você ir falar com ela, senão ela é que vem falar com você.
Contrariado, o garoto levantou-se e as seguiu. Admirada Lorrayne perguntou a Yshara:
_ Nossa... O que há entre eles?
_ O que há, não, o que houve!
_ Hum! Algo violento ou cômico?
_ São somente essas situações que você encontra para os dois?
Lorrayne pensou um pouco e disse:
_ Só.
_ E algo romântico? Não passa por sua cabeça?
_ Envolvendo a Caroline? Nem de longe.
_ Melhor rever seus conceitos sobre a Caroline.
_ Por que? Eles já namoraram ou qualquer coisa do gênero?
_ Não. Quase. Eles se conheceram numa festa. Quando estava tudo certo para eles darem uns beijos, houve uma briga ou sei lá o quê, e no fim o pai da Carol foi buscá-la quando ficou sabendo da confusão.
_ Então não chegou a rolar nada?
_ Não. E desde que ele passou para essa classe, ela tem tentado voltar aquele dia, mas, sabe como são os homens, né? Dia é uma, dia é outra...
_ Então quer dizer que ele está em outra?
_ Ele me disse que não. Que só não está a fim de ficar com a Caroline porque ela é muito nojenta... Mas... Acho que ele vai acabar cedendo. Homem não dispensa uma garota bonita, nem que ela seja insuportável...
_ Legal. Que eles sejam felizes.
_ Jura que não está com nenhum pouquinho de dor-de-cotovelo?
_ E por que eu haveria de estar? Você está?
_ Vai me dizer que não sente falta de uns beijos?
_ Não mesmo. Tenho coisa mais grave para pensar.
_ Mas se aparecesse, você não dispensaria, dispensaria?
_ Ai, Yshara!
_ O quê? Eu não dispensaria. Fala sério!
_ Não sei. Quem sabe.
_ Arrá! Eu sabia!
E caíram na gargalhada. Continuaram a conversar com descontração até o fim do intervalo. Ao reencontrarem Marco, o garoto custou a fazê-las acreditarem que não havia ficado com Caroline.
Mais uma semana se passou, com a relação de Lorrayne melhorando a cada dia com Yshara e Marco. E piorando com Layane e Renan. Na sexta-feira Martha avisou que começariam o curso de espanhol logo após as férias. O que foi mais um motivo para contendas com Layane, que reclamava da boa vida de Lorrayne e Eduardo.
Duas semanas se passaram, e restava apenas uma semana para as tão esperadas férias. Ao terminar o almoço de segunda-feira, Martha avisou:
_ Bom, meus queridos, não poderemos ir para o sítio...
_ O quê?! Mas mãe! Você disse! – reclamou Layane.
_ Eu sinto muito, Layane, mas não vai dar! Tenho muito trabalho, já que muitos funcionários saíram de férias... E eu não vou ficar discutindo isso com você. Já estou em cima da hora.
Martha levantou-se e dirigia-se para a porta. Layane a seguiu. E todos seguiram seu exemplo.
_ Mãe! Você não pode nos trocar pelo trabalho!
_ Não estou trocando! Todo dia eu almoço com vocês, todo final de semana os levo ao clube!
_ Mãe, Lorrayne não conhece o sítio!
Martha virou-se para Lorrayne:
_ Você não se importaria de esperar mais um pouco para conhecê-lo, não é?
_ Sem problemas... – aliviou-se a garota.
Então, Martha continuou:
_ Viu Layane? Lorrayne não quer ir.
_ Quer dizer que se ela quisesse, você ia?
_ Nada mais justo. Eu sempre faço o que você quer.
_ Mas acontece que Lorrayne é uma idiota e nunca quer fazer nada!
_ Chega Layane! Deixa de ser infantil! E pare de falar assim de sua irmã!
_ Não paro! Ela é isso mesmo! E ela nem deveria estar aqui!
_ Calada Layane!
_ E foi você que causou isso!
Martha não pensou duas vezes para esbofetear Layane, que teve de se segurar para não cair. Assustada, apertava o rosto enquanto ouvia a mãe:
_ E vá para seu quarto! E fique avisada: se necessário, faço de novo!
Depois disso, saiu batendo a porta.
Layane ainda estava imóvel, segurando o rosto, encostada na parede que impedira sua queda. Todos a observavam apreensivos. Lorrayne aproximou-se e perguntou:
_ Layane, tudo bem com você?
Layane descobriu o rosto vermelho e esbofeteou o rosto da irmã. Renan segurou Layane para que não avançasse em Lorrayne. Eduardo amparou a garota e perguntou:
_ Tudo bem?
Lorrayne ergueu o rosto e perguntou a Layane:
_ A droga não está mais funcionando?
_ Ora irmãzinha! Eu interrompi por causa do mal estar dela. Mas agora vou retomar, sem interrupções. Custe o que custar. Me solta Renan! E vem comigo! Preciso de você!
Layane saiu acompanhada de Renan. Lorrayne ainda massageava o rosto dolorido. Perguntou:
_ E agora? O que eles vão fazer?
_ Temos que ficar de olho.
_ Meu Deus... Ela é louca... O que minha mãe fez para que ela se tornasse isso?
_ Mimou demais.
_ Ela também deve ter sido drogada durante a infância...
Continua