Quase Sem Querer escrita por Loly Vieira


Capítulo 22
Capítulo 22 - Apenas mais uma




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Ele sorriu. Afundou as mãos naqueles cabelos negros e os bagunçou.

-Por que, hein? – a pergunta saiu assim, sem mais nem menos. Em segundos eu já encarava minhas mãos com as maçãs do rosto vermelhas. – Porque vocês fizeram isso comigo?

-Para de ser dramática Marina.

 Mordi os lábios e o encarei, ali estava meu coração descompassado como se eu estivesse vendo um show de Legião Urbana e não sabendo que só passava de um DVD.

 -Isso foi passado.

-Ah é? Passado de quando? 6 meses? 1 ano? – esbafori com as mãos. – Não dá Diego, isso não entra em minha cabeça, muito ao contrário do que entra nas calças da Gabriela. Eu não consigo entender que vocês esconderam isso de mim a tal ponto. E o melhor é que eu perguntei a ela – ri ironicamente, meus olhos estavam tão vermelhos e cheios que daqui a pouco transbordariam – Perguntei se ela se incomodaria, perguntei se ela gostaria, perguntei o que ela achava. Esse tempo todo eu estive preocupada com alguém que tanto faz se eu batesse as botas amanhã ou hoje.

-Isso não é verdade.

-E você ainda a defende? Não era você que estava quase voando em cima de mim por defendê-la?

-Não diga que ela não se importa com você. Acho que é a segunda pessoa que ela se importa depois do seu próprio umbigo.  – Falou num tom calmo diferente do meu.

-Desculpa mas eu não acho que isso seja se importar. Todo esse maldito tempo eu aguentei cada coisa, cada mínima coisa, todas as vezes que ela me trocava por um garotinho novo que não durava nem 2 meses e depois ela vinha chorar comigo. Todas as vezes que seus pais brigavam, todas as vezes que ela precisou – eu ergui os dois braços – Aqui estava eu.

-Eu vi o modo que ela ficou quando notou que você tinha ido embora. Ela está arrasada. Até o Dougie parece diferente.

Ali estava mais uma casa de ferida que ele queria cutucar: Dougie. Parecia que ele tinha noção que minha muralha nunca passaria de, na verdade, coisas que eu considero tamanhamente. E ele parecia apontar cada tijolo a qual ela constituía como se jogasse na minha cara que eu continuava em pé não por mim, mas porque alguém me ajudava. Engoli em seco. Enxuguei rapidamente com os nós dos dedos meu rosto ensopado.

-E você acha que eu não?

Ele se calou. Respirou fundo, tentou me segurar pelo antebraço mas eu recuei alguns passos.

-Desculpa eu ter atrapalhado o casal – disse com a voz rouca – É tão óbvio que qualquer pessoa sã escolheria a Gabriela.

-Eu odeio quando você se faz de inferior – ele revirou os olhos.

-Nem pra me fazer sentir melhor você serve – a voz estava tão embargada que eu praticamente gaguejava – O que você está fazendo aqui afinal? Jogar na minha cara que a culpa dessa droga toda é minha?

-Isso tudo foi antes, antes de eu ter alguma coisa com você, porra! – Ele gritou no final – Entenda isso. Não teve nada com você, nem sei por que você está tão sentida dessa forma! Caralho!

Eu quase estava correndo com o rabo entre as pernas naquele exato momento. Porque bem... Ele nunca xingava de tal forma, nunca berrando as palavras na minha cara, tão próximo a mim com a voz tão rouca ou com a mão estendida pra cima.  E naquele momento eu tive medo, exatamente o medo que eu já tive antes, em tempos antigos. O mesmo medo que eu tinha prometido que não sentiria mas, o medo de alguém erguer a mão em sua direção e você não poder fazer nada.

Ele próprio recuou alguns passos quando notou meus olhos arregalados, parecendo engolir em seco, mordeu o lábio inferior para logo depois dizer aquelas palavras que provavelmente foram  meu estopim.

-Para de ser tão dramática, criança e psicótica. – Revirou os olhos azuis, impaciente.  

-Não dá, Diego – relaxei os ombros mais uma vez, estava cedendo a muralha – Eu sou assim. Sou exatamente assim, eu não tenho toda a segurança que a maioria das garotas tem até no andar, não consigo aguentar determinadas coisas calada e fingindo que está tudo bem. Não está! – eu já gritava. Respirei fundo, tinha que controlar minha voz, os vizinhos realmente não mereciam ouvir meu discurso melhor que o do Obama. – Eu não sou a garota que você pensa que eu sou ou que você gostaria de ter ao lado. E sinceramente? Eu nunca vou ser. – sussurrei encarando meus pés descalços – A criança desajeitada, dramática, psicótica e mais de mil e um defeitos. Eu sou desse jeito Di, ele não agrada muita gente, mas eu não vou mudá-lo. Não tão cedo. E não vai ser por causa de você.

