Laços Fraternos: Megera escrita por MyKanon
Lorrayne refletia sobre sua irmã, quando a mesma acabava de voltar com o primo, exclamando pelo corredor:
_ Lorrayne, voltamos! E temos uma ótima novidade, pena que não podemos te contar! – e riu.
Lorrayne saiu de seu quarto e deparou-se com Layane. Perguntou:
_ Layane, por quê você está me tratando assim?
_ Simplesmente porque você preferiu Eduardo a mim.
_ Layane, não preferi ninguém. Só não quero viver numa casa que vive em guerra.
_ E também por você ser tão imbecil. Essa casa sempre foi a mesma por quinze anos, e agora você chega querendo fazer revolução? Isso é também por você se atrever a tentar tomar meu lugar.
_ Ah, já entendi! Você está com ciúmes de mim. Isso não é preciso...
_ Não estou com ciúmes de você! É fato que a mãe te considera um exemplo de filha, coisa que eu era antes de você. E não vai continuar assim.
_ Layane, pára com isso, somos irmãs...
_ Pois é, somos. Mas agora não estou tão feliz com isso. Enjoei de você. Vamos Renan.
Renan acompanhou Layane até seu quarto e trancaram-se lá dentro. Lorrayne ainda não acreditava no que acabara de ouvir. Sua irmã estava com ciúme. E um ciúme violento.
No dia seguinte acordou com Martha batendo em sua porta. Era a primeira vez que se atrasava. Não estava exatamente atrasada, mas sempre estava pronta quando Martha chamava. Arrumou-se rapidamente. Foi até a cozinha para o café. Layane e Renan já tomavam seus cafés. Estranhou e sentou-se. Martha comentou:
_ Meus anjinhos resolveram trocar os papéis?
Lorrayne tentou se explicar:
_ Bem, é que meu relógio não despertou, não sei...
Sorrindo, Layane falou:
_ Viu mãe, um dia todos se revelam...
Renan sorriu discretamente. Ouviram a porta bater. Mais uma vez Eduardo saía para a escola. Após terminar seu café, Martha perguntou:
_ Lorrayne, querida, fiquei sabendo que ontem você e Layane discutiram. Verdade?
_ Hã? Ah! Bem, é que... As coisas saíram um pouco de controle...
_ Layane me disse que você tomou partido de Eduardo e disse algumas coisas feias para ela...
_ Eu? Bom, eu só vi que Layane brigou com Eduardo, e eu vi, e achei que foi injusto...
_ Minha querida, convivo com a guerra desses dois há muito tempo, e queria pedir a você que não se metesse nisso. Sei o que acontece. Você não devia dar bola para as loucuras do Eduardo.
_ Mas Layane brigou injustamente com ele...
_ Lorrayne, eu conheço minha filha. E acho que ela não faria algo contra Eduardo que não fosse para se defender.
_ Mãe, mas a senhora precisava ver!
_ Lorrayne, e eu também gostaria que você não criasse problemas com a sua irmã. Eu amo tanto vocês duas, e não quero dar bronca em nenhuma por causa de briguinhas bobas, certo?
_ Mas mãe...
_ Lorrayne, pode ser?
_ Tá... Tudo bem...
_ Agora vamos pessoal? Todos terminaram? Ótimo.
Entraram no carro e partiram para a escola.
Lorrayne já havia se acostumado com todos os professores, e suas broncas. Somente a aula de Educação física lhe causava problemas. Durante essa aula, inventou uma dor insuportável no tornozelo e ficou sentada assistindo ao grupo se matar com exercícios. Ao terminarem, Yshara aproximou-se e sentou-se ao seu lado. Lorrayne nem percebeu a presença da garota. Estava perdida em seus pensamentos de como Layane havia feito sua mãe acreditar em tais coisas. Yshara perguntou:
_ E a dor? Passou?
Voltando a si, Lorrayne respondeu:
_ Passou. Mais ou menos. Ainda está doendo.
_ Na verdade nunca doeu, não é mesmo?
Alarmada, Lorrayne fitou Yshara, que a acalmou:
_ Não precisa ficar assim, não conto nada.
