8º Capítulo – O baile

Era sexta-feira, o dia em que eu e minha família jantaríamos na casa de George – prefiro dizer que a casa é de George do que de Megan. Como eles são relativamente ricos, coloquei uma roupa descente. Coloquei um vestido – coisa que minha mãe me obrigou – preto até um pouco acima do joelho e com as mangas até o cotovelo e um salto baixo, amarrando meu cabelo em um rabo de cavalo. Me olhei no espelho. Tudo bem, essa não sou eu, pensei, mas tudo pela minha mãe. Minha mãe usava uma saia florida até os pés com uma camisa branca por baixo e meu pai um terno.

Entramos no carro e dirigimos até a casa de George. Estava ansiosa, não podia negar. Meu estômago me deixava enjoada e com vontade de vomitar, mas me segurei.

Tocamos a campainha e fomos atendidos por Megan, um minuto depois. Ela usava um vestido mais curto que o meu e grudado no corpo, de uma alça só e preto, como o meu. Usava um salto com uns 15cm de altura, que a deixou bem maior que eu.

Adentramos uma sala enorme, com sofás grandes e lindos e uma escada incrível, por onde George desceu com seus cabelos loiros, como os meus e olhos azuis. Parecia ter uns quarenta e cinco anos.

- Sally – disse ele beijando a mão da minha mãe – É um prazer revê-la.

Meu pai – Ryan – se ajeitou, limpando a garganta.

- Ah, sim – continuou George – Ryan?

- Sim, prazer – meu pai estendeu a mão para George, que a apertou.

- Ora, Catherine? – perguntou-me ele, passando a mão em meus cabelos.

- Carter, por favor – pedi. Não gostava que as pessoas me chamassem de Catherine, parecia minha mãe me dando bronca.

- Vamos jantar? – perguntou ele me analisando, o que estava me dando nervoso.

- Vamos, papai – disse Megan, se pronunciando.

Nos sentamos em uma mesa retangular de vidro, onde na ponta ficava George. Em um lado seu estava eu e do outro, Megan. Minha mãe e meu pai ficaram ao meu lado e ao de Megan, se sentou uma mulher com cabelos ruivos e olhos castanhos, que presumi ser sua mãe.

Uma empregada nos serviu um prato que eu nunca havia visto. Eram vários grãozinhos pretos e eu estava confusa se comia ou não.

- Se chama caviar – disse George – Espero que gostem.

Usando a colher, coloquei um pouco na boca. O gosto não me agradou, mas sorri, fingindo que havia gostado.

- Então, Carter – disse George – Você e Megan são amigas?

Eu e Megan nos olhamos. Ela sibilou algo e entendi.

- Sim, somos – sorri. Porque ela me pediu para dizer isso? E porque eu concordei?

- Que bom! – sorriu ele.

- Quero te fazer uma pergunta – disse mudando de assunto.

- À vontade – disse ele passando o guardanapo na boca.

- Por que você deixou minha mãe? – perguntei. Minha mãe abaixou a cabeça e meu pai começou a prestar atenção em George – Por que nunca me procurou se sabia da minha existência?

- Carter, era difícil. Eu viajo bastante, desde que conheci sua mãe. Sou um homem de negócios. Quando sua mãe me comunicou que estava grávida, já havia se passado três meses que eu estava na França. Ela apenas disse que você se chamaria Catherine Stewart. Quando voltei de lá, vim na ânsia de encontrar Sally, mas ela havia sumido e não tive mais como achá-la. – disse George olhando ora nos meus olhos, ora nos olhos de meu pai, que éramos os únicos que o olhavam – Nunca te procurei, pois vi que estava feliz sem mim e que eu não fazia diferença em sua vida.

- Eu fui embora porque não queria que Carter tivesse um pai que não fosse presente para acompanhar todos os seus avanços – disse minha mãe de cabeça baixa.

- Mas eu podia ajudar nas despesas, pelo menos – disse George.

- E o que significa dinheiro perto de afeto? – gritou minha mãe, agora o olhando nos olhos – Você sempre pensou apenas em você, George, aposto que tudo o que disse não passa de mentira! Pare de se fazer de coitado e assuma suas responsabilidades!

Minha mãe estava em pé, com as mãos na mesa, gritando para George. Meu pai fez com que ela sentasse e a ajudou. George estava com as mãos no rosto e a mãe de Megan o ajudava. Eu e Megan olhávamos para o que estava acontecendo. Nossas famílias nunca se dariam bem, era um fato a ser aceito. Fomos embora naquela mesma hora.

Em casa, troquei de roupa, colocando uma calça jeans e um moletom e fui andar pela rua, precisava esfriar a cabeça e digerir tudo que havia acontecido.

- Carter?! – gritou alguém atrás de mim e me virei, vendo Tom.

- Tom? – perguntei surpresa – O que faz aqui?

- Eu moro ali – ele apontou para uma casa grande – E você?

- Moro do outro lado da rua! – sorri.

- Coincidência? – disse ele rindo, se aproximando, então andávamos juntos.

- Ha-ha – eu ri.

- Está maquiada? – perguntou ele surpreso.

- Ah, longa história – disse revirando os olhos.

- Estou ouvindo! – ele sorriu e lhe contei tudo que estava acontecendo enquanto andávamos.

- Nossa, e você ainda consegue sorrir mesmo com tudo isso acontecendo com você? – perguntou ele.

- Faz parte – disse com as mãos no bolso do casaco.

- Você parece uma ótima pessoa – disse ele me olhando.

- Obrigada – respondi – Você também!

- Eu? Eu geralmente só afasto as pessoas de mim – disse ele.

- Então bate aqui, somos dois – disse estendendo minha mão e ele bateu.

