POV Draco Malfoy

[Who knows, who cares – Local Natives]

Assim que virei o carro na quadra de Hermione notei como tudo parecia mais vazio e silencioso. Acho que a festa havia acabado, afinal, já passava das cinco da manhã.

Estacionei na frente da garagem e desliguei o carro, mas não desci imediatamente. Deixei que minha cabeça deitasse no encosto do banco, dando-me a oportunidade de fechar os olhos por um momento.

Contar à Gina sobre meus pais nunca havia passado pela minha cabeça, mas fiquei feliz que, quando eu soltei tudo daquele jeito, ela foi compreensiva, não fez muito barulho sobre a situação. De algum jeito, acho que ela me entendia, e contar para ela me fazia sentir estranhamente mais leve.

Mas, contrariando a sensação boa da leveza, meu nariz latejava, assim como meu queixo, que com toda certeza já devia estar ficando roxo. Puta merda, isso viraria comentário no colégio na certa.

Antes que eu tivesse mais tempo de ficar divagando sobre que tipo de fofoca se espalharia na segunda-feira a meu respeito, um barulho vindo da casa me fez abrir os olhos. Foi algo parecido com um BAM bem forte.

– Hermione – a voz de Blaise parecia cansada. -, deixa o cara quieto. Você não é tão forte assim.

Hein? Cara? Que cara? O que Hermione estava fazendo?

Com uma pressa receosa, eu saí do carro e me dirigi até a porta da frente, que não estava trancada. Andei pelo hall de entrada e, não encontrando ninguém, decidi me dirigir até onde havia deixado o Nott mais cedo.

– Menina, deixa de ser teimosa! – a voz de Blaise parecia a ponto de um colapso. – Você não consegue carrega-lo. Vai fazer o que? Arrastá-lo escada acima?

– Eu não posso deixa-lo no chão – Hermione falava meio arrastado, definitivamente bêbada. – Não dá, não dá!

Ri ao virar uma parede e assistir à cena. Hermione tentava levantar o Nott desmaiado no chão enquanto Blaise oferecia ajuda, mas ela não aceitava de jeito nenhum, sempre colocando a mão no peito dele e o empurrando para trás. Já Luna dormia em um canto não muito longe deles todos, deitada com as mãos juntinhas debaixo do rosto e com os joelhos dobradinhos, em uma posição quase infantil.

– Jesus amado, ainda bem que você chegou, coisa de Deus! – Blaise me viu ali parado e veio até mim com as mãos para o alto, dando graças feito um desses fanáticos religiosos. – Sua garota está louquinha de pedra. Ela cismou que tem de tirar o Nott do chão, mas precisa fazer isso sozinha. Ela já levantou metade dele e depois deixou cair. Não sei como ele não acordou.

– Ele está bêbado, apagado.

– Definitivamente – Blaise deu uma levantada discreta de sobrancelhas ao mesmo tempo em assumia uma expressão de “sério? Não me diga!”. – Eita cara, o que aconteceu com o seu rosto?

Deixando Blaise por um momento, não querendo responder que havia me mentido em um briga de rua, andei até Hermione e a segurei pela mão. Ela imediatamente olhou para mim, mas digamos que ela não estava lá muito concentrada pra notar meus machucados.

– Você precisa dormir – eu passei as costas da mão pela sua bochecha. – Está exausta, mas não percebe.

– Mas o Nott... – ela ficou olhando para ele quase como uma criança de cinco anos. – Ele não pode ficar no chão. E... E eu tenho que arrumar a casa, limpar toda essa bagunça, lavar a louça e... e...

– Hermione, você nem tem forças para subir uma escada, o que dirá dar uma de faxineira máster a essa hora da madrugada – Blaise passou por nós e caminhou até onde Luna estava deitada. Ele se ajoelhou ao lado dela e ficou estudando uma maneira de pegá-la no colo sem correr perigo de acordá-la.

– Certo, você vai me escutar agora – eu segurei o rosto da Granger entre as mãos, forçando-a a fixar o olhar no meu. – Agora você vai lá para cima, colocar seu pijama, e vai tentar dormir.

– Mas eu tenho que levar o Nott pro sofá antes e...

– Eu vou levá-lo pra você – eu falei com toda a calma do mundo, já cansando de ter de explicar sempre a mesma coisa. Juro que nunca mais deixaria a Granger beber desse jeito de novo! – Tá bom? Agora suba e deite um pouco.

– Posso pegar um copo d’água antes? – ela fez um olhar pidão, como se eu precisasse autorizar que ela fosse até a cozinha da própria casa.

