Ah, finalmente tudo certo entre eu e o Math. Mesmo eu estando com o pé atrás em relação ao Math e a Anne, resolvi confiar. Eu estava com tanta saudade de bagunçar aquele cabelo, de olhar no olho dele, de fazer ele rir...

No outro dia, Math estava me esperando na porta de casa. Peguei a mochila e desci.

– Ué, já está aqui? - Perguntei surpresa.

– Sim! A gente tem que recuperar o tempo perdido, né mô! - Ele me deu um selinho.

– Verdade! - Eu ri fraco.

Fechei a porta, peguei na mão de Math e fomos andando de mãos dadas. Andamos o caminho todo em silêncio, estava meio frio, então encostei minha cabeça no ombro do Math e assim fomos até chegar na escola. Chegamos juntos e todo mundo já olhava torto para nós. Fomos direto pra sala. Me sentei na última cadeira, no canto da sala e Math sentou logo na frente. Me debrucei em cima da mochila, que estava sobre a mesa.

– Oi Math! - Anne o comprimentou com um beijo na bochecha e sentou do seu lado.

– Que ridícula! - Sussurei. Math ouviu e soltou um riso abafado.

– Bom dia... - O professor de artes comprimentou a turma com má vontade, como sempre fazia. - Vamos, juntem-se com o colega do lado. Rápido, para não perdermos tempo.

" Droga! " Pensei.

Math hesitou em arrastar sua mesa para se juntar com a Anne e me olhou confuso. Ergui a sobrancelha.

– Vamos, eu não tenho o dia inteiro! - Ordenou o professor olhando para Mathew e Anne.

Me sentei com o Phelippe, um antigo amigo do Mathew. Lembro que quando eramos pequenos, a gente andava juntos, mas eu sempre preferi o Math. Depois os meninos brigaram e eu continuei com o Mathew.

– E aí?! - Phelippe disse juntando sua cadeira a minha.

Não respondi. Não porque eu não quisesse, mas porque eu não tirava os olhos das duas cadeiras da frente.

– Ei... - Ele me cutucou.

– Desculpa... Oi!

Ele riu.

– As mesas da frente estão mais interessantes do que aqui?!

– Eu já pedi desculpas... - Reclamei me ajeitando na cadeira.

– Tá bom... - Ele levantou as mãos em sinal de rendição.

Suspirei.

– Você tá tão...Diferente! - Phelippe disse me olhando.

– Diferente como?

– Sei lá, desde que a gente andava juntos... Você mudou!

– Lógico, não ia ficar pequena pro resto da vida. - Irônizei.

– Boba, não é disso que eu tô falando! - Ele riu.

– Tá, é melhor nem terminar... - Encerrei o assunto entendendo aonde ele queria chegar.

Me virei para frente e... Anne e Mathew estavam conversando numa boa e até sorrindo. Minha expressão mudou rapidamente.

– Amy, você tá bem? - Phelippe perguntou.

– O que você acha? - Dei de ombros.

– Poxa, o que eu te fiz pra você me tratar assim desde que começou a aula?

– Nada... Desculpa! - Encostei a cabeça na mochila.

– É por causa dele, né? - Phelippe sussurou no meu ouvido.

– E se for? O que você tem a ver? - Respondi irritada.

– Calma, eu só queria ajudar...

– Deixa!

Senti minhas mãos suando frio.

– Ah, eu sei como é isso... - Phelippe falou tirando a franja do olho.

– Sabe?! - Eu ri.

– É... Infelizmente sei!

– Anwt, que bonitinho. Você gosta de alguém!

– Por que? Eu não posso? - Ele riu.

– Lógico que pode! - Bati de leve em sua testa.

Fiquei o encarando por um tempo.

– O quê? - Ele me olhou confuso.

– Não vai me dizer quem é?! - O olhei encrédula.

– Ah, você não conhece! - Ele deu de ombros.

– Tá bom, sei... - Fingi acreditar.

– É sério! Você não conhece...

– E eu disse que era mentira? - Ri.

– Não, sua feia! - Ele me deu língua.

" Parece até que ele é o meu melhor amigo, apesar do tempo em que ficamos afastados." Pensei.

Esqueci até a preocupação em excesso com as mesas da frente. Era legal conversar com o Phelippe...

– Posso colocar um apelido carinhoso em você? - Perguntei.

– Depende...

– De quê?

– Se não for muito feio ou infantil...

– Lipe é fofo! Pode ser?

–" Lipe"? - Ele arqueou a sobrancelha.

– É... - Apertei suas bochechas, para irritá-lo.

– Bobona... - Ele bateu no meu braço de leve.