Naquela noite, não consegui dormir. Só fiquei pensando o que o Mathew tanto conversava com a Anne. Eram três da manhã enquanto eu fitava o teto. Ouvi uns barulhos estranhos vindos da janela, como se alguém batesse no vidro. Levantei e fui ver o que era. Quando cheguei perto da janela, Lipe sorriu e parou de jogar as pedrinhas no vidro. Abri lentamente a janela.

- Não acha isso muito clichê? E as três da manhã? - Perguntei.

- Talvez...

- Você é louco, sabia?! 

- Você que é louca, me deixando aqui fora, nesse frio!

- Sobe aí. - Dei de ombros.

Lipe escalou o muro, se apoiou na janela e entrou.

- Me ama tanto que não podia esperar pra me ver na escola?! - Perguntei me sentando na cama.

- Haha, não é isso, engraçadinha! - Lipe sentou do meu lado.

- Então é o quê?

- Eu tava sem sono... - Lipe disse.

- É, então somos dois.

Ficamos um bom tempo em silêncio.

- Então... Você falou com o Mathew depois da aula? - Lipe perguntou.

- Não, ainda não!

- Ah, mas não se preocupa, eu acho que ele não faria nada...

- Hmm... - Resmunguei e me deitei.

- Já tá com sono? 

- Um pouco! - Disse enquanto puxava o cobertor.

- Ah, então eu já vou...

- Tipo, vai andar sozinho por aí as três e meia da madrugada? - Arquei a sobrancelha.

- É ué... Não vai acontecer nada!

- Não quer dormir aqui e amanhã a gente vai juntos pra escola? - Perguntei.

- Aqui? Com você? - Lipe sorriu maliciosamente.

- Não necessariamente comigo! No quarto de hóspedes...

- Ah, sério mesmo? - Lipe fez biquinho.

- Eu tenho namorado, seu tarado! - Ri.

- Eu não ia fazer nada com você, mas já que você não quer deixar... - Lipe levantou as mãos e foi saindo do quarto.

- Ei! - Gritei. - Dorme bem, viu?! Qualquer coisa, vem aqui!

- Boa noite, se cuida! - Lipe beijou minha testa. - Ah, qualquer coisa, é?

- Para Lipe! - Joguei uma almofada nele.

Ele saiu do quarto rindo.

Dessa vez, consegui dormir e por um momento, esqueci Mathew e todos os problemas. O Lipe me faz tão bem! 

Acordei no outro dia, umas 6:00 da manhã. Levantei sonolenta, escovei os dentes e bati na porta do quarto de hóspedes. Silêncio total, então Lipe deveria estar dormindo. Empurrei a porta devagar.

- Ei, preguiçoso! Acorda... - O sacudi devagar.

- Amy, vem cá... - Lipe me puxou em sua direção de olhos fechados.

- Para Lipe! Acorda logo, vai. - Insisti.

- Ah não, sua chata! - Lipe levantou lentamente.

- Isso, agora vai pro banho... - Disse enquanto jogava uma toalha em sua direção. 

Lipe me deu língua e foi.

 Me arrumei, desci e comi uma maçã. Lipe ainda não tinha descido, então fui atrás dele no quarto.

- Lipe, anda logo!

- Entra aí!

Entrei no quarto, Lipe ainda estava de cueca secando o cabelo. Nossa, o que era aquilo?!

- Veste logo uma roupa! Fica aí tentando seduzir... - Me joguei na cama.

- E funcionou? - Lipe sorriu.

- Talvez...

- Haha, eu sabia que ia dar certo! - Lipe disse enquanto vestia a blusa do uniforme.

- Bobão! - Me levantei da cama. - Vamos logo!

Descemos repidamente.

- Phelippe? - Mathew arqueou a sobrancelha quando nos viu saindo juntos.

- Ahn, oi... - Lipe ficou totalmente sem graça. 

- Oi mô! - Abracei Math para quebrar o clima tenso.

- Amy, eu tô indo lá em casa pegar minha mochila, tá?! A gente se vê no colégio. - Lipe me deu um beijo na testa e saiu.

- O que é isso? - Math perguntou sem hesitar.

- O Lipe... - Respondi irônica, descontando a raiva de ontem.

- Eu sei disso, Amy! Não se faz de boba! O que ele tava fazendo essa hora da manhã na tua casa? - Math começava a se irritar.

- Ué, ele dormiu aqui! - Provoquei.

- Como assim? " Dormiu aqui" ? Nem eu durmo com você! 

- Math, ele não dormiu comigo! E ele é só meu amigo. Da mesma forma que a sua ex pode ser sua amiguinha, eu posso ter amigos também! - Aumentei o tom de voz sem perceber.

- A Anne não é minha "amiguinha"... - Math deu de ombros.

- Ah, não é o que parece!

- Eu não vou brigar agora, Amy! Vamos logo...

- Pode ir! - Sentei na calçada.

- O quê? E você não vai não? 

- Não com você! Acho melhor você ir... - Me apoiei sobre minhas pernas.

- E deixar o Phelippe te levar? De jeito nenhum!

- O que é que tem? - Revirei os olhos.

- Que você é minha namorada e não dele!

- Math, faz assim: Vai indo na frente. Eu não quero brigar mais por causa disso!

Mathew bufou e foi pisando fundo. Peguei o celular e mandei uma mensagem pro Lipe:

" Vem cá... O Mathew já foi! - Amy-"

Fiquei sentada na calçada esperando. Depois de uns cinco minutos, Lipe estava lá.

- O que aconteceu? Por que não foi com ele? - Lipe estava ofegante, como se tivesse vindo correndo.

- Ah, a gente brigou. Longa história... 

- Por causa de mim?

- Não Lipe... Relaxa! Vamos?

- Vamos... 

Lipe passou o braço pela minha cintura e fomos assim pra escola. No começo, foi bastante estranho, mas eu não pedi pra ele tirar, porque estava bom.  O Mathew quase não fazia isso comigo, então eu meio que sentia falta dessas coisas, por isso deixei.

- Tá tudo bem, Amy? - Lipe se virou de frente para mim e me perguntou.

- Tá sim! Obrigado Lipe. - Estiquei os pés e dei um beijinho na ponta do seu nariz.

Ele apenas sorriu.