–Ainda não entendi porque vão me largar sozinho no Host Club!

–Allen-kun, pela milésima vez: você já está lá e eu sou mais sociável que o Kanda, então investigo os alunos em geral e ele que também é novo por aqui pode fingir interesse nos clubes e assim dar uma olhada em todos – explicou Lenalee – aliás, você já tem até fã-clube, não sei porque reclamar de algo que tem vocação pra fazer.

–Tsc, vamos ter muito mais trabalho que você. – reclamou Kanda.

–Eu não diria isso Kanda, você não conheceu o pessoal de lá. – disse a menina delicadamente.

–E nem pretendo. – respondeu ele ríspido.

–Olha como fala com uma dama Kanda! – criticou Allen.

–Não me atormenta moyashi.

–É Allen!

E assim, para o desespero dos finders, mais uma parte da mobília se foi na briga em que travaram. Que não era a primeira desde que chegaram ao futuro.

...

Enquanto isso, na propriedade dos Haninozuka, Mori-sempai tomava café da manhã com Hani-sempai, discutindo assuntos aparentemente triviais, mas sob a visão aguçada que só um veterano possui. No caso, seu novo companheiro de clube.

–O Al-chan parece ser realmente uma boa pessoa não é Takashi? – o gigante acebou de modo afirmativo enquanto desfrutava sua comida.

–Mas sabe – continuou o menor – ele me parece... ferido. Lembra o Tama-chan, na maneira de sorrir e se esquivar das coisas. Será que um dia ele vai se abrir com a gente?

–Talvez se dermos tempo e apoio a ele Mitsukuni.

–Eu queria ver um sorriso de verdade nos lábios do Al-chan. Você também?

–Sim. E penso que todos do clube também.

Nunca, mas nunca mesmo, duvide da aura sábia de um sempai.

...

–Clube de Atletismo? – perguntou Lenalee.

–Nada que preste. – respondeu Kanda raivoso.

–Você está fedendo a laranja Kanda – comentou Allen – o que aconteceu?

–Clube de Futebol Americano: só uns idiotas sem importância. – sua veia na testa pulsava de raiva.

–Clube de Karatê? – perguntou o menor esperançoso.

–São uns fracotes com nada em especial.

Eles suspiraram, era a vez de Lenalee falar:

–Como essa escola é de milionários, cada um tem segredos e manias das mais diversas. Fica difícil separar o que indica um compatível de fofoca e lenda urbana.

–Depois do almoço, vou para o Clube de Kendô. – anunciou o japonês.

Os outros dois se entreolharam; a combinação Kanda com espadas mais mal-humor e humanos normais não era nem um pouco produtiva para ninguém. Resolveram, por via das dúvidas, confiar no companheiro.

Ou pelo menos Lenalee confiava.

...

Como no dia anterior não tinha comido nada ali, era a primeira vez que Allen usaria o chique refeitório do colégio. Seus colegas de classe e clube, Haruhi, Kaoru e Hikaru tinham falado com ele em todas as aulas, dando pequenas dicas de como se virar em sua estreia naquela tarde; entre elas, manter uma relação amigável com as clientes fora dos horários de atividades, o que garantiam que gostassem mais de você. Por ele ninguém ali precisaria gostar dele, mas concordou em almoçar com um grupinho delas que o encurralou na entrada.

Elas falavam mais que os cotovelos, apontavam para todos os lados e davam risinhos, Fuijoka tinha razão em um aspecto: era mais fácil deixa-las viajarem sozinhas do que tentar dominar a situação. De resto, segundo o pequeno e estranho garoto, ele devia apenas ser ele mesmo.

Bem mais fácil do que as dicas malucas vindas dos gêmeos, em quem ele não confiava nem um pouco.

Flashback ON

–Bom dia AAAAAAllen! – o modo como falaram seu nome e se lançaram em sua direção o lembrou terrivelmente da Noah Road, fazendo com que ele se esquivasse dos dois, que caíram com tudo na entrada da classe.

–Oh! Hikaru-kun, Kaoru-kun, vocês dois estão bem?! – perguntaram as meninas da classe com visível preocupação; como algumas olharam para ele de canto, resolveu colocar seu lado cortês em ação.

–Hikaru-san, Kaoru-san, me desculpe, sua calorosa saudação me sobressaltou. – disse ele, dando um de seus famosos sorrisos “tímido e reluzente” para os gêmeos, enquanto estendia as mãos para que se apoiassem.

Os dois ruivos se olharam rapidamente, e aceitaram a ajuda. Depois disso ficaram na porta com um semblante fechado e de braços cruzados.

–Será que eles ficaram chateados comigo? – perguntou Allen em seu tom doce para as meninas da sala.

–De modo algum Walker – respondeu o representante de sala, surgindo sabe-se lá da onde – estamos mais que acostumados com a personalidade dos gêmeos.

–Sim Allen-kun – acrescentou a vice-representante, cliente regular do clube – eles provavelmente gostaram de você, só demonstram de uma forma diferente.

–AAAAAH! Oque estão fazendo?! – berrou alguém; todos olharam em direção a entrada a tempo de ver os gêmeos arrastando Haruhi pelos braços em direção ao corredor.

E Allen achou que preferia que eles continuassem de cara fechada ao demonstrar o afeto deles com o mesmo vigor que usavam com Fujioka. Continuou mergulhado nos assuntos triviais da sala, sem nem imaginar que seria o assunto de uma discussão inflamada:

–O QUE VOCÊS TEM?! O DIA MAL COMEÇOU!!!

Se tem uma coisa que todos do clube (menos Allen) sabem sobre Haruhi é que sua fúria é algo não muito agradável de presenciar.