– Sim, você pode – eu sorri, dando um selinho rápido nos seus lábios antes que ela saísse rodopiando até a cozinha.

Olhei para baixo, vendo o Nott todo espalhado no chão. Ótimo, eu precisava levar esse garotão sem camisa até a sala. Que merda.

– Você consegue sozinho? – Blaise passou por mim com Luna no colo, aninhada entre os braços dele. – Tenho que leva-la pro quarto de hóspedes, mas posso descer pra te ajudar depois.

– Não esquenta, eu dou conta – eu dei aquele sorriso malicioso para ele. – Vá lá colocar sua garota na cama.

Blaise sorriu, e ele parecia... envergonhado. Blaise nunca ficava envergonhado!

– Para, Draco – Blaise revirou os olhos, já indo com Luna em direção à escada.

– Acho que alguém ficou encabulado – eu comecei a rir, mas ele só me lançou um dedo do meio um pouco desajeitado, já que estava segurando Luna ao mesmo tempo.

Como Blaise desapareceu escada acima, eu não vi mais oportunidade de adiar o que era inevitável. Peguei o Nott por trás dos joelhos e o joguei sobre o meu ombro. Droga, ele era meio pesado, mas nada que eu não aguentasse até chegar à sala. Larguei-o em um dos sofás e coloquei uma almofada debaixo da cabeça dele.

Pronto, resolvido.

Quando estava voltando, notei que Hermione ainda estava na cozinha. Ela estava lá parada, olhando para a janela. Suas mãos lhe davam apoio na bancada perto da pia, fazendo com que seus braços tremessem um pouco.

– Ei, você está bem? – eu me aproximei e, quando ela se virou para me olhar, seu rosto parecia um pouco verde.

Hermione não respondeu, apenas fechou os olhos com força.

– Granger – eu parei um pouco mais a sua frente. – Você precisa descansar um pouco. Deixa que eu te levo lá pra cima e...

Foi então que ela saiu correndo, me dando um empurrão para passar por mim ao mesmo tempo em que levava a mão à boca. Fui atrás, óbvio, meio aturdido com aquilo tudo. Acabei chegando ao banheiro a tempo de segurar o cabelo dela para trás antes que ela vomitasse.

– Isso, bota pra fora – eu passei a mão por suas costas, meio que dando amparo. - Agora você vai ficar legal.

– Não acredito em você – disse ela, meio engasgada.

– Pois devia, eu já fiquei bêbado mais vezes que você.

Quando ela ia discutir comigo de novo, mas uma vez o vômito veio, forçando-a a ficar calada.

– É tudo sua culpa – disse ela por fim, fechando a privada e dando descarga em seguida.

– Eu sei – eu a ajudei a levantar e a encaminhei para a pia, onde ela lavou o rosto e começou a escovar os dentes. – Desculpe – eu dei um jeito de encaixar o queixo entre seu pescoço, podendo ver nós dois juntinhos no reflexo do espelho.

Hermione cuspiu a espuma da pasta de dente e voltou para a mesma posição, nos analisando pelo espelho assim como eu havia feito antes.

– Eu odeio vomitar – declarou ela, me roubando um sorriso.

– É – eu me vi dar um beijo na bochecha dela pela imagem refletida. – Nós temos isso em comum, assim como as outras sete bilhões de pessoas no mundo.

Hermione sorriu, fechando os olhos e deixando a cabeça cair um pouco para frente, como se estivesse sem forças.

– Me leva lá pra cima? – ela murmurou, cansada.

– Nem precisa pedir duas vezes – eu a peguei no colo com facilidade, já que ela estava totalmente entregue.

Ela deitou a cabeça no meu peito e deixou que eu a carregasse até o segundo andar. No caminho passei por Blaise, que tinha uma toalha jogada por cima de um dos ombros.

– Preciso de um banho, não aguento dormir me sentindo todo colado – disse ele, fechando a porta do banheiro.

Segui meu caminho, chegando ao quarto de Hermione sem maiores problemas. A coloquei na cama com a maior delicadeza que consegui, mas ela não deitou de imediato, ela acabou sentando.

– Preciso colocar meu pijama – disse ela.

– Quer ajuda? – minha malícia deu sinal de vida mais uma vez.

– Aposto que você iria adorar isso – ela levantou da cama e pegou uma camiseta grande dentro de uma cômoda de madeira branca.

– Eu não vou negar – eu sorri de lado, imaginando o corpo da Hermione sem aquele vestido. -, isso seria interessante.

