Por favor me explicar.O  que deu em você? O que foi que você ouviu? Mah, me responde!

Apagado.

Marina não me ignora, eu sei que você é curiosa e está lendo isso.

Apagado.

Eu sou sua melhor amiga, me responde vai...

Apagado.

Ergui o lençol até a cabeça, ia rolar para o outro lado quando senti meu corpo ser puxado para o chão.  Esquecendo completamente que eu dormia no sofá da sala.

Maldita gravidade. Maldito celular que voou junto.

Resmunguei alto ainda no chão. Meu celular vibrou e eu o peguei de mau agrado. Curiosidade, meu grande mal.

Amizade acima de tudo?

Li, reli e só mais uma vez conferi.

Mordi o lábio, a vontade de responder era grande. Meus dedos inquietos tamborilavam no aparelho. Escrevi o SMS: Amizade ou verdade?  E salvei nos rascunhos.

-O que diabos você faz ai no chão? – Matt coçava os olhos de cabeça para baixo.

Virei à cabeça um pouco. Resmunguei novamente. Ele ignorou e seguiu até a cozinha. Encarei o celular e cliquei rapidamente em enviar para o número desconhecido com medo de me arrepender minutos depois.

-Vem logo que eu tenho que trabalhar!

Joguei o celular no sofá desarrumado e caminhei cambaleante até a cozinha.

-Quando suas férias acabam, hein? – Perguntou. Franzi o cenho. Outch! Isso era uma pergunta oculta de quando eu sairia dali?

-Daqui a duas semanas.

-Hum – ele estava elétrico – Pode ficar aqui até lá.

-Não vou incomodar você – respondi envergonhada.

-Bem, faça o que quiser. Volto para casa as 17 – ele falava, estava frenético colocando o café preto na xícara, suas mãos tremiam, depositando o pote de biscoitos sem cuidado algum na mesa quase a rachando – Almoço com minha namorada, você pode ir na lanchonete daqui de perto, eu te dou o dinheiro.

Ia discordar mas ele me cortou.

-Já estou de saída – falou me jogando uma nota de vinte reais – Vai ser o suficiente. – Bebeu o café rápido, deveria ser o de ontem. Estava com uma blusa social e uma calça jeans preta.

Nem pude perguntar no que ele trabalhava já que a porta de casa já era aberta.

-Tranca por dentro – avisou antes que a porta fosse fechada novamente.

Um miado fraco foi escutado, olhei para Lionel e mais uma vez eu estava com um animal como companhia.

-Bom dia – falei finalmente, sendo que o único ouvinte foi o felino que me respondeu com os olhos apontados para a vasilha de comida.

Catei por toda a casa a comida do gato. Deveria estar num daqueles sacos que se vê em propagandas, certo? Mas não estava.

Encontrei ratinhos de pelúcia, jogos de videogame desde Mickey a aqueles de Zombies, vários fones de ouvido embolados, também encontrei uma cueca box do bob esponja que eu peguei com uma vassoura que eu tinha achado na área de serviço e coloquei dentro da máquina de lavar junto com mais 3 blusas espalhadas pela casa, 5 bermudas jogadas atrás do sofá (nem quero saber como aquilo tinha parado ali) e várias roupas que já tinham na mesma, procurei na caixa do sabão em pó qual era a medida que se colocava para ligar e o que colocava.

Arrependi-me no exato momento que notei que nunca tinha colocado as roupas pra lavar como minha mãe mandava, ao contrário disso, eu as estendia, um trabalho muito mais divertido e fácil.  Optei por entupir de sabão em pó. Vai ver as roupas ficavam cheirosas, esse era o objetivo da coisa, certo?

Lionel me observava esparramado no sofá da sala em cima do meu travesseiro, de cabeça para baixo e barriga para cima.  Tinha bebido uma tigela inteira de leite, a única coisa que eu o convenci a comer. Gato mimado.

Lavei os pratos que estavam na pia, abri todos os armários e encontrei um pacote de miojo e o peguei como se fosse um rubi de 3 milhões e o coloquei na água fervendo como se joga uma vítima para satisfação dos Deuses.

Prazer, deusa da esquisitice.

Liguei a TV da sala e com um gato ximão ao meu lado eu coloquei a primeira colherada na boca.

Tinha tantos canais que eu me surpreendi quando parei em um que homenzinhos de olhos puxados gritavam em minha direção coisas que eu não fazia idéia do que era.

Aquietei o dedo quando vi que passava Friends.

O lugar muda, a situação também e eu continuo assistindo Friends na TV, olha que engraçada essa vida né.

Coloquei o prato na mesinha de centro ia me jogar no sofá quando vi que meu celular. Nenhuma mensagem.

Não era isso que eu queria, afinal?

Não, definitivamente não. Eu queria que alguém corresse atrás de mim como eu faria se fosse com outro alguém, queria que alguém viesse arrastando e vindo me pedir desculpas dizendo o quanto aquele fantoche todo com minha pessoa era importante. Que eu significava tanto para a pessoa como ela significava para mim. Quem sabe mais?

Coloquei os pés no ombro do sofá e estava prestes a me entregar na confusão da minha cabeça quando a campainha tocou.

Bufei. Deveria ser o lixo, eles passavam esse horário. Aquietei-me no sofá, talvez ele pensasse que não tivesse ninguém. Mas a capainha tocou de novo e mais uma vez.

 Abri a porta com um mal humor gigantesco, carregando um gato feito um bichinho de pelúcia que estava ali para me ajudar na minha solidão.

Adivinha?

Era o lixo.

-Não tem moço, obrigada – já estava fechando a porta e voltando a fazer meu mantra quando a capainha insistiu mais uma vez. Abri a porta com a cara mais feia que eu conseguia juntar

Corram crianças! Salvem suas vidas.

-Oi – Parecia desconfortável, contraiu os lábios, acenou levemente com a mão. – Oi Lionel.