_ Acontece que a aula estava realmente dolorida... E eu também precisava refletir um pouco antes de ir embora.
_ Está com problemas em casa?
_ Problema é apelido.
_ Não se preocupe. Um dia eles se resolvem. Ou você se acostuma a eles, como eu.
Incrédulo, Marco olhava para a arquibancada sempre que possível durante o jogo de futebol. Aquela garota ranzinza estava conversando com Yshara...
Enquanto isso, Lorrayne discordava de Yshara:
_ É? Eu não quero me acostumar ao meu problema. Não sou uma pessoa de se conformar. Eu luto.
_ Se isso foi uma indireta, fique sabendo que eu fiz o possível para impedir meus pais de se separarem. Mas isso é uma coisa em que a opinião dos filhos não conta muito...
_ Não sabia que seus pais eram separados. Com qual dos dois você mora?
_ Mãe. Vejo meu pai só nos finais de semana.
_ E você considera isso um problema? Você é feliz e não sabe.
_ Por quêe? Você mora com sua mãe, tem uma irmã bacana...
_ Como você sabe que moro com minha mãe e minha irmã?
_ Bom, vejo vocês indo embora juntas com sua mãe, ou aquela mulher não é sua mãe?
_ É... Ela é minha mãe sim. Mas o que a faz pensar que minha irmã é legal?
_ Vocês estavam sempre juntas no intervalo, agora não muito, mas já as vi muito unidas.
_ E... Como você sabe que ela é minha irmã?
_ Percebi há pouco tempo que vocês são idênticas. Sua irmã tem algumas transformações, mas vocês continuam parecidas. Outra coisa que percebi, é que há algum tempo atrás, você ia embora com uma outra pessoa, que eu pensava que era sua mãe...
_ Pois é... Eu também pensava.
_ Pensava o quê?
_ Que Catharina era minha mãe.
_ Quem é Catharina?
_ A mulher que me trazia para a escola.
_ Não entendi. Você pensava que ela era sua mãe? Como assim?
_ Morei minha vida toda com ela, pensando que era minha verdadeira mãe. Quando comecei a estudar aqui, descobri que ela era apenas minha tia, e que minha melhor amiga era minha irmã. Então conheci minha verdadeira mãe, e estou morando com ela, com minha irmã, e dois primos.
_ É esse seu problema?
_ Acha pouco?
_ Pensando bem, não vejo problema algum. Você não queria morar com sua mãe?
_ Queria, mas minha... A Catharina é quem não queria. Ela está muito chateada comigo e foi embora da cidade.
_ Ah... Você sente falta dela?
_ Eu achava que não, mas eu sinto.
_ E sua nova mãe é legal? Sua irmã, seus primos? São legais?
_ Eu pensava que eram, mas agora os conheci como realmente são.
_ Ihhh, eles são pentelhos?
_ Pior. Minha irmã Layane é venenosa. E o primo Renan a ajuda em todas as maldades. E o alvo é o primo Eduardo. E há pouco tempo tem sido eu também.
_ O que ela faz?
_ Bom, para o Eduardo, sempre arranjava um jeito da mãe lhe dar uma descolada, e para mim, bom, ela está com ciúmes de mim, e quer colocar a mãe contra mim.
_ Por que você não volta a morar com sua mãe adotiva?
_ Porque ela está chateada comigo, eu disse.
_ Você não sabe pedir desculpas?
_ Não sei se ela vai aceitar. E também, fui eu que escolhi isso.
_ Por isso você não tem mais andado com Layane?
_ É.
_ Tenho que admitir, isso é um problema...
Alguém veio por trás de Yshara e lhe deu um susto, que a fez gritar e pular do banco. Lorrayne não se surpreendeu ao ver Marco Aurélio rindo com o susto da amiga. Perguntou:
_ Lorrayne, estou admirado de ver você conversando com Yshara. Geralmente você nos manda pastar antes de podermos...
_ Não mando ninguém pastar. Só interrompo conversas que não me agradam.