– Desista – disse ela, virando de costas para mim. – Só preciso de ajuda para abrir esse zíper.

– Tem certeza? – eu deslizei o feixe do vestido para baixo, como ela havia pedido. – Eu posso te ajudar com outras coisinhas também.

– Tenho certeza que sim, obrigada – disse ela, se distanciando de mim alguns passos. – Eu sei me vestir sozinha.

– Ah, mas a ideia era não ficar vestida.

– Ai garoto, para com isso – Hermione tentou ficar séria. – E vê se fica de costas por um minuto.

Ri.

– Sério? – minhas sobrancelhas se arquearam.

– Se vira ou tape os olhos, eu não vou ficar só de roupa íntima na sua frente!

Bufei.

– Tá bom, tá bom – eu coloquei as duas mãos na frente dos olhos, me sentindo um babaca nível mil.

– E se você espiar... Olha, não quero nem pensar no que vai te acontecer.

– Eu não estou espiando – e não estava, mas queria. E muito.

Enquanto escutava os sons do vestido deslizando para fora do seu corpo, um dos meus dedos desviou um pouquinho para o lado, me permitindo ver Hermione vestindo a camisa larga. Grande parte das suas pernas ainda estava de fora, pois a camiseta lhe tapava apenas metade das coxas.

– Eu te vi olhando? – perguntou ela, indignada.

– Não, com toda a certeza não viu – eu voltei a fechar a fenda entre meus dedos bem rapidinho.

– Algo me diz que eu não deveria acreditar em você – disse ela, indo de volta para a cama e se tapando com o cobertor até os ombros.

– Mas quanta gratidão por quem segurou seus cabelos enquanto a senhorita vomitava, hein!

– Ai, nem me lembre disso! – ela fechou os olhos, fazendo uma cara de nojo. – Estou me sentindo péssima.

– Então vá dormir – eu me sentei na ponta da sua cama, ficando apenas olhando pra ela enquanto ela me olhava de volta.

– Você também parece cansado – disse ela, segurando minha mão.

– É, eu estou – eu fechei os olhos, notando como admitir aquilo parecia me dar mais sono de repente.

Hermione não falou nada por uns instantes, mas acabou me surpreendendo quando perguntou:

– E o que você está esperando para deitar aqui comigo?

Meu coração deu um pulo, provocando um sorriso em meus lábios.

– Ahn... que você diga o quanto me ama e o quanto quer que eu durma de conchinha contigo?

Ela riu, revirando os olhos.

– Vem logo – Hermione puxou minha mão pra ela, fazendo com que eu ficasse mais perto.

Tirei os tênis e deitei ao seu lado. Ela me olhou por um momento, meio tímida de repente, e então passou os dedos pelo meu rosto. Sério, nada podia ser mais suave do que aquilo. Fechei os olhos, respirando fundo para relaxar ainda mais.

– Draco... – a voz de Hermione saiu como um sussurro.

– O que?

Como não abri os olhos, levei um susto quando os lábios dela tocaram os meus. Meio lerdo, eu beijei de volta, trazendo a cintura dela para mais perto da minha.

Eu nunca havia sido pego de surpresa em um beijo, geralmente era eu quem agarrava as garotas, mas desta vez, Hermione era quem havia roubado um beijo meu.

Ela finalizou o beijo com vários selinhos demorados, tentando acalmar o que havia acabado de entrar em chamas dentro de mim.

– Eu sabia.

– O que? – Hermione parecia confusa.

– Você me ama.

Ela riu e me deu um empurrãozinho no peito.

– Deixa de ser tão convencido!

– Agora só falta me pedir a conchinha.

Hermione riu de novo, mas virou de costas para mim.

– Quero só ver se você sabe dormir de conchinha, Draco. Quero só ver.

Me encaixei às costas dela, abraçando-a pela cintura de um jeito forte, mas extremamente confortável. Entrelacei nossas pernas e beijei sua bochecha.

Fiquei em silêncio, só escutando o som da respiração dela. Tudo parecia ir evaporando da minha cabeça conforme o sono nos embalava aos poucos, mas continuamente.

E como se fosse esperado que a noite acabasse com risos, Blaise começou a cantar no chuveiro. Ele definitivamente não cantava bem, mas me fez sentir desse jeito. Hermione riu junto, apertando-se cada vez mais contra mim.

Só então acabei adormecendo, mas com uma certeza: eu a amava, e havia uma grande chance de que ela me amasse de volta.