Ele se calou. Um. Dois. Cinco minutos se passaram.

-Eu vim aqui por que... – respirou fundo, como se resgatasse as palavras – Eu realmente não quero ser o motivo pelo fim da amizade de vocês.

-É uma pena, porque você é só mais um deles.

Seus olhos azuis me fitaram com tanta... Tanto... Eu não sei bem definir o que era aquilo, mas ele me olhou cabisbaixo, os olhos tristes, escuros. Era uma característica dele. E eu o admirava por tê-la. Quando ele estava feliz, seus olhos brilhavam ainda mais que o normal. Não, não era impressão ou meu sangue contendo muito chocolate. Era verdade, eles ficavam mais claros.

Ele me encarava nos olhos, transmitindo para mim de uma forma estranha que ele não estava nem um pouco contente com isso, ao contrário do que eu dizia. Suas pupilas estavam dilatadas e eu cheguei a me perguntar se ele tinha bebido café de manhã cedo. Eu tinha lido que beber café dilata as pupilas, mas isso não vem ao caso. Era só estranho vê-lo assim, como se boa parte do seu olho fosse feito do preto e não o azul que eu poderia descrever por folhas aqui. A forma que eu os adorava quando ele me fitava ou então fazia um comentário olhando para outro lado sem querer ver minha reação, o jeito único que ele erguia uma das sobrancelhas como se me desafiasse, e eu odiava isso. E, mesmo não tendo tanta coragem de assumir, aquele par de olhos me deixavam totalmente boba.

Peguei Lionel no colo, que se espreguiçava em minha perna. Mas o mundo dá voltas, e você é apenas mais uma (N/A: Beijo para o pessoal do Mcfly que escreveu isso).

-Talvez o melhor que você tenha a fazer é ir embora. – Não, não vai. Fica e não desiste. Por favor fica.

Suspirou fundo.

Diz que você não vai embora até resolver isso. Diz que não vai desistir de mim tão fácil. Diz que eu signifiquei algo pra você como eu pensava. Por favor, diz. Eu vou gritar que é tudo mentira, vou bater o pé como a criança que sou mas lá no fundo, não tão lá no fundo assim, eu vou estar a beira de querer te dizer “porque demorou tanto seu idiota?”.

-Você tem razão. – Segurei a porta enquanto equilibrava o gato em meus braços.

-Eu sei que tenho. – sussurrei. Vi seu all star preto e ele parar a minha frente.

-Não fuja – sussurrou.

-E se eu fugir?

-Eu vou te achar de novo.

Meus olhos brilharam e... Não, não se iludam. Não foi isso que ele disse. Diego nunca diria algo desse tipo. Na verdade ele disse...

-Eu aviso aos seus pais que você se tornou uma menina perdida.

E ele já tinha chamado elevador, eu iria fechar a porta. Quando meu coração descompassou lá dentro, implorou por qualquer notícia, como uma mãe implora um telefone de um filho que viajou no dia anterior.

-Diego... - Chamei-o baixo. Ele murmurou um “hm” para que eu prosseguisse. - O... O Dougie, ele está bem, não é?

-Não sei - falou após alguns segundos, o elevador chegara. - E talvez ele não seja o único que eu não saiba se está bem ou não. 


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Notas finais do capítulo

Capítulo meio tristonho, hun?
Adriana Morais, ameblifls_smart, allison, Sonhadora00, mbeatriz, iMitch, BelleDiniz, Nathalia e Luu Amorim, foram as que comentaram no capítulo anterior. Obrigada :3
Ainda aceito presentes de aniversário atrasado ^^ Até porque eu dancei 'cerol na mão' na frente dos meus parentes e com meus amigos, graças a isso todos da minha família irão me olhar estranho até meus últimos dias UAHASUH
Desculpa pela demora do capítulo. Uma loucura os últimos dias.
Enfim... Parabéns atrasado para todas as mães, as suas mães, as próprias mães (se tiver alguma aqui). Parabéns por serem aquelas que puxam nossas orelhas, nos fazem arrancar os cabelos e tem um lugar um tanto quanto especial nos nossos corações.
Comentem.