- Quero te fazer uma proposta de louco – disse ele sorrindo.

- Proposta de louco? – disse confusa.

- É – assentiu ele.

- E que proposta seria essa? – perguntei.

- Irmos ao baile – disse ele rindo.

- Ao baile? Eu? – disse rindo mais ainda – Nossa... Isso é um desafio?

- Com certeza! – disse ele animado – Desafio você a ir ao baile comigo!

- E se eu não for? – perguntei.

- Aí eu vou pensar no que vou fazer com você – disse ele rindo.

- Aceito – disse estendendo a mão e ele a apertou.

- Fechado então – concordou ele.

***

Era o dia do baile e eu estava me arrumando. Coloquei um vestido marrom e por cima uma jaqueta jeans e um salto. Amarrei meu cabelo em um rabo de cavalo e pedi para minha mãe fazer uma maquiagem simples. Logo depois, me olhei no espelho. Eu estava linda, precisava admitir. Tom me buscaria em casa, então estava o esperando.

A campainha tocou e minha mãe a abriu, vendo um Tom com uma calça branca, uma camisa azul escuro e um blazer cinza por cima. Estava bem atraente.

- Oi, Tom – disse aparecendo na porta.

- Oi, você está linda – disse ele me olhando.

- Obrigada, você também – sorri.

- Vamos? – perguntou ele, estendendo a mão.

- Vamos sim – disse a pegando.

Tom estava com seu carro. Chegamos ao colégio e a festa estava linda. Todos me olharam quando entrei com Tom. Talvez estivessem surpresos por eu aparecer em algum baile. Ou talvez...

- Carter, você está linda! – disse Clarisse, uma menina da mesma sala que eu.

Então todos estavam me olhando porque eu estava linda? Olhei para Megan, que usava um vestido rosa colado ao corpo e um salto bem alto. Ela me fitava com um olhar mortal. Kevin estava ao seu lado, porém sentado, com uma calça jeans, uma camisa cinza e um blazer preto.

Eu e Tom nos sentamos em uma das mesas que estavam vazias e ficamos conversando por um tempo. Me aproximei bastante de Tom nas últimas semanas.

- Vamos dançar? – pediu ele.

- Vamos – sorri.

Fomos até a pista de dança, onde Kevin dançava forçadamente com Megan. Nos afastamos o máximo possível deles e ficamos dançando e rindo.

- Está percebendo que eu não sei dançar? – disse rindo.

- Você não sabe dançar? Olha para mim! – disse ele rindo também.

Tom se mostrou um ótimo amigo para mim e estava gostando bastante da nossa amizade. Uma vez disseram que nós combinávamos como casal e a primeira coisa que fiz foi rir. Tom é o único que me faz rir nessa minha situação.

Então começou uma música lenta. Tom colocou as mãos na minha cintura e eu coloquei as minhas em seu pescoço. Estávamos quase abraçados, mas andando de um lado para o outro no ritmo da música.

Tom olhou nos meus olhos. Estava tão perto de mim que sentia sua respiração e até mesmo as batidas de seu coração, que estavam aceleradas. Seus lábios encostaram nos meus e ele me beijou. Foi um beijo bom, sinceramente, eu estava gostando. Nos separamos e ele me olhou, dando um sorriso de lado. Retribui o sorriso e nos sentamos novamente.

Kevin nos olhava e isso estava me incomodando. Ok, pensei, o ignore.

A noite foi muito divertida. Eu e Tom dançamos, nos beijamos e conversamos.

Depois teve o grande anúncio de rainha do baile, coisa que eu nem ligava e que Megan ganhava todos os anos, como esse, comprando seus votos. Como rei, Kevin foi escolhido. Os dois subiram no palco, pegando suas coroas. Kevin parecia desconfortável com toda aquela atenção.

Tom me levou em casa.

- Boa noite – sorriu ele e eu lhe dei um beijo na bochecha.

- Obrigada pela noite – sorri e entrei em casa.

- Como foi o baile, filha? – perguntou minha mãe.

- Ótimo, melhor do que eu esperava! – sorri – Vou ligar para Louise, que horas são?

- Meia noite – disse minha mãe olhando o relógio.

- Ela disse que estaria acordada – disse sorrindo e peguei o telefone.

- Carter? – atendeu ela.

- Oi, Lou! – disse alegre – Como você está?

- Estou bem! A escola nova é legal – disse ela animada – Como foi o baile?

Entrei no meu quarto e fechei a porta antes de contar sobre o baile.

- Foi ótimo, Lou, lembra do Tom que te contei? – perguntei deitando na cama.

- Lembro sim – disse ela.

- Ele me beijou quando estávamos dançando – disse sorrindo – Ele é lindo, você precisava ver ele!

- Que isso, Carter! – disse Louise gargalhando – Queria ter visto!

- Eu também queria que você visse – disse rindo – Kevin estava tão estranho hoje.

- Ele deve saber de algo – disse Louise.

- Com certeza – disse olhando para a janela – Mas me conte, fez novos amigos?

- Fiz sim – disse Louise – O pessoal daqui é bem legal comigo!

- Que bom, sortuda – disse rindo – Estou com saudades!

- Também estou – disse ela.

- Lou, seu aniversário está chegando! – disse animada.

- É verdade, falta uma semana – disse ela.

- O que você vai pedir?

- Pra eu passar uma semana aí – disse ela animada.

- Sério? – disse surpresa – Que bom!

- É sim – disse ela – Agora vou ter que desligar, minha mãe está me mandando dormir.

- Ok, boa noite – disse e ela desligou.

Tomei um bom banho e fui dormir, com um sorriso enorme no rosto.