Um momento aqui, por favor. Eu me levanto, ajeito meu vestido que custou milhões, pego uma taça, bato-a levemente com a colher. Gostaria de declarar a vocês que na minha frente estava JOELMA DO CALYPSO. Isso mesmo, minhas caras. A própria do cabelo loiro com o esposo aquele... Tintinha... Bimbinha... Japinha... Hm, vocês entenderam.

Agora esqueçam tudo que eu disse, arranquem esse tal vestido que me imaginaram vestindo e coloquem meus trapos reaproveitados dos panos de chão do banheiro. Ok, agora instalem a melhor cara de surpresa que vocês já viram na vida (pode ser aquela da mocinha do filme de terror) e PRONTO! Assim estava eu na cena. Ok. Sem mais delonga, vamos à história.

Alguém estava mangando com minha cara? Eu pensei que tinha tirado a maquiagem, mas vejo que ainda estava semelhante ao Bozo.

Coloquei no chão o gato que tanto arranhava minhas mãos, as colocando nas “cadeiras” em seguida. Façam suas apostas senhoritas, o fight vai começar.

Já ia fechar a porta na cara e também nos olhos azuis dele, que dane-se a cor da sua íris. Educada eu, pode falar.

-Hey espera – eu o olhei de forma assassina e ele exibiu um sorriso envergonhado.

-Você está mesmo brincando comigo, não é? – Olha o duplo sentido, olha o meu lado ‘escorregando na porta e depois abraçando os joelhos’.

-Mah...

-Senhorita que está com vontade de quebrar sua cara, para você, benzinho. – Sorri sarcástica.

Malditos olhos azuis. Desgraçado dono deles.

-Posso entrar? – apontou para dentro do apartamento.

-Como você chegou até aqui? – arqueei a sobrancelha, Lionel passava o corpo pelas pernas do garoto e eu arregalei os olhos. – De onde você conhece o Lionel?

-Ele passou um tempo lá em casa – deu de ombros. Como se isso fosse a coisa mais normal do mundo. Como se dissesse “Silvio Santos está com um pé na cova”.

-Mas...                                                 

-Até que se mudou.

 Escancarei a boca.

-O-o que?

-Posso entrar? – repetiu a pergunta.

E ele se aproveitou da minha situação perplexa e adentrou a casa. Olhou para a TV ligada e o prato de miojo no centro da mesa, sorriu torto e finalmente me fitou nos olhos.

-Meu irmão é namorado de...?

-O que você está falando?

Ele me fitou curioso e eu o correspondi aflita. Até que aquela gargalhada gost...Desgraçada, a risada insuportável de Diego me assustou.

-Para de rir – ordenei encabulada.

Eu deveria estar totalmente chateada com ele. E eu estava. Só que...

-Como você descobriu que eu estava aqui?

Ele andou até o sofá e se jogou nele, colocou os pés no centro e roubou o controle remoto. Meu sangue ferveu.

-Um grande palpite – ergui uma sobrancelha, não acreditando – E eu vasculhei seu celular, vi a mensagem da sua mãe dizendo para ter o número do seu irmão em caso de emergências. E bem... Eu não te conheço há muito tempo, mas posso te conhecer muito para saber que você considera isso como uma emergência.

-E ainda vasculhou meu celular... – falei entre dentes.

-Você que o deixou no meu carro naquele dia que o Dougie fugiu, meu bem - ele sorriu travesso.

-Não me chame de meu bem – revirei os olhos, cruzei os braços. - E você não respondeu minha pergunta.

-Meu pai tinha uma enteada, não era bem minha irmã e nem eu a considerava como tal – ele deu de ombros.

-Então você deu uns pegas nela também?

Ele ignorou meu comentário provocativo e continuou:

-Ela morou lá em casa durante um tempo e se mudou por que queria morar sozinha, ficava provocando minha mãe dizendo que a única mulher que meu padrasto tinha amado era sua falecida mãe. Que nem era pai dela. Pura provocação. Aproveitou o nascimento da Laura e a promoção no caminhão de mudanças.

-Essa suposta enteada é a namorada do Matt?

-Bingo! – Diego ajeitou-se no sofá.

-E como você conhece a casa do Matt?