–O que está acontecendo aqui? – disse uma voz fria – Haruhi, agradeceria se não ficasse berrando no meio do corredor, onde qualquer uma de nossas clientes pode te ouvir.

–A culpa é deles Kyoya-sempai! Saem me arrastando logo que coloco os pés na sala!

–É porque temos que falar sobre ele. – disseram os dois em om de suspense.

–Ele quem? – perguntou Haruhi, ainda em estado de irritação.

–Waaaaalkeeer – responderam os dois sinistramente, como se ele fosse uma maldição.

–E o que tem ele? – perguntou o sempai, arrumando os óculos, claramente se irritando também.

–O cara é perigoso. – disse Kaoru.

–Porque seria? – quis saber Haruhi.

–É um profissional, tinham de ver ele na sala hoje de manhã.

–Quer dizer que ele tem um talento natural?

–Não Haruhi, os gêmeos estão certos; notei isso no momento em que coloquei meus olhos nele. – disse Kyoya – O que não é muita surpresa para um legítimo gentleman britânico, ser treinado para ser agradável com os outros.

–Não gostamos disso. – murmuraram os gêmeos ao mesmo tempo.

–Ele pode nos ser útil, não o destratem como se fosse igual ao Tamaki entenderam?

–Sim senhor! – berraram os dois em resposta. Haruhi suspirou, aparentando cansaço.

Mal sabiam que Timcampy estava ali na surdina, transmitindo toda a conversa diretamente para o comunicados dos três exorcistas.

Flashback OFF

Depois daquilo, só confiava nas palavras de Fujioka, que parecia ser uma pessoa boa. Estava muito bravo de mesmo com estas revelações ter sido largado sozinho para lidar com aqueles anormais. Por que Tamaki, o líder, parecia não ter importância? O que Kyoya quis dizer com útil? Pra eles, ele seria profissional no quê? – mil perguntas rodavam em sua mente, ao ponto de tirar-lhe parte do apetite.

–Allen-kun, já sabe o que vai pedir? Ouvi dizer que seu apetite é grande. – falou uma delas, arrancando-o de seus devaneios.

–Isso é necessário, pois sinto fraqueza facilmente. – respondeu ele, o que não era muito longe da verdade: como seu tipo não era paramentado, ele se enfraquecia se não comia. Só não costumava contar isso aos outros, muito menos com aquele ar melodramático.

Mas as meninas adoravam aquilo nele, era como se realmente gostassem de ser... enganadas pelo Trapaceiro. Depois de chegar a essa conclusão, primeiro ele se censurou por já estar adotando para si próprio a alcunha sem sentido que ganhou do clube e segundo por dizer com outras palavras que andava com masoquistas e não se preocupar com isso.

Mesmo com mil problemas, Allen teve de admitir que o lugar não o deixaria morrer de fome; todas as suas gulas e vontades extravagantes foram prontamente atendidas e ainda por cima em vários pratos bonitinhos e decorados.

Era como pedir o cardápio todo de um cinco estrelas.

Ele, seus pratos e as meninas ocupavam quase uma mesa inteira; enquanto degustava com cuidado cada iguaria (pedindo perdão a Jerry por trai-lo gastronomicamente) uma delas resolveu se oferecer para dar na boca dele um pedaço de carneiro. Surpreendido, Allen nem raciocinou antes de aceitar o pedido engraçado, o que se mostrou a pior coisa possível: elas praticamente se lançaram em sua direção, cada uma disposta a lhe dar uma garfada de um de seus muitos pratos quando o resto do Host Club chegou.

Tudo o que ele pensou foi: ”Estou salvo!”, seguido de “Ah não, tem mais clientes com eles!”

–Allen-kun! Vejo que está se dando bem com nossas princesas. – disse Tamaki, em seu tom galante e um tanto engraçado de sempre.

–Sim Tamaki-sempai; é agradável estar ao lado de senhoritas tão educadas. – respondeu ele, causando euforia geral.

Do outro lado do refeitório, Lenalee e Kanda observavam a situação.

–Eu disse que ele tinha certa vocação pra isso. – comentou ela, embora estivesse surpresa.

–Tcs, o moyashi não presta, isso sim!

–Não fala isso, ele está só... representando. – ela disse isso, mas também tinha suas dúvidas.

–Como sempre. Ou nunca viu ele assim na Ordem? – ela não respondeu e ambos foram comer.

Os membros do Host Club acabaram sentando em outra mesa com espaço; o jovem exorcista continuou sendo paparicado pelas clientes mais regulares do clube, aparentemente rendidas pelo ar meigo do Trapaceiro. Tamaki em seu íntimo entrava em crise com esse membro promissor o suficiente para por sua reputação de Rei do Host Club em risco, mas isso é um assunto para outro momento.

Depois do almoço, Kanda alcançou seu companheiro e nem deu tempo antes de começar a brigar com ele:

–O que estava fazendo ali moyashi?!

–Falando com minhas novas clientes. – respondeu ele na defensiva.

–Clientes? Quem estava desesperado ontem mesmo com aquele grupo?

–Eu agora FAÇO PARTE desse grupo Kanda. – respondeu ele raivoso.

–Não é com eles que você está, lembre-se disso.

–Entendeu o que quero dizer, não é como se fosse apunhala-lo pelas costas. – Allen estava indignado com a atitude dele.

–Assim espero. – cortou o outro mais bravo que antes – Nem mesmo a Lena te reconheceu.

O samurai se afastou a passos largos, bufando de irritação e deixando o menor para trás, confuso e chateado; a espreita, um pequeno grupo espiava a discussão atentamente.

–Ora, ora, parece que Yuu Kanda não quer ser apenas o amigo de Allen-kun. – disse uma voz sombria – Já sabem o que fazer com esta informação, não é meninas?

–Sim! – respondeu um coro entusiasmado.