– Quem está aí? Que lugar é este? - Kai pergunta.

Kai estava amarrado a uma mesa de pedra por cordas bastante firmes, sem qualquer oportunidade de escapar. Tudo o que via era uma caverna escura ao seu redor. O cheiro que sentia parecia com odor de enxofre, seus nervos estavam à flor da pele.

– Aicaralhodescecapeta! Que lugar é esse???!!! - pergunta mais uma vez, afobado.

– Cale a boca, moleque birrento! Em breve, seus dias de sofrimento estarão encerrados, pode ficar tranquilo quanto a isso! - disse uma voz ao seu lado.

Quando Kai vira a cabeça, se depara com um homem sujo com aparência de mendigo, de barba e dentes podres.

– Olha só, ele finalmente acordou! Pena que não podemos comê-lo, não é mesmo? - disse um outro mendigo, encostado na parede da caverna.

Kai entra em desespero.

– Vocês são os ghouls, não são? São vocês que gostam de comer carne humana, principalmente quando já está morta, vocês são como urubus!

– CUIDADO COM O QUE DIZ, SUA CARNIÇA PODRE! EM BREVE COMEREMOS VOCÊ DOS PÉS À CABEÇA! - brada o ghoul mais próximo a Kai, completamente fora de si.

– Espere aí, não podemos comer ele! Ele é o receptáculo de Samhain, ele nos mataria se ousássemos tocar em sua carne. - disse o outro ghoul, de má vontade.

Kai entra em desespero total.

– PELOS MUROS DE JERICÓ! É HOJE QUE EU MORRO!

– Verdade! - concordou o outro, dando um soco na parede rochosa da caverna. - Precisamos terminar o ritual! Só temos que terminar de recitar o último parágrafo para evocar o espírito do Halloween!

– Meus amigos vão me salvar e os seus planos irão por água abaixo, seus fedorentos! Eles logo estarão aqui! - grita Kai, sentindo-se subitamente com coragem.

– Huauhauhauhauhauahuha, acha mesmo que os seus amiguinhos idiotas virão te tirar dessa enrascada, seu moleque imundo? Você não tem escapatória, irá sofrer as consequências por entrar na floresta de Hamburgo em plena noite de Dia das Bruxas!

– Não tão rápido, seus carniceiros de meia-tigela! - grita Michael Kiske em um tom desafiador com seus companheiros ao seu lado.

– MICHI! - grita Kai, o desespero misturado com o alívio.

– SEUS TOLOS! COMO SE ATREVEM A ADENTRAR NA CAVERNA ONDE ACONTECERÁ O SACRIFÍCIO???!!! VOCÊS IRÃO TODOS MORRER! - clama o ghoul, furioso.

– Não temos medo de você, seu idiota, viemos aqui resgatar esse chorão... - Weikath diz.

– Ó o respeito! - avisa Kai, interrompendo-o.

– Desculpe... Resgatar o nosso amigo! - termina Weikath.

O ghoul começa a recitar o ritual de invocação.

– Potens spiritus turpis quod inhabitat tenebris saltus, intrare corpus iuvenis qui est magis turbatus in hoc locus et ad vitam iterum! (Em português: Poderoso espírito do dia das bruxas que habita a floresta negra, penetre no corpo do jovem mais perturbado que se encontra neste recinto e retorne à vida mais uma vez!)

A caverna inteira começa a tremer e uma luz incrivelmente forte toma o local inteiro, cegando os olhos de cada pessoa presente no lugar.

– Meus olhos! Eu não consigo ver nada! KAI! KAI, NÃO SE RENDA! LUTE CONTRA TUDO ISSO, VAMOS, VOCÊ CONSEGUE! - grita Kiske, ainda com as mãos nos olhos.

Então a luz se apaga e a caverna volta a ser iluminada pelas velas que os ghouls haviam acendido para fazer o ritual.

– O que aconteceu? - pergunta Kai, surpreso. - Eu ainda sou eu mesmo!

Todos se surpreendem, com exceção de Weikath, que estava com uma expressão de mistério em seu rosto.

– O que aconteceu, Weikath? - pergunta Kiske, desconfiado.

Assim que olhou para o rosto de Weikath, seu coração disparou. Suas íris estavam com uma cor branca leitosa, enquanto suas pupilas permaneciam negras.

– Finalmente... Depois de 600 anos adormecido, eu finalmente retornei! - clama Samhain, em seu novo corpo.

Os outros garotos dão vários passos para trás, aterrorizados com a voz amedrontadora que saía da boca de seu amigo e Kai reconheceu na hora a voz do homem que apareceu em seu pesadelo, enquanto Samhain brada com louvor para toda a caverna escutar.

– AHHHHHHHHHHHHHH! É HALLOWEEN!