-Eu tive que quebrar um galho vindo aqui nas primeiras semanas para ajudar o cara a cuidar do gato enquanto ela se estabelecia na casa nova. Vocês realmente não tiveram nenhum animal na infância? Ele parecia um filho de prostituta em dia dos pais.

Eu ignorei seu comentário dispensável. Poderia muito bem morrer sem essa.

-E esse tempo todo você sabia que eu era a irmã do namorado da sua irmã? – perguntei ainda confusa.

-Tinha uma foto sua e de seu irmão quando vocês eram pequenos no quarto dele – Minha boca abriu sem que eu percebesse – Naquele dia, quando você estava correndo atrás do cachorro, você me era familiar. Bem, você não mudou muito de quando era criança - ele deu um meio sorriso em minha direção – Só o cabelo um pouco maior e a franja de lado. E além do mais, você mente muito mal, dava para notar que não era só mais uma das suas piadinhas quando se referiu a um porquinho da índia como um dos seus irmãos – Ele afundou o corpo no sofá, tinha parado num canal de esportes. Bufei. E eu achando que ele queria saber quantos cunhados ele teria quando me perguntou se eu tinha irmãos... Tsc tsc. – E eu também não me importei de falar a verdade completa.

-Tira os pés da mesinha.

-A casa não é sua.

-E muito menos sua.

-Ele é meu cunhadinho.

-E meu irmão. Você nem considera a namorada dele sua irmã.

Ele ignorou.

O que eu tinha feito para merecer aquele carma?

Andei até a TV, posicionei-me na frente dela, cruzei os braços novamente, encarando-o desafiadoramente.

-Se você quer se desculpar estar fazendo isso errado.

-Me desculpar pelo que?

Respirei fundo algumas vezes.

-Vai embora, Diego. - apontei para a porta ainda entreaberta. - Vai agora!

-Mas eu acabei de chegar...

-Vai embora - repeti, tentando me controlar.

Ele nem mesmo tirou os pés da mesinha, sorriu em minha direção e eu só tive o instinto de pular naquele maldito garoto com o punho fechado. Dane-se meu coração descompassado, meu lado mais sensato queria socá-lo até que em seus olhos também pudessem ser definido a cor roxa.

Mas dois minutos depois já estávamos em pé e ele afastava-me com a mão em meu rosto, nem com meus braços eu conseguia golpeá-lo.

-Vai se...

-Olha o que você aconselha, meu bem.

-Diego eu juro que vou pegar a faca de patê na cozinha e enfiar em seus olhos.

-Eu sei que você os adora.

-E vou mesmo arrancar os dois e colocá-los em formol para guardar de recordação do dia que fiz um favor a humanidade.

Ele soltou mais uma de suas risadas. Elas estavam diferentes, mas que se dane.

-Sai! - gritei tentando mais uma vez esbofeteá-lo e ele riu novamente.

-Eu vou chamar o Matt.

-Se escondendo atrás do irmão mais velho?

-Me deixa em paz, Diego. – Implorei com a voz rouca. Não queria que ela aparecesse mas cá estava ela, sempre a não convidada. A penetra igual a amiguinha de 3º grau da prima de 20º grau. – Você estava querendo ver o resultado final? Aqui estou eu, exatamente da maneira que você esperava ficar. Mas agora, por favor... Para de fazer isso comigo.

Ele suspirou. Pareceu finalmente ceder, soltou minhas mãos, mas ao contrário do que eu queria a segundos atrás eu não pulei em seu pescoço, elas caíram ao lado do meu corpo e eu abaixei a cabeça, fitando meus pés descalços.

-Por que você veio até aqui?

-Eu não deveria vim?

-Você veio porque deveria vir?

-Eu não posso estar aqui porque eu quero? - Olhei para cima e ele me fitava de forma mais intensa.

-Responda sem uma pergunta.

-As respostas não podem estar na forma oculta?

-Você realmente acha que não seria mais sensato apenas respondê-las? - Respondi, atiçando.

-Ok - ele sorriu de lado, estendendo as duas mãos para cima. - Eu vim porque deveria e quis.

-O que veio fazer aqui?

-Explicar algumas coisas que você deveria saber.

-Você está tirando onda com a minha cara?

-O lance das perguntas não vale para você também?

O olhei torto.

-Deveria?