_ Então agora somos desagradáveis? – indagou o garoto.
_ Se a carapuça te serviu, não tenho culpa...
_ Você tem resposta para tudo, não é?
_ Não. Só pra quem tem pergunta pra tudo.
Dizendo isso, Lorrayne levantou-se e pegou seu material. A professora havia permitido a saída dos alunos.
Encontrou Layane que passava pelo corredor. Segurou a garota pelo braço, que reclamou:
_ O que você está fazendo? O que você quer?
_ Saber o que você fez. O que você falou para a mãe?
_ A verdade. Você mesma viu o que ela disse. Eu não menti.
_ Layane, dá pra você parar com isso?
_ Não, Lorrayne. Estou cansada de você e seu senso de justiça. Agora é melhor irmos. Mamãe deve estar esperando...
_ “Mamãe” está esperando graças a mim. Se eu não estivesse aqui, você estaria na sala da Geni esperando que ela tivesse um tempo para vir te buscar.
_ Pode ser, Lorrayne. Mas as coisas vão mudar. Aguarde.
Layane continuou andando no meio da turma que saía. Entraram no carro, e logo Renan se juntou ao trio.
Martha almoçou com os filhos e teve tempo de tomar um banho. Layane subiu junto com a mãe, e Lorrayne teve certeza que encheria mais a cabeça da mãe contra ela.
Mas Martha saiu sem dizer nada, além de “tchau, meus amores”. Em seguida, Layane desceu. Falou para Renan, que assistia TV:
_ Renan, vamos voltar lá no seu amigo. Funcionou. Sem problemas. Vamos logo. Temos muito que fazer.
_ Layane, melhor não.
_ Vamos logo!
_ Não, Layane!
_ Você está com medo? Não deu problema, você viu!
_ Mas pode dar! Não vou.
_ Você vai. Senão conto tudo pra mãe!
Automaticamente, Renan levantou-se e acompanhou Layane, ainda discutindo:
_ Você está ficando louca!
_ Relaxa, não tem problema!
Lorrayne tinha certeza que aquilo tinha a ver com ela. Ou com a atitude da mãe. Perguntou:
_ O que vocês estão tramando, heim?
_ Não se mete, maninha.
_ Se a mãe acredita tanto em você, ela não ligaria para o que eu contasse pra ela...
_ Lorrayne, não vou cair na sua.
_ E você Renan? Você sabe que tudo que é ilegal acaba sendo descoberto, não sabe? Melhor você pensar direito antes de fazer qualquer besteira.
_ Não se preocupe, Lorrayne. Confio em Layane.
E Lorrayne não pode fazer mais nada para descobrir ou impedir o que os dois fariam. Pensou em seguí-los, mas seriam dois contra um. Podia chamar Eduardo, mas este evitava qualquer tipo de atrito com Layane. Mas os atritos eram impossíveis de serem evitados. Não custava tentar.
Assim que a porta se fechou, correu até o quarto de Eduardo e bateu na porta:
_ Eduardo! Sou eu, Lorrayne! Abre logo!
O garoto abriu a porta, mas antes que pudesse perguntar qualquer coisa, Lorrayne entrou e começou:
_ Vim te pedir ajuda! Você pode me acompanhar?
_ Pra quê?
_ Estou muito preocupada! Layane está tramando alguma coisa contra a mãe ou contra mim! E é alguma coisa perigosa, já que seu irmão estava com medo de participar!
_ Não estou entendendo.
_ Você pode me acompanhar a seguí-los, ou não?
_ Olha, Lorrayne, talvez seja mais um joguinho deles para te meter em uma fria...
_ Isso significa não?
_ Significa.
_ Então eu vou sozinha.
_ Vai se ferrar sozinha.
_ Não me importo.
Lorrayne saiu do quarto com impetuosidade, como havia entrado. Desceu as escadas correndo e saiu. Desceu a rua, olhou pela avenida. Conseguiu reconhecê-los bem longe. A uns cem metros à frente. Correu até poder vê-los mais nitidamente. Entraram em um estabelecimento. Era uma drogaria.
